O Mito: Ares e Dionísio

Para os mortais e imortais Ares, deus da guerra, era um ser odioso. Nas batalhas, sua ocupação favorita, aparecia sempre ao lado do Medo, do Terror e da Discórdia. Se os homens pudessem vê-lo quando o deus avançava, com seu corpo gigantesco envolvido na armadura de bronze, lançando gritos aterrorizantes! 

Na antiga Roma, Ares era venerado com o nome de Marte. Contava-se que na cidade de Alba Longa viviam os irmãos Amúlio e Numitor, cabendo ao segundo, legalmente, o governo sobre a cidade. Amúlio, porém, destronou o irmão e fez com que a única filha deste, Réia Sílvia, se tornasse uma sacerdotisa do fogo sagrado da deusa Vesta. De fato, as vestais, como eram chamadas as que velavam pelo fogo, tinham de se manter virgens por um período de trinta anos; se tivessem relações com algum homem durante os anos de culto, eram enterradas vivas. Obrigando Réia Sílvia a ser uma vestal, Amúlio acreditava que estaria seguro: não nasceriam descendentes masculinos do seu irmão para reclamar o trono de que ele se apoderara ilegalmente. Mas o deus Marte entrou no templo de Vesta e engravidou Réia Sílvia. E assim vieram ao mundo os gêmeos Rômulo e Remo. 

Quando soube do que acontecera, Amúlio mandou que abandonassem as crianças à margem do rio Tibre: assim, morreriam de fome e sede. Uma loba, porém, ouviu o choro dos bebês, que estavam dentro de um cesto, e alimentou-os.

 Algum tempo depois, a mulher de um pastor os encontrou e levou-os para casa, cuidando das crianças. Quando cresceram, Rômulo e Remo tomaram conhecimento de tudo o que acontecera em Alba Longa. Vingaram-se matando Amúlio e repondo Numitor, seu avô, no trono. Em recompensa, o avô lhes deu terra. Os gêmeos resolveram fundar uma cidade. Para saber em que local preciso a construiriam, decidiram consultar a vontade divina: Rômulo se colocou no monte Palatino, seu irmão no monte Aventino, e passaram a examinar atentamente o céu. 

De repente, Rômulo avistou doze aves, Remo seis: era um sinal dos deuses — a cidade deveria se erguer no monte Palatino. Rômulo fez, então, os preparativos para a construção: com um arado traçou um longo sulco determinando onde se ergueriam os muros: era um ritual sagrado. Remo, porém, zombando, despeitado, transpôs o sulco como se ele nada significasse. Furioso com o sacrilégio, Rômulo matou o próprio irmão dizendo: “Que assim morra todo aquele que atravessar as minhas muralhas!”

 Desse modo, a história da futura Roma se iniciava com um fratricídio entre os gêmos filhos de Marte. Dioniso era o deus do vinho, do teatro e das orgias sagradas. Sua mãe, Sêmele, foi amada por Zeus, que lhe prometera dar tudo o que ela quisesse. Um dia, Sêmele pediu-lhe que o deus se manifestasse diante dela em todo o seu poder e glória. Ao se deparar com a terrível visão de Zeus, com raios e relâmpagos, sua amante morreu fulminada. 

Sêmele, porém, estava grávida de seis meses de um filho do pai dos deuses. Zeus retirou a criança do ventre da mãe e costurou-a numa de suas coxas. E assim, alguns meses depois, nasceu Dioniso do próprio corpo de Zeus. Para evitar os riscos de expor a criança aos ciúmes de Hera, Zeus, depois de transformá-la em bode, deixou-a em Nisa, onde seria educada pelas ninfas: é, assim, o deus de Nisa, Dioniso. 

O deus se locomovia num carro puxado por panteras. Acompanhava-o um estranho cortejo: Sátiros, meio homens meio bodes, com uma longa cauda de cavalo; as Bacantes, mulheres com os cabelos desgrenhados, empunhando o tirso, uma vara enfeitada com hera e ramos de videira; o deus Priapo, com seus chifres de bode e orelhas de cabra, extremamente feio e sempre excitado sexualmente.

 Na cidade grega de Tebas, Dioniso instituiu as Bacanais; nessas festas, as pessoas, especialmente as mulheres, eram como que possuídas pelo espírito do deus e, parecendo alucinadas, vagavam à noite pelos campos e montanhas. O rei de Tebas, Penteu, resolveu proibir esse culto e provocou a ira do deus, também duvidando de seus poderes e até mesmo mandando prendê-lo como se ele fosse um mero impostor. Dioniso, porém, escapou da prisão e incendiou o palácio. Mas a vingança mais cruel do deus não tardou. Fez com que Penteu fosse espionar as mulheres que estavam celebrando o culto numa montanha. Quando elas, enfurecidas, o viram, agarraram-no e fizeram seu corpo em pedaços. Enlouquecidas por Dioniso, pensavam que se tratava de um animal.

 Agave, sua própria mãe, não reconhecendo o filho, cortou-lhe a cabeça e a pôs na ponta de seu tirso. Sobre as origens de Dioniso, corria outra versão. Os Titãs, incitados por Hera, devoraram o deus quando ele era ainda uma criança. Zeus, então, fulminou com seu raio os Titãs. Das cinzas desses seres nasceram os homens: com uma parte má, titânica, e uma parte boa, divina, vinda de Dioniso. 

Daí a natureza ambígua do ser humano, nem totalmente bom nem totalmente mau. O coração de Dioniso, porém, teria sido salvo por uma deusa e dado a Sêmele, que o engoliu e, assim, engravidou. Dessa forma, o deus renasceria. Para sempre, afinal, sendo deus, como não seria imortal?

REFERÊNCIAS
VASCONCELOS, Paulo Sérgio. Mitos Gregos. 

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