Referencial Teórico-Metodológico

  •   toma como modelo metodológico a fenomenologia social, assim como proposta por Peter Berger (Berger et al. 1979; Berger, 1994 e Berger & Luckmann, 1996) e Alfred Schutz (1972, 1974 e em Wagner, 1979), pela possibilidade que esta nos oferece de acesso e compreensão simultâneos da experiência humana individual e social, subjetiva e intersubjetiva, pessoal e coletiva.
  • O fenômeno...
    •  é aquilo que se mostra. Isso comporta uma afirmação tríplice: 
      • 1º - existe uma coisa; 
      • 2º - esta coisa se mostra; 
      • 3º - isto é um fenômeno pelo próprio fato de se mostrar. 
    • Acontece que o fato de se mostrar interessa tanto àquilo que se mostra, como àquele a quem é mostrado. ( Leeuw, 1970 p. 674). 
    • A realidade só pode ser conhecida se existir alguém.
    • a realidade aparece sempre para nós como realidade-apreendida-por-alguém, ou seja, fenômeno.
    • O fenômeno, portanto, não é nem a realidade em si mesma (a coisa em si mesma, objetiva por si mesma) nem uma criação subjetiva.
    • É justamente aquilo que se constitui quando me dirijo para essa coisa exterior a mim, que se mostra a mim, e que por isto só pode ser conhecida na sua relação comigo. Para a fenomenologia (Dartigues, 1973; Giles, 1975; Husserl, 1996; Zilles, 1994) o que me permite entrar em contato com a realidade, por meio dos fenômenos, é a consciência.
A consciência...
  • apresenta certas características que determinam nossa maneira de conhecer a realidade. 
  • A característica fundamental da consciência é a intencionalidade. 
  • A intencionalidade é justamente a capacidade da  consciência de se dirigir para as coisas, de se dirigir para aquilo que se mostra. 
  •  Ao nos dirigirmos para o que se mostra apreendemos aquela realidade de uma maneira humana. 
  • Por meio dos fenômenos apreendemos aspectos desta, a conhecemos, parcial e progressivamente.
  • o conhecimento que vamos ter do fenômeno depende da maneira como o visamos.
A fenomenologia aponta então para uma ontologia regional...
  • implica na realidade  mais ampla do que aquilo que conhecemos dela. 
  • No intuito de aproximar melhor da essência de qualquer coisa, da essência do fenômeno que visamos, torna-se necessário, então, buscar conhecer como outras pessoas, outras consciências, visaram aquele mesmo fenômeno, ou seja, como aquele fenômeno se constituiu para essas outras pessoas. 
  • recolhendo visadas diferentes do mesmo fenômeno podemos conhecê-lo melhor, aproximando-nos de sua essência.
  •  cada um tem seu próprio jeito de se relacionar com o fenômeno e de se preocupar ou não em conhecê-lo mais.
Nossas experiências passadas e a cultura à qual pertencemos também vão formar a compreensão que temos de um dado fenômeno. 
  • O horizonte no qual estamos inseridos influi na nossa apreensão da realidade, porque nascemos em um mundo com o qual não temos apenas um contato direto, mas também um contato por intermédio do que outras pessoas já constituíram, significaram e conheceram deste mundo.
  •  Aqui se apresenta a importância da intersubjetividade para o conhecimento da realidade
    • não aprendemos somente por meio de nossas experiências diretas com a realidade, mas também com as experiências que outras pessoas tiveram com esta. 
    • A ideia que temos de um objeto depende então das diferentes perspectivas pelas quais já o visamos, incluídas nestas as perspectivas que pudemos visar a partir do que aprendemos com a experiência de outras pessoas. 
    • O que torna um grupo de pessoas um grupo cultural distinto de outro é justamente a maneira específica pela qual este grupo aprendeu a compreender e a manipular a realidade. 
    • Este conhecimento do mundo é passado adiante para as novas gerações que podem modificá-lo ou não, dependendo de como o conhecimento obtido é de fato eficiente para lidar com a realidade. 
    • Assim, culturas diferentes podem compreender aspectos da realidade de maneiras mais eficientes ou menos eficientes, mais precisas ou menos precisas, mais completas ou menos completas, de acordo com seus interesses, possibilidades e necessidades. 
    • Isso acontece justamente porque cada aspecto da realidade que uma dada cultura conhece pode ter sido apreendido de maneira diferente daquela que outra cultura utilizou para apreender o mesmo aspecto.

Husserl (1996) denominou de mundo-da-vida este mundo da vida cotidiana, pré-científico, pré-reflexivo e intuitivo, mundo da vida prática
  • O mundo-da-vida não é somente o conjunto das coisas físicas, mas é constituído por toda a bagagem de experiências vivenciais que cada ser humano possui e compartilha com o grupo ao qual pertence. Na verdade, representa a totalidade do mundo físico, intelectual e cultural no qual estamos mergulhados e que reconhecemos mais ou menos de forma consciente como sendo o nosso mundo. (Bello, 1998: 38)
  • o sujeito inserido no mundo-da-vida é um sujeito inserido em um mundo de fenômenos já apreendidos pela sua consciência
  • é um sujeito inserido em um mundo de coisas que ele, até um certo ponto, já conhece. 
  • A importância do mundo-da-vida para o sujeito é justamente a de possibilitar-lhe estar presente na realidade, ao organizá-la de maneira que esta não seja caótica demais.
  •  O mundo-da-vida é a realidade ordenada que dá sentido à nossa vida (Berger et al., 1979)
  • O mundo-da-vida é formulado a partir de significados compartilhados coletivamente. 
  • Sujeitos que compreendem a realidade de maneira similar são, assim, habitantes do mesmo mundo-da-vida. Outros sujeitos que a compreendam de outra maneira habitam outro mundo-da-vida. 
  • O que vai fazer com que uma cultura ou outra mantenha ou não sua maneira de compreender e atuar frente à realidade é a capacidade que os instrumentos e significados culturais presentes nesta tenham de, no concreto da vida, ser suficientemente eficientes para dar conta da realidade, e a capacidade destes serem mantidos coletivamente.

Nenhum comentário:

Postar um comentário