A Psicologia e a Personalidade



PERSONALIDADE: UM CONCEITO CONTROVERTIDO

·       Senso comum- define-se personalidade a partir de um conjunto de características observadas, verificando-se uma tendência à valoração da personalidade enquanto boa ou má. A Psicologia não valoração da personalidade enquanto boa ou má.

·       Personalidade, refere-se ao modo relativamente constante e peculiar de perceber, pensar, sentir e agir do indivíduo; inclui habilidades, atitudes, crenças, emoções, desejos, modos de comportar-se, e aspectos físicos do indivíduo. O indivíduo é analisado integralmente.

·       Na observação da personalidade o que interessa é o indivíduo que percebe, que aprende e como esses processos se relacionam entre si e com todos.

·       O Estudo da personalidade deve ser compreendido nos:

o   Aspectos da psicologia geral – o que há de comum entre todos as pessoas, independente de fatores culturais, grupais ou circunstanciais.
o   Aspectos da psicologia individual – abrange a individualidade do indivíduo.

ESTRUTURA E CONTEÚDO DA PERSONALIDADE
Só é possível compreender a personalidade considerando a relação indissociada entre estrutura e conteúdo.
·       A estrutura da personalidade é a base que organiza e une entre si as diferentes condutas e disposições do indivíduo. Para a psicanálise essa estrutura se forma entre 4 ou 5 anos. Para Piaget essa estrutura se forma entre 8 e 12 anos. Admite-se, portanto, que cada criança tem uma quantidade de energia vital, maior ou menor, que vai dar a tonalidade de seu comportamento. Ex.: calmo e agitado.

·       Os conteúdos, desta estrutura da personalidade estão relacionados com as vivências concretas do indivíduo no seu meio social, cultural, religioso, etc.  

·       A interioridade ou intimidade do indivíduo expressa-se, de modo mais ou menos transparente, nos seus comportamentos e no seu modo de estar no mundo, bem como esta subjetividade.

CARÁTER, TEMPERAMENTO E TRAÇO
Na abordagem da personalidade, alguns termos são empregados frequentemente com vários significados, inclusive no senso comum. Alguns destes termos são: caráter, temperamento e traço de personalidade.
CARÁTER
·       é um termo que os teóricos preferem não usar, devido à diversidade de usos existentes, inclusive no senso comum, para designar os aspectos morais dos indivíduos. Eventualmente, podemos encontrá-lo na referência a reações afetivas, ou, mais comumente, para designar aquilo que diferencia a marca pessoal de alguém. Abrange aspectos biofísicos e psicológicos do indivíduo. Vai se estruturando ao longo da vida, de forma gradativa, e por isso mesmo, não se manifesta de forma definitiva na infância, e sofre influências dos fatores ambientais, culturais, educacionais, etc.
Os Traços do Caráter são:
o   Grau de sensibilidade moral - consciência ou senso moral. Tem origem cultura e é historicamente condicionada.
o   Grau de abertura para o mundo exterior – capacidade de comunicação, integração e relacionamento com o mundo exterior. Características da extroversão/ introversão.
o   Grau de autoestima – compreende a estruturação da identidade do EU. Dela depende: sustentação dos papéis familiares e sociais, capacidade de autonomia individual. Base da autoestima (autoimagem, amor próprio e autoconsciência) Inferioridade X Superioridade.
o   Força do imaginário – avaliação da fantasia e capacidade imaginativa e criativa do indivíduo, fonte do pensamento e criação.
o   Antinomia otimismo e pessimismo – capacidade de enfrentar os obstáculos do cotidiano com humor. Implica uma concepção de vida moral, filosófica, existencial e social.
o   Antinomia dominação e submissão – estilo preferido de um indivíduo em suas relações interpessoais e na vida social.
o   Equilíbrio masculinidade e feminilidade – consideração do papel sexual e as diferenças psicológicas e sociais estimuladas pelo ambiente entre os sexos.

 Segundo Freud, o caráter de um homem é formado pelas pessoas que escolheu conviver.

TEMPERAMENTO
É outro desses termos usados em vários sentidos. Ele deve ser entendido como uma alusão aos aspectos da hereditariedade e da constituição fisiológica que interferem no ritmo individual, no grau de vitalidade ou emotividade do indivíduo.

·       TRAÇO DE PERSONALIDADE

o   Refere-se a uma característica duradoura do indivíduo.  Ex.: ser reservado, ser bem-humorado, ser expansivo, etc.
o   Representa a peculiaridade e intensidade individual dos afetos psíquicos e da estrutura dominante do humor e motivação.
o   Disposição inata e particular de cada pessoa, pronta para reagir aos estímulos ambientais.
o   Maneira de ser e agir da pessoa geneticamente determinado(transmitido de pais para filhos, logo não é aprendido nem pode ser educado), devendo ser entendido como uma combinação de caracteres físicos e funcionais.

o   Os traços são inferidos a partir do comportamento, podendo ser:
§  Mais centrais – aqueles em torno dos quais o conjunto das demais características ou traços se organizam.
§  Mais periféricos – aqueles comuns num grupo social, como por exemplo: persistência, agressividade.

TEMPERAMENTO & PERSONALIDADE

TEMPERAMENTO
PERSONALIDADE
É biologicamente determinado
Produto do ambiente social
Características temperamentais podem ser identificadas já cedo
É moldada durante os períodos do desenvolvimento infantil.
Nos animais podemos identificar apenas traços de temperamento.
É prerrogativa dos seres humanos.
Apresenta aspectos estilísticos.
Apresenta aspectos do comportamento.
Se refere à função biológica
Se refere à função integrativa do comportamento humano


TEORIAS DA PERSONALIDADE: DIFERENÇAS E SEMELHANÇAS

Existem inúmeras teorias da personalidade. Estas teorias enfatizam aspectos diferentes.
o   A Psicanálise enfatiza aspectos psicossexuais.
o   Teoria Rogeriana, (Carls Roger), enfatiza a necessidade fundamental de autorrealização.
o   Teoria behaviorista (Skinner) enfatiza a aprendizagem e, praticamente, substitui a teoria de personalidade por uma teoria de aprendizagem em que os aspectos duradouros do comportamento do indivíduo são os hábitos.

Alguns princípios que norteiam a abordagem da personalidade:

1. Os determinantes inconscientes do comportamento, Freud e seus seguidores enfatizam o inconsciente como núcleo fundamental da teoria e da conduta na vida cotidiana e não só na patologia.

2. Determinismo consciente do comportamento, alguns teóricos rejeitam, explicitamente; a determinação inconsciente do comportamento, como K. Lewin e G. Àllport. Eles desenvolveram a psicologia da consciência.

Conceber a personalidade e, portanto, o homem como produto do determinismo ambiental ou do determinismo psíquico é outra questão importante. Alguns teóricos, adeptos da teoria S-R, como HulI, Dollard e Miller, supõem que, quando o indivíduo nasce, a mente humana é uma “tábula rasa” que só vai adquirindo estrutura e conteúdo pela estimulação do meio, pelas inúmeras situações de aprendizagem que compõem o cotidiano e a vida inteira. O homem é pensado como passivo e reativo.
Segundo esta teoria, é na compreensão do ambiente e neste mundo exterior ao indivíduo que se deve buscar a causa do comportamento, da resposta, enquanto reação a estímulos ambientais. A personalidade, portanto, é um conjunto de hábitos e comportamentos adquiridos a partir de condicionamentos na infância e outras formas de aprendizagem que vão reforçando alguns hábitos, substituindo outros. E o determinismo ambiental.

Em oposição a estes teóricos, estão aqueles que não fazem qualquer referência ao processo de aprendizagem, como Jung e Rogers. Estes, assim como Freud, colocam o indivíduo como fonte de seus atos. A natureza do homem é ativa. Ele é dotado de impulsos, instintos, motivações, necessidades, desejos conscientes ou inconscientes, bem como de uma energia vital ou sexual que determinam seu modo de ser. E o determinismo psíquico.
Existe uma tendência geral dos estudiosos da personalidade em considerar a hereditariedade e a base biológica do organismo como relevantes:
Os teóricos que enfatizam a aprendizagem afirmam que o ambiente atua, inicialmente, sobre uma base biológica, o organismo.
A Psicanálise afirma que a base inata dos instintos se transforma em pulsões. Sheldon é um dos teóricos que mais radicaliza a importância deste fator, no sentido de “reduzir” os aspectos da personalidade às características genéticas. Este autor sustenta que há uma estrutura biológica que determina o desenvolvimento físico e a modelagem de comportamento. Suas pesquisas tentam comprovar que existe uma correlação entre tipo físico e tipo psicológico. Por exemplo, a correlação entre o tipo mesomorfo (tipo físico atlético) e a postura de dominação e agressividade na sua relação com os outros.

O contexto sociocultural é considerado por poucas teorias como influenciador da formação e do desenvolvimento da personalidade. Acatam a importância de se compreender a personalidade como produto de condições culturais, dependendo das oportunidades que a sociedade oferece.

As diferentes teorias são diferentes recortes de um mesmo homem, que pensa, sente, age, se autoconhece e se transforma. Não há ainda uma teoria que englobe todos os conheci mentos acumulados nesta área de estudo e supere esta diversidade.

A TEORIA DE ERICH FROMM

Fornece uma ideia geral de um corpo sistematizado de conhecimentos nesta área, a partir das ideias principais de um dos estudiosos da personalidade.

Natural da Alemanha, Erich Fromm (1900-1980) concluiu os estudos de Psicologia, Sociologia e Filosofia em seu país, tendo se radicado nos Estados Unidos, em 1933. Sua formação teórica foi em Psicanálise e é considerado um culturalista, porque de fendia enfaticamente que os aspectos culturais, sociais e políticos são determinantes das possibilidades de realização humana e, portanto, da estruturação da personalidade.

Este autor postula a existência de cinco necessidades específicas que se originam das condições da existência humana:

• A necessidade de relacionamento: o homem sente-se só e isolado porque se separou da Natureza e dos outros homens. Ele, ao contrário dos animais, perdeu suas ligações de interdependência com a Natureza e, portanto, como homem isolado, não está instrumentado para enfrentar todas as condições da Natureza. Nesse sentido, necessita de relações humanas que assegurem o cuida do mútuo, a compreensão.
• A necessidade de transcendência: refere-se à necessidade humana de superar sua natureza animal, de poder realizar sua capacidade de raciocinar, imaginar, criar. O bloqueio dessa necessidade leva o homem a ser destruidor. Nesse sentido, o amor e o ódio são respostas à necessidade que o homem tem de superar sua natureza animal.
• A necessidade de segurança: diz respeito ao seu desejo de ser parte integrante do mundo e ter certeza quanto ao pertencimento a algum grupo. Esta necessidade é plenamente satisfeita, na criança pequena, pela relação gratificante com a mãe. A satisfação e a felicidade estão relacionadas à solidariedade e fraternidade que sente dos outros.
• A necessidade de identidade: o homem deseja ter sua própria marca, sua individualidade, ser original e diferente como indivíduo. A possibilidade de realizar seu potencial criador, leva-o a desenvolver sua própria identidade no mundo. Quando é impedido disto, acaba por reproduzir o comportamento de outra pessoa ou grupo.
• A necessidade de orientação: o homem necessita de um quadro de referências para pautar sua conduta, para ter um modo consistente e estável de perceber e compreender o mundo e a si próprio.

As manifestações específicas dessas necessidades e o modo como o homem as realiza são determinadas pelas condições sociais objetivas em que ele vive.

A personalidade de cada um desenvolve-se de acordo com as “oportunidades” e condições que a sociedade oferece. Se a sociedade faz exigências contrárias à própria natureza humana — por exemplo, não lhe fornecendo as condições de se desenvolver enquanto espírito criador ou quanto a sua necessidade de segurança — frustra e determina a alienação de sua condição humana. A intensidade e constância dessas condições adversas de vida podem levar o homem à conduta antissocial, à loucura ou a outros processos de autodestruição.

Neste sentido, Fromm afirma que a sociedade está doente, se não consegue satisfazer as necessidades básicas do homem. Por outro lado, quando o homem se adapta às exigências interiores, podemos falar em ajustamento do indivíduo.

Um dos temas principais abordados por Fromm é o da solidão humana. A separação do homem de outros homens e da Natureza tem-se intensificado ao longo dos anos.

Características de uma personalidade autoritária:
o   Imposição
o   Acentuada moralidade, dos valores e comportamentos
o   Excessivo controle e negação dos próprios impulsos
o   Tendência para dirigir e explorar pessoas.
o   Rigidez dos processos de pensamentos.
o   Tratamento disciplinar severo
o   Etc.

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