Critérios de Indicação da Psicoterapia Breve

  •  Nem todos os pacientes podem se beneficiar de um processo de psicoterapia breve. 
  • Aseleção  deve se basear não apenas em critérios clínicos, que são fundamentais mas não suficientes, mas também em hipóteses psico e sociodinâmicas.
Fatores mais utilizados por autores para indicar a psicoterapia breve:
  • Início recente dos transtornos: a maioria dos autores consultados concorda com a opinião de que é preferencialmente benéfico o trabalho terapêutico com pacientes cujos sintomas tenham se manifestado recentemente, ou então que se trate de um episódio agudo dentro de um transtorno crônico. Malan (1963) destoa dos demais ao afirmar a possibilidade de êxito no tratamento de antigos distúrbios. 
  •  Capacidade egoica: por meio da avaliação da capacidade do paciente de tolerar a ansiedade e a frustração, aliada à ampla utilização de mecanismos saudáveis de defesa, bem como sua capacidade de introspecção e reconhecimento da vida interior, enfim, sua capacidade de insight, pode-se alcançar bom prognóstico quanto à psicoterapia breve. Balint (1975) e Fiorini (1978) afirmam que as observações realizadas nas entrevistas iniciais são fundamentais para o estabelecimento desse critério. a questão da capacidade egoica é também fundamental, por ser um critério sine qua non para a indicação
  • Motivação para o tratamento: segundo Balint (1975), o terapeuta há de ter a impressão de que o conflito interno do paciente entre sua enfermidade e o resto de sua personalidade permanece suficientemente intenso, isto é, a enfermidade é algo contrário a si, que ainda não foi aceito por ele e integrado em sua estrutura. Em outras palavras: que o paciente não defenda sua enfermidade como parte narcisicamente valorizada de sua personalidade; que não prefira a enfermidade à mudança.
  • Fatores do terapeuta: quase todos os autores consultados, notadamente Balint (1975), Malan (1974), Knobel (1986) e Perez-Sanches et al. (1987), dão ênfase à capacidade do terapeuta tanto em termos técnicos (possibilidade de avaliação e diagnóstico precisos) quanto em termos de “saúde psicológica”, isto é, sua capacidade de empatia e não de identificação e/ou de contratransferência exacerbada em relação ao cliente. 
Contraindicações pouco eficaz ou mesmo contraindicada é a psicoterapia breve, segundo vários autores, conforme dois aspectos básicos:

  •  diagnóstico clínico: psicoses, doenças psicossomáticas (que de acordo com novas interpretações têm sido consideradas “psicoses no corpo”), personalidades psicopáticas, drogadição, obsessões graves, tentativas potencialmente eficientes de suicídio, agitação psicomotora com agressividade. 
  • diagnóstico psicodinâmico: quando há grandes debilidades egoicas, com dependências simbióticas intensas, ambivalência, tendência ao acting out, escassa motivação para o tratamento, dificuldade para estabelecer um foco devido ao entrelaçamento de múltiplas situações dinâmicas
É eficaz para...
  • pacientes que vivem situações de crise, pelas suas próprias características de ser autolimitada, geralmente focal, cujo prognóstico de resolução pode ajudar bastante no acompanhamento psicoterapêutico para a obtenção de soluções positivas e reposicionamentos importantes na vida pós-crítica
  • indivíduos com o “grau de maturidade” que pode ser avaliado por seu nível de aptidão plástica de adaptação, pela mobilidade e flexibilidade nas diversas solicitações a que foi submetido, com ou sem êxito, sem “perder o rumo” do eixo central de seu projeto de vida, lançando mão de sua espontaneidade para encontrar novos caminhos que o recoloquem na direção de seus objetivos existenciais.
  • a indicação precisa de psicoterapia breve está, a rigor, reservada a pessoas que, com um grau satisfatório de maturidade, enfrentem situações particulares de crise ou descompensação caracterizadoras de quadros reativos agudos.
  •  observar o “nível de expectativa” da pessoa, no qual desempenhem fator preponderante da personalidade o concretismo e o imediatismo tanto do pensamento quanto do comportamento.
  • pode ter alcance ainda maior ao despertar nas pessoas que a ela se submetem um novo modo de ver e compreender a si mesmas como seres integrados biopsicossocialmente.
A indicação da psicoterapia breve sustenta-se num tripé assim estabelecido: 

1 Quadro clínico: indicação para os pacientes de quadros agudos caracterizadores de situações de crise. 
2 Quadro social: disponibilidade econômica e/ou pessoal por parte tanto do paciente quanto do agente terapêutico.
 3 Quadro de expectativa: avaliação do nível intelectivo-cultural, levando em conta o grau de expectativa do paciente diante do processo terapêutico.

Com essa perspectiva, amplia-se o campo de indicação da terapia breve para os casos considerados crônicos, borderlines e psicóticos, valendo a terapia, em nível institucional, como instrumento de mobilização.

Focalização
  • Lemgruber (1984) define como foco “o material consciente e inconsciente do paciente, delimitado como área a ser trabalhada no processo terapêutico através de avaliação e planejamento prévios”.
  • Segundo  Fiorini (1978), foco é uma organização complexa da qual fazem parte formulações que enfatizam aspectos: sintomáticos (como o próprio motivo da consulta), interacionais (o conflito interpessoal que desencadeou a crise), caracterológicos (“uma zona problemática do indivíduo”), além de aspectos próprios da díade terapeuta-cliente e do desenvolvimento da técnica.
  • Tem-se como foco único, numa situação terapêutica, em seus diversos níveis, a situação trazida por uma paciente em que a “porta de entrada” seja realmente uma série de sintomas somáticos desencadeados;
  • num segundo nível, pela ansiedade diante de uma situação específica (da qual em muitos casos a pessoa nem se deu conta). Nessa situação específica estão envolvidos aspectos importantes de sua dinâmica intrapsíquica, o que caracteriza outro nível desse mesmo foco, no qual apenas os aspectos firmemente relacionados a ele serão abordados.
  • como delimitação do foco, temos a sintomatologia apresentada, a ansiedade que lhe deu origem e o conflito atual que gerou essa ansiedade ou angústia
  • Nas palavras de Fiorini (1978, p. 32), “a focalização da terapia breve é a sua condição essencial de eficácia”
Sintoma...
  •  é a manifestação visível e sensível de uma estrutura, sendo a estrutura ela mesma.
  • sintetiza um conflito presente e uma história conflitual passada, ele é um resumo, um instantâneo da vida do sujeito.
  • Se a psicoterapia breve consegue fazer que o sintoma desapareça no ato da cura, significa que: 
1) sua estratégia foi bem-sucedida, o sintoma foi suprimido e com ele o funcionamento patológico que lhe deu origem; 
2) sua estratégia foi malsucedida, o sintoma desapareceu, mas deu lugar a uma “sintomatização” do ego ou do caráter, problemas psicopatológicos bem mais graves. No primeiro caso, quer queira, quer não, o terapeuta agiu sobre a estrutura. Nesse sentido, a psicoterapia obteve um efeito pleno... 

Referências:
SANTOS, Eduardo Ferreira. Psicoterapia breve - abordagem sistematizada de suituações de crise.

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