A Gestalt-terapia e a Arte de Cuidar

 "Cuidar é uma atitude que traz implicitamente o desprendimento de si e um voltar-se para o outro, numa relação de afetividade, de interesse genuíno e de atenção para com a pessoa de quem se cuida." "Quem cuida cuida de alguém ou de alguma coisa. No âmbito da psicoterapia, a concepção de cuidar está intimamente vinculada à fundamentação antropológica" (CARDOSO, 2020, pg. 67), o que traz visçoes variadas do ser de quem se cuida, pois o cuidado estará direcionado de acordo com necessidade do cliente em psicoterapia.

De acordo com Cardoso (2020, pg. 67), Heidegger é uma referência fundamental para a concepção de homem implícita na práxis psicoterápica, em que o autor propõe que esta só pode ser compreendida pela análise do Dasein (do ser aí, lançado no mundo, para al´me de si, para o aberto e para o desconhecido), em que o homem é concebido como um ser de possibilidades, que podem ou não ser consumadas em função das relações que ele estabelece e das experiências que ele adquire ao longo da vida. Na perspectiva existencial da Gestalt-terapia p homem é dotado de liberdde para fazer escolhas sobre as quais é responsáve, além de ter consciência intencional voltada para o objetivo, embora não seja o objeto em si, mas o significado do objeto para este homem. 

Na obra de Heidegger, "Ser e Tempo", Michelazzo (199) apud Cardoso (2020, pg. 69-70), ressalta0se a os três modos de ser no mundo: projeto (o homem é um ser possibilidades que se mostram nas relações do homem com o seu contexto); lançado (o ser depara também com impossibilidades e limitações as quais ele não escolheu, se refere às características que lhe foram dadas no início da vida); decaído (o ser encontra-se num estado de existência inautêntica, caracterizada pela banalidade do cotidiano e pela superficialidade, na qual o homem se perde de si mesmo, onde experimenta o vazio existencial decorrente da falta de sentido, o qual pode assumir uma diversidade de sintomas, tais como depressão, ansiedade, pânico e fobias, entre outros).

"Na situação psicoterapêutica, em geral, o ser de quem se cuida é aquele que se encontra no modo de inautenticidade, é a pessoa cuja existência é malograda, alienada, reduzida à condição de objeto, aos sintomas, a partes fragmentadas que, por ser vistas isoladamente, perdem o sentido. São aqueles momentos descritos por Heidegger (2008) nos quais o homem, como ser no mundo, entra em decadência, ou seja, o estado de queda da existência humana, no qual ele se torna alheio de si e se entrega ao modo de ser impessoal e desconectado do si mesmo." (CARDOSO, 2020, pg.71)

Segundo Heidegger (1981) apud Cardoso (2020, pg.71) há dois modos de cuidaar: um no qual o cuidador assume as escolhas pelo outro, e guia, orienta, controla e se ocupa, focando no resultado esperado; o outro, é uma postura de coltar-se para o outro e ajudá-lo a se reconhecer a fazer escolhas próprias, recaindo sobre a relação e a forma de estar no mundo, o qual se configura no modo de cuidar da Gestalt-terapia, que cuidar consiste em pensar o ser e o sentido da sua existÊncia nas suas várias dimensões. "Portanto, cuidar é fazer com e não fazer por" (CARDOSO, 2020, pg.72).

Cardoso (2020, pg.72) explica que o cuidado terapêutico tem a presença entendida como o encontro de pessoas que se abrem para o contato entre si, o que faz com que o cuidar não seja a técnica, mas sim uma postura, necessitando de habilidades interpessoais, capacidade de acolher, de escutar, de questionar, de dialogar, e convidar a pessoa a refletir sobre tudo que for importante para ela, para que a partir da compreensão possa ressignificar suas experiências. Tudo isso, aliado ao conhecimento teórico e às técnicas é que atingirão os objetivos pretendidos na psicorerapia. Para tanto, cuidar envolve o reconhecimento do outro na sua singularidade, implica despojamento de si e o disponibilizar-se para o cliente, numa postura de atenção, reconhecimento, confirmação da pessoa de quem se cuida, buscando olhá-la por inteiro, sem reduzi-la  a partes diagnosticadas. O gestalt-terapeuta busca enconrajar aquele que está cuidando a ser por si, a reconhecer possibilidades, a respeitar suas fragildiades e a develar o sentido de sua existência, respeitando o tempo e o ritmo do outro.

"Cuidar, então, é confirmar o íntimo, no sentido daquilo que é mais singular na pessoa, na contramão das aparências superficiais e vazias de sentido, tantas vezes supervalorizadas na nossa sociedade. É inspirar no outro a confiança necessária para que ele acredite em si mesmo e se reconheça como alguém digno, capaz e de valor. O existencialismo reflete-se na postura do Gestalt-terapeuta não como um conjunto de técnicas, mas em seu interesse por compreender o modo como a pessoa experiencia a si mesma no mundo, seja em seus momentos de existência plena ou de crise" (CARDOSO, 2020, pg.74).

Referências:
FRAZÃO, Lilian Meyer; FUKUMITSU, Karina Okajima. Gestalt-terapia fundamentos epistemológicos e influências filosóficas. Summus editorial.6ª reimpressão. São Paulo, 2020.




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