Neurociências: Passado, Presente e Futuro.


"O homem deve saber que de nenhum outro lugar, mas apenas do encéfalo, vem a alegria, o prazer, o riso e a diversão, o pesar, o luto, o desalento e a lamentação. E por isso, de uma maneira especial, nós adquirimos sabedoria e conhecimento e enxergamos e ouvimos e sabemos o que é justo e injusto, o que é bom e o que é ruim, o que é doce e o que é insípido... E pelo mesmo órgão nos tornamos loucos e delirantes, e medos e terrores nos assombram... Todas essas coisas nós temos de suportar do encéfalo quando não está sadio... Nesse sentido, opino que é o encéfalo quem exerce o maior poder sobre o homem. — Hipócrates, Sobre a Doença Sagrada (Séc. IV a.C.)"
 Embora a palavra Neurociência seja jovem, fundada em 1970 pela Sociedade de Neurociências norte-americana, o estudo do encéfalo é bem antigo. Os neurocientistas se debruçaram sobre diferentes disciplinas para compreender o sistema nervoso: medicina, biologia, psicologia, física, química e matemática.

 O que têm pensado os cientistas acerca do sistema nervoso ao longo dos anos?

AS ORIGENS DAS NEUROCIÊNCIAS

O Sistema Nervoso é composto pelo ENCÉFALO, MEDULA ESPINHAL e os NERVOS DO CORPO, e é responsável por SENTIR, MOVER-SE e PENSAR do ser humano.

EGÍPCIOS (5000 anos atrás): já tinham ciência sobre muitos sintomas de lesões cerebrais. Até a época de Hipócrates permaneceu a ideia de que o coração era a sede da consciência e do pensamento ao invés do encéfalo. Contudo os egípcios, já sabiam que  o coração, e não o encéfalo, era a sede do espírito e o repositório de memórias. De fato, enquanto o resto do corpo era cuidadosamente preservado para a vida após a morte, o encéfalo do morto era removido pelas narinas e jogado fora! 

GRÉCIA ANTIGA: Sua visão sobre o encéfalo, parte da ideia de que diferentes partes do corpo são diferentes porque servem a diferentes propósitos, ou seja, têm diferentes funções, supondo haver uma correlação entre ESTRUTURA E FUNÇÃO.

Sendo a cabeça especializada em perceber o ambiente através dos órgãos dos sentidos como: olhos, orelhas, nariz e língua, constatou-se que o encéfalo é o órgão das sensações conforme afirmou Hipócrates (460-379 a.C), pai da medicina ocidental. Aristóteles (384.322 a;C) se contrapõe a essa afirmativa, afirmando ser o coração o centro do intelecto e que a função do encéfalo é que resfriava o superaquecimento do coração.

IMPÉRIO ROMANO: O médico grego Galeno (130-200 d.C.) concordava com Hipócrates sobre o encéfalo. Fazia muitas dissecações em animais, onde através do cérebro dissecado de uma ovelha, pode identificar duas partes do encéfalo, sobre as quais tentou deduzir suas respectivas funções.
  • o cérebro, na frente;
  • o cerebelo, atrás.

Galeno percebeu que o cerebelo tinha uma estrutura mais firme que 
o cérebro. O cérebro tendo uma estrutura mais maleável, estaria comprometido com as sensações e percepções e é ainda, um repositório de memória, e o cerebelo, primariamente comprometido com o controle motor. Descobriu os ventrículos existentes no encéfalo, que funcionava de acordo com quatro fluidos vitais nele existente. Sua teoria permaneceu por quase 1500 anos.

RENASCENÇA AO SÉC. XIX:  Andreas Vesalius (1514-1564) anatomista da Renascença e inventores franceses do séc. XVII, reforçaram a ideia do encéfalo como uma máquinas que exerce uma série de funções, ou seja, um fluido forçado para fora dos ventrículos através dos nervos, poderiam bombear e movimentar os membros. 

Teoria de Fluido Mecânico, defendida por RENÉ DESCARTES (1596-1650), porém, a considerava incapaz de explicar o amplo espectro dos comportamentos humanos, pois já sabia que, as pessoas diferentemente dos animais, possuíam intelecto e uma alma dada por Deus. Comportamentos humanos semelhantes aos dos animais, poderíamos ser controlados por mecanismos cerebrais, ou seja no encéfalo. Porém, capacidades mentais exclusivamente humanas existiriam fora do encéfalo,na "mente" vista como uma entidade espiritual que recebia sensações e comandava movimentos através da glândula pineal.

SÉC XVII E XVIII cientistas passam a dar importância à substância cerebral. O tecido cerebral está dividido em duas partes:

  • a substância cinzenta 
  • a substância branca

 A substância branca, que tinha continuidade com os nervos do corpo, foi corretamente indicada como contendo as fibras que levam e trazem a informação para a substância cinzenta

Séc. XVIII o sistema nervoso já tinha sua anatomia descrita em detalhes:


  •  Reconheceu-se que o sistema nervoso tinha uma divisão central, consistindo no encéfalo e na medula espinhal, e uma divisão periférica, que consistia na rede de nervos que percorrem o corpo.
  • Um importante passo na neuroanatomia foi a observação de que o mesmo tipo de padrão de saliências (os giros) e sulcos (ou fissuras) podia ser identificado na superfície cerebral de cada indivíduo 
  • Esse padrão, que permite a divisão do cérebro em lobos, foi a base da especulação de que diferentes funções estariam localizadas em diferentes saliências do cérebro. 


A VISÃO DO SISTEMA NERVOSO NO SÉCULO XIX

O estágio de compreensão do sistema nervoso no fim do século XVIII: 
  • Lesão no encéfalo pode causar desorganização das sensações, movimentos e  
  • pensamentos, podendo levar à morte. O encéfalo se comunica com o corpo por meio dos nervos. 
  • O encéfalo apresenta partes diferentes identificáveis e que provavelmente 
  • executam diferentes funções. O encéfalo opera como uma máquina e segue as leis da natureza. 
  • Durante os cem anos que se seguiram, aprendemos mais sobre as funções do encéfalo do que foi aprendido em todos os períodos anteriores da história.

Foram feitas quatro descobertas-chave realizadas durante o século XIX:

NERVOS COMO FIOS: 
  •  o cientista italiano Luigi Galvani e o biólogo alemão Emil du Bois-Reymond haviam mostrado que os músculos podiam ser movimentados quando os nervos eram estimulados eletricamente e que o próprio encéfalo podia gerar eletricidade. Essas descobertas finalmente derrubaram a noção de que os nervos se comunicam com o encéfalo pelo movimento de fluidos. 
  • O novo conceito era de que os nervos eram como “fi os” que conduzem sinais elétricos do e para o encéfalo.
  • Em  1810, por um médico escocês, Charles Bell, e um fisiologista francês, François Magendie,  Observou as duas raízes dorsal( parte de trás da medula espinhal) e ventral ( pela frente). Ao cortar as raízes ventrais observou que havia paralisia muscular. As raízes dorsais levavam informações sensoriais para a medula espinhal.
  • Bell e Magendie usou o Método de ablação experimental, em que corta partes dos sistema nervoso para averiguar a sua função. Em 1823, o considerado fisiologista francês Marie-Jean-Pierre Flourens usou esse método em diferentes animais (especialmente em pássaros) para mostrar que o cerebelo realmente tem um papel na coordenação dos movimentos. 
GALL (1809) propõe haver diferentes tipos de personalidades, desde as mais talentosas às psicopatas. Surge e frenologia ciência que correlaciona a estrutura da cabeça com traços de personalidade.


BROCA (1861) após a morte de um paciente, ao examinar o cérebro humano, encontrou em seu encéfalo, uma lesão no lobo frontal esquerdo concluindo que essa é a parte responsável pela fala.

A EVOLUÇÃO DO SISTEMA NERVOSO E A NEUROCIÊNCIAS HOJE.
  • Em 1859, o biólogo inglês Charles Darwin (Figura 1.13) publicou A origem das espécies.  Ele articulou a Teoria da Evolução Natural: as espécies de organismos evoluíram de um ancestral comum.  Diferenças entre as espécies aparecem por um processo que Darwin chamou de seleção natural.
  • o neurônio: a unidade funcional básica do encéfalo.
  • o maior desafio da neurociências é compreender como funciona o encéfalo, a nível molecular, celular, de sistemas, comportamental e cognitivo.
  • NEUROCIÊNCIAS MOLECULARES: a matéria encefálica consiste em uma fantástica variedade de moléculas, muitas exclusivas do sistema nervoso, cada uma delas com diferentes papéis, responsáveis pela comunicação entre neurônios, controla entrada e saíde de materiais nos neurônios, etc.
  • NEUROCIÊNCIAS CELULARES: estuda como todas aquelas moléculas interagem para dar ao neurônio suas propriedades particulares, para identificar os diferentes tipos de neurônios, como eles se interconectam e como fazem suas computações.
  • NEUROCIÊNCIAS DE SISTEMAS: Constelações de neurônios formam circuitos complexos para realizar uma determinada função como a visão, tem-se o sistema visual, tem-se o sistema motor e assim por diante. Esses sistemas permitem os estudos e análises das sensações, percepções movimentos, etc.
  • NEUROCIÊNCIAS COMPORTAMENTAIS: sistemas neurais trabalham juntos para produzirem comportamentos integrados, como diferentes memórias são executadas de diferentes sistemas neurais.
  • NEUROCIÊNCIAS COGNITIVA: busca compreender os mecanismos neurais responsáveis pelas atividades mentais superiores do homem, como a consciência, a imaginação e a linguagem, ou seja, como a atividade do encéfalo cria a mente
REFERÊNCIAS:
BEAR, Mark F.; CONNORS, Barry W.; PARADISO, Michael A. Neurociências desvendando o Sistema Nervoso. 3ª Edição. Editora Artmed. Rio Grande do Sul, 2008.

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