O Behaviorismo Metodológico e suas relações com o Mentalismo e o Behaviorismo Radical 1 - Maria Amélia Matos

INÍCIO E OBJETO DE ESTUDO DO BEHAVIORISMO:
  • Século XX - Surge o behaviorismo na Psicologia.
  • Proposta do Behaviorismo para a Psicologia; Tornar o COMPORTAMENTO seu objetivo de estudo, em contraposição, às ideias de que a Psicologia deveria estudar a mente ou consciência dos homens.
MENTALISMO 
  • É o cessar as ideias ou imagens mentais, por meio da introspecção, sendo revelada através de uma ação, gesto, ou palavra.
  • Idade Média: segundo a Igreja,  o comportamento do homem se dava pela posse de uma alma., e eram essas ideias ou impressões mentais nas mentes dos homens que controlariam seus comportamentos. O homem é concebido por duas naturezas: uma divina(mental) e uma material (física), e em determinadas épocas, é a mental que determina a material. Entretanto, só era possível evidenciar o comportamento em si, e não o que se passa na mente do indivíduo.
  • Modelo causal e mecanicista do comportamento humano, ou seja, a mente causando o comportamento.
Maria Amélia trás importantes considerações sobre o Behaviorismo, da Palestra apresentada no II Encontro Brasileiro de Psicoterapia e Medicina Comportamental, Campinas,out/93:


  • que “linguagem” é produto de comportamento verbal; que “solução de problemas” é produto de contingências alternativas, e que “lembrar” é produto de manipulações de estímulos discriminativos (Skinner, 1953 e 1974).  
  • comportamento verbal (linguagem) do outro é decodificado e reorganizado por mim, que sou ouvinte, modificando minha maneira de ver um fenômeno ou avaliar uma pessoa. Esses estados disposicionais modificados, acabam modificando meu comportamento em relação a esses eventos. E o outro, através de meu relato verbal pode ter acesso as decodificações e reestruturações, ou seja, minhas cognições.
  • Fatos, sugestões, crenças, lembranças e disposições são vistos como importantes formas de se comportar.
  • O behaviorismo rejeita a consciência como self, como agente decisor, causados ou mediador do comportamento; rejeita mente e consciente como expectadoras e representações do mundo.

O BEHAVIORISMO CLÁSSICO (WATSON E GUTHRIE) EM OPOSIÇÃO AO MENTALISMO E AO INTROSPECCIONISMO

  • Final do Século XXI - ciência enfatiza nos dados objetivos, medidas, definições claras, demonstração e experimentação, o que levou Watson a propor o Behaviorismo., fazendo daquilo que se pode observar, o corpo de estudo da Psicologia (comportamento).
  • O Manifesto Behaviorista corresponde a várias publicações com destaque ao artigo de 1913 e o livro de 1924;
BEHAVIORISMO METODOLÓGICO PROPOSTO POR WATSON INCLUÍA: 
  • dar o comportamento por si mesmo;
  •  opor-se ao Mentalismo, e ignorar fenômenos como consciência, sentimentos e estados mentais; 
  •   aderir ao evolucionismo biológico e estudar tanto o comportamento humano quanto o animal, considerando este último mais fundamental;
  •   adotar o determinismo materialístico;
  •   usar procedimentos objetivos na coleta de dados, rejeitando a introspecção;
  •  realizar experimentação controlada;
  •  realizar testes de hipótese de preferência com grupo controle; - observar consensualmente.
  •  evitar a tentação de recorrer ao sistema nervoso para explicar o comportamento, mas estudar atentamente a ação dos órgãos periféricos, dos órgãos sensoriais, dos músculos e das glândulas. 
  • Via o COMPORTAMENTO DE INTERESSE como COMPORTAMENTO APRENDIDO, portanto, as causas desse comportamento, devem ser buscada em seus ANTECEDENTES IMEDIATOS.
  • Modelo do Arco Reflexo de Lashley e Pavlov - a partir desse modelo que tentava explicar a relação observada entre estímulo-resposta, que Watson propôs uma Psicologia Estímulo - resposta, mediada pelo SNC (Sistema Nervoso Central).
  • O behaviorismo Metodológico, Clássico ou Mediacionista, ao tomar estados ou processos e/ou neurais, hipotéticos ou inferidos, como supostas causas do comportamento, ironicamente, se posicionava como um legítimo defensor do Mentalismo, o que Skinner vai desfazer mais tarde usando a expressão Behaviorista Radical, para o qual, toda consequência necessita de uma causa ou agente causal.
  • Rejeita a Introspecção pelo obscurecimento que produz na distinção entre objeto e método da Psicologia.
Tendências que mais influenciaram o pensamento de Watson:


 1. Positivismo Social de Auguste Comte
Considerando que a ciência é uma atividade do homem, e o homem um ser social, postula a natureza social do conhecimento científico, rejeita a introspecção e estabelece como critério de verdade o observável consensual, isto é, o observável partilhado e sancionado pelo outro.

2.     Positivismo Lógico do Círculo de Viena


Considerando que eu só tenho acesso à informação que meus sentidos me trazem, não posso ter informações sobre minha consciência, cuja natureza difere da de meu corpo. É verdade que não posso negá-la, mas também não posso estudá-la. (É interessante que esta influência também levou ao idealismo e ao subjetivismo: já que não tenho acesso a nada senão minhas sensações, o mundo não existe, somente minhas impressões dele, só minhas ideias são reais).

3. Operacionismo
É um resultado direto da influência do Positivismo Lógico sobre a Física. Afirma que, se somente tenho acesso às informações que meus sentidos trazem, então a linguagem pela qual expresso e estruturo essas informações é o mais importante em ciência. 


  A OBSERVAÇÃO
  • torna-se fundamental para o Behaviorismo
  • define a categoria comportamento como objeto de estudo, já que, o comportamento observável, aquele que afeta os sentidos do outro, que se pode ver, ouvir, tocar, etc.
  • há a necessidade de estreitar rigorosamente os registros e análises, já que torna-se importante a concordância entre observadores.

O COMPORTAMENTO  
  • As causas do comportamento deveriam ser algo externo ao organismo,, a saber, o ambiente.
  • Watson via o corpo como produto da investigação do "estímulo", palavra criada por Pavlov, que se referia à ação de uma fonte de energia sobre o organismo.
  • O estímulo causava no organismo uma mudança observável que o behaviorista chamava de comportamento.
  • Outros behavioristas clássicos consideravam que o ambiente desencadeia uma ação ou causa no comportamento (alguns behavioristas clássicos rejeitaram essa ideia, pois os estímulos e respostas nem sempre ocorriam de maneira tão mecânica e preditiva). Com isso, Toman formalizou o uso de variáveis intervenientes usando expressões como "mapa cognitivo"; construíram fatores de oscilações interações neurais, aferentes, ansiedades, predição, etc.
SKINNER

  • Seu modelo de seleção pelas consequência sempre deve ter uma causa ou agente causal, podendo a seleção natural se dar de três formas:
           A NÍVEL FILOGENÉTICO - responde pelos reflexos e padrões típicos de espécies, bem
                                                            como pela sensibilidade e contingências.
           A NÍVEL ONTOGENÉTICO - a seleção ocorre pela experiências do indivíduo.
          A NÍVEL DE PRÁTICAS SOCIAIS - cultura respondendo por operantes e respondentes 
                                                                        modificados.
  • Substitui a cadeia causal unidirecional e mecanicista pelas relações de caráter interacionista e histórica.
  • O corpo passa a ser considerado como um agente onde suas funções ocorrem, portanto, funções motoras ou sensoriais, o eu é o agente.
  • Há comportamentos meus que não pode ser observável por outras pessoas que não estejam diante dos acontecimentos. Ex: Eu sinto dor de dente e quem está do outro lado não pode me ver sentindo dor de dente, nem por isso, as sensações se tornam menos reais para mim que sinto a dor de dente.  Para Skinner o EU e não o outro, é quem constrói o conhecimento, ao contrário do que se pensava os behavioristas metodológicos.
  • Sofreu influência pelo Positivismo Lógico, onde o que existe para o indivíduo, existe. Porém, para não cair no subjetivismo ou idealismo, é preciso analisar a experiência do indivíduo, que para Skinner é um evento comportamental privado. Para Skinner o estudos de eventos encobertos inclui legitimamente dentro do campo de estudos da Psicologia como uma ciência do comportamento (Skinner, 1945 e 1963). Assim, Skinner se torna RADICAL em dois sentidos:    
  1. por negar radicalmente (absolutamente) a existência de algo que escapa ao mundo físico, que não possa ser identificado no espaço e tempo, como mente, consciência e cognição.
  2. por aceitar radicalmente (integralmente) todos os fenômenos comportamentais.
  • Mesmo reconhecendo a dificuldade de se ter acesso ao mundo interno, admite estudar os fenômenos internos e não separa mundo interno do mundo externo, pois considera o comportamento como interações Organismo-Ambiente, e não como movimentos do corpo.
  • Conceito de Ambiente tudo aquilo que é externo ao Comportamento, não importando se é um piscar de luz, um desequilíbrio hídrico, um derrame de adrenalina, ou um objeto ausente associado a um evento presente; não importando se sua relação com o comportamento é de contiguidade espaço/temporal (o que, não obstante, é exigido pelo mecanicismo do behaviorismo metodológico para explicar a troca de energias), ou não.
  • Para Skinner não podemos entender o comportamento, mas as circunstâncias em que este ocorre. Da mesma forma, não faz sentido, falar das circunstâncias sem a especificação do comportamento envolvido no processo.
  • Skinner aceita a introspecção como objeto de estudo, mas rejeita a consciência. 
  • introspecção  seria um comportamento verbal emitido sob controle de eventos internos, porem instalado pela comunidade verbal sob controle de eventos externos. 
  • Para o behaviorista radical a evidência de que vejo vocês é meu comportamento diante da circunstância “vocês”. Do mesmo modo, a evidência de que vocês existem também é meu comportamento. E nem é preciso que vocês estejam presentes para que eu reaja ou “veja” vocês, na verdade nem é preciso que vocês existam (Skinner, 1945)

  • Dizer que estou observando eventos internos não equivale a dizer que estou observando minha mente ou minha consciência. Equivale a dizer que estou observando meu próprio corpo e seu funcionamento. Ao observar meus comportamentos encobertos utilizo os mesmos recursos que utilizo ao observar meus comportamentos manifestos, ou os comportamentos manifestos de outrem, ou a tela de vídeo do meu computador 
  • Dizer que tem ou sente algo NÃO É EVIDÊNCIA da existência daquilo que se diz ter ou sentir. É um COMPORTAMENTO VERBAL que precisa ser analisado e interpretado nas circunstâncias em que ocorre, para identificar as evidências.
  • Considera essencial estudar EVENTOS PRIVADOS para entender o COMPORTAMENTO HUMANO.
  • Foca na interpretação de dados obtidos através da investigação sistemática do comportamento (o corpo desta investigação propriamente dita é a Análise Experimental do Comportamento).
  • Verifica as relações funcionais entre Comportamento e Ambiente.
  • Não busca relações realistas de causa e efeito, mas sim, relações funcionais que expressam sequência de eventos regulares.
  • Comportamento é visto como uma função biológica inerente ao organismo vivo, não necessitando de justificativas ulteriores.
  • Propõe dois tipos de transações ou contingências entre o COMPORTAMENTO  e o AMBIENTE, que constituem as duas classes conceituais fundamentais para o trabalho de descrição e análise do comportamento para Behaviorista Radical:
     a)   consequências seletivas, que ocorrem após um comportamento e que modificam a probabilidade futura de ocorrerem comportamentos equivalentes, isto é, da mesma classe; 
    b) 
contextos que estabelecem a ocasião para o comportamento ser afetado por essas conseqüências (e que, portanto ocorreriam antes do comportamento) e que igualmente afetariam a probabilidade futura de ocorrência de comportamentos equivalentes.

  • Relações funcionais - são estabelecidas quando identificamos mudanças na probabilidade de ocorrer um determinado comportamento. O objetivo dessas relações é compreender quais relações funcionais ocorreram alterando um comportamento esperado. Skinner não lida com explicações causais e sim funcionais.
  • O objeto de estudo é o sujeito consigo mesmo e sua história passada é sua linha de base, portanto, este só pode ser comparado com ele mesmo, embora se possa em certas variáveis ou contextos, descrever funções semelhantes, por exemplo de uma mesma comunidade.
  • mente, as emoções, e o sistema nervoso não seriam os organizadores ou iniciadores do comportar-se, havendo a preocupação em explicar como esse organismo existe em seu ambiente.


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