As ideias psicológicas no Brasil nos séculos XVII e XVIII - Marina Massimi

EXPERIÊNCIAS E POSICÇÕES VIVIDAS POR INTELECTUAIS BRASILEIROS ENTRE O SÉCULO XVII E OS INÍCIOS DO SÉCULO XIX.

  • Jovens brasileiros, membros de famílias mais abastecidas, realizaram seus estudos no exterior, tendo como consequência, a impossibilidade de conseguir modalidades de formação do intelectual integradas às condições e peculiaridades da realidade nacional, estimulando assim, o individualismo dos pensadores.
  • Dentro de um contexto totalmente hostil e marcado pela desigualdade social, esses pensadores afirmavam a dignidade cultural de sua posição:
          a) a capacidade intelectual é um dom da natureza humana e não fruto de circunstâncias econômicas, sociais e políticas favoráveis. ( Feliciano Joaquim de Souza Nunes)
          b) as letras parece que têm mais fortuna quando estão separadas do lugar em que nasceram. (Matias Aires Ramos da Silva)
          c) Escrevi das vaidades mais para instrução minha, que para doutrina dos outros.(Matias Aires Ramos da Silva) 


IDEIAS PSICOLÓGICAS  EMERGENTES NESSE CONTETO DA INDIVIDUALIDADE, DISPERSÃO E ISOLAMENTO DOS PENSADORES BRASILEIROS.

  • A vida é concebida como um fluxo constante  de partes asa vezes antagônicas, onde a beleza faz pressentir a decadência; a alegria contém em si o gérmen da tristeza; há firmeza na inconstância.
  • ênfase na mobilidade do homem da experiência humana.
  • A metáfora do peregrino (Jesuíta Gusmão) tem como objeto a peregrinação protagonista, num contexto real das terras brasileiras, num percurso de Salvador a Minas Gerais, até chegar em Pernambuco. 
  • A teoria hipocrático-galena dos temperamentos, o homem é considerado um composto de humores a partir dos quatro elementos: água, terra, ar e fogo, no qual o excesso de um desses humores resultaria nas enfermidades.
  • Havia um consciência de uma certa relatividades de valores e fatos humanos.
  • A própria verdade era submetida às mudanças dos afetos e das circunstâncias.
  • O livro "Política Indiana" de Juan de Solorzano Pereira, retrata a questão indígena, fazendo apologias a colonização portuguesa, os quais apontam a raça indígena como uma encarnação de uma condição humana primitiva que deveria ser superada pelo esforço civilizatório. O indígena não era compreendido no contexto de sua própria cultura.
  • Em relação a natureza moral e religiosa afirmavam que as suas ações os distinguiam; que a sabedoria é a primeira e melhor riqueza.
  • Cada um deve estar submetido à imutável ordem hierárquica das coisas, como se providência divina tivesse colocado cada um seu lugar e que ali deveriam permanecer/aceitação
  • Nunes propõe uma visão de mundo marcada pelo pessimismo.
  • havia a refutação da crença na inferioridade mental das mulheres em relação aos homens
  • A vida do indivíduo e da sociedade é submetida à condição de debilidade e de instabilidade.
  • O conhecimento humano é marcado pela experiência do limite, favorecendo a percepção humana, onde predomina a vaidade sobre a própria intelectualidade, como objeto de desejo que produz diversos conflitos entre o eu (o que você acha que é) e o self ( o que de fato você é).
  • A vaidade aponta para a fragilidade e a limitação da própria razão humana, já que está presa à dinâmica das razões. Condição psicológica essencial para o advento do capitalismo.
  • Há uma desconfiança acerca da razão, enfatizando as paixões, trazendo uma aparência, o sentido da incerteza e da instabilidade, características inevitáveis e inerentes à subjetividade humana.
  • A dimensão psicológica interior do homem passa a ser vista como o refúgio precário e passageiro do indivíduo perante o absolutismo do poder e a desordem da sociedade.
  • Francisco Mello Franco propõe uma sorte e Psicologia médica inspirada nas teorias do iluminismo francês.
  • Afirma-se que o estado físico do corpo tem grande influência nas operações da alma.
  • O funcionamento do organismo se dá pelas leis da natureza. 
  • A saúde do corpo psicossomático é definida pelo equilíbrio e regulação, atingindo a harmonia da máquina corporal cujo efeito é o bem estar psicológico.
  • Analogia entre a medicina do corpo e a medicina do espírito.
  • A experiência mostra que muitos pecados do corpo tem sua origem em doenças particulares do corpo.
SÉCULO XIX - NOVA FASE DA CULTURA BRASILEIRA QUE DIZ RESPEITO A CONCEPÇÃO DO HOMEM E DO SEU PSIQUISMO.

José Bonifácio de Andrada e Silva apresenta um plano de colonização dos índios, através de um processo de aculturação, no qual se dispõe primeiro a conhecer o que são, para depois achar os meios de convertê-los.

Nasce o mecanicismo com a teoria acerca do homem no estado selvagem, sobre os quais se identifica a ausência de necessidades próprias do homem civilizado, que estimulam o trabalho e a atividade.

Bonifácio acreditava que o que diferenciava o selvagem do civilizado era  a ausência daquele tipo de racionalidade característica do espírito científico europeu. Para ele, a sensibilidade do índio era interpretada como puro produto do instinto, já que as paixões não poderiam ser satisfeitas cabalmente sem a reunião de novos braços e vontades as que obrigavam os selvagens a reunir-se  em tais quais aldeias.

A civilização sendo entendida como modelos a ser realizado, é necessário definir a estratégia pra sua concretização, através da criação de métodos e meios que possibilitassem a pronta e sucessiva civilização dos índios. Os meios de civilização propostos por Bonifácio, com clara significação psicológica:

  •  introdução do conceito de propriedade individual, já que a cultura indígena é comunitária.
  • introjeção da inferioridade cultura através de gestos e rituais voltados à induzir nos nativos ideias de poder, sabedoria e riqueza.
  • educação das crianças
  • inculcar nos adultos o princípio incontestável de que se deve permitir o que não se pode mudar.(forma de manipulação)
  • introdução do hábito do trabalho regular, para ganhar seu sustento.
Adapta-los a um novo estilo de vida com novas necessidades, forma de se vestir diferentes, casas mais confortáveis e higiênicas.

Com isso, segundo Dante Morais Leite, ocorre uma manipulação dos traços psicológicos, na construção de teorias e conceitos ao definir características coletivas do povo brasileiro.

Bonifácio retrata o brasileiro como entusiasta do belo, amigos da liberdade e da justiça, ignorantes por falta de instrução, mas cheios de talentos e apaixonados por sexo.

Percorrer a historia das ideias psicológicas ao longo da cultura brasileira evidencia que  muitos dos conceitos utilizados pela Psicologia moderna possuem raízes no passado.  Os laços do passado com a realidade moderna seria o caminho para realizar uma proximidade maior entre o saber e a competência profissional do psicólogo e a realidade brasileira.

Um psicólogo enraizado em sua cultura e sociedade, é um agente de transformação social e não de normalização. 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
História da Psicologia no Brasil: Novos Estudos - Marian Massimi
Cap. III - As ideias Psicológicas no Brasil nos séculos XVII e XVIII.

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