A Gestalt-terapia de curta duração

 A Gestalt-terapia...

  • é uma abordagem  centrada no contexto pessoa muito mais que o problema que ela tem.
  • Segundo Ribeiro (1999, p. 14) apud Pinto (2016) a vida da pessoa como realidade total emergente, passa a ser figura.
  • Ciornai (1989, p.3) apud Pinto (2016) afirma que o funcionamento saudável  como possibilidade de se viver um fluxo  mais ritmado e energizado de awareness, por meio do qual possa interagir com mais criativamente consigo e o meio, utilizando ao máximo seus recursos internos e externos para lidar criativa e apropriadamente com seu mundo, discriminando os contatos  mutuamente enriquecedores e satisfatórios daqueles que são tóxicos e prejudiciais.
  • Perls, Hefferline e Goodman (p.107) apud Pinto (2016) afirmam que a pessoa sadia é aquela  que se apossa plenamente do "direito de sentir-se em casa no mundo", com a responsabilidade que é a contraparte desse direito.
  • Contempla suas finalidades, seus métodos e técnicas e fundamentos filosóficos e teóricos, no qual a relação dialógica é apenas umas de seus recursos que se faz presente na condução de todos os demais.
  • Seus métodos e técnicas partem da premissa de que a pessoa é um organismo total, tem características próprias dadas e desenvolvidas, que as tornam únicas e irrepetível.
  • A Psicologia Humanista objetiva a estar com o indivíduo, compreendendo o ser humano como um ser social e que luta sempre em busca  da conciliação entre si e sua sociedade, em um processo ininterrupto e mútuo de crescimento no qual a busca pessoal é pela ampliação de sua autonomia.
  • Possibilita o cliente ser o que é, o que deseja ser. Ao se experimentar mais autêntico e autônomo na terapia, amplia a possibilidade de se experimentar diferente, mais autentico e autônomo em seu cotidiano, transformando-o.
Entendendo a Psicoterapia - processo terapêutico...
  • encontro de duas pessoas: terapeuta-cliente
  • procura compreender a vida do cliente visando recuperar a qualidade do contato, da vivacidade, do ritmo e da abertura do mesmo para a vida.
  • é um procedimento dialético e dialógico
  • é um diálogo entre interlocutores na busca da melhor configuração para o cliente.
  • sendo dialético-dialógico, o terapeuta participa ativamente no processo terapêutico.
  • Bellak e Small (1980, p. 29) apud Pinto (2016)  afirmam que se trata de uma interação verbal e simbólica na relação eu-tu.
  • demanda clareza no que se pode compreender como "mudança benéfica".
  • o processo terapêutico deve ser suficientemente aberto para acolher e incentivar a abertura de seu cliente.
  • essa abertura não contempla a ideia definida e estreita de cura  ou saúde psíquica, o que significaria fechamento do novo e do criativo.
Desafios do terapeuta na Gestalt-terapia
  • poder compartilhar da mais profunda intimidade com o outro
  • viver uma relação terapêutica fundamentalmente baseada na confiança, uma relação na qual o papel do terapeuta é bastante delimitado.
  • colocar-se a serviço o outro sem expectativas, sem modelos prontos pré-estabelecidos
  • colocar-se a disposição para oferecer ao cliente uma experiência de autenticidade o mais plena possível.
  • Apontar as pontes e caminhos, abismos e florestas por onde pode acompanhar seu cliente no processo de descobrir-se.
  • Suspensão de a prioris, atendendo o cliente sem a pretensão de se ter um lugar definido para conduzi-lo, voltando-se, essencialmente, para o funcionamento saudável do cliente, que necessariamente, não é romper com certos padrões.
  • Jamais tentar fazer um "conserto" em seu cliente, procurando compor junto ao cliente um conserto que vai ajuda-lo a ter um ritmo de vida.
  • Não procurar eliminar comportamentos errados ou buscar determinados jeitos de ser como ideias, mas de possibilitar a melhor configuração visando desenvolver seus potenciais a cada circunstâncias vividas.
  • Maria Constança Bowen (in Santos, 1987, p.58-60) apud Pinto (2016) a postura tem quatro características básicas:
    1. É o cliente quem escolhe seu destino e seu caminho, cabendo ao terapeuta mostrar trilhas não notadas, respeitando o direito de o cliente escolher se as seguirá ou não, exceto quando houver risco iminente que o obrigue a se impor.
    2. por experiência e estudo o terapeuta conhece suficientemente bem a região, mesmo que não conheça as trilhas pessoais do cliente, facilitando a descoberta de fenômenos pouco visíveis, apontar conhecimentos pouco ou nada utilizados, encorajá-lo em escolhas difíceis,  prevenir perigos, ...
    3. compartilhar as conquistas e dividir o peso da caminhada
    4. sentir, manifestar e incentivar a fé e a consequente segurança em que aquela jornada tem sentido.
Desafios do Cliente no processo terapêutico
  • conhecer-se mais profundamente e, por isso e para isso, experimentar novos sentimentos, novos comportamentos, o incremento e o apossamento da autonomia e da liberdade.
  • Beisser (1977, p.110) apud Pinto (2016) afirma que, paradoxalmente, o maior desafio do cliente  em terapia é mudar para tornar-se aquilo que é.
  • Na terapia o cliente não vai "aprender sobre si", mas  vai "descobrir sobre si" através de seus sentidos e awareness.
  • As descobertas abarcam belezas e tragédias pessoais, luz e sombra, já que somos seres duais.
A psicoterapia de Curta-duração
  • contempla diferentes abordagens e diferentes critérios
  • critério de tempo contempla três tipos de intervenções:
    • Breve ou brevíssima, no atendimento de urgência
      • tem caráter imediato
      • objetiva:
        •  proteger o cliente e pessoas de seu relacionamento que correm  risco por causa de seu desequilíbrio.
        • Retomar o contato do cliente com a realidade.
    • Na crise
      • pretende favorecer em poucos contatos a retomada do equilíbrio
      • se possível, um equilíbrio melhor ao anterior que desencadeou a crise
      • busca fortalecer a coragem para enfrentar uma situação difícil e inadiável
      • demanda pouquíssimo contato com o cliente em tempos diminutos
    • Na psicoterapia de curta duração
      • busca melhorar o ajustamento do cliente.
      • o referencial teórico do terapeuta será decisivo na maneira de conduzir o trabalho.
      • objetiva oferecer ao cliente a possibilidade de vivenciar uma situação  especial em um contexto relacional de aceitação e confiabilidade que possibilite o cliente enxergar  a formulação pessoal do conflito e reestruturar sua vivência em uma situação emocional dolorosa.
Knobel e Lemgruber (1995 apud Pinto (2016)  consideram  a terapia focal como uma maneira de fazer terapia de curta duração e que a técnica da psicoterapia de curta duração se fundamenta na tríade: atitude, planejamento e foco.
  1. atitude
    • Não se trata de ordem a ser cumprida, a linha de ação deve ser flexível e criativa
  2. planejamento - mesmo e GT é necessário certa planificação sobre o trabalho junto ao cliente, em prol da eficácia do trabalho, a fim de se conseguir lidar melhor com:
    •  a questão do tempo limitado
    • aos propósitos que se pretende atingir
    • aos caminhos que se pode seguir
    • as estratégias possíveis, ... 

3. foco

    • delimitação de objetivos em determinado período.
    • manutenção do foco
      • demanda alta atividade do terapeuta
      • e ênfase na intervenção 
Ribeiro apud Pinto (2016) aponta que o tempo não é critério para verificar dificuldade de mudança, mas sim, as complexas relações entre:
  • vontade e poder
  • percepção e aprendizado
  • etc
"A questão mestra da psicoterapia de curta duração não é o tempo em si, mas o que fazer, e como, dentro deste tempo." (Ribeiro)

Gestalt-terapia de curta duração e outras abordagens: aproximações e distanciamentos

Para Ribeiro (1999, p19-20) apud Pinto (2016) as Psicoterapias breves de curta duração englobam:
  • as psicoterapias breves
  • as psicoterapias de confronto
  • as psicoterapias de intervenções em crise
  • as psicoterapias de apoio
ação do terapeuta nas psicoterapias de curta duração está  estreitamente vinculada:
  • à necessidade do cliente
  • à sua experiência imediata vivida.
Ribeiro (1999, p 136) apud Pinto (2016) define a GT de curta duração individual:
  • processo que envolve terapeuta e cliente  com a finalidade de encontrar soluções imediatas de situações de qualquer ordem vivenciadas como problemáticas para o cliente.
  • deve-se utilizar todos os recursos de tal modo que no mais curto espaço de tempo o cliente possa se sentir confortável para conduzir sozinho sua própria vida.
  • isso é possível quando este consegue atualizar seus potenciais, lidar de forma mais espontânea e presente com seu momento atual, ampliar os horizontes de futuro e confiar mais na exequibilidade de seus  projetos existenciais renovados no processo terapêutico.
"... Gestalt-terapia de curta duração como um método de atendimento psicoterápico fundamentado na abordagem gestáltica, o qual visa atender às demandas do cliente a partir dos limites e com propósitos diferentes daquele comumente praticado na Gestalt-terapia." (PINTO, 2016, p. 55)

Limites dizem respeito à:
  • delimitações quanto à abrangência da terapia
  • estratégias a serem adotadas
  • objetivos do processo terapêutico
  • temporalidade podendo destacar:
    • limite de duração da psicoterapia
    • limite das ambições terapêuticas, relacionado a determinação do foco.
  • estreitar limites é manter o foco.
Objetivos da GT de curta duração individual:
  • acompanhar o cliente me algumas mudanças da sua personalidade
  • facilitar e ampliar sua capacidade de discriminação em determinado tempo
  • rearrumar áreas específicas da personalidade
  • curar alguns sintomas relevantes que o atrapalham
  • encorajar a lidar com seu destino
  • ampliar sua autoaceitação em determinados aspectos
  • libertá-la de algumas e específicas correntes
  • facilitar a lidar com determinadas angústias
  • facilitar restaurar o contato com alguns aspectos de si e do seu mundo.
Maneira de trabalhar com a Gt de curta duração, segundo Pinto (2016):
  • nas primeiras sessões:
    • delimitar o tempo que terá para trabalhar
    • delimitar o foco de figura
    • delimitar o foco de fundo que são mais importantes
    • estabelecer  com "o que" e "como se quer e se pode lidar"
Os objetivos da psicoterapia de curta duração, segundo Pinto (2016):
  • pode ser útil para qualquer pessoa, desde que se estabeleçam objetivos limitados
  • pode ser útil para quaisquer quadros clínicos, com limitações inerentes a cada  caso
  • para cada pessoa e cada situação existencial existe uma possibilidade de ajuda, sempre limitada, de psicoterapia de curta duração. (Ex: paciente psicótico, em surto de drogas, o objetivo pode ser convencê-lo de sua patologia e aceitar um tratamento)
  • é o objetivo da psicoterapia de curto prazo que determina sua indicação e o terapeuta e cliente têm responsabilidade mútua no processo.
Objetivos específicos da Gestalt-terapia de curta duração:
  • retomada do equilíbrio pré-existente
    • demanda que traz o cliente ao consultório
    • queixa frequente de desejar voltar a ser o que era antes.
    • Desejo de não mudar, mas sarar.
    • percepção de que algo está errado o leva a buscar a psicoterapia
    • situações que levam a esse desconforto: crises no casamento, descuido do corpo e da saúde, desejo de mudanças profissionais, perda de alguns ideais,  sensação de não ter mais a mesma energia para tarefas cotidianas, mal-estar relacionado ao trabalho
    • para a Gestalt deve-se levar em consideração:
      • a impossibilidade de ser como antes;
      • o sucesso do processo psicoterapêutico esta na possibilidade de que o cliente tenha um novo equilíbrio, diferente do anterior, quiçá melhor que antes.
  • superação de crise recente
    • acontece após situações traumáticas, ou mais carregadas emocionalmente, como perdas recentes, graves ameaças à existência, sequestros, acidentes, mutilações, separações, novas responsabilidades profissionais e pessoais, etc
    • podem ter sido importantes derrotas ou vitórias,
    • essas situações geram desequilíbrio e instabilidade até que  o significado e o sentido do vivido ganhem novo equilíbrio.
    • para a Gestalt deve-se buscar um novo equilíbrio que deve ser melhor que o anterior, mais realista, baseado em um novo nível de awareness e de liberdade.
  • superação de sintomas
    • um dos principais motivos de busca  por uma psicoterapia de curta duração
    • casos de fobias, ansiedades, distúrbios alimentares, certos hábitos ou vícios danosos ao organismo, problemas sexuais, situações em que o cliente percebe que há algo errado em sua vida.
    • para a Gestalt superado o sintoma a pessoa emergirá  diferente, em novo todo, não apenas no velho todo sem o sintoma que antes incomodava. O objetivo não é apenas a cura do sintoma, é preciso escutar o que o sintoma tem a dizer, verificar as áreas da vida da pessoa e  seus potenciais, ajudando-a a cuidar melhor desses aspectos de si e de sua vida.Resolução e sintomas e maior consciência sobre si, geram  mudanças em outras áreas (efeito carambola)
  • facilitação de mudanças
    • a pessoa sente que precisa fazer algumas mudanças em seu jeito de ser e de lidar consigo e com o mundo.
    • geralmente, a busca pela psicoterapia vem através de uma dor ou queixa que evidenciam a necessidade de mudança, abertura para novos riscos e posturas.
    • para o Gestalt-terapeuta sua ação é ser o facilitador para essa mudança que o cliente busca. Deve encorajar o cliente a penetrar e tornar-se seja o que for o que ele estiver experimentando no momento.
    • olhar atento para a teoria paradoxal da mudança de Beisse (1977, p.110-2) apud Pinto (2016, p.62) segundo a qual " a mudança acorre quando uma pessoa se torna o que é, não quando tenta converte-se no que não é."
    • O cliente caminha para um novo modo de viver e de compreender a vida. Mais do que mudar, o cliente se transforma em uma outra pessoa.
  • melhorar o diálogo eu-mim
    • propõe a ampliação da consciência do cliente através do diálogo, ela conquista de uma maior auto-observação,
    • para a Gestalt seu objetivo deve ser amplia o campo de consciência do cliente através do diálogo eu-mim, isto é, ampliação da awareness. 
    • O terapeuta deve facilitar ao cliente  mais subsídios para que compreenda a si e ao mundo que habita de maneira mais profunda, para além, do senso comum. Facilitar ao cliente o acesso a correlações e percepções que o coloque em contato mais profundo com a complexidade de sua existência.
Referências: PINTO, Ênio Brito. Psicoterapia de Curta Duração na Abordagem gestáltica elementos para a prática clínica. 3 edição  Summus editorial. São Paulo, 2016.

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