Psicologia e Desigualdade - Ana Bock - Síntese

O ARTIGO:

  • debate a desigualdade social como a grande questão brasileira.
  •  a Psicologia tem desvalorizado ou ignorado a desigualdade social como um aspecto determinante da constituição das subjetividades.
  •  é uma questão epistemológica que deve ser enfrentada e superada (transformada) na Psicologia ATRAVÉS  da adoção de uma visão de sujeito e de sua relação com o mundo que adota como categoria fundamental a historicidade, afirmando a subjetividade como aspecto da realidade que se constitui como uma dimensão do real. 
  • Afirma que Subjetividade e objetividade são uma relação dialética de constituição mutua. Ignorar esta relação leva e tem levado à psicologia a se constituir como ideologia que oculta a produção social da desigualdade.
SÍNTESE DO ARTIGO
  •  tese defendida neste artigo é a de que a desigualdade social, maior problema vivido pelo Brasil, é ignorada pela psicologia e isto torna o discurso desta ciência ideológico.
  • defende a importância deste tema e dizer de sua relação com a constituição da subjetividade.
SOBRE A DESIGUALDADE NO BRASIL
  • A história brasileira, em seus mais de 300 anos de escravidão, é marcada pela presença de uma elite política e econômica que sempre privilegiou seus interesses em detrimento das necessidades da maioria da população, e que se perpetua até os dias atuais.
  • Aspectos importantes a serem considerados:
primeiro é que o padrão de desigualdade/ igualdade social é construído histórica e culturalmente em uma dada sociedade.
segundo, a desigualdade social faz referência a distribuição da riqueza e às condições desiguais de acesso e bem-esta

BRASIL:
  •  é caracterizado por uma população que tem acesso desigual à riqueza produzida coletivamente e usufrui de condições de vida também desiguais.
  • desigualdades que têm a característica étnico-racial como seu crivo; ou ainda aquelas que marcam as diferentes regiões do país; ou ainda de gênero.
  • a desigualdade no país é bastante profunda e permanente.
  • A estrutura de relações que acompanha e marca o fenômeno da desigualdade social é caracterizada por redes invisíveis e objetivas que qualificam e desqualificam indivíduos e grupos, distinguindo-os, marcando com este forte termo um grupo social que tem acesso a pequena parte da riqueza, vive sob condições precárias e é desvalorizado na hierarquia social.
Por que a Psicologia ignorou a  desigualdade social? 
  • questão mais importante de ser abordada
  • os aspectos da psicologia que a levariam a estar de costas para a realidade social, segundo Bock, é uma  questão é epistemológica, ou seja, localiza-se na concepção de sujeito na qual a psicologia se baseou.
  • Século XIX, ênfase na razão, Psicologia enquanto ciência, nasce uma ciência racional, empírica, positivista, experimental, quantitativa e determinista.
  • Dicotomia da Psicologia em sua epistemologia.: 
"O esforço racional para garantir um saber objetivo sobre a realidade, incluída a subjetividade, foi separar estes dois âmbitos: subjetividade e objetividade, que “passam a ser vistos como autônomos, com movimento próprio e natural. Caberia à Psicologia estabelecer, da melhor maneira possível, os mecanismos de interação entre os aspectos subjetivos e os aspectos objetivo”"

Críticas à Psicologia: a psicologia ignorou a desigualdade social por uma questão epistemológica, ou seja, pela concepção de sujeito hegemônica
  • A realidade social, a sociedade, as condições de vida e a desigualdade social ficaram do lado de fora das explicações e compreensões da psicologia.
  • As razões estavam no âmbito “interno” dos indivíduos, podendo-se falar das situações de vida como experiências, vivências ou influências. 
  • O fenômeno psicológico, seja qual for sua conceituação, aparece descolado da realidade na qual o indivíduo se insere e, mais ainda, descolado do próprio indivíduo que o abriga.
  • A relação com o mundo social e cultural, apesar de considerada importante por todos os psicólogos, é vista como uma relação de exterioridade. “O mundo social é um mundo estranho ao nosso eu”
Análises que prescindem da realidade social para explicar o humano e sua subjetividade:
  • Tudo que puder indicar relação com a realidade social será lido e compreendido a partir do indivíduo e suas características ou potencialidades.
  • A desigualdade social pertencente ao mundo exterior, influencia os indivíduos.
  • Suas potencialidades que deverão se atualizar ou se revelar conforme forem sendo estimulados pelo meio. 
Psicologia enquanto Ideologia:
  •  passou a ocultar ou contribuir para ocultar a desigualdade social, que como afirmamos estaria considerada como o principal problema de nossa sociedade.
  • Nada oferece para evidenciar e dar visibilidade à desigualdade.
  • Suas concepções de diferenças individuais, de potencialidades, capacidades, inteligência, motivação, estruturação familiar, preconceito têm servido apenas para reduzir ao individual o que é social.
  • Encobre  parte da realidade, da relação do que está constituído (seja o psicológico) com a realidade social e material onde essa constituição tem lugar.
Aspectos que permitem dar visibilidade à dimensão subjetiva da desigualdade social:
Perguntou-se sobre a vida, as explicações para a desigualdade, sua gênese, as responsabilidades, as condições de vida e os sentimentos que acompanham esta vivência.
  •  o significado do esforço pessoal como responsável pelo sucesso das pessoas e, portanto, justificativa para a desigualdade.
  • moradores das regiões com menor índice de exclusão trazem a ideia mais frequente é a importância de ter bons contatos na vida para ter sucesso;
  • moradores das regiões mais pobres a ideia que aparece é a importância de começar cedo a trabalhar e batalhar por uma vida melhor.
  • O argumento da meritocracia aparece em todas as regiões para justificar a classificação de uma escola como boa; sempre alguém é responsável por sito, sejam professores, direção, alunos.
  • A população mais rica considera natural ter direito a, enquanto a população mais pobre não se vê como sujeito de direitos e entende que o que recebe do Estado são dádivas e é grata por isto.
  • A apropriação da cidade e o “sentir-se bem nela” demonstram formas diferentes de ver a cidade e se relacionar com ela. 
Compreensão de como a escola está sendo significada por estes diferentes (e desiguais) alunos:
  • A escola pertence aos ricos; a escola é estranha para os pobres.
  • Para os ricos é continuidade de uma vida familiar, com cultura muito semelhante; para s pobres é ruptura da vida em família, onde o trabalho é aspecto central. 
  • O conhecimento é valorizado pelos alunos da camada rica, mas pouco ou nada destacado, pelos alunos pobres, como objeto da escolarização.
  • A escola como a possibilidade de sair do lugar onde estão e ter um futuro melhor; um futuro pouco descrito, mas que é sinônimo de deixar este lugar onde se encontram hoje. Para a camada rica a escola é necessária para aprenderem o que precisam para estar em uma profissão no futuro; mas o futuro é a continuidade do que se tem hoje.
Lane afirmava em seu texto emblemático “Uma nova concepção de homem na Psicologia” que “toda a psicologia é social”
  • não será possível falarmos de nossa gente e sua subjetividade se não incluirmos definitivamente, em nossas reflexões, uma nova concepção de humano
  • é preciso fazer uma revisão epistemológica na Psicologia, inserindo a sociedade e combatendo a desigualdade social.

FONTE:
Artigo Psicologia e Desigualdade Social - Ana Mercês Maria Bock


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