quarta-feira, 15 de setembro de 2021

O desenvolvimento da orientação profissional no Brasil

Origem

  •  prática cujos objetivos estavam diretamente ligados ao aumento da eficiência industrial
  • origens situadas na Europa do início do século XX - criação do Centro de Orientação Profissional de Munique, no ano de 1902
O marco oficial de início da Orientação Profissional situa-se entre os anos de 1907 e 1909, com a criação do primeiro Centro de Orientação Profissional norte-americano, o Vocational Bureau of Boston, e a publicação do livro Choosing a Vocation, ambos sob responsabilidade de Frank Parsons (Carvalho, 1995; Rosas, 2000; Santos, 1977; Super & Bohn Junior, 1970/1976)

Parsons definia três passos a serem seguidos durante o processo de Orientação Profissional: 
  1. a análise das características do indivíduo, 
  2. a análise das características das ocupações 
  3. o cruzamento destas informações. 
Desta forma, a Orientação Profissional baseava-se na promoção do autoconhecimento e no fornecimento de informação profissional.

Nas décadas de 1920 e 1930...
  • a Psicologia Diferencial e a Psicometria passaram a influenciar fortemente a prática da Orientação Profissional
  •  A Orientação Profissional passou a ser um processo fortemente diretivo, em que o orientador tinha como objetivos fazer diagnósticos e prognósticos do orientando e indicar ao mesmo profissões ou ocupações apropriadas.
Na década de 1940...
  • Rogers (1942) lançou as bases de sua Terapia Centrada no Cliente, que aproxima os conceitos de Psicoterapia e Aconselhamento Psicológico e valoriza a participação do cliente no processo de intervenção, que passa a ser nãodiretivo. 
  • As idéias de Rogers influenciaram enormemente a Psicologia, a Psicoterapia, o Aconselhamento Psicológico e a Orientação Profissional da época, tendo sido um importante marco de transformação das práticas de Orientação Profissional.
A partir da década de 1950...
  • surgem diversas teorias sobre a escolha profissional
  • Em 1951 foi publicado o livro Occupational Choice, de Ginzberg , Ginsburg, Axelrad e Herma  que trouxe à luz a primeira Teoria do Desenvolvimento Vocacional, em que a escolha profissional não é um acontecimento específico que ocorre num momento determinado da vida, mas é um processo evolutivo que ocorre entre os últimos anos da infância e os primeiros anos da idade adulta.
  • 1953 foi publicada a Teoria do Desenvolvimento Vocacional de Donald Super . Tal teoria definiu a escolha profissional como um processo que ocorre ao longo da vida, da infância a velhice, através de diferentes estágios do desenvolvimento vocacional e da realização de diversas tarefas evolutivas.
  • Em 1959, foi publicada a Teoria Tipológica de John Holland -s interesses profissionais são o reflexo da personalidade do indivíduo e, sendo assim, podem servir de base para a definição de diferentes tipos de personalidade, cujas características definem diferentes grupos laborais e correspondem a diferentes ambientes de trabalho.
  • nas décadas de 1950 e 1960, foram publicadas Teorias Psicodinâmicas da escolha profissional, baseadas fundamentalmente na Teoria Psicanalítica e na Teoria de Satisfação das Necessidades, e Teorias de Tomada de Decisão, mais preocupadas com o momento da escolha do que com processo em si

Orientação Profissional no Brasil..
  • Nasceu na década de 1920, a Orientação Profissional brasileira pautou-se pelo modelo da Teoria do Traço e Fator; isto é, pelas idéias de que o processo de Orientação Profissional é diretivo e o papel do orientador profissional é o de fazer diagnósticos, prognósticos e indicações das ocupações certas para cada indivíduo, o que foi feito, desde o início, com base na Psicologia Aplicada, especialmente na Psicometria.
  • marco de origem a criação, em 1924, do Serviço de Seleção e Orientação Profissional para os alunos do Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo, sob responsabilidade do engenheiro suíço Roberto Mange (Carvalho, 1995; Rosas, 2000; Santos, 1977).
  • nasceu ligada à Psicologia Aplicada, que vinha desenvolvendo-se no país, na década de 1920, junto à Medicina, à Educação e à Organização do Trabalho (Antunes, 1998; Carvalho, 1995; Massimi, 1990; Rosas, 2000).
  • Nas décadas de 1930 e 1940, a Orientação Profissional ligou-se à Educação. 
  • Em 1934, foi introduzida no Serviço de Educação do Estado de São Paulo, por iniciativa de Lourenço Filho (Freitas, 1973). 
  • No ano de 1942, a lei Capanema, sobre a organização do ensino secundário, estabeleceu a atividade de Orientação Educacional e atribuiu a ela o auxílio na escolha profissional dos estudantes (Lourenço Filho, 1955/1971a).
  • Deu um grande salto de desenvolvimento a partir da década de 1940
  • 1944, foi criada a Fundação Getúlio Vargas, no Rio de Janeiro, que estudava a Organização Racional do Trabalho e a influência da Psicologia sobre a mesma (Freitas, 1973; Instituto Superior de Estudos e Pesquisas: ISOP, 1990)
  • Em 1945 e 1946, ofereceu, com o auxílio do governo brasileiro, o curso de Seleção, Orientação e Readaptação Profissional, ministrado pelo psicólogo e psiquiatra espanhol Emílio Mira y López (Freitas, 1973; Rosas, 2000) O objetivo de tal curso foi a formação de técnicos brasileiros nestas áreas de atuação. 
  • Em 1947, foi fundado o Instituto de Seleção e Orientação Profissional (ISOP), junto à Fundação Getúlio Vargas na cidade do Rio de Janeiro, instituto que reuniu técnicos e estudiosos da Psicologia Aplicada, muitos deles formados pelo curso ministrado por Mira y López, que foi seu primeiro diretor (Carvalho, 1995; Freitas, 1973; ISOP, 1990; Rosas, 2000; Seminério, 1973).
  • a década de 1960, as mudanças ocorridas na Orientação Profissional e as críticas à Teoria do Traço e Fator, que despontavam no ambiente internacional desde a década de 1940, eram conhecidas no Brasil (Scheeffer, 1966). No entanto, a mudança de paradigma da Orientação Profissional brasileira seguiu um caminho diverso e se baseou em referenciais teóricos próprios.
  • A Orientação Profissional brasileira realizada por psicólogos foi influenciada diretamente pela Psicanálise e, especialmente, pela Estratégia Clínica de Orientação Vocacional do psicólogo argentino Rodolfo Bohoslavsky (1977/1996), introduzida no Brasil na década de 1970 por Maria Margarida de Carvalho (1995; 2001).
Objetivos do ISOP em 1947...
  •  o desenvolvimento de métodos e técnicas da Psicologia Aplicada ao Trabalho e à Educação, o que foi feito principalmente através da adaptação e da validação de instrumentos psicológicos estrangeiros e da criação de instrumentos psicológicos brasileiros; o atendimento ao público através dos processos de Seleção e Orientação Profissional; e a formação de novos especialistas (Freitas, 1973; ISOP, 1990; Seminério, 1973). 
  • No ano de 1948, foi oferecido o primeiro curso de formação em Seleção e Orientação Profissional pelo ISOP, cuja aula inaugural foi proferida por Lourenço Filho (Lourenço Filho, 1971b). 
  • Em 1949, o ISOP passou a publicar a revista Arquivos Brasileiros de Psicotécnica, que veiculava muitas das pesquisas realizadas dentro da própria instituição (Freitas, 1973; Instituto Superior de Estudos e Pesquisas Psicossociais, 1990; Lourenço Filho, 1955/1971a). 
  • Entre as décadas de 1940 e 1960, o ISOP foi referência não só para os modelos de Seleção e Orientação Profissional, mas também para o desenvolvimento da Psicologia brasileira, principalmente da Psicometria.

O desenvolvimento da Psicologia enquanto ciência independente e área de atuação profissional...
  •  culminou com a promulgação da Lei 4.119 de 27 de agosto de 1962 (Brasil, 1962), que criou os cursos de formação em Psicologia e regulamentou a profissão de psicólogo, exerceu importante influência nos rumos da Orientação Profissional no Brasil. 
  • Em primeiro lugar, o desenvolvimento dos cursos de graduação em Psicologia levou a uma gradativa modificação dos objetivos do ISOP, que, no ano de 1970, tornouse um órgão normativo da Psicologia:
    •  teve o nome alterado para Instituto Superior de Pesquisa Psicológica;
    •  ampliou seu campo de interesses;
    •  parou de prestar atendimento ao público; 
    •  passou a realizar a formação de especialistas, docentes e pesquisadores em nível de pós-graduação (Freitas, 1973; ISOP, 1990).
  • modificou os objetivos do ISOP
  • Influenciou a Orientação Profissional ao vincular esta atividade à Psicologia Clínica e ao transferir o processo de intervenção para consultórios particulares (Carvalho, 1995; Melo-Silva & Jacquemin, 2001; Rosas, 2000)
  • Com a abertura do Serviço de Orientação Profissional (SOP) da USP, no ano de 1970, houve a necessidade de adaptação do processo de Orientação Profissional oferecido por este órgão devido a grande demanda. Nestas condições, Carvalho propôs os processos grupais como forma de supri-la, como alternativa ao modelo psicométrico e como forma de promoção da aprendizagem da escolha.
  •  processo de intervenção grupal desenvolvido por Carvalho deram origem a um modelo brasileiro de Orientação Profissional, que vem sendo largamente utilizado até os dias de hoje por todo o país.
  • De acordo com Carvalho (2001), este modelo de Orientação Profissional, baseado na Psicologia Clínica, na Psicanálise e em Teorias de Dinâmica de Grupo, assemelha-se à Terapia Breve Focal, cujo foco de trabalho é a escolha profissional.
A Estratégia Clínica de Orientação Profissional foi desenvolvida por Bohoslavsky (1977/ 1996)
  • foi influenciada pela idéia de nãodiretividade da Terapia Centrada no Cliente de Rogers, pela Psicanálise da Escola Inglesa, especialmente por Melanie Klein, e pela Psicologia do Ego norte-americana
  • A entrevista clínica aparece como o principal instrumento durante o processo de orientação e a primeira entrevista tem por objetivo alcançar o diagnóstico de orientabilidade

Atualmente, dois testes projetivos vêm sendo estudados no Brasil com o objetivo de servir como instrumento para o diagnóstico de orientabilidade
  1. o Teste de Fotos de Profissões (BBT) 
    • pretende clarificar inclinações profissionais com base em oito fatores de inclinação profissional definidos previamente (Achtnich, 1979/1991; Jacquemin, 1982; Jacquemin, 2000; Jacquemin, Melo-Silva & Pasian, 2002).
    • é composto por cerca de cem fotos de pessoas exercendo atividades profissionais e cada foto é identificada por dois fatores, um primário, que corresponde à função ou atividade representada, e um secundário, que corresponde ao ambiente profissional representado. 
    • permite a clarificação da inclinação profissional do orientando

       2.  o Teste Projetivo Ômega (TPO)
    • sendo bastante estudado por Inalda Oliveira no curso de Psicologia da Faculdade de Filosofia do Recife (FAFIRE)
    •  é um teste de apercepção temática que foi criado em 1966 no Departamento de Psicologia da Universidade do Rio de Janeiro e seu autor é João Villas-Boas Filho (Villas-Boas Filho, s.d.; Oliveira, 1997, 2002).
    • É composto por quatro cartões estímulos que representam conflitos básicos da dinâmica da escolha.
    •  Seu uso auxilia no entendimento dinâmico dos conflitos relacionados ao processo de escolha profissional do orientando. 
Ambos os testes são comercializados, o BBT pelo Centro Editorial de Testes e Pesquisas em Psicologia e o TPO pelo Centro de Psicologia Aplicada (CEPA).

 Tipologia de Holland.
  • Armando Marocco na Universidade do Vale dos Sinos (UNISINO), no Rio Grande do Sul, adaptou para o Brasil um instrumento canadense baseado na teoria de Holland: o Teste Visual de Interesses, de Tétreau e Trahan (Marocco, Tétreau & Trahan, 1984)
  • O TVI é um teste não-verbal para medida de interesses, composto por 102 diapositivos de atividades profissionais que representam os seis tipos de personalidade do modelo de Holland. 
  •  Tal instrumento também é baseado na teoria de Holland e prevê que quanto mais indiferenciado o perfil tipológico do orientando, maior sua indecisão vocacional.
o Paradigma Ecológico em Orientação Profissional  de Jorge Sarriera
  • o ambiente é tão importante quanto o indivíduo no processo de escolha profissional, já que esta ocorre na relação do indivíduo com o meio sócio-cultural em que está inserido.
  •  O objetivo da Orientação Profissional é o de prover o orientando de habilidades pessoais que o permitam enfrentar as demandas ambientais no momento de transição entre a escolha e o mundo do trabalho;
  •  é a promoção de comportamentos adaptativos.
Desde 1942, com a promulgação da lei Capanema, a Orientação Educacional foi incluída nas escolas e a ela foi incumbida a tarefa de auxiliar a escolha profissional dos alunos (Lourenço Filho, 1955/1971a).
  • foi com a promulgação da Lei 5.692 de 11 de agosto de 1971, que determinou as novas diretrizes e bases para os ensinos de primeiro e segundo graus, que a Orientação Educacional e o Aconselhamento Vocacional, sob responsabilidade dos Serviços de Orientação Educacional (SOE), tornaram-se obrigatórios nas escolas (Brasil, 1971). 
  • Esta lei tornou a profissionalização no segundo grau obrigatória e determinou a sondagem de aptidões no primeiro grau.
A partir da década de 1980...
  •  alguns autores no âmbito da Educação começaram a teorizar sobre os processos de escolha e Orientação Profissional
  • Celso Ferretti e Selma Pimenta passaram a tecer uma série de críticas às teorias psicológicas de escolha profissional com base no agrupamento de tais teorias feito por John Crites (1969/1974). 
    • Ferretti (1980;1988)...
      •  apontou a função ideológica de manutenção da sociedade de classes capitalista subjacente às teorias psicológicas da escolha profissional 
      •  propôs um novo modelo de Orientação Profissional dentro do processo de ensino-aprendizagem, capaz de suplantar tal ideologia. 
      • O objetivo do seu modelo é a reflexão sobre o próprio processo de escolha profissional e sobre o trabalho.
Silvio Bock (2002)..

  • propôs uma nova abordagem de Orientação Profissional que definiu como além da crítica e chamou de Abordagem Sócio-histórica. 
  • Sua base teórica são as idéias de Vygotsky de que o indivíduo desenvolve-se através de uma relação dialética com o ambiente sócio-cultural em que vive. 
  • Tal abordagem tem um cunho educativo e visa a promoção de saúde, conforme o proposto por Ana Bock (Bock & Aguiar, 1995).
Lei 9.394 de 20 de dezembro de 1996, atual lei das diretrizes e bases da Educação nacional
  •  ensino médio continua a ter como um de seus objetivos a preparação básica para o trabalho. 
  •  o ensino médio não possui mais o objetivo de profissionalização.
  •  O ensino profissionalizante de nível médio aparece apenas na condição de curso continuado; isto é, não substitui o ensino médio regular, apenas o complementa (Brasil, 1996). 
  • Segundo Uvaldo & Silva (2001), esta lei oferece mais abertura para a criação de projetos de Orientação Profissional integrados no currículo escolar.
  •  Esta idéia está em conformidade com a tendência internacional dos programas de Educação de Carreira, programas de cunho pedagógico realizados pela escola que pretendem capacitar os estudantes para a transição entre a escola e o mundo do trabalho dentro da nova ordem sócio-econômica mundial (Guichard, 2001).

Em 1993, foi fundada a Associação Brasileira de Orientadores Profissionais (ABOP) durante o I Simpósio Brasileiro de Orientação Vocacional Ocupacional (Carvalho, 1995; Lisboa, 2001; Melo-Silva & Jacquemin, 2001; Soares, 1999)...
  • foi criada com os objetivos de unificação e desenvolvimento da Orientação Profissional no Brasil. 
  •  vem promovendo simpósios nacionais bienais. 
  • O último ocorreu na cidade de Valinhos, São Paulo, em 2001. 
  • O próximo ocorrerá na cidade de Florianópolis, Santa Catarina, neste ano de 2003. 
  • Em 1997, foi publicado o primeiro número da Revista da ABOP, cujo quarto e último número foi publicado em 1999 e cuja revitalização é de suma importância para o desenvolvimento da Orientação Profissional em nosso país.
No Brasil, a Orientação Profissional pode ser realizada por psicólogos e pedagogos, mas infelizmente, como afirmou Soares (1999), a formação de orientadores profissionais brasileiros ainda não possui regulamentação ou lei que determine conteúdos mínimos a serem ministrados.
  • Uma das conseqüências desta situação foi a não inclusão da Orientação Profissional no rol de especialidades para psicólogos, de acordo com as determinações da Resolução 014/00 do Conselho Federal de Psicologia, que dispõe sobre o título de profissional especialista em Psicologia (Conselho Federal de Psicologia, 2000). 
  • Na prática, psicólogos e orientadores educacionais podem exercer a atividade de Orientação Profissional sem qualquer formação específica na área, o que, infelizmente, retarda o seu desenvolvimento e a desqualifica.
  • é importante ressaltar que a influência peculiar da Psicologia Clínica e da Psicanálise em nosso meio, que leva muitas vezes à equiparação dos processos de Orientação Profissional aos processos de Terapia Breve Focal, merece ser futuramente estudada com maior rigor.

Referências:
Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1679-33902003000100002



















segunda-feira, 13 de setembro de 2021

A Orientação Profissional e a Crise na Adolescência

  • identifica as principais influências dos adolescentes em seus processos de escolha profissional
  • como as principais fontes de informações e suas percepções com relação à importância de uma orientação profissional adequada. 
  • avaliou-se o nível de ansiedade apresentado por cada aluno durante este processo de escolha
  • pretende demonstrar a importância da orientação profissional, especialmente no período da adolescência
A adolescência...
  • fase do desenvolvimento humano que se encontra entre a infância e a fase adulta
  • ocorrem transformações de ordem física, psíquica e social
  • o adolescente vivencia diversas experiências e escolhas que envolvem toda sua expectativa de vida.
  • Finaliza o ensino Médio.
  •  o adolescente se vê diante da possibilidade de escolher continuar os seus estudos (mediante ingresso em curso técnico ou superior) ou ingressar no mercado de trabalho. 
  • precisa definir o seu futuro e buscar a sua independência
  • sofre uma forte influência da sua família e dos seus companheiros
  • a família projeta seus desejos e expectativas
  • abarcam todo o mundo emocional e intelectual do indivíduo, assim como sua vida social.
  •  Sparta e Gomes (2005) afirma que“não só fisiológicas, cognitivas e psicológicas, mas também em relação aos papéis sociais a serem assumidos pelo indivíduo”
Principais influências dos adolescentes em relação à escolha profissional
  • os temores e expectativas dos mesmos com relação ao ingresso no curso superior; 
  • os meios apresentados e/ou buscados pelos adolescentes para sanar suas dúvidas com relação a suas opções e a quantidade de informações específicas disponíveis para os adolescentes
  • Santos (2005 apud BECKER; BOBATOet al., 2012) explica que:
    • os fatores que influenciam o jovem podem variar desde suas características individuais a suas convicções políticas e religiosas, passando por seus valores e crenças, sua situação político-econômica, a família e seus pares. 
    • Dessa maneira, conhecer todos esses aspectos se faz tão importante quanto o conhecimento de si, visto que, ao refletir sobre tais influências, os jovens podem desenvolver uma visão crítica que dê espaço a identificação dos pontos positivos e negativos que direcionam suas escolhas. 
    • a literatura aponta a família como um dos principais fatores que podem tanto facilitar como dificultar o processo de escolha do adolescente com isso, o indivíduo acaba, inevitavelmente, fazendo uma escolha com base nos valores de sua família
  • Almeida e Pinho (2008, p. 173) apontam que:
    •  a família como o principal elemento que pode tanto ajudar quanto dificultar a escolha profissional. 
    • O processo de orientação profissional pode analisar e trabalhar estas influências de várias maneiras, de forma a ajudar o adolescente a entendê-las para assim poder utilizá-las de maneira consciente em sua tomada de decisão
    • na escolha da profissão, além dos interesses e aptidões do indivíduo, importará a forma como ele vê o mundo e como vê a si próprio. 
    • importará as informações que ele  detiver sobre as profissões existentes no mercado de trabalho e as influências recebidas do seu meio. 
    • A influência da família poderá ser exercida de forma mais expressa ou de forma mais discreta e manipuladora. 
    • Ao nascer, já trazemos conosco uma enorme expectativa por parte da família, visto que nossos pais ou criadores, via de regra, depositam seus sonhos em nós.
  •  Filho (2002 apud BECKER; BOBATOet al., 2012) explica que:
    •  ao se identificar com alguém por meio de sua ocupação, o adolescente cria expectativas e estereótipos com relação àquela profissão. 
    • Os amigos, por outro lado, teriam relação com a questão social e de status.
A Orientação Profissional ou Vocacional realizada pelo Psicólogo
  • Dá suporte ao indivíduo que não consegue decidir quanto a sua carreira profissional e que apresentam dúvidas quanto ao que querem ser e qual caminho deve seguir.
  • Abrange desde o aconselhamento do indivíduo até a sua escolha profissional
  • Auxilia-o para um autoconhecimento e desenvolvimento de interesses, aptidões e domínios.
  •  O serviço de orientação profissional ajuda ao sujeito a tornar-se cidadão, a encontrar sua identidade profissional, estruturando também sua identidade pessoal, permitindo assim um projeto de vida permeado de responsabilidade.
Pressupostos necessários à prática da Orientação profissional:
  • deve estar ciente do papel a desempenhar e de sua responsabilidade com o sujeito.
  • consolidar a relevância das políticas públicas que possam acompanhar e fiscalizar os serviços prestados de orientação, que precisam estar de acordo com as orientações da Associação Brasileira de Orientação Profissional (ABOP).
  • Pode ser feito por equipe muldisicplinar mas é preciso ressaltar que é exclusivo apenas ao psicólogo a aplicação de testes e avaliações psicológicas
  • sugerir aos pais trabalhem numa relação de colaboração junto aos psicólogos, podendo de fato contribuir para o desenvolvimento vocacional dos seus filhos, prestando-lhes um apoio mais qualificado.
Para Silva, Oliveira e Coelho (2002)...

  • ... ao profissional da orientação profissional caberá guiar o adolescente nesse difícil processo de conscientização de suas próprias necessidades, dando-lhe a oportunidade de conversar sobre suas dificuldades, sobre os obstáculos encontrados, as apreensões, medos, dúvidas, interesses, aptidões e desejos.
Para Ferretti (1997 apud NEPOMUCENO; WITTER, 2010)...
  • ...  hoje em dia a orientação profissional é uma intervenção onde o orientador minimiza os fatores que dificultam a decisão profissional e objetiva auxiliar a pessoa em sua escolha de maneira que realize uma opção ocupacional adequada para si.
Para Rocha (2010 apud NORONHA; AMBIEL et al., 2010)...
  • ... durante o processo de orientação profissional, a pessoa é levada a conhecer suas características pessoais, em especial seus interesses, escolhas, valores, personalidade, aptidões, motivações e perspectivas de carreiras
A Orientação Profissional e a Crise na Adolescência.
  • Lisboa (1997 apud ALMEIDA; PINHO, 2008) explica que a identidade ocupacional está diretamente ligada à identidade pessoal e ambas abrangem todas as identificações feitas pelo adolescente durante sua vida.
  • Conger e Petersen (1984 apud ALMEIDA;PINHO, 2008) afirmam que a constituição da identidade ocupacional é uma das principais tarefas desenvolvimentais da adolescência. 
  • em meio a toda a crise vivida na adolescência, os jovens de hoje têm que construir sua identidade ocupacional
  • Hirt e Raitz (2010, p. 22-23) afirma que as influências presentes na escolha da profissão envolve:
    • o lugar da residência, 
    • o sexo, 
    • passa pela ocupação dos pais, 
    • pelo salário oferecido,
    • o status, dentre outros.
  • Lucchiari (1993 apud NORONHA; AMBIEL; FRIGATTO, 2010, p. 3), afirma que tal processo exige um nível de autoconhecimento que em alguns casos pode propiciar um desconforto.
  • Nepomuceno e Witter (2010) afrma que a escolha de uma profissão é uma das decisões mais sérias da vida de alguém, visto que ela irá determinar, de certa maneira,o destino da pessoa, assim como seu estilo de vida, a sua educação e até o tipo de pessoas com quem irá conviver no trabalho e na sociedade. Segundo os mesmos autores, a principal dificuldade ainda é desfazer os mitos que rondam as profissões e informar aos jovens sobre as profissões, as carreiras, as possibilidades de cursos técnicos e superiores e sobre o mercado de trabalho com informações concretas e atualizadas.
 Referências:

Artigo de Adriana Carla de Britto Silva; Vivian Maria Bezerra Melo; André Fernando de Oliveira Fermoseli. 

sexta-feira, 3 de setembro de 2021

Psicologia e Luto - Modelo do Processo Dual


Visão biopsicossocial do Luto

O luto é uma reação esperada diante de uma grande perda, um rompimento de vínculo significativo, que causa uma transição biopsicossocial, englobando a pessoa como um todo, físicamente, psicologicamente e o socialmente. No trabalho do luto, a pessoa, consciente da realidade da perda, reconstrói significados e se reorganiza diante de uma nova existência.

Pensamentos, sentimentos, sensações e movimentos são mecanismos de tomadas de consciência a respeito de algo que estamos experineciando, seja com um ente querido, seja conosco mesmo. Tudo isso, se manifesta a partir das sensações e percepções que temos ao lidar comdeterminadas situações.

É importante saber de forma consciente sobre a propria experiência, particular e individual,  tal como as perdas que já se teve na vida, quais as crenças que compactua, além de atentar sobr eo tempo e espaço contemporâneo, onde inclui suas experiências e o mundo compatilhado.

É sabido que a sociedade ocidental tem raízes profundamente cristãs, e ainda que não acredite em vida após a morte, essas raízes é o que norteia grande parte da moral e ética ocidental até hoje. Tudo isso precisa ser levado em consideração para se ter uma compreensão mais ampla do luto de modo crítico e complexo.

Segundo Parkes (1998), ao perdermos uma pessoa querida, o nosso mundo presumido é abalado, ou seja, o mundo que conquistamos e  conhecemos, o que sabemos ou pensamos saber, nossa interpretação do passado, nossa visão de futuro, tudo iso é profundamente abalado. Ao perder um ente querido, o mundo presumido muda e um novo mundo presumido será construído a partir de então.

 A compreensão do luto no século XXI...

Os primeiros estudos sobre o luto falavam em uma proposta de desligamento, de afastamento da pessoa falecida, dando ênfase à expressão dos sentimentos (destaque para os estudos de Freud no início do século XX e de Bowlby no final do mesmo século)

Atualmente,  estuda-se o luto a partir de uma perspectiva de construção de significado e também se ressalta a possibilidade de se manter vínculo com a pessoa falecida, uma oposição clara à ideia de que era necessária alguma espécie de desligamento ou afastamento do ente querido.

 O Modelo do Processo Dual.

  • É um novo modelo de compreensão dos fenômenos presentes no processo de luto, que realiza uma revisão bastante interessante nas concepções teóricas.
  • o tem encontrado fundamento na pesquisa e na prática clínica
  •  questiona aspectos considerados ultrapassados, tais como:
    •  teorias com definições imprecisas, com dificuldade em considerar o luto como processo dinâmico, com foco exclusivo nas consequências na saúde (se o enlutado tem maior risco de morte, transtorno, etc. com foco no intrapsíquicos (como se pessoa vivesse em uma “bolha”, esquecendo de que ela está num mundo, que têm ou não relações sociais e afetivas que impactam, que faz parte de uma cultura que possibilita maior ou menor compartilhamento de sofrimento).
    • A cultura é uma das grandes críticas atuais a alguns estudos ultrapassados: a falta de evidência empírica e de validação em diferentes culturas e períodos históricos.
  • se baseia pela identificação de dois tipos de fatores estressores
    •  os estressores orientados para a perda 
    • os orientados para a restauração. 
  • A partir desses dois aspectos, o modelo dual: 
    • considera a existência de um processo dinâmico e regulador do enfrentamento, entendendo que há uma oscilação por meio da qual o enlutado pode às vezes confrontar e às vezes evitar as diferentes tarefas do luto. 
    •  propõe que o enfrentamento adaptativo é composto de confrontação/evitação da perda, a par com necessidades de restauração.
  • Enfatiza o enfrentamento para a compreensão do processo de luto. O processo de adaptação e construção de significado ocorre a partir do:
    – Enfrentamento orientado para a perda
    • Foca na busca pela pessoa perdida e está centrada nos aspectos relacionados a pessoa falecida: laços afetivos, negação e evitação da realidade da morte, bem como, a aceitação da realidade da perda, elaboração do luto, rememorar, ver fotografias, falar sobre o ente querido morto, anseio por sua proximidade.
    • Inclui-se nesse enfrentamento a ruminação, ou seja, sobre como seria a vida se ele não tivesse morrido e as circunstâncias e eventos diante da morte.
    • Engloba a saudade e também como ele reagiria se estivesse vivo em determinado evento. 
    • Chorar pela morte também está no enfrentamento voltado para a perda.
  • – Enfrentamento orientado para a restauração
    • refere-se aos ajustamentos recorrentes à perda e que constituem fontes de estresse com as quais as pessoas em situação de luto precisa lidar, como:
      •  responder às mudanças de reorganização da vida após a morte do ente querido
      •  quando o enlutado precisa assumir as tarefas que eram realizadas pela pessoa que morreu.
      •  Lidar com os arranjos da vida sem o ser amado.
      • Retomar as próprias tarefas do dia a dia, fazer coisas novas, se distrair (se divertir não é trair o morto, é parte da vida, o enlutado tem o direito de sorrir). 
      • Sugere-se assistir a um filme, sair com amigos, passeiar, viajar, fazer contato social de uma forma geral.
      •  A pessoa enlutada desenvolve uma nova identidade
        • a esposa que perdeu o marido, agora é viúva.
        •  E quem perdeu o filho? Pai órfão de filho? Mãe órfã de filho?  
  • – A oscilação entre um e outro.
    • é a alternância entre um e outro. Em um momento a pessoa está voltada para a perda e em outro ela está voltada a restauração. 
    • A oscilação é um processo necessário. Quem fica apenas na orientação voltada para a perda ou apenas na orientação voltada para a restauração não está elaborando um luto saudável.
      • A pessoa que permanece excessivamente voltada para a perda, tem mais dificuldade na elaboração do luto. 
      • A que fica excessivamente voltado para a restauração, não entra em contato com a perda, evitando sentimentos voltados à perda, acreditam que entrar em contato com esses sentimentos seja insuportável.
    • A oscilação é saudável, ela é necessária para que possa haver uma reorganização diante da nova realidade, a construção de um novo mundo presumido, abalado com a perda do ente querido.

  • trata-se de um processo cognitivo de enfrentamento da perda que consiste em construir estratégias e estilos de gerenciamento da situação de luto, o que acontece no dia a dia, incluindo tarefas simples de vida da pessoa em luto, como assistir TV, ler um livro, conversar com amigos, etc. Tudo visando reduzir danos à saúde física e mental da pessoa.
  • As estratégias de enfrentamento ajudam a pessoa a adaptar-se a situação vivenciada e estas respostas administram a crise para tolera-la e diminuir o estresse ocasionado.
No Modelo Dual do luto...

... ao aceitar a realidade da perda, a pessoa aceita que o seu mundo foi transformado. 
... o enlutado experimenta a dor da perda e também tem tempo livre para outras atividades que necessitam ser realizadas. 
...o enlutado ajusta a vida sem o seu ente querido falecido e repetimos, isso não é trair a memória do morto, não é esquecê-lo, é ajustar a vida sem a presença do ente querido que morreu.

Na vida cotidiana durante o luto, as pessoas oscilam entre:

  •  se concentrar em aspectos da perda (a dor de viver sem a pessoa, a angústia, as dificuldades) 
  • se concentrar nos aspectos da restauração (envolver-se em novos papéis e identidades devido à perda),
  •  e em outras ocasiões estão simplesmente envolvidos na experiência da vida cotidiana. 



O luto...
  • é um sentimento individual
  • não existe um tempo para passar por ele
  • sua elaboração não significa esquecer o ente querido,mas que mesmo a perda sendo para sempre, a pessoa consegue retomar as suas atividades cotidianas
  •  não será mais a mesma pessoa, ela precisa se reestruturar com o novo mundo que tem agora
  • ao elaborar o luto, a vida fica mais voltada a restauração, mas não deixará de vivenciar a perda também. 
  • As oscilações serão menores, mas ainda acontecerão.


Referências:

FRANCO, M. H. P. O luto como experiência vital. 2009. Disponível em: https://www.4estacoes.com/pdf/textos_saiba_mais/luto_como_experiencia_vital.pdf. 

GRANEK L. Grief as pathology: The evolution of grief theory in psychology from Freud to the present. Hist Psychol. 2010 Feb;13(1):46-73. doi: 10.1037/a0016991. 

HANSSON, O. R., & STROEBE, M. S. Bereavement in late life. Coping, adaptation and developmental Influences. Washington, DC: American Psychological Association, 2007 

KOVACS, M. J. (Coord). Morte e existência humana: caminhos e possibilidades de intervenção. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2008. 

KOVÁCS, M.J. Morte e Desenvolvimento Humano. São Paulo: Casa do Psicólogo, 1992. 

KUBLER-ROSS, E. Sobre a morte e o morrer. Rio de Janeiro: Editora Martins Fontes; 1985 

MAZORRA, L; A construção de significados atribuídos à morte de um ente querido e o processo de luto. 2009. 265 f. Tese (Doutorado em Psicologia) - Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2009. Disponível em: https://tede2.pucsp.br/handle/handle/15837. Acesso em 10 jan 2021.

https://umavisaobiopsicossocialdoluto.wordpress.com/2015/07/07/15/