segunda-feira, 1 de fevereiro de 2021

Palestra: Jung de férias. As viagens de Bollingen. Ana Maria Galrão Rios - Instituto Freedom

                                                            

   1ª Palestra do Ciclo: 

"JUNG DE FÉRIAS. AS VIAGENS DE BOLLINGEN

Ana Maria Galrão Rios - Instituto Freedom


A casa: Kusnacht

    

Biblioteca da Casa de Jung






A porta da Casa Kusnacht


Jung em casa


Emma Jung - esposa
Família de Jung

Bollingen: Um lugar para ser.

"A torre dava-me a impressão de que eu renascia da pedra."
 A beira do lago Zurich, Jung construiu sua casa de pedra, onde vivenciava plenamente a natureza: fora e dentro de si. Lugar onde ele conseguia se afastar do ruído das cidades e das pessoas, para imersão em seu próprio inconsciente. A extroversão cansava Jung e a Introversão o descansava. Um entrega ao inconsciente a partir da vida consciente. 

"Local no qual Jung ia em busca de solidão. "-nesse espaço fechado vivo só comigo mesmo. Guardo a chave e ninguém pode entrar lá sem a minha permissão. No correr dos anos pintei a parede deste quarto, exprimindo tudo o que me conduz da agitação do mundo à solidão, do presente ao intemporal. É um recanto da imaginação e da reflexão; as fantasias são muitas vezes desagradáveis e árduas; é um lugar de concentração espiritual." (JUNG, A TORRE, p.197)

Jung dizia que com o trabalho, conseguiu ancorar no mundo seus mergulhos no inconsciente, mas que não era suficiente, não eram reais o bastante. Portanto, para ele era necessário representar seus pensamentos mais íntimos e seu saber na pedra, nela inscrevendo, de algum modo, uma profissão de fé: sem minha terra, sua obra não teria vindo a luz. Jung trabalhava com as pedras; fazia esculturas

"-Invocado ou não, Deus está presente."

Gostava de velejar, sempre viveu à beira da água em Zurich. Apresentava uma necessidade de busca pela natureza. Valorizava a vida natural, renunciando à eletricidade, acendia ele mesmo a lareira e o fogão. Não havia água corrente em Bollingen, era preciso tirar água do poço, e ele o fazia pessoalmente, acionando uma bomba natural. Rachava a lenha e cozinha para ele mesmo. Jung dizia que esses trabalhos simples tornam o homem simples, e é muito difícil ser simples (JUNG, A TORRE, p.198). Dizia viver em cada árvore, no sussurro das vagas, das nuvens, nos animais que vão e vêm e nos objetos. Uma verdadeira imersão.

Incubação - Jung ficava sozinho permitindo que o seu inconsciente chegasse e permeasse. Ele fazia tudo, limpeza, comida, as panelas tinham nome. De onde Jung escrevia seus livros.  Se estamos conectados a nossa raiz mais profunda todos os nossos atos estão conectados com o mundo. (energia). O que o ego não dá conta acaba adoecendo no indivíduo.

Jung fez muitas viagens em busca de si mesmo. 

VIAGEM À ÁFRICA

Em 1920 foi ao Norte da África, onde encontrou uma civilização árabe. Percebeu que o europeu não fazia parte daquele mundo. Podia sentir um cheiro de sangue que parecia embeber a terra, relacionada aos instintos mais primitivos dos povos que ali vivam e viveram. Teve uma impressão profunda, um ataque violente e inesperado de camadas histórias do inconsciente e dos afetos e sensorialidades, que ainda estava muito enraizada nos povos africanos. Sentiu um certo sentimento de superioridade. um desejo inconsciente de reencontrar a si mesmo , nessa camada primitiva e instintiva, cheia de afetos e inteireza da infância, assim como viviam os africanos. Isso causou um enorme conflito em Jung, entre sua razão e suas emoções que acabou adoecendo de enterite e foi embora, retornando cinco anos mais tarde à África.

VIAGEM A PUEBLOS: NOVO MÉXICO

Os índios acreditavam que os europeus eram loucos, pois pensavam com a cabeça. O índio Ochwiay Biano representava um sentido cosmológico, de dignidade, pois acreditava e agia todos os para evocar o sol. O índio que faz levantar o sol.

VIAGEM A ÁFRICA DE NOVO: QUÊNIA E UGANDA 1925

"Havia um silêncio do eterno começo, do mundo como sempre fora na condição do não-ser. A Europa, a mãe de todos os demônios, aqui não poderia me atingir - nem telegramas, nem chamados telefônicos, nem cartas, nem visitas; minha forças psíquicas libertas mergulhavam de novo, na felicidade, na imensidão do mundo original."(JUNG, A TORRE, p.233)

"Tinha a impressão de estar completamente só. era o primeiro homem, que sabia ser este o mundo e que, atraves de seu conhecimento, acabara de criá-lo naquele instante."

"Aqui não é o homem, mas Deus quem domina: não a vontade ou a intenção, mas um desígnio impenetrável."

EXPERIÊNCIA DE QUASE-MORTE DE JUNG

Jung teve uma experiência noturna da dança, durante a qual gritava em suiço-alemão e chicote de rinoceronte. Até o Nilo, para o Egito, Jung teve medo de "going black" queria fugir da África, pois devia conservar intacta, fossem quais fossem as circunstancias, a sua personalidade europeia. Estava tão imiscuído na cultura africana, que sonhou com barbeiro negro americano querendo que seus cabelos ficassem frisados, e então acorda assustado. Esses também foi um motivo de conflito para Jung, que acabou novamente adoecendo, com laringite e febre.

ÍNDIA EM 1938

Recebeu convite do governo e foi à Índia. Tiveram longas conversas a respeito de outra civilização altamente diferenciada. Evitou o contato com homens santos. Jung não se achava merecedor de contatar a sabedoria deles.

"Bem e mal não como fenômeno moral, como europeus o encaram, mas como parte da natureza. O homem que não atravessa o inferno de suas paixões também não as supera" (p.243)

O indiano não tinha como meta atingir a perfeição moral, mas sim o estado de Nirdvandba, ou seja, livrar-se da natureza e por conseguinte atingir pela meditação o estado sem imagens, o estado de vazio.

Jung ao contrário, se mantinha em contemplação viva da natureza e das imagens psíquicas, não queria desembaraçar-se nem dos homens sem dele mesmo, sem da natureza, pois tudo isso, representava ao seus olhos uma indescritível maravilha. A natureza, a alma e a vida me aparecem como uma expansão do divino."

Jung trabalhou até o final de sua vida. Sempre descansou em Bollingen até se despedir para ir viver o resto de seus dias em Zurich, onde veio a falecer. 

Carl Gustav Jung nasceu na Turgóvia, Suíça, 26 de julho de 1875 e morreu em Küsnacht, em Zurique, Suíça, 6 de junho de 1961.

REFERÊNCIAS:



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