A função dos sonhos - Cap.1 Chegando ao Inconsciente

A vida onírica, ou seja, os sonhos, se constitui o solo de onde, originalmente, nasce a maioria dos símbolos. Os sonhos têm uma textura diferente, no qual se acumulam imagens que parecem contraditórias e ridículas, perde-se a noção do tempo e as coisas mais banais podem se revestir de um aspecto fascinante ou aterrador, disse Jung.

Ele afirma que as ideias de que nos ocupamos na vida diurna e aparentemente disciplinada nem sempre é como que acreditamos que seja, pois qualquer coisa que tenhamos experienciado ou vivido pode se tornar subliminar, passando a fazer parte do inconsciente.

Jung concluiu que pessoas que vivem em níveis diferentes, experiências sociais,políticas, religiosas ou psicológicas dão a cada indivíduo uma noção individual e particular, no significado e sentido das coisas. E que, pessoas de mesmo nível cultura tendem a apresentar significados semelhantes. Com isso, Jung afirma que "todo conceito da nossa consciência tem suas associações psíquicas próprias." E à medida em que são impulsionadas abaixo do nível da consciência, o conceito das coisas podem ser bem diferentes.

Os sonhos apresentam imagens mais vigorosas e pitorescas do que quando estamos acordados, o que pode expressar o seu sentido inconsciente em relação a essas imagens ou ideias sonhadas. Os pensamentos racionais são controlados pelo nosso consciente. Os sonhos se apresentam de maneira simbólica, por meio, por exemplo, de metáforas as quais se diz ou escreve algo para designar outro objeto ou qualidade semelhante. Exemplos de metáforas:
  • você pode montar nas minhas costas, significa: pouco importa o que você fala de mim; 
  • ele tem vontade de ferro, significa: ele tem vontade firme.
Pode haver dificuldade de captar o conteúdo emocional da linguagem ilustrada nos sonhos, pois na vida cotidiana acabamos rejeitando os adornos da fantasia, nos distanciando da mentalidade instintiva e primitiva que há em todos os seres humanos. Esses fenômenos estão abaixo do limite da consciência e quando reaparecem, as pessoas tendem a dizer que algo vai errado com elas.

Jung chama atenção para os medos que surgem do inconsciente sem uma causa percebida ou identificada, e que acaba afetando o comportamento das pessoas na vida cotidiana. 

Ao comparar o homem moderno ao homem primitivo, Jung conseguiu perceber que se trata do mesmo homem de sempre mas que, porém, possui diferentes interpretações em função dos tempos em que viveu. essas comparações permitiu que ele compreendesse a tendência do homem em construir símbolos e a participação dos sonhos em expressá-los. Com isso, descobriu que muitos sonhos apresentam imagens análogas, ideias, mitos e ritos primitivos.

Constatou que associações e imagens são parte integrante do inconsciente, e podem ser observadas em todo canto, no sonhador instruído ou analfabeto, inteligente ou obtuso. Essas associações históricas são o elo entre o mundo racional da consciência e o mundo do instinto.

Jung chama atenção do contraste entre o pensamento "controlado" que temos quando acordados e conscientes, e a riqueza das imagens produzidas pelos sonhos, que não temos controle e são inconscientes. Os pensamentos quando controlados nem sempre nos faz mudar de comportamento. Jung acreditava que era necessário haver alguma coisa mais eficaz para que se mude de comportamento ou de atitude, e que essa cosia estaria nos sonhos, com seu simbolismo, energia psíquica que nos obriga a dar-lhe atenção.

As mensagens do inconsciente têm uma importância bem maior do que imaginamos.

A vida consciente tem todo tipo de influência sobre as pessoas. As pessoas nos estimulam ou deprimem, ocorrências na vida profissional  ou social desviam a nossa atenção, e todas essas questões podem nos levar aos caminhos opostos e, portanto, à nossa Individuação. quanto mais influenciada por preconceitos, erros, fantasias e anseios infantis, mais a nossa consciência tende a se dissociar, distanciando-se dos instintos normais da natureza e da verdade. 

Jung acredita que os sonhos fornecem o material onírico capaz de restabelecer a nossa balança psicológica, afim de restabelecer o equilíbrio psíquico total, como uma função compensatória dos sonhos da constituição psíquica do sujeito. assim, os sonhos compensam as deficiências de suas personalidades e, ao mesmo tempo, previne-as dos perigos de seus rumos atuais. Por essa razão, não devem ser rejeitados, mas sim, notados, observados e analisados.

Segundo Jung os sonhos podem revelar certas situações muito antes de acontecerem, isso se explicaria, por aquilo que deixamos inconscientemente de ver, o nosso inconsciente registraria e transmitiria informações por meio dos sonhos, como uma advertência.

"Para benefício do equilíbrio mental e mesmo da saúde fisiológica, o consciente e o inconsciente devem estar completamente interligados, a fim de que possam se mover em linhas paralelas." Quando esses se separam ocorre a dissociação da personalidade  e os distúrbios psíquicos aparecem.

Jung considerava uma tolice guias pré-fabricados que interpretam sonhos. Para ele, nenhum símbolo onírico pode ser separado da pessoa que o sonhou, assim como não existem interpretações definidas e específicas para qualquer sonho.



O sonho recorrente é considerado um fenômeno digno de apreciação. Jung afirma que esse tipo de sonho é algum tipo de compensação para algum defeito particular que existe na atitude do sonhador em relação à vida, ou ainda, pode ser um trauma que tenha deixado marca, ou uma antecipação de algo que esteja por acontecer.


REFERÊNCIAS:
JUNG, Carl. G. O homem e seus Símbolos. Editora Harper Collins. Rio de Janeiro, 2020. Cap. 1 Chegando ao Inconsciente, p. 43-63

Nenhum comentário:

Postar um comentário