Resumo do Artigo Psicologia Social Contemporânea: Principais Tendências e Perspectivas Nacionais e Internacionais

Artigo publicado por Maria Cristina Ferreira, Universidade Salgado de Oliveira, traz uma perspectiva sobre o estado atual da Psicologia Social no plano nacional e internacional.


BREVE HISTÓRIA DA PSICOLOGIA SOCIAL

  • Tem se caracterizado pela pluralidade e multiplicidade de abordagens teóricas de conhecimentos sociopsicológicos, e devido a sua amplitude tem dificultado delimitar o seu objeto de estudo.
  • Tem como centro das preocupações o indivíduo-sociedade, ou seja, estudar as relações entre indivíduos, deste com a sociedade e a cultura.
  • Dedica-se prioritariamente ao estudo dos processos socioculturais, concebendo o indivíduo como integrante desse sistema, porém, vem focando cada vez mais em processos intraindividuais.
  • ênfase dada ao indivíduo e à sociedade levou a duas modalidades de Psicologia Social: Psicologia Social Psicológica (EUA) que procura explicar sentimentos, pensativos e comportamentos  na presença real ou imaginada de outras pessoas, focando ainda no modo como as pessoas respondem aso estímulos sociais; e a Psicologia Social Sociológica (EUROPA) que tem como foco o estudo da experiência social que o indivíduo adquire a partir de sua participação nos diferentes grupos sociais com os quais convive, privilegiando os fenômenos grupais e sociais.
  • Surge mais recentemente, na América Latina, a Psicologia Social Crítica ou Psicologia Social-Histórico-Crítica por adotarem uma postura crítica em relação às instituições, organizações e práticas da sociedade atual e conhecimentos produzidos pela Psicologia Social, colocando-se contra a opressão  e a exploração presentes na maioria das sociedades e têm como um de seus principais objetivos a promoção da mudança social como forma de garantir o bem-estar do ser humano, como bem afirma Hepbun,2003 apud  Maria Cristina Ferreira.
PRINCIPAIS TENDÊNCIAS QUE MARCARAM A PSICOLOGIA SOCIAL

A Psicologia Social na América do Norte (AN):
  • Obras que marcaram a fundação oficial da Psi Social na AN: o livro Uma introdução à psicologia social, de autoria de William McDougall, no âmbito da sociologia, e o livro Psicologia social: uma resenha e um livro texto, de autoria de Edward Ross, no âmbito da Psicologia (Pepitone, 1981).
  • A Psicologia Social se desenvolveu no âmbito das duas disciplinas,a té que no século XX, a Psicologia Social Psicológica se torna a forte tendência, sob influência do behaviorismo.
  • Floyd Allport, em seu livro texto de Psicologia Social (1924) defendia a ideia de que a Psicologia Social deveria focar no estudo experimental do indivíduo, diante dos estímulos de  seu ambiente social que era submetido.
  • Allport define os contornos da Psicologia Social Psicológica como uma disciplina objetiva, de base experimental e focada no indivíduo (Franzoi, 2007 apud Ferreira). 
  • 1920-1930 - domínio dos estudos sobre ATITUDES, INFLUÊNCIA SOCIAL INTERPESSOAL e da DINÂMICA DE GRUPOS.
  • ATITUDES  - Desenveu técnicas para mensurar o que era um fenômeno mental.
  • INFLUÊNCIA SOCIAL e DINÂMICA DE GRUPOS psicólogos influenciados pela Gestalt  procuravam conhecer o processo de formação de normas sociais, concluindo que os grupos desenvolvem as normas que governam e julgam os indivíduos (Normas Grupais).
  •  (Lewin, Lippitt & White, 1939) dedicaram-se à análise da influência dos estilos de liderança e do clima grupal sobre o comportamento dos membros do grupo e que havia uma liderança democrática que produzia tais normas, tornando o trabalho produtivo, mesmo que o líder não esteja presente.
  • Liderança Laissez-faire, contribuía para que o membros permanecessem passivos.
  • Liderança Autocrática deixava seus membros agressivos e apáticos.
  • Anos 20 , marcado o pós guerra, pela ATITUDE e PERCEPÇÃO DA PESSOA, surgindo estudos sobre a capacidade de comunicação e persuasão. A percepção de pessoas até hoje continua sendo uma das áreas centrais de estudo da Psicologia Social Psicológica.
  • Teoria do Equilíbrio de Heider (1946), as pessoas tendem a ter posições coerentes em relação a um mesmo objeto ou pessoa, mantendo-se em equilíbrio. Quando não há equilíbrio vivem situação de tensão e procuram restabelecer  mudando elementos a ele relacionados.
  • 1950-1960 - Renovam-se os interesses pelas pesquisas sobre influencia social e processos intergrupais. 
  • Surgem estudos sobre CONFORMIDADE estavam voltados para investigar os diferentes fatores que levam o indivíduo a permanecerem no grupo mesmo que não concordem com suas ideias. (Ex: Experimento de Milgran (1965) sobre obediência e autoridade).
  • Surge  a Teoria dos Processos de Comparação Social (Festinger, 1954) que defende que as pessoas necessitam avaliar suas habilidades e opiniões a partir de comparações realizadas com outros indivíduos que lhes são similares. Teoria atualmente muito usada nos processos de formação da identidade pessoal e social.
  • Posteriormente, a teoria da dissonância cognitiva, na qual estabelece que as pessoas são motivadas a procurar o equilíbrio entre suas atitudes e ações. (Festinger,1957).
  • 1970-1980 surgem as Teorias da Atribuição, que vai se debruçar sobre os processos cognitivos responsáveis pelos julgamentos sociais, isto é, pelos mecanismos que levam o indivíduo a perceber e atribuir causas internas (pessoais) ou externas (situacionais) ao comportamento do outro, bem como sobre os erros e vieses que interferem em tais processos.
  • Anos 80 - cognitivismo se consolida como perspectiva dominante da Psicologia Social Psicológica(EUA), e seu principal tema  de investigação passa a ser COGNIÇÃO SOCIAL, que tem como objetivo básico compreender os processos cognitivos que se encontram subjacentes ao pensamento social (Fiske & Taylor, 1984).
  • A crise da Psi Social Psicológica (EUA) foi marcada por uma excessiva individualização sobre o indivíduo e movimentos sociais ocorridos, como o feminismo, por exemplo.Questionou-se a sua relevância social, pois se utilizava de uma linguagem científica neutra distanciando-se dos problemas sociais reais.
  • TENDÊNCIAS ATUAIS: foco em três temas centrais à Psicologia Social: COGNIÇÃO SOCIAL, as ATITUDES e os PROCESSOS GRUPAIS, destacando-se  A NEUROCIÊNCIA SOCIAL e a PSICOLOGIA SOCIAL EVOLUCIONISTA.
  • COGNIÇÃO SOCIAL: subárea da Psicologia, que considera a ATENÇÃO, PERCEPÇÃO, MEMÓRIA e JULGAMENTO  como diferentes etapas do processo cognitivo. Estuda o conteúdo das representações mentais e os mecanismos ocorridos no processo de informação social. Foca ainda nos modos pelos quais as impressões, crenças e cognições sobre os estímulos sociais se formam e afetam o comportamento.
  • Pesquisas mais recentes apontam que os afetos e motivações individuais interagem com as cognições na determinação do comportamento social (Schwarz, 1998), e que fatores motivacionais podem interferir no grau de esforço cognitivo, que processam , facilitam e ativam esquemas cognitivos.
  •  recentemente, porém, os psicólogos sociais cognitivistas passaram a explorar as características da situação social que interferem nas estratégias de processamento, ou seja, uma cognição social situada. Com isso, a ênfase se desloca do “pensamento sobre os estímulos sociais” para o “pensamento no contexto social” (Schwarz, 1998). 
  •  os principais fenômenos psicossociais investigados atualmente, na perspectiva da cognição social, encontram-se o self, a formação de impressões, a percepção de pessoas e os estereótipos.
  •  No contexto do cognitivismo, o self é conceituado como um autoesquema, isto é, como uma representação mental que contém o conhecimento do percebedor acerca de si próprio, no que se refere a suas características de personalidade, papéis sociais, experiências passadas e metas futuras (Quinn & cols., 2003). O self decorre, portanto, de um processo flexível e construtivo de julgamento sobre si mesmo.
  • Os estereótipos, a formação de impressões e a percepção de pessoas constituem temas tradicionalmente estudados pela Psicologia Social e centrais à área de cognição social.
  • Os estereótipos consistem em esquemas ou representações mentais sobre grupos sociais, interferindo ativamente no processo de formação de impressão e percepção de pessoas. estudos mostram que as pessoas costumam fazer INFERÊNCIAS INICIAIS (formação e percepção de pessoa) baseada em ESTERIÓTIPOS. Posteriormente, dependendo de sua motivação e habilidade poderá corrigir suas impressões iniciais.
  • Atitudes estão associadas a crenças, valores e opiniões. São avaliações gerais que variam do extremo negativo ao extremo positivo, dos objetos presentes no mundo social.
  •  “formação de atitudes” e “mudança de atitudes”  são expressões vinculadas a processos distintos (Crano & Prislin, 2006). Assim é que a formação de atitudes costuma ocorrer de forma não conscientepor meio de aprendizagem condicionada ou mediante a mera exposição a estímulos vivenciados como afetivamente positivos. A mudança de atitudes, por seu turno, costuma ocorrer no plano consciente e vem sendo mais recentemente explicada pelos modelos de processos duais (Chaiken & Trope, 1999).
  • HEURÍSTICAS são atalhos mentais que usamos para simplificar a solução de problemas cognitivos complexos. São regras inconscientes para reformular problemas e transformá-los em operações mais simples e quase automáticas.
  • PROCESSOS GRUPAIS: avanços realizados em metodologias de análises de dados que consideram o grupo uma unidade autônoma e não uma soma de indivíduos têm propiciado avanços consideráveis no estado atual do conhecimento sobre os processos grupais. 
  • NEUROCIÊNCIA SOCIAL: assim cunhada pela primeira vez por Cacioppo e Berntson (1992), surge movida principalmente pelo interesse de investigar as possíveis associações existentes entre a cognição social e as funções cerebrais, com o intuito de compreender o papel desempenhado pelas estruturas neurais no processamento da informação social (Adolphs, 2009).  campo promissor de investigação na área de Psicologia Social que poderá indubitavelmente contribuir para maior compreensão do comportamento social.
  • PSICOLOGIA SOCIAL EVOLUCIONISTA: tem origem na Teoria da Evolução de Darwin segundo a qual a evolução das espécies se dá com base em um ciclo que inclui a variação, a competição e a hereditariedade.  As espécies apresentam variações em suas características constituintes e habilidades para lidarem com seu meio ambiente e que  somente aquelas dotadas de maiores habilidades competitivas irão conseguir sobreviver, bem como transmitir tais habilidades para a geração seguinte.  Os psicólogos sociais evolucionistas defendem que processos similares à evolução genética operam na transmissão da cultura. Diferentes grupamentos humanos variam em suas crenças e valores culturais, e que, em função de recursos cognitivos limitados, algumas dessas variantes culturais são mais prováveis de serem aprendidas e lembradas, em geral aquelas transmitidas por modelos mais proeminentes (pais, celebridades etc.).  Apoia-se no pressuposto de que muitos pensamentos, sentimentos e comportamentos sociais encontram-se associados a mecanismos biológicos que interagem de forma dinâmica com processos psicológicos e de aprendizagem, no interior de uma determinada cultura.
A Psicologia Social na Europa: Evolução e Tendências Atuais
  • Iniciou a partir de 1970 mo0tivada pela crise da Psicologia Social dos EUA.
  •  Entre os temas de estudo mais frequentes no contexto europeu encontram-se a identidade social, que se insere principalmente no contexto das relações intergrupais, e as representações sociais, que remetem a uma psicologia dos grupos e coletividades
  • TEORIA DA IDENTIDADE SOCIAL: procuraram enfatizar a dimensão social do comportamento individual e grupal, ao postularem que o indivíduo é moldado pela sociedade e pela cultura. (Tajfel, 1981; Tajfel & Turner, 1986). defendem que as relações intergrupais estão intimamente relacionadas a processos de identificação grupal e de comparação social. Apoia-se em três postulados: (1) o autoconceito é derivado da identificação e pertença grupal; (2) as pessoas são motivadas a manter uma autoestima positiva; (3) as pessoas estabelecem uma identidade social positiva mediante a comparação favorável de seu próprio grupo (in-group) com outros grupos sociais (out-groups).
  • TEORIA DA CATEGORIZAÇÃO DE TURNER, HOGG, OAKES, REICHER E WETHERELL (1987): tem foco nos fatores que levam os indivíduos a realizarem determinadas categorizações, bem como suas consequências para o comportamento coletivo. Postula-se, assim, que a depender da força da pressão social presente em determinadas situações, as pessoas deixarão de lado suas características idiossincráticas (autopercepção) e ativarão suas identidades sociais, o que as levará ao engajamento em ações coletivas. Para eles, as identidades sociais consistem em categorias socialmente construídas que se mostram mais ou menos salientes, em função das características da situação social. 
  • TEORIA DA IDENTIDADE SOCIAL vem procurando elucidar o papel desempenhado pelo autoconceito nos processos e relações interpessoais ao articular fenômenos sociocognitivos, motivacionais e macrossocial.Vem sendo utilizada mais recentemente não apenas no estudo das relações intergrupais, mas também na investigação da autocategorização e de vários processos grupais, como a coesão, a liderança, a influência social etc.
  • TEORIA DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS: englobam um conjunto de conceitos, imagens e explicações que se originam do senso comum, no contexto das interações e comunicações interpessoais vão se modificando à medida que novos significados vão sendo acrescentados à realidade, apoiando-se nos processos de ancoragem e objetivação.  (Moscovici,1981)
  • TEORIA DO NÚCLEO CENTRAL (ABRIC, 1994) defende que toda representação social organiza-se em torno de um núcleo central e de elementos periféricos. O núcleo central consiste no elemento essencial da representação, em função de organizá-la e lhe dar sentido.

A Psicologia Social na América Latina: Evolução e Tendências Atuais
  • Até a década de 1970, esteve grandemente influenciada pelo paradigma da Psicologia Social Psicológica.
  • Os Psicólogos Sociais, em prol de uma psicologia social mais contextualizada, isto é, mais voltada para os problemas políticos e sociais que a região vinha enfrentando, passando a adotar a Psicologia Social Crítica, defendendo uma psicologia mais comprometida com a realidade social.
  •  Martín-Baró (1996) enfatiza que a principal tarefa do psicólogo social deve ser a conscientização de pessoas e grupos, como forma de levá-los a desenvolver um saber crítico sobre si e sobre sua realidade, que lhes permita controlar sua própria existência. Que os psicólogos sociais contribuam para a construção de identidades pessoais, coletivas e históricas capazes de romper a situação de alienação das maiorias populares oprimidas e desumanizadas que vivem à margem da sociedade dominante e, consequentemente, levar à mudança social. Para ele (Martin-Baró, 1989), então, a construção teórica em psicologia social deve emergir dos problemas e conflitos vivenciados pelo povo latino-americano, de forma contextualizada com sua história.
A Produção Brasileira em Psicologia Social
  • 1930- surgem as primeiras publicações brasileiras sobre questões psicossociais.
  • 1962 - Ocorre a Institucionalização da Psicologia Social quando o CFP(Conselho Federa de Psicologia) criou o currículo mínimo para os cursos de Psicologia, estabelecendo a obrigatoriedade do ensino da Psicologia Social.
  • 1970 - A Psicologia Social Psicológica Norte-Americana foi dominante, inclusive na América Latina.
  • 1972 - Publicou-se  o livro “Psicologia social”, de autoria de Aroldo Rodrigues.
  • 1980 -  Criou-se a  da Associação Brasileira de Psicologia Social (ABRAPSO), estabelecida com o propósito de redefinir o campo da Psicologia Social e contribuir para a construção de um referencial teórico orientado pela concepção de que o ser humano constitui-se em um produto histórico-social, de que indivíduo e sociedade se implicam mutuamente (Jacques & cols., 1998). 
  • 1984 - Publicou-se o livro de Silvia Lane e Vanderley Codo e intitulado “Psicologia social: O homem em movimento”.
  • As três principais vertentes atuais da Psicologia Social, discutidas previamente (Psicologia Social Psicológica, Psicologia Social Sociológica e Psicologia Social Crítica.
  • A preferência dos psicólogos brasileiros pela Psicologia Social Crítica mostra-se coerente com a tendência mais recente de adesão a tal perspectiva que vem sendo observada em diversos outros países da América Latina.
  •  O tema das atitudes, crenças e valores, juntamente com a percepção social, vem, há várias décadas, constituindo-se em um dos principais objetos de estudo dos psicólogos brasileiros. 
  • PSICOLOGIA SOCIAL CRÍTICA  se preocupa basicamente com os problemas sociais, procurando assim desenvolver um saber autônomo e capaz de compreender tais fenômenos.



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