quinta-feira, 11 de novembro de 2021

Fenomenologia

A Abordagem fenomenológica...

  • propõe estar o mais perto possível da vivência de seu cliente;
  • permanecendo no aqui e no agora
  • não interpreta o comportamento do cliente
  • ajuda-o a explorar e ficar consciente de como ele está fazendo sentido do mundo.
  • espírito investigativo sobre si, para que o cliente saiba "quem ele é" e "como ele é."
  • aborda o cliente de mente aberta e curiosidade genuina sobre sua experiência pessoal.

 O método fenomenológico proposto primeiro por Husserl (1931)

  • proposto como um método para investigar a natureza da existência.
  • a perspectiva fenomenológica é  ...
    • a de que a pessoa está sempre ativamente fazendo sentido de seu mundo;
    • uma investigação fenomenológica no ambiente terapêutico
  • método utilizado na psicoterapia
  • Objetivo
    •  levar o terapeuta e cliente a investigar o significado subjetivo  do cliente e a experi~encia que ele tem de si próprio no mundo.
  • Componentes principais da investigação fenomenológica:
    • Epoché - redução fenomenológica - consiste em suspender crenças, premissas, julgamentos, para ver o cliente em sua situação.
    • Descrição - como o fenomeno do cliente no momento presente e interação com o terapeuta, se mostra imediatamente de forma obvia aos sentidos.
    • Horizontalismo - dá-se a mesma importãncia  a todos os aspectos do cliente (e também do terapeuta), no que diz respeito a comportamento, aparência, expressões e contexto.
    • Curiosidade Ativa -  o cliente é sempre um paticipante ativo naquilo que está vivenciando e como o está vivenciando, inclusive a queixa que o levou a buscar terapia.
Redução Fenomenológica - Epoché
  • procura identificar e reconhecer as preconcepções, os julgamentos e atitudes que o cliente leva à terapia.
  • o terapeuta deixa de lado todas essas coisas para estar inteiro no setting,
  • o terapeuta não elimina suas premissas e a prioris, apenas os suspende para estar em contato com a realidade do cliente.
  • A PERCEPÇÃO é considerada como um processo de construção e resolução de problemas e nã a reprodução de uma realidade, se mantendo próximo daquilo que é novo e emerge na terapia, como experiência única do indivíduo.
  • Identificar os seguintes aspectos no relato do cliente:
    • Qual a sua reação, enquanto terapeuta?
    • Qual a sua emoção, ao escutá-lo?
    • Que juizo imediato faz ao ouvir os relatos?
    • Observar a diferença da percepção que o terapeuta e o cliente tem do mesmo evento.
    • Parte da premissa de que
      • Suas opiniões e juízos são potencialemnte suspeitos e prematuros;
      • que é preciso esperar antes de chegar a quaisquer conclusões
    • Exercícios de Awareness ajuda-o a ouvir com seu coração e com seu corpo e não com sua mente!
Descrição
  • Significa permanecer com a awareness daquilo que pe imediatamente óbvio e descrever o que vê.
  • Se limita a descrever o que percebe:  ver, ouve, sente...
  • Intervenções típicas...
    • Estou percebendo... (que ficou emocionada ao falar...)
    • Parece que você está dizendo... (que o mais importante são os filhos estarem bem...)
    • Você parece... (que está angustiada...)
    • Percebi que... (você chegou eufórica hoje...)
  • Observar as funções de contato é...
    • observar as maneiras de perceber, vivenciar e tocar o mundo e suas reações corporais.
    • Observar uma reação emocional, uma tensão corporal ou perda de interesse
    • Pontuar essas questões pretende ajudar o cliente a...
      •  entrar em conattao com sua experiência e descobrir o que está atrapalhando.
      • trazer à tona suas interpretações ,c renças e fazimento de sentido sobre seus sentimentos e experiencias.
    • Comentar com sensibilidade e de uma maneira que pareça relevante para o pocesso terapêutico.
Horizontalismo
  •  Tudo o que acontece é potencialmente tão importante quanto qualquer outra coisa.
  • Não se presume hierarquia de importância naquilo que o cliente traz.
  • É obtido se o terapeuta estiver sendo bem sucedido na redução e limitando suas intervenções a descrições de "o que é".
Curiosidade Ativa
  • Parte essencial do terapeuta que está tentando entender o mundo do cliente.
  • Terapeuta deve estar atento a...
    • Como a situação surge?
    • Que sentido faz para o cliente?
    • Como se encaixa naquilo que ele conta?
    • O que isso significa num campo mais amplo?
  • Tem como objetivo...
    • ajudar o cliente a explorar e clarificar sua prórpia compreensão.
  • Investigar com questões abertas como:
    • Como é que foi isso?
    • Como foi seu sono?
    • Como você se sentiu?
  • Dois métodos de investigação específica:
    • Exploração Microprocessual - o terapeuta convida o cliente a prestar atenção minuciosa a sua experiência durante alguns segundos a fim de que fique conscinete de sua reação complexa e alguma coisa.
    • Adotar uma posição de ingenuidade clínica - comece perguntando algo que você já sabe a resposta. Tem a finalidade de trazer a tona aquilo que esta encoberto, sendo útil quando a histporia ouvida não faz sentido para o terapeuta.
Quando o terapeuta deve fazer Intervenções?
  • quando já acumulou dados suficientes a respeito do caso.
  • formular hipóteses a respeito da natureza das figuras emergentes específicas do cliente.
  • formular hipóteses sobre o fundo não percebido
  • Pensar questões, problemas e possíveis intervenções que podem ser úteis.
  • Deve-se, sobretudo, aprender  com as experiências.

Referências:
JOYCE, P.; SILLS, C. Técnicas em Gestalt> Aconselhamento e psicoterapia. Editora Vozes.

sábado, 23 de outubro de 2021

Preparando o Consultório - iniciando atendimentos

 Segundo Joyce e Sills (2021), a forma como se organiza uma sala, como o psicólogo se arruma para receber o cliente,bem como o nível de sua formaldiade irão influenciar a impressão que o cliente terá não só de você como do seu trabalho em si. 

"Isso significa que como você é com o cliente irá influenciar como o cliente é com você, e vice-versa." (JOYCE, SILLS, 2021, pg. 14)

O autor sugere um exercício de imaginação, na qual você se imagina se conhecendo, enquanto terapeuta. 

- Qual a impressão que você causa? 

- Qual é o impacto?  

- Quais as suas reações como cliente? 

Os autores ressaltam a importância de o terapetua estar presente no momento do atendimento,  de estar realmente aberto e disponível para escutar o novo cliente. Para tanto, também sugere um exercícios preparatório antes do atendimento, para que possa voltar-se para si, para como se encontra, redirecionando suas energias para o momento presente. Após isso, sugere que se lembre:

- de reexaminar  suas anotações

-  das questões em andamento

-  do que é importante ter em mente no atendimento

- do foco ou intenção para a sessão

- por fim, esvaziar a mente de todas essas considerações e voltar-se para o momento presente do atendimento.


A primeira sessão:

  • é uma sessão de avaliação mútua - cleinte e terapeuta
  • se decide se a terapia será útil ao cliente
  • se o teraéuta está capacitado a atender essa demanda.
  • considerar se qualqeur outra abordagem atende melhor para determinados casos.
  • avaliar o nível potencial de risco envolvido , pois intervenões fortes pode desestabilizar o cliente.
Antes de aceitar o cliente para a terapia, é preciso fazer algumas perguntas:
  • Coletar dados pessoais
  • Nome de pais, irmãos
  • Telefone de contato de pessoa de responsável
  • Telefone de contato do Médico que possa ter encaminhado;
  • Ocupação
  • Religião
  • Raça
  • História médica psiquiátrica
  • Bebidas/Drogas/tentativas de Suic[idio/ Automutilação
  • Nível atual de funcionamento e estresse
  • Experiências ou eventos prévios significativos
  • Terapia/ Aconselhamento prévio
  • Questões/ problemas apresentados
  • Expectativas e resultados desejados na terapia
  • Contrato
  • Frequência
  • Duração
  • Honorários
Verifique se o cliente concordou com:
  • Os limites de confidencialidade com relação a: supervisão, risco para o cliente ou para outra pessoa.
  • Período de aviso prévio antes de terminar
  • Política de cancelamento e de faltas
  • Permissão para registrar e para que o material escrito seja utilizado para objetivos de supervisão e profissionais.
Observar os seguintes aspectos no cliente e dar uma devolutiva em questionamento para sua propria reflexão, como por exemplo:
  • Estou notando sua respiração acelerada. Como você está se sentindo?
  • qual a sensação de estar aqui comigo enquanto me conta essa historia difícil? etc
Observar as suas respostas, nesse momento vai se perceber como ele reage ao convide de ampliação de sua awareness, se aceita alguma resonsabilidade, se estar aberto para o processo terapêutico na perspectiva gestáltica.

Explicando ao cliente como a Gestalt-terapia funciona:
  • É ético dar ao cliente uma indicação do que esperar na terapia
  • O que dizer ao cliente sobre a Gestalt-terapia?
    • Acreditamos que as pessoas potencialmente têm todas as habildiades para solucionar seus probemas ou confrontar suas dificuldades, embora fiquem paralisados muitas vezes, e precisam de ajuda. O papel do terapeuta gestáltico é auxiliá-lo a ver claramente qual é a sua situação, descobrir que parte você desempenha nela e experimentar  novas soluções, novas maneiras de confrontar a dificuldade.
    • Um dos objetivos da Gestalt é investigar padrões e crenças fixas que a pessoa sustenta e que a atrapalham, afetam sua vida atual, e dar apoio ao cliente para de ajustar criativamente com novas formas de pensar, novas maneiras de agir diante dos problemas.
    • Muitos padrões emergem nos relacionamentos, o que é importante ser observado.
Decidindo não trabalhar com o cliente:
  • É preciso admitir a ausência de recursos ou competência para ser capaz de ajudar a todos, o tempo todo.
  • Importante perceber o que é melhor para o terapeuta e o que é melhor para o cliente.
  • As vezes é necessário realizar a primeira sessão para decidir sobre pegar o caso ou não.
  • O Terapeuta deve ter o cuidado ao comunicar a recusa:
    • Dizer que entendeu o problema. Reconhecer o quanto ele é importante. Dizer que acha que não é a pessoa adequada para ajudá-lo nesse caso.
  • Explicar que o cliente precisa de alguém especializado na questão dele.
  • tentar oferecer um encaminhamento ao cliente - criar uma rede de relacionamentos.
Registros da sessão:
  • Registros devem ser éticos e são profissionalente necessários.
  • Não há regra sobre como se deve anotar.
  • O cliente pode lhe pedir para ler as anotações
  • O terapeuta pode manter um diário de seus pensamentos e impressões privadas, das reações de contratransferência, desde que nçao identifique qualquer cliente.
  • um tribunal pode solicitar qualquer documento de registro do cliente.
  • Devem ser mantidos os registros por um período de 6 anos, exigência normal. Depois desse período as anotações podem ser destruídas.

REFERÊNCIAS:
JOYCE, Phil; SILLS, Charlotte. Técnicas em GESTALT. Aconselhamento e psicoterapia. Editora Vozes. Petrópolis, 2021.


terça-feira, 5 de outubro de 2021

Critérios de indicação da Psicoterapia Breve

 

  •  Nem todos os pacientes podem se beneficiar de um processo de psicoterapia breve. 
  • Aseleção  deve se basear não apenas em critérios clínicos, que são fundamentais mas não suficientes, mas também em hipóteses psico e sociodinâmicas.
Fatores mais utilizados por autores para indicar a psicoterapia breve:
  • Início recente dos transtornos: a maioria dos autores consultados concorda com a opinião de que é preferencialmente benéfico o trabalho terapêutico com pacientes cujos sintomas tenham se manifestado recentemente, ou então que se trate de um episódio agudo dentro de um transtorno crônico. Malan (1963) destoa dos demais ao afirmar a possibilidade de êxito no tratamento de antigos distúrbios. 
  •  Capacidade egoica: por meio da avaliação da capacidade do paciente de tolerar a ansiedade e a frustração, aliada à ampla utilização de mecanismos saudáveis de defesa, bem como sua capacidade de introspecção e reconhecimento da vida interior, enfim, sua capacidade de insight, pode-se alcançar bom prognóstico quanto à psicoterapia breve. Balint (1975) e Fiorini (1978) afirmam que as observações realizadas nas entrevistas iniciais são fundamentais para o estabelecimento desse critério. a questão da capacidade egoica é também fundamental, por ser um critério sine qua non para a indicação
  • Motivação para o tratamento: segundo Balint (1975), o terapeuta há de ter a impressão de que o conflito interno do paciente entre sua enfermidade e o resto de sua personalidade permanece suficientemente intenso, isto é, a enfermidade é algo contrário a si, que ainda não foi aceito por ele e integrado em sua estrutura. Em outras palavras: que o paciente não defenda sua enfermidade como parte narcisicamente valorizada de sua personalidade; que não prefira a enfermidade à mudança.
  • Fatores do terapeuta: quase todos os autores consultados, notadamente Balint (1975), Malan (1974), Knobel (1986) e Perez-Sanches et al. (1987), dão ênfase à capacidade do terapeuta tanto em termos técnicos (possibilidade de avaliação e diagnóstico precisos) quanto em termos de “saúde psicológica”, isto é, sua capacidade de empatia e não de identificação e/ou de contratransferência exacerbada em relação ao cliente. 
Contraindicações pouco eficaz ou mesmo contraindicada é a psicoterapia breve, segundo vários autores, conforme dois aspectos básicos:

  •  diagnóstico clínico: psicoses, doenças psicossomáticas (que de acordo com novas interpretações têm sido consideradas “psicoses no corpo”), personalidades psicopáticas, drogadição, obsessões graves, tentativas potencialmente eficientes de suicídio, agitação psicomotora com agressividade. 
  • diagnóstico psicodinâmico: quando há grandes debilidades egoicas, com dependências simbióticas intensas, ambivalência, tendência ao acting out, escassa motivação para o tratamento, dificuldade para estabelecer um foco devido ao entrelaçamento de múltiplas situações dinâmicas
É eficaz para...
  • pacientes que vivem situações de crise, pelas suas próprias características de ser autolimitada, geralmente focal, cujo prognóstico de resolução pode ajudar bastante no acompanhamento psicoterapêutico para a obtenção de soluções positivas e reposicionamentos importantes na vida pós-crítica
  • indivíduos com o “grau de maturidade” que pode ser avaliado por seu nível de aptidão plástica de adaptação, pela mobilidade e flexibilidade nas diversas solicitações a que foi submetido, com ou sem êxito, sem “perder o rumo” do eixo central de seu projeto de vida, lançando mão de sua espontaneidade para encontrar novos caminhos que o recoloquem na direção de seus objetivos existenciais.
  • a indicação precisa de psicoterapia breve está, a rigor, reservada a pessoas que, com um grau satisfatório de maturidade, enfrentem situações particulares de crise ou descompensação caracterizadoras de quadros reativos agudos.
  •  observar o “nível de expectativa” da pessoa, no qual desempenhem fator preponderante da personalidade o concretismo e o imediatismo tanto do pensamento quanto do comportamento.
  • pode ter alcance ainda maior ao despertar nas pessoas que a ela se submetem um novo modo de ver e compreender a si mesmas como seres integrados biopsicossocialmente.
A indicação da psicoterapia breve sustenta-se num tripé assim estabelecido: 

1 Quadro clínico: indicação para os pacientes de quadros agudos caracterizadores de situações de crise. 
2 Quadro social: disponibilidade econômica e/ou pessoal por parte tanto do paciente quanto do agente terapêutico.
 3 Quadro de expectativa: avaliação do nível intelectivo-cultural, levando em conta o grau de expectativa do paciente diante do processo terapêutico.

Com essa perspectiva, amplia-se o campo de indicação da terapia breve para os casos considerados crônicos, borderlines e psicóticos, valendo a terapia, em nível institucional, como instrumento de mobilização.

Focalização
  • Lemgruber (1984) define como foco “o material consciente e inconsciente do paciente, delimitado como área a ser trabalhada no processo terapêutico através de avaliação e planejamento prévios”.
  • Segundo  Fiorini (1978), foco é uma organização complexa da qual fazem parte formulações que enfatizam aspectos: sintomáticos (como o próprio motivo da consulta), interacionais (o conflito interpessoal que desencadeou a crise), caracterológicos (“uma zona problemática do indivíduo”), além de aspectos próprios da díade terapeuta-cliente e do desenvolvimento da técnica.
  • Tem-se como foco único, numa situação terapêutica, em seus diversos níveis, a situação trazida por uma paciente em que a “porta de entrada” seja realmente uma série de sintomas somáticos desencadeados;
  • num segundo nível, pela ansiedade diante de uma situação específica (da qual em muitos casos a pessoa nem se deu conta). Nessa situação específica estão envolvidos aspectos importantes de sua dinâmica intrapsíquica, o que caracteriza outro nível desse mesmo foco, no qual apenas os aspectos firmemente relacionados a ele serão abordados.
  • como delimitação do foco, temos a sintomatologia apresentada, a ansiedade que lhe deu origem e o conflito atual que gerou essa ansiedade ou angústia
  • Nas palavras de Fiorini (1978, p. 32), “a focalização da terapia breve é a sua condição essencial de eficácia”
Sintoma...
  •  é a manifestação visível e sensível de uma estrutura, sendo a estrutura ela mesma.
  • sintetiza um conflito presente e uma história conflitual passada, ele é um resumo, um instantâneo da vida do sujeito.
  • Se a psicoterapia breve consegue fazer que o sintoma desapareça no ato da cura, significa que: 
1) sua estratégia foi bem-sucedida, o sintoma foi suprimido e com ele o funcionamento patológico que lhe deu origem; 
2) sua estratégia foi malsucedida, o sintoma desapareceu, mas deu lugar a uma “sintomatização” do ego ou do caráter, problemas psicopatológicos bem mais graves. No primeiro caso, quer queira, quer não, o terapeuta agiu sobre a estrutura. Nesse sentido, a psicoterapia obteve um efeito pleno... 

Referências:
SANTOS, Eduardo Ferreira. Psicoterapia breve - abordagem sistematizada de suituações de crise.

A Saúde e seus Determinantes Sociais

 DSS- Determinantes Sociais de Saúde

  • as condições de vida e trabalho dos indivíduos e de grupos da população estão relacionadas com sua situação de saúde.
  • Segundo a Comissão Nacional sobre os Determinantes Sociais da Saúde (CNDSS), os DSS são os fatores sociais, econômicos, culturais, étnicos/raciais, psicológicos e comportamentais que influenciam a ocorrência de problemas de saúde e seus fatores de risco na população.
  • Segundo a comissão homônima da Organização Mundial da Saúde (OMS) adota uma definição mais curta, segundo a qual os DSS são as condições sociais em que as pessoas vivem e trabalham.
  • São os fatores e mecanismos através dos quais as condições sociais afetam a saúde e que potencialmente podem ser alterados através de ações baseadas em informação. (Nancy Krieger (2001))
  • São as características sociais dentro das quais a vida transcorre. (Tarlov (1996))
Paradigmas explicativos dos problemas de saúde, em meados do século XIX...
  • a teoria miasmática
    • que conseguia responder às importantes mudanças sociais e práticas de saúde observadas no âmbito dos novos processos de urbanização e industrialização ocorridos naquele momento histórico
    • Virchow, um dos mais destacados cientistas vinculados a essa teoria, entendia que a “ciência médica é intrínseca e essencialmente uma ciência social” que as condições econômicas e sociais exercem um efeito importante sobre a saúde e a doença e que tais relações devem ser submetidas à pesquisa científica.
  • o extraordinário trabalho de bacteriologistas como Koch e Pasteur
    • A história da criação da primeira escola de saúde pública nos Estados Unidos, na Universidade Johns Hopkins, é um interessante exemplo do processo de afirmação da hegemonia desse “paradigma bacteriológico”.
    • o predomínio do conceito da saúde pública orientada ao controle de doenças específicas, fundamentada no conhecimento científico baseado na bacteriologia e contribuiu para “estreitar” o foco da saúde pública, que passa a distanciar-se das questões políticas e dos esforços por reformas sociais e sanitárias de caráter mais amplo.
    • estendeu-se por todo o país e internacionalmente. 
    • preponderância do enfoque médico biológico na conformação inicial da saúde pública como campo científico, em detrimento dos enfoques sociopolíticos e ambientais.
  • A definição de saúde como um estado de completo bem-estar físico, mental e social, e não meramente a ausência de doença ou enfermidade, inserida na Constituição da OMS no momento de sua fundação, em 1948, é uma clara expressão de uma concepção bastante ampla da saúde, para além de um enfoque centrado na doença
Década de 70 - A Conferência de Alma-Ata, coloca as atividades inspiradas no lema “Saúde para todos no ano 2000” recolocam em destaque o tema dos determinantes sociais.

Década de 80 - desloca a atenção para uma  concepção centrada na assistência médica individual

Decada de 90 - novamente dá lugar a uma ênfase nos determinantes sociais que se afirma com a criação da Comissão sobre Determinantes Sociais da Saúde da OMS, em 2005.

O estudo dos determinantes sociais da saúde...
  • observa-se um extraordinário avanço no estudo das relações entre a maneira como se organiza e se desenvolve uma determinada sociedade e a situação de saúde de sua população (ALMEIDA-FILHO, 2002). 
  • estudo das iniqüidades em saúde, ou seja, daquelas desigualdades de saúde entre grupos populacionais que, além de sistemáticas e relevantes, são também evitáveis, injustas e desnecessárias (WHITEHEAD, 2000)
  •  Segundo Nancy Adler (2006), podemos identificar três gerações de estudos sobre as iniqüidades em saúde.
    •  A primeira geração se dedicou a descrever as relações entre pobreza e saúde;
    •  A segunda, a descrever os gradientes de saúde de acordo com vários critérios de estratificação socioeconômica; 
    • A terceira e atual geração está dedicada principalmente aos estudos dos mecanismos de produção das iniqüidades.
  • pretende estabelecer uma hierarquia de determinações entre os fatores mais gerais de natureza social, econômica, política e as mediações através das quais esses fatores incidem sobre a situação de saúde de grupos e pessoas, já que a relação de determinação não é uma simples relação direta de causa-efeito.
Não basta somar os determinantes de saúde identificados em estudos com indivíduos para conhecer os determinantes de saúde no nível da sociedade.
  • os fatores individuais são importantes para identificar que indivíduos no interior de um grupo estão submetidos a maior risco, as diferenças nos níveis de saúde entre grupos e países estão mais relacionadas com outros fatores, principalmente o grau de eqüidade na distribuição de renda.
  • não basta somar os determinantes de saúde identificados em estudos com indivíduos para conhecer os determinantes de saúde no nível da sociedade. 
Abordagens para o estudo dos mecanismos através dos quais os DSS provocam as iniqüidades de saúde. 
  • A primeira delas privilegia os “aspectos físico-materiais” na produção da saúde e da doença, entendendo que as diferenças de renda influenciam a saúde pela escassez de recursos dos indivíduos e pela ausência de investimentos em infra-estrutura comunitária (educação, transporte, saneamento, habitação, serviços de saúde etc.), decorrentes de processos econômicos e de decisões políticas. 
  • Outro enfoque privilegia os “fatores psicosociais”, explorando as relações entre percepções de desigualdades sociais, mecanismos psicobiológicos e situação de saúde, com base no conceito de que as percepções e as experiências de pessoas em sociedades desiguais provocam estresse e prejuízos à saúde. 
  • Os enfoques “ecossociais” e os chamados “enfoques multiníveis” buscam integrar as abordagens individuais e grupais, sociais e biológicas numa perspectiva dinâmica, histórica e ecológica.
  • há os enfoques que buscam analisar as relações entre a saúde das populações, as desigualdades nas condições de vida e o grau de desenvolvimento da trama de vínculos e associações entre indivíduos e grupos. Esses estudos identificam o desgaste do chamado “capital social”, ou seja, das relações de solidariedade e confiança entre pessoas e grupos, como um importante mecanismo através do qual as iniqüidades de renda impactam negativamente a situação de saúde. 
O modelo de Dahlgren e Whitehead inclui os DSS...
  •  dispostos em diferentes camadas, desde uma camada mais próxima dos determinantes individuais até uma camada distal, onde se situam os macrodeterminantes.
  •  Apesar da facilidade da visualização gráfica dos DSS e sua distribuição em camadas, segundo seu nível de abrangência, o modelo não pretende explicar com detalhes as relações e mediações entre os diversos níveis e a gênese das iniqüidades. 
  • Como se pode ver na figura 1, os indivíduos estão na base do modelo, com suas características individuais de idade, sexo e fatores genéticos que, evidentemente, exercem influência sobre seu potencial e suas condições de saúde.
  • Na camada imediatamente externa aparecem o comportamento e os estilos de vida individuais. Esta camada está situada no limiar entre os fatores individuais e os DSS, já que os comportamentos, muitas vezes entendidos apenas como de responsabilidade individual, dependentes de opções feitas pelo livre arbítrio das pessoas, na realidade podem também ser considerados parte dos DSS, já que essas opções estão fortemente condicionadas por determinantes sociais - como informações, propaganda, pressão dos pares, possibilidades de acesso a alimentos saudáveis e espaços de lazer etc.
  • A camada seguinte destaca a influência das redes comunitárias e de apoio, cuja maior ou menor riqueza expressa o nível de coesão social que, como vimos, é de fundamental importância para a saúde da sociedade como um todo. 
  • No próximo nível estão representados os fatores relacionados a condições de vida e de trabalho, disponibilidade de alimentos e acesso a ambientes e serviços essenciais, como saúde e educação, indicando que as pessoas em desvantagem social correm um risco diferenciado, criado por condições habitacionais mais humildes, exposição a condições mais perigosas ou estressantes de trabalho e acesso menor aos serviços.
  •  Finalmente, no último nível estão situados os macrodeterminantes relacionados às condições econômicas, culturais e ambientais da sociedade e que possuem grande influência sobre as demais camadas
O modelo de Diderichsen e Hallqvist, de 1998, foi adaptado por Diderichsen, Evans e Whitehead (2001).
  •  enfatiza a estratificação social gerada pelo contexto social, que confere aos indivíduos posições sociais distintas, as quais por sua vez provocam diferenciais de saúde. 
  • No diagrama abaixo, (I) representa o processo segundo o qual cada indivíduo ocupa determinada posição social como resultado de diversos mecanismos sociais, como o sistema educacional e o mercado de trabalho.
  •  De acordo com a posição social ocupada pelos diferentes indivíduos, aparecem diferenciais, como o de exposição a riscos que causam danos à saúde (II); 
  • o diferencial de vulnerabilidade à ocorrência de doença, uma vez exposto a estes riscos (III);
  •  e o diferencial de conseqüências sociais ou físicas, uma vez contraída a doença (IV). 
  • Por “conseqüências sociais” entende-se o impacto que a doença pode ter sobre a situação socioeconômica do indivíduo e sua família.



Intervenções sobre os determinantes sociais da saúde.
  • O modelo de Dahlgren e Whitehead e o de Diderichsen permitem identificar pontos para intervenções de políticas, no sentido de minimizar os diferenciais de DSS originados pela posição social dos indivíduos e grupos.
    • o primeiro nível relacionado aos fatores comportamentais e de estilos de vida indica que estes estão fortemente influenciados pelos DSS, pois é muito difícil mudar comportamentos de risco sem mudar as normas culturais que os influenciam.
    • O segundo nível corresponde às comunidades e suas redes de relações. Como já mencionado, os laços de coesão social e as relações de solidariedade e confiança entre pessoas e grupos são fundamentais para a promoção e proteção da saúde individual e coletiva.
    • O terceiro nível se refere à atuação das políticas sobre as condições materiais e psicossociais nas quais as pessoas vivem e trabalham, buscando assegurar melhor acesso à água limpa, esgoto, habitação adequada, alimentos saudáveis e nutritivos, emprego seguro e realizador, ambientes de trabalho saudáveis, serviços de saúde e de educação de qualidade e outros.
    • O quarto nível de atuação se refere à atuação ao nível dos macrodeterminantes, através de políticas macroeconômicas e de mercado de trabalho, de proteção ambiental e de promoção de uma cultura de paz e solidariedade que visem a promover um desenvolvimento sustentável, reduzindo as desigualdades sociais e econômicas, as violências, a degradação ambiental e seus efeitos sobre a sociedade (CNDSS, 2006; PELEGRINI FILHO, 2006).
  • O outro modelo, proposto por Diderichsen et al., permite também identificar alguns pontos de incidência de políticas que atuem sobre os mecanismos de estratificação social e sobre os diferenciais de exposição, de vulnerabilidade e de suas conseqüências.
    •  a intervenção sobre os mecanismos de estratificação social seja de responsabilidade de outros setores, ela é das mais cruciais para combater as iniqüidades de saúde. Aqui se incluem políticas que diminuam as diferenças sociais, como as relacionadas ao mercado de trabalho, educação e seguridade social, além de um sistemático acompanhamento de políticas econômicas e sociais para avaliar seu impacto e diminuir seus efeitos sobre a estratificação social.
    • O segundo conjunto de políticas busca diminuir os diferenciais de exposição a riscos, tendo como alvo, por exemplo, os grupos que vivem em condições de habitação insalubres, trabalham em ambientes pouco seguros ou estão expostos a deficiências nutricionais.. Aqui se incluem também políticas de fortalecimento de redes de apoio a grupos vulneráveis para mitigar os efeitos de condições materiais e psicossociais adversas.
A Comissão Nacional sobre os Determinantes Sociais da Saúde (CNDSS)
  • Comissão foi estabelecida em 13 de março de 2006, através de Decreto Presidencial, com um mandato de dois anos.
  •  é uma resposta ao movimento global em torno dos DSS desencadeado pela OMS, que em março de 2005 criou a Comissão sobre Determinantes Sociais da Saúde (Commission on Social Determinants of Health - CSDH), com o objetivo de promover, em âmbito internacional, uma tomada de consciência sobre a importância dos determinantes sociais na situação de saúde de indivíduos e populações e sobre a necessidade do combate às iniqüidades de saúde por eles geradas.
  • está integrada por 16 personalidades expressivas de nossa vida social, cultural, científica e empresarial.
  • reconhece que a saúde é um bem público, construído com a participação solidária de todos os setores da sociedade brasileira
  • têm como referência o conceito de saúde, tal como a concebe a OMS - “um estado de completo bem-estar físico, mental e social e não meramente a ausência de doença ou enfermidade” - e o preceito constitucional de reconhecer a saúde como um “direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação” (artigo 196 da Constituição brasileira de 1988)
  • Três compromissos vêm orientando a atuação da Comissão: 
 Compromisso com a ação: implica apresentar recomendações concretas de políticas, programas e intervenções para o combate às iniqüidades de saúde geradas pelos DSS. 
 Compromisso com a eqüidade: a promoção da eqüidade em saúde é fundamentalmente um compromisso ético e uma posição política que orienta as ações da CNDSS para assegurar o direito universal à saúde.
 Compromisso com a evidência: as recomendações da Comissão devem estar solidamente fundamentadas em evidências científicas, que permitam, por um lado, entender como operam os determinantes sociais na geração das iniqüidades em saúde e, por outro, como e onde devem incidir as intervenções para combatê-las e que resultados podem ser esperados em termos de efetividade e eficiência.

Os principais objetivos da CNDSS são: 

 produzir conhecimentos e informações sobre os DSS no Brasil; 
 apoiar o desenvolvimento de políticas e programas para a promoção da eqüidade em saúde; 
 promover atividades de mobilização da sociedade civil para tomada de consciência e atuação sobre os DSS.

Referências:
A Saúde e seus Determinantes Sociais . PAULO MARCHIORI BUSS e  ALBERTO PELLEGRINI FILHO

quarta-feira, 15 de setembro de 2021

O desenvolvimento da orientação profissional no Brasil

Origem

  •  prática cujos objetivos estavam diretamente ligados ao aumento da eficiência industrial
  • origens situadas na Europa do início do século XX - criação do Centro de Orientação Profissional de Munique, no ano de 1902
O marco oficial de início da Orientação Profissional situa-se entre os anos de 1907 e 1909, com a criação do primeiro Centro de Orientação Profissional norte-americano, o Vocational Bureau of Boston, e a publicação do livro Choosing a Vocation, ambos sob responsabilidade de Frank Parsons (Carvalho, 1995; Rosas, 2000; Santos, 1977; Super & Bohn Junior, 1970/1976)

Parsons definia três passos a serem seguidos durante o processo de Orientação Profissional: 
  1. a análise das características do indivíduo, 
  2. a análise das características das ocupações 
  3. o cruzamento destas informações. 
Desta forma, a Orientação Profissional baseava-se na promoção do autoconhecimento e no fornecimento de informação profissional.

Nas décadas de 1920 e 1930...
  • a Psicologia Diferencial e a Psicometria passaram a influenciar fortemente a prática da Orientação Profissional
  •  A Orientação Profissional passou a ser um processo fortemente diretivo, em que o orientador tinha como objetivos fazer diagnósticos e prognósticos do orientando e indicar ao mesmo profissões ou ocupações apropriadas.
Na década de 1940...
  • Rogers (1942) lançou as bases de sua Terapia Centrada no Cliente, que aproxima os conceitos de Psicoterapia e Aconselhamento Psicológico e valoriza a participação do cliente no processo de intervenção, que passa a ser nãodiretivo. 
  • As idéias de Rogers influenciaram enormemente a Psicologia, a Psicoterapia, o Aconselhamento Psicológico e a Orientação Profissional da época, tendo sido um importante marco de transformação das práticas de Orientação Profissional.
A partir da década de 1950...
  • surgem diversas teorias sobre a escolha profissional
  • Em 1951 foi publicado o livro Occupational Choice, de Ginzberg , Ginsburg, Axelrad e Herma  que trouxe à luz a primeira Teoria do Desenvolvimento Vocacional, em que a escolha profissional não é um acontecimento específico que ocorre num momento determinado da vida, mas é um processo evolutivo que ocorre entre os últimos anos da infância e os primeiros anos da idade adulta.
  • 1953 foi publicada a Teoria do Desenvolvimento Vocacional de Donald Super . Tal teoria definiu a escolha profissional como um processo que ocorre ao longo da vida, da infância a velhice, através de diferentes estágios do desenvolvimento vocacional e da realização de diversas tarefas evolutivas.
  • Em 1959, foi publicada a Teoria Tipológica de John Holland -s interesses profissionais são o reflexo da personalidade do indivíduo e, sendo assim, podem servir de base para a definição de diferentes tipos de personalidade, cujas características definem diferentes grupos laborais e correspondem a diferentes ambientes de trabalho.
  • nas décadas de 1950 e 1960, foram publicadas Teorias Psicodinâmicas da escolha profissional, baseadas fundamentalmente na Teoria Psicanalítica e na Teoria de Satisfação das Necessidades, e Teorias de Tomada de Decisão, mais preocupadas com o momento da escolha do que com processo em si

Orientação Profissional no Brasil..
  • Nasceu na década de 1920, a Orientação Profissional brasileira pautou-se pelo modelo da Teoria do Traço e Fator; isto é, pelas idéias de que o processo de Orientação Profissional é diretivo e o papel do orientador profissional é o de fazer diagnósticos, prognósticos e indicações das ocupações certas para cada indivíduo, o que foi feito, desde o início, com base na Psicologia Aplicada, especialmente na Psicometria.
  • marco de origem a criação, em 1924, do Serviço de Seleção e Orientação Profissional para os alunos do Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo, sob responsabilidade do engenheiro suíço Roberto Mange (Carvalho, 1995; Rosas, 2000; Santos, 1977).
  • nasceu ligada à Psicologia Aplicada, que vinha desenvolvendo-se no país, na década de 1920, junto à Medicina, à Educação e à Organização do Trabalho (Antunes, 1998; Carvalho, 1995; Massimi, 1990; Rosas, 2000).
  • Nas décadas de 1930 e 1940, a Orientação Profissional ligou-se à Educação. 
  • Em 1934, foi introduzida no Serviço de Educação do Estado de São Paulo, por iniciativa de Lourenço Filho (Freitas, 1973). 
  • No ano de 1942, a lei Capanema, sobre a organização do ensino secundário, estabeleceu a atividade de Orientação Educacional e atribuiu a ela o auxílio na escolha profissional dos estudantes (Lourenço Filho, 1955/1971a).
  • Deu um grande salto de desenvolvimento a partir da década de 1940
  • 1944, foi criada a Fundação Getúlio Vargas, no Rio de Janeiro, que estudava a Organização Racional do Trabalho e a influência da Psicologia sobre a mesma (Freitas, 1973; Instituto Superior de Estudos e Pesquisas: ISOP, 1990)
  • Em 1945 e 1946, ofereceu, com o auxílio do governo brasileiro, o curso de Seleção, Orientação e Readaptação Profissional, ministrado pelo psicólogo e psiquiatra espanhol Emílio Mira y López (Freitas, 1973; Rosas, 2000) O objetivo de tal curso foi a formação de técnicos brasileiros nestas áreas de atuação. 
  • Em 1947, foi fundado o Instituto de Seleção e Orientação Profissional (ISOP), junto à Fundação Getúlio Vargas na cidade do Rio de Janeiro, instituto que reuniu técnicos e estudiosos da Psicologia Aplicada, muitos deles formados pelo curso ministrado por Mira y López, que foi seu primeiro diretor (Carvalho, 1995; Freitas, 1973; ISOP, 1990; Rosas, 2000; Seminério, 1973).
  • a década de 1960, as mudanças ocorridas na Orientação Profissional e as críticas à Teoria do Traço e Fator, que despontavam no ambiente internacional desde a década de 1940, eram conhecidas no Brasil (Scheeffer, 1966). No entanto, a mudança de paradigma da Orientação Profissional brasileira seguiu um caminho diverso e se baseou em referenciais teóricos próprios.
  • A Orientação Profissional brasileira realizada por psicólogos foi influenciada diretamente pela Psicanálise e, especialmente, pela Estratégia Clínica de Orientação Vocacional do psicólogo argentino Rodolfo Bohoslavsky (1977/1996), introduzida no Brasil na década de 1970 por Maria Margarida de Carvalho (1995; 2001).
Objetivos do ISOP em 1947...
  •  o desenvolvimento de métodos e técnicas da Psicologia Aplicada ao Trabalho e à Educação, o que foi feito principalmente através da adaptação e da validação de instrumentos psicológicos estrangeiros e da criação de instrumentos psicológicos brasileiros; o atendimento ao público através dos processos de Seleção e Orientação Profissional; e a formação de novos especialistas (Freitas, 1973; ISOP, 1990; Seminério, 1973). 
  • No ano de 1948, foi oferecido o primeiro curso de formação em Seleção e Orientação Profissional pelo ISOP, cuja aula inaugural foi proferida por Lourenço Filho (Lourenço Filho, 1971b). 
  • Em 1949, o ISOP passou a publicar a revista Arquivos Brasileiros de Psicotécnica, que veiculava muitas das pesquisas realizadas dentro da própria instituição (Freitas, 1973; Instituto Superior de Estudos e Pesquisas Psicossociais, 1990; Lourenço Filho, 1955/1971a). 
  • Entre as décadas de 1940 e 1960, o ISOP foi referência não só para os modelos de Seleção e Orientação Profissional, mas também para o desenvolvimento da Psicologia brasileira, principalmente da Psicometria.

O desenvolvimento da Psicologia enquanto ciência independente e área de atuação profissional...
  •  culminou com a promulgação da Lei 4.119 de 27 de agosto de 1962 (Brasil, 1962), que criou os cursos de formação em Psicologia e regulamentou a profissão de psicólogo, exerceu importante influência nos rumos da Orientação Profissional no Brasil. 
  • Em primeiro lugar, o desenvolvimento dos cursos de graduação em Psicologia levou a uma gradativa modificação dos objetivos do ISOP, que, no ano de 1970, tornouse um órgão normativo da Psicologia:
    •  teve o nome alterado para Instituto Superior de Pesquisa Psicológica;
    •  ampliou seu campo de interesses;
    •  parou de prestar atendimento ao público; 
    •  passou a realizar a formação de especialistas, docentes e pesquisadores em nível de pós-graduação (Freitas, 1973; ISOP, 1990).
  • modificou os objetivos do ISOP
  • Influenciou a Orientação Profissional ao vincular esta atividade à Psicologia Clínica e ao transferir o processo de intervenção para consultórios particulares (Carvalho, 1995; Melo-Silva & Jacquemin, 2001; Rosas, 2000)
  • Com a abertura do Serviço de Orientação Profissional (SOP) da USP, no ano de 1970, houve a necessidade de adaptação do processo de Orientação Profissional oferecido por este órgão devido a grande demanda. Nestas condições, Carvalho propôs os processos grupais como forma de supri-la, como alternativa ao modelo psicométrico e como forma de promoção da aprendizagem da escolha.
  •  processo de intervenção grupal desenvolvido por Carvalho deram origem a um modelo brasileiro de Orientação Profissional, que vem sendo largamente utilizado até os dias de hoje por todo o país.
  • De acordo com Carvalho (2001), este modelo de Orientação Profissional, baseado na Psicologia Clínica, na Psicanálise e em Teorias de Dinâmica de Grupo, assemelha-se à Terapia Breve Focal, cujo foco de trabalho é a escolha profissional.
A Estratégia Clínica de Orientação Profissional foi desenvolvida por Bohoslavsky (1977/ 1996)
  • foi influenciada pela idéia de nãodiretividade da Terapia Centrada no Cliente de Rogers, pela Psicanálise da Escola Inglesa, especialmente por Melanie Klein, e pela Psicologia do Ego norte-americana
  • A entrevista clínica aparece como o principal instrumento durante o processo de orientação e a primeira entrevista tem por objetivo alcançar o diagnóstico de orientabilidade

Atualmente, dois testes projetivos vêm sendo estudados no Brasil com o objetivo de servir como instrumento para o diagnóstico de orientabilidade
  1. o Teste de Fotos de Profissões (BBT) 
    • pretende clarificar inclinações profissionais com base em oito fatores de inclinação profissional definidos previamente (Achtnich, 1979/1991; Jacquemin, 1982; Jacquemin, 2000; Jacquemin, Melo-Silva & Pasian, 2002).
    • é composto por cerca de cem fotos de pessoas exercendo atividades profissionais e cada foto é identificada por dois fatores, um primário, que corresponde à função ou atividade representada, e um secundário, que corresponde ao ambiente profissional representado. 
    • permite a clarificação da inclinação profissional do orientando

       2.  o Teste Projetivo Ômega (TPO)
    • sendo bastante estudado por Inalda Oliveira no curso de Psicologia da Faculdade de Filosofia do Recife (FAFIRE)
    •  é um teste de apercepção temática que foi criado em 1966 no Departamento de Psicologia da Universidade do Rio de Janeiro e seu autor é João Villas-Boas Filho (Villas-Boas Filho, s.d.; Oliveira, 1997, 2002).
    • É composto por quatro cartões estímulos que representam conflitos básicos da dinâmica da escolha.
    •  Seu uso auxilia no entendimento dinâmico dos conflitos relacionados ao processo de escolha profissional do orientando. 
Ambos os testes são comercializados, o BBT pelo Centro Editorial de Testes e Pesquisas em Psicologia e o TPO pelo Centro de Psicologia Aplicada (CEPA).

 Tipologia de Holland.
  • Armando Marocco na Universidade do Vale dos Sinos (UNISINO), no Rio Grande do Sul, adaptou para o Brasil um instrumento canadense baseado na teoria de Holland: o Teste Visual de Interesses, de Tétreau e Trahan (Marocco, Tétreau & Trahan, 1984)
  • O TVI é um teste não-verbal para medida de interesses, composto por 102 diapositivos de atividades profissionais que representam os seis tipos de personalidade do modelo de Holland. 
  •  Tal instrumento também é baseado na teoria de Holland e prevê que quanto mais indiferenciado o perfil tipológico do orientando, maior sua indecisão vocacional.
o Paradigma Ecológico em Orientação Profissional  de Jorge Sarriera
  • o ambiente é tão importante quanto o indivíduo no processo de escolha profissional, já que esta ocorre na relação do indivíduo com o meio sócio-cultural em que está inserido.
  •  O objetivo da Orientação Profissional é o de prover o orientando de habilidades pessoais que o permitam enfrentar as demandas ambientais no momento de transição entre a escolha e o mundo do trabalho;
  •  é a promoção de comportamentos adaptativos.
Desde 1942, com a promulgação da lei Capanema, a Orientação Educacional foi incluída nas escolas e a ela foi incumbida a tarefa de auxiliar a escolha profissional dos alunos (Lourenço Filho, 1955/1971a).
  • foi com a promulgação da Lei 5.692 de 11 de agosto de 1971, que determinou as novas diretrizes e bases para os ensinos de primeiro e segundo graus, que a Orientação Educacional e o Aconselhamento Vocacional, sob responsabilidade dos Serviços de Orientação Educacional (SOE), tornaram-se obrigatórios nas escolas (Brasil, 1971). 
  • Esta lei tornou a profissionalização no segundo grau obrigatória e determinou a sondagem de aptidões no primeiro grau.
A partir da década de 1980...
  •  alguns autores no âmbito da Educação começaram a teorizar sobre os processos de escolha e Orientação Profissional
  • Celso Ferretti e Selma Pimenta passaram a tecer uma série de críticas às teorias psicológicas de escolha profissional com base no agrupamento de tais teorias feito por John Crites (1969/1974). 
    • Ferretti (1980;1988)...
      •  apontou a função ideológica de manutenção da sociedade de classes capitalista subjacente às teorias psicológicas da escolha profissional 
      •  propôs um novo modelo de Orientação Profissional dentro do processo de ensino-aprendizagem, capaz de suplantar tal ideologia. 
      • O objetivo do seu modelo é a reflexão sobre o próprio processo de escolha profissional e sobre o trabalho.
Silvio Bock (2002)..

  • propôs uma nova abordagem de Orientação Profissional que definiu como além da crítica e chamou de Abordagem Sócio-histórica. 
  • Sua base teórica são as idéias de Vygotsky de que o indivíduo desenvolve-se através de uma relação dialética com o ambiente sócio-cultural em que vive. 
  • Tal abordagem tem um cunho educativo e visa a promoção de saúde, conforme o proposto por Ana Bock (Bock & Aguiar, 1995).
Lei 9.394 de 20 de dezembro de 1996, atual lei das diretrizes e bases da Educação nacional
  •  ensino médio continua a ter como um de seus objetivos a preparação básica para o trabalho. 
  •  o ensino médio não possui mais o objetivo de profissionalização.
  •  O ensino profissionalizante de nível médio aparece apenas na condição de curso continuado; isto é, não substitui o ensino médio regular, apenas o complementa (Brasil, 1996). 
  • Segundo Uvaldo & Silva (2001), esta lei oferece mais abertura para a criação de projetos de Orientação Profissional integrados no currículo escolar.
  •  Esta idéia está em conformidade com a tendência internacional dos programas de Educação de Carreira, programas de cunho pedagógico realizados pela escola que pretendem capacitar os estudantes para a transição entre a escola e o mundo do trabalho dentro da nova ordem sócio-econômica mundial (Guichard, 2001).

Em 1993, foi fundada a Associação Brasileira de Orientadores Profissionais (ABOP) durante o I Simpósio Brasileiro de Orientação Vocacional Ocupacional (Carvalho, 1995; Lisboa, 2001; Melo-Silva & Jacquemin, 2001; Soares, 1999)...
  • foi criada com os objetivos de unificação e desenvolvimento da Orientação Profissional no Brasil. 
  •  vem promovendo simpósios nacionais bienais. 
  • O último ocorreu na cidade de Valinhos, São Paulo, em 2001. 
  • O próximo ocorrerá na cidade de Florianópolis, Santa Catarina, neste ano de 2003. 
  • Em 1997, foi publicado o primeiro número da Revista da ABOP, cujo quarto e último número foi publicado em 1999 e cuja revitalização é de suma importância para o desenvolvimento da Orientação Profissional em nosso país.
No Brasil, a Orientação Profissional pode ser realizada por psicólogos e pedagogos, mas infelizmente, como afirmou Soares (1999), a formação de orientadores profissionais brasileiros ainda não possui regulamentação ou lei que determine conteúdos mínimos a serem ministrados.
  • Uma das conseqüências desta situação foi a não inclusão da Orientação Profissional no rol de especialidades para psicólogos, de acordo com as determinações da Resolução 014/00 do Conselho Federal de Psicologia, que dispõe sobre o título de profissional especialista em Psicologia (Conselho Federal de Psicologia, 2000). 
  • Na prática, psicólogos e orientadores educacionais podem exercer a atividade de Orientação Profissional sem qualquer formação específica na área, o que, infelizmente, retarda o seu desenvolvimento e a desqualifica.
  • é importante ressaltar que a influência peculiar da Psicologia Clínica e da Psicanálise em nosso meio, que leva muitas vezes à equiparação dos processos de Orientação Profissional aos processos de Terapia Breve Focal, merece ser futuramente estudada com maior rigor.

Referências:
Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1679-33902003000100002



















segunda-feira, 13 de setembro de 2021

A Orientação Profissional e a Crise na Adolescência

  • identifica as principais influências dos adolescentes em seus processos de escolha profissional
  • como as principais fontes de informações e suas percepções com relação à importância de uma orientação profissional adequada. 
  • avaliou-se o nível de ansiedade apresentado por cada aluno durante este processo de escolha
  • pretende demonstrar a importância da orientação profissional, especialmente no período da adolescência
A adolescência...
  • fase do desenvolvimento humano que se encontra entre a infância e a fase adulta
  • ocorrem transformações de ordem física, psíquica e social
  • o adolescente vivencia diversas experiências e escolhas que envolvem toda sua expectativa de vida.
  • Finaliza o ensino Médio.
  •  o adolescente se vê diante da possibilidade de escolher continuar os seus estudos (mediante ingresso em curso técnico ou superior) ou ingressar no mercado de trabalho. 
  • precisa definir o seu futuro e buscar a sua independência
  • sofre uma forte influência da sua família e dos seus companheiros
  • a família projeta seus desejos e expectativas
  • abarcam todo o mundo emocional e intelectual do indivíduo, assim como sua vida social.
  •  Sparta e Gomes (2005) afirma que“não só fisiológicas, cognitivas e psicológicas, mas também em relação aos papéis sociais a serem assumidos pelo indivíduo”
Principais influências dos adolescentes em relação à escolha profissional
  • os temores e expectativas dos mesmos com relação ao ingresso no curso superior; 
  • os meios apresentados e/ou buscados pelos adolescentes para sanar suas dúvidas com relação a suas opções e a quantidade de informações específicas disponíveis para os adolescentes
  • Santos (2005 apud BECKER; BOBATOet al., 2012) explica que:
    • os fatores que influenciam o jovem podem variar desde suas características individuais a suas convicções políticas e religiosas, passando por seus valores e crenças, sua situação político-econômica, a família e seus pares. 
    • Dessa maneira, conhecer todos esses aspectos se faz tão importante quanto o conhecimento de si, visto que, ao refletir sobre tais influências, os jovens podem desenvolver uma visão crítica que dê espaço a identificação dos pontos positivos e negativos que direcionam suas escolhas. 
    • a literatura aponta a família como um dos principais fatores que podem tanto facilitar como dificultar o processo de escolha do adolescente com isso, o indivíduo acaba, inevitavelmente, fazendo uma escolha com base nos valores de sua família
  • Almeida e Pinho (2008, p. 173) apontam que:
    •  a família como o principal elemento que pode tanto ajudar quanto dificultar a escolha profissional. 
    • O processo de orientação profissional pode analisar e trabalhar estas influências de várias maneiras, de forma a ajudar o adolescente a entendê-las para assim poder utilizá-las de maneira consciente em sua tomada de decisão
    • na escolha da profissão, além dos interesses e aptidões do indivíduo, importará a forma como ele vê o mundo e como vê a si próprio. 
    • importará as informações que ele  detiver sobre as profissões existentes no mercado de trabalho e as influências recebidas do seu meio. 
    • A influência da família poderá ser exercida de forma mais expressa ou de forma mais discreta e manipuladora. 
    • Ao nascer, já trazemos conosco uma enorme expectativa por parte da família, visto que nossos pais ou criadores, via de regra, depositam seus sonhos em nós.
  •  Filho (2002 apud BECKER; BOBATOet al., 2012) explica que:
    •  ao se identificar com alguém por meio de sua ocupação, o adolescente cria expectativas e estereótipos com relação àquela profissão. 
    • Os amigos, por outro lado, teriam relação com a questão social e de status.
A Orientação Profissional ou Vocacional realizada pelo Psicólogo
  • Dá suporte ao indivíduo que não consegue decidir quanto a sua carreira profissional e que apresentam dúvidas quanto ao que querem ser e qual caminho deve seguir.
  • Abrange desde o aconselhamento do indivíduo até a sua escolha profissional
  • Auxilia-o para um autoconhecimento e desenvolvimento de interesses, aptidões e domínios.
  •  O serviço de orientação profissional ajuda ao sujeito a tornar-se cidadão, a encontrar sua identidade profissional, estruturando também sua identidade pessoal, permitindo assim um projeto de vida permeado de responsabilidade.
Pressupostos necessários à prática da Orientação profissional:
  • deve estar ciente do papel a desempenhar e de sua responsabilidade com o sujeito.
  • consolidar a relevância das políticas públicas que possam acompanhar e fiscalizar os serviços prestados de orientação, que precisam estar de acordo com as orientações da Associação Brasileira de Orientação Profissional (ABOP).
  • Pode ser feito por equipe muldisicplinar mas é preciso ressaltar que é exclusivo apenas ao psicólogo a aplicação de testes e avaliações psicológicas
  • sugerir aos pais trabalhem numa relação de colaboração junto aos psicólogos, podendo de fato contribuir para o desenvolvimento vocacional dos seus filhos, prestando-lhes um apoio mais qualificado.
Para Silva, Oliveira e Coelho (2002)...

  • ... ao profissional da orientação profissional caberá guiar o adolescente nesse difícil processo de conscientização de suas próprias necessidades, dando-lhe a oportunidade de conversar sobre suas dificuldades, sobre os obstáculos encontrados, as apreensões, medos, dúvidas, interesses, aptidões e desejos.
Para Ferretti (1997 apud NEPOMUCENO; WITTER, 2010)...
  • ...  hoje em dia a orientação profissional é uma intervenção onde o orientador minimiza os fatores que dificultam a decisão profissional e objetiva auxiliar a pessoa em sua escolha de maneira que realize uma opção ocupacional adequada para si.
Para Rocha (2010 apud NORONHA; AMBIEL et al., 2010)...
  • ... durante o processo de orientação profissional, a pessoa é levada a conhecer suas características pessoais, em especial seus interesses, escolhas, valores, personalidade, aptidões, motivações e perspectivas de carreiras
A Orientação Profissional e a Crise na Adolescência.
  • Lisboa (1997 apud ALMEIDA; PINHO, 2008) explica que a identidade ocupacional está diretamente ligada à identidade pessoal e ambas abrangem todas as identificações feitas pelo adolescente durante sua vida.
  • Conger e Petersen (1984 apud ALMEIDA;PINHO, 2008) afirmam que a constituição da identidade ocupacional é uma das principais tarefas desenvolvimentais da adolescência. 
  • em meio a toda a crise vivida na adolescência, os jovens de hoje têm que construir sua identidade ocupacional
  • Hirt e Raitz (2010, p. 22-23) afirma que as influências presentes na escolha da profissão envolve:
    • o lugar da residência, 
    • o sexo, 
    • passa pela ocupação dos pais, 
    • pelo salário oferecido,
    • o status, dentre outros.
  • Lucchiari (1993 apud NORONHA; AMBIEL; FRIGATTO, 2010, p. 3), afirma que tal processo exige um nível de autoconhecimento que em alguns casos pode propiciar um desconforto.
  • Nepomuceno e Witter (2010) afrma que a escolha de uma profissão é uma das decisões mais sérias da vida de alguém, visto que ela irá determinar, de certa maneira,o destino da pessoa, assim como seu estilo de vida, a sua educação e até o tipo de pessoas com quem irá conviver no trabalho e na sociedade. Segundo os mesmos autores, a principal dificuldade ainda é desfazer os mitos que rondam as profissões e informar aos jovens sobre as profissões, as carreiras, as possibilidades de cursos técnicos e superiores e sobre o mercado de trabalho com informações concretas e atualizadas.
 Referências:

Artigo de Adriana Carla de Britto Silva; Vivian Maria Bezerra Melo; André Fernando de Oliveira Fermoseli. 

sexta-feira, 3 de setembro de 2021

Psicologia e Luto - Modelo do Processo Dual


Visão biopsicossocial do Luto

O luto é uma reação esperada diante de uma grande perda, um rompimento de vínculo significativo, que causa uma transição biopsicossocial, englobando a pessoa como um todo, físicamente, psicologicamente e o socialmente. No trabalho do luto, a pessoa, consciente da realidade da perda, reconstrói significados e se reorganiza diante de uma nova existência.

Pensamentos, sentimentos, sensações e movimentos são mecanismos de tomadas de consciência a respeito de algo que estamos experineciando, seja com um ente querido, seja conosco mesmo. Tudo isso, se manifesta a partir das sensações e percepções que temos ao lidar comdeterminadas situações.

É importante saber de forma consciente sobre a propria experiência, particular e individual,  tal como as perdas que já se teve na vida, quais as crenças que compactua, além de atentar sobr eo tempo e espaço contemporâneo, onde inclui suas experiências e o mundo compatilhado.

É sabido que a sociedade ocidental tem raízes profundamente cristãs, e ainda que não acredite em vida após a morte, essas raízes é o que norteia grande parte da moral e ética ocidental até hoje. Tudo isso precisa ser levado em consideração para se ter uma compreensão mais ampla do luto de modo crítico e complexo.

Segundo Parkes (1998), ao perdermos uma pessoa querida, o nosso mundo presumido é abalado, ou seja, o mundo que conquistamos e  conhecemos, o que sabemos ou pensamos saber, nossa interpretação do passado, nossa visão de futuro, tudo iso é profundamente abalado. Ao perder um ente querido, o mundo presumido muda e um novo mundo presumido será construído a partir de então.

 A compreensão do luto no século XXI...

Os primeiros estudos sobre o luto falavam em uma proposta de desligamento, de afastamento da pessoa falecida, dando ênfase à expressão dos sentimentos (destaque para os estudos de Freud no início do século XX e de Bowlby no final do mesmo século)

Atualmente,  estuda-se o luto a partir de uma perspectiva de construção de significado e também se ressalta a possibilidade de se manter vínculo com a pessoa falecida, uma oposição clara à ideia de que era necessária alguma espécie de desligamento ou afastamento do ente querido.

 O Modelo do Processo Dual.

  • É um novo modelo de compreensão dos fenômenos presentes no processo de luto, que realiza uma revisão bastante interessante nas concepções teóricas.
  • o tem encontrado fundamento na pesquisa e na prática clínica
  •  questiona aspectos considerados ultrapassados, tais como:
    •  teorias com definições imprecisas, com dificuldade em considerar o luto como processo dinâmico, com foco exclusivo nas consequências na saúde (se o enlutado tem maior risco de morte, transtorno, etc. com foco no intrapsíquicos (como se pessoa vivesse em uma “bolha”, esquecendo de que ela está num mundo, que têm ou não relações sociais e afetivas que impactam, que faz parte de uma cultura que possibilita maior ou menor compartilhamento de sofrimento).
    • A cultura é uma das grandes críticas atuais a alguns estudos ultrapassados: a falta de evidência empírica e de validação em diferentes culturas e períodos históricos.
  • se baseia pela identificação de dois tipos de fatores estressores
    •  os estressores orientados para a perda 
    • os orientados para a restauração. 
  • A partir desses dois aspectos, o modelo dual: 
    • considera a existência de um processo dinâmico e regulador do enfrentamento, entendendo que há uma oscilação por meio da qual o enlutado pode às vezes confrontar e às vezes evitar as diferentes tarefas do luto. 
    •  propõe que o enfrentamento adaptativo é composto de confrontação/evitação da perda, a par com necessidades de restauração.
  • Enfatiza o enfrentamento para a compreensão do processo de luto. O processo de adaptação e construção de significado ocorre a partir do:
    – Enfrentamento orientado para a perda
    • Foca na busca pela pessoa perdida e está centrada nos aspectos relacionados a pessoa falecida: laços afetivos, negação e evitação da realidade da morte, bem como, a aceitação da realidade da perda, elaboração do luto, rememorar, ver fotografias, falar sobre o ente querido morto, anseio por sua proximidade.
    • Inclui-se nesse enfrentamento a ruminação, ou seja, sobre como seria a vida se ele não tivesse morrido e as circunstâncias e eventos diante da morte.
    • Engloba a saudade e também como ele reagiria se estivesse vivo em determinado evento. 
    • Chorar pela morte também está no enfrentamento voltado para a perda.
  • – Enfrentamento orientado para a restauração
    • refere-se aos ajustamentos recorrentes à perda e que constituem fontes de estresse com as quais as pessoas em situação de luto precisa lidar, como:
      •  responder às mudanças de reorganização da vida após a morte do ente querido
      •  quando o enlutado precisa assumir as tarefas que eram realizadas pela pessoa que morreu.
      •  Lidar com os arranjos da vida sem o ser amado.
      • Retomar as próprias tarefas do dia a dia, fazer coisas novas, se distrair (se divertir não é trair o morto, é parte da vida, o enlutado tem o direito de sorrir). 
      • Sugere-se assistir a um filme, sair com amigos, passeiar, viajar, fazer contato social de uma forma geral.
      •  A pessoa enlutada desenvolve uma nova identidade
        • a esposa que perdeu o marido, agora é viúva.
        •  E quem perdeu o filho? Pai órfão de filho? Mãe órfã de filho?  
  • – A oscilação entre um e outro.
    • é a alternância entre um e outro. Em um momento a pessoa está voltada para a perda e em outro ela está voltada a restauração. 
    • A oscilação é um processo necessário. Quem fica apenas na orientação voltada para a perda ou apenas na orientação voltada para a restauração não está elaborando um luto saudável.
      • A pessoa que permanece excessivamente voltada para a perda, tem mais dificuldade na elaboração do luto. 
      • A que fica excessivamente voltado para a restauração, não entra em contato com a perda, evitando sentimentos voltados à perda, acreditam que entrar em contato com esses sentimentos seja insuportável.
    • A oscilação é saudável, ela é necessária para que possa haver uma reorganização diante da nova realidade, a construção de um novo mundo presumido, abalado com a perda do ente querido.

  • trata-se de um processo cognitivo de enfrentamento da perda que consiste em construir estratégias e estilos de gerenciamento da situação de luto, o que acontece no dia a dia, incluindo tarefas simples de vida da pessoa em luto, como assistir TV, ler um livro, conversar com amigos, etc. Tudo visando reduzir danos à saúde física e mental da pessoa.
  • As estratégias de enfrentamento ajudam a pessoa a adaptar-se a situação vivenciada e estas respostas administram a crise para tolera-la e diminuir o estresse ocasionado.
No Modelo Dual do luto...

... ao aceitar a realidade da perda, a pessoa aceita que o seu mundo foi transformado. 
... o enlutado experimenta a dor da perda e também tem tempo livre para outras atividades que necessitam ser realizadas. 
...o enlutado ajusta a vida sem o seu ente querido falecido e repetimos, isso não é trair a memória do morto, não é esquecê-lo, é ajustar a vida sem a presença do ente querido que morreu.

Na vida cotidiana durante o luto, as pessoas oscilam entre:

  •  se concentrar em aspectos da perda (a dor de viver sem a pessoa, a angústia, as dificuldades) 
  • se concentrar nos aspectos da restauração (envolver-se em novos papéis e identidades devido à perda),
  •  e em outras ocasiões estão simplesmente envolvidos na experiência da vida cotidiana. 



O luto...
  • é um sentimento individual
  • não existe um tempo para passar por ele
  • sua elaboração não significa esquecer o ente querido,mas que mesmo a perda sendo para sempre, a pessoa consegue retomar as suas atividades cotidianas
  •  não será mais a mesma pessoa, ela precisa se reestruturar com o novo mundo que tem agora
  • ao elaborar o luto, a vida fica mais voltada a restauração, mas não deixará de vivenciar a perda também. 
  • As oscilações serão menores, mas ainda acontecerão.


Referências:

FRANCO, M. H. P. O luto como experiência vital. 2009. Disponível em: https://www.4estacoes.com/pdf/textos_saiba_mais/luto_como_experiencia_vital.pdf. 

GRANEK L. Grief as pathology: The evolution of grief theory in psychology from Freud to the present. Hist Psychol. 2010 Feb;13(1):46-73. doi: 10.1037/a0016991. 

HANSSON, O. R., & STROEBE, M. S. Bereavement in late life. Coping, adaptation and developmental Influences. Washington, DC: American Psychological Association, 2007 

KOVACS, M. J. (Coord). Morte e existência humana: caminhos e possibilidades de intervenção. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2008. 

KOVÁCS, M.J. Morte e Desenvolvimento Humano. São Paulo: Casa do Psicólogo, 1992. 

KUBLER-ROSS, E. Sobre a morte e o morrer. Rio de Janeiro: Editora Martins Fontes; 1985 

MAZORRA, L; A construção de significados atribuídos à morte de um ente querido e o processo de luto. 2009. 265 f. Tese (Doutorado em Psicologia) - Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2009. Disponível em: https://tede2.pucsp.br/handle/handle/15837. Acesso em 10 jan 2021.

https://umavisaobiopsicossocialdoluto.wordpress.com/2015/07/07/15/