- qualquer forma de psicoterapia oculta e revela, ao mesmo tempo, uma teoria do homem. Ela procura através do ser humano, do seu pensar, do seu agir, induzir um sistema de comportamento.
- Ciência e conduta andam juntas desde os primórdios da humanidade.
- muito antes que a ciência formal existisse, já os homens executavam tarefas com a segurança que seus próprios pensamentos e sentidos lhes ditavam.
"...as coisas se auto-revelam, elas contêm um apelo interno de auto-revelação e de auto-realização: "a
água diz: bebe-me"; "o fruto diz: come-me"; "a mulher diz: ame-me". As coisas em si não se autocomplicam, elas
simplesmente são e se exibem, cristalinamente." (pg.17)
- A natureza, no entanto, é mais complexa do que aquilo que a simples informação direta e sensorial pode informar.
"O processo de pensar destruiu a unidade do
mundo primitivo", e com isto a ciência formal começa a se implantar. A ciência passa a disciplinar a percepção, a disciplinar os desejos, a exigir uma maior exatidão no estabelecimento e compreensão dos fatos." (pg.17)
"... no campo da psicologia, como ciência que estuda o
comportamento dos seres vivos, ou seja, a relação entre natureza animada e inanimada, entre natureza, vida e mente. O
homem é todo ele um ser de relação com. Imerso no universo, tudo diz respeito a ele e com tudo ele se encontra em
relação, consciente ou inconsciente." (pg.17)
- Surge a posição gestáltica, que propõe uma integração de quantidade, ordem e significado, como correspondendo àquela globalidade que define e caracteriza a relação homem-universo.
"A simples percepção do fenômeno não me coloca em contato direto com a realidade. É necessário que o fenômeno se
desvele e que se note o como de seu desvelar." (pg.20)
- fica mais clara a proposta da Gestalt-terapia em lidar prioritariamente com o quê e o como.
- "o quê" me revela o fenômeno, "o como" o descreve, colocando o psicoterapeuta na condição de lidar com a qualidade do fenômeno real.
- Quanto mais o quê (quantum) se revela, mais se pode ter uma visão unitária do processo como um todo, o que equivale a dizer perceber sua qualidade.
- A emoção, por exemplo, tem um quantum, a percepção de sua intensidade, me revela a qualidade do que está acontecendo aqui e agora.
"...o discurso unitário de explicação das relações homem-mundo deve ser
necessariamente holístico. As coisas estão presentes inteiras. O limite real das coisas é sua própria realidade, que pode
ser incompleta, se vista dentro de um conceito de projeto, mas que será completa se vista atualizada aqui e agora."(pg.21)
- A ordem não é apenas uma propriedade da vida, mas também da natureza.
- Uma mesa com papéis amontoados por quem a utiliza pode significar a "ordem" melhor para esta pessoa. Se alguém a ordena, colocando as coisas em lugares diferentes, esta nova ordem pode dificultar o trabalho de quem utiliza a mesa.
- A pergunta é: ordem com relação a quê. Uma pessoa dita "certinha" está em ordem; alguém, no entanto, livre, solto, espontâneo, pode ser chamado de "não em ordem". Se ambos estão bem consigo mesmos, podemos dizer que ambos estão em ordem?
"O processo psicoterapêutico visa a alcançar esta ordem, esta harmonia, não importando a quantidade com que se
apresenta. Se existe ordem, existem também a quantidade e qualidade desejadas."
- o mais fundamental destes conceitos é o de significado e valor, como pertencentes às ciências da mente. Aqui como diz Koffka, está uma das raízes mais profundas da Teoria da Gestalt.
- raciocínio para a psicoterapia: o cliente é entendido a partir do momento em que ele é visto como um todo, vindo de um todo e presente em um todo.
- O cliente é como uma sinfonia. É importante escutar cada uma de suas notas (seus problemas). que só se fazem inteligíveis quando vistas no seu todo, na sua relação dinâmica de parte para parte.
"...quando a ação psicoterapêutica é
orientada para o todo do cliente, cada uma de suas partes está sendo mexida, considerada; quando é orientada para uma
parte do cliente, p. ex., para uma energia localizada na respiração, toda a pessoa está sendo atingida, porque a relação
não é apenas de causa e efeito, mas uma relação existencial entre as partes e o todo, entre cada nota e a sinfonia."(pg.23)
- As coisas, entretanto, existem e co-existem conosco independentemente da existência que lhe queiramos atribuir.
- As coisas têm um fluxo de energia que lhes é próprio e tendem a se autorrealizar da maneira mais perfeita, integrando elementos após elementos.
- As coisas e pessoas tentam se integralizar, se globalizar, se totalizar com um impulso que lhes é próprio.
Como diz Koffka:
"Aplicar a categoria de causa e efeito significa descobrir que partes da natureza se encontram
nesta relação. Analogicamente, aplicar a categoria de Gestalt significa descobrir a que partes da natureza pertencem,
como partes, a todos funcionais, descobrir suas respectivas posições nestes todos, seu grau de relativa independência e
de articulação dos todos maiores em subtodos (1931b)."(4)
- contém um apelo visível do significado que nasce da relação parte-todo, causa-efeito.
- é a relação parte-todo, todo-parte que indicará o caminho a seguir.
- O caminho inicial parece ser o da busca do significado e da ordem existentes no ser.
"O psicoterapeuta se encontra frequentemente diante de informações cuja quantidade (quantum) poderia levar a
conclusões de compreensão de uma situação" (pg.25)
- p. ex., um choro abundante e contínuo do cliente que fala da perda do pai.
- Existe aí uma outra variável que é aquela da qualidade (qualitas) deste choro.
- Tem-se a sensação de que quanto maiores forem os pormenores deste choro mais sua qualidade poderá definir-se.
- A qualidade poderá ser boa ou má.
- O que irá definir esta qualidade é o significado do choro, que nasce não do choro em si, mas da relação entre choro e realidade total.
PRESSUPOSTOS FILOSÓFICOS DA GESTALT-TERAPIA
- A psicoterapia tem uma proposta de um ponto de vista psicodinâmico.
- Deve-se refletir a teoria da psicoterapia, sob o ponto de vista existencial-fenomenológico.
- Uma reflexão filosófica a partir do sentido do homem no mundo, a partir de elementos onde teorias como a do Campo, a Holística, a Gestáltica, juntamente com a práxis psicoterapêutica, tentam iluminar esta vasta área do conhecimento humano, dificultado na compreensão pela própria reflexão do que é e de como se é, existindo.
- A proposta desta reflexão é precedida por uma reflexão humanista, existencial-fenomenológica
GESTALT-TERAPIA EHUMANISMO
- Humanismo...
- tem sido a grande tentativa do homem de compreender-se e de fazer-se compreendido.
- o homem...
- tem estado permanentemente em luta consigo e com outros homens, na eterna tentativa de se firmar e de ser reconhecido como pessoa.
- busca a harmonização como centro de sua expectativa.
- Está permanentemente à procura da compreensão de seu próprio sentido.
- designa uma concepção do mundo e da existência, que tem o homem como centro.
" O homem é naturalmente o centro das coisas, do
universo, porque, como diz Heidegger, só o homem existe, as coisas são. O homem é o único ser que tem uma maneira
característica de se fazer, de se realizar." (pg. 28)
" Pitágoras, cinco séculos antes de Cristo, dizia: "o homem é a medida de todas as coisas". Isto
não significa ser o homem o senhor absoluto e prepotente do universo, mas que o universo deve ser pensado a partir do
homem." (pg.28)
"Falta ao homem uma reflexão profunda sobre si próprio.
Nesta perspectiva, fica mais claro ainda o nístico de Sócrates: "Conhece-te a ti mesmo."
- Conhecer a si próprio...
- é experimentar o próprio poder e os próprios limites;
- é a partir de si próprio que o homem caminha para compreender o mundo e utilizar o mundo na compreensão de si próprio.
- é uma proposta de se autogerir: de evoluir a partir de dentro, conscientizando-se, momento por momento.
"Não se pode negar que em toda forma de psicoterapia se esconde uma visão do homem. A Gestalt-terapia se coloca do
lado das psicoterapias humanísticas, o que significa que contém e promove a ideia do homem como centro, como valor
positivo, como capaz de se autogerir e regular-se."(pg.29)
"O humanismo é uma teoria do homem...
- psicoterapia de base humanística é o homem criando a si mesmo, existindo, tomando posse de si e do mundo e não a aplicação de uma teoria no homem.
- Este homem transcende à teoria do homem. E só assim ele pode ser entendido como centro.
Uma psicoterapia, preocupada com a valorização do humano...
- procura diretamente lidar com o que de positivo tem a pessoa, procura lidar com seu potencial de vida (saúde, beleza, força, etc.),
- procura fazer com que o cliente tome, de fato, posse de si mesmo e do mundo.
- Tal postura não significa que não se tente compreender o sentido das limitações, das fronteiras, da morte, no contexto da psicoterapia, pois, psicoterapia tem que ser expressão e compreensão da própria vida.
- É a postura humanística que, sem esquecer os limites pessoais, os fracassos e impossibilidades de mudanças, aqui e agora, procura fazer uma reflexão a partir do positivo, do criativo, do que é ainda potencialmente transformador; enfim, daquilo que, talvez sem o perceber, o cliente tem à sua disposição, como principal e, às vezes, única porta de saída para sua recuperação e renascimento.
"Estamos ainda longe de pensar, com suficiente radicalidade, a
essência do ser. Conhecemos o agir apenas como o produzir de um efeito. Sua realidade efetiva é avaliada segundo a
utilidade que oferece. Mas a essência do agir é o consumar. Consumar significa: desdobrar alguma coisa até a plenitude
de sua essência: levá-la à plenitude: producere. Por isto, apenas pode ser consumado, em sentido próprio, aquilo que já é.
O que, todavia, já é, antes de tudo, é o ser."(3) (HEIDEGGER apud RIBEIRO, pg.30).
- A nossa proposta de psicoterapia da Gestalt com relação ao cliente....
- é que ele aja com toda a sua radicalidade, longe de ser um mero produzir efeitos, conseguir resultados imediatos, supõe um consumar a essência.
- a essência significa um produzir existencial permanente, um fazer recurso a potencialidades desconhecidas ou não usadas, um desdobrar-se à procura da própria totalidade significativa.
- deve estar atenta à realização plena destes três momentos: agir, pensar e expressar-se (Heidegger)
- A finalidade da psicoterapia é levar o cliente à sua consumação, isto e. a desdobrar-se até a plenitude de sua essência, ou seja, levá-lo à sua plenitude no agir, no pensar, no expressar-se pela linguagem.
- o homem todo inteiro é o sujeito do processo psicoterapêutico. Não basta lidar ou com sua linguagem ou com o que ele faz ou pensa.
- A Gestalt é. Tem um apelo interno de desvendar-se, de se deixar descobrir, tocar, analisar.
- Heidegger dizia que encarregar-se de alguma coisa, de uma pessoa, significa ouvi-la, querê-lo: ouvir o ser, querê-lo, penetrar no ser através da Gestalt que ele é.
" dentro de uma visão humanística, ficam mais claras as relações do homem com Deus, com
a lei, com o bem e o mal, com os valores.
Como diz Heidegger: "O único pensamento que se quer impor é que as mais altas
determinações humanísticas da essência do homem ainda não experimentaram a dignidade propriamente dita do
homem".(6) (pg. 31)
- uma reflexão existencialista...
- como um modo característico de agir e reagir à realidade, nos dará elementos para um quadro referencial que se vai diferenciando cada vez melhor.
- Essa visão ajuda na compreensão de um processo gestáltico psicoterapêutico
Gestalt- terapia...
- um caminho e uma forma de se expressar diante da vida, estudar e confrontar a filosofia existencialista
- permite uma reflexão aprofundada de sua proposta de compreensão do mundo visto por nós do ponto de vista psicológico.
- Seus princípios e pressupostos nos ajudam a fazer aquela transposição de mensagens que estão à base de nossa preocupação
- um modo específico de estar no mundo e de lidar com ele.
- o homem como um ser particular, concreto, com vontade e liberdade pessoais, consciente e responsável.
- O existencialismo é a expressão de uma experiência individual, singular: trata diretamente da existência humana.
- significa a necessidade de se tentar compreender o indivíduo a partir de sua singularidade, de seu manifestar-se subjetivo. Conhecer é, portanto, fazer um apelo à existência, à subjetividade.
- ver o homem como um ser particularizado, singularizado no seu modo de ser e de agir, concebendo-se como único no universo e individualizando-se a partir do encontro verdadeiro entre sua subjetividade e sua singularidade
"O homem é singular... Apenas ele tem consciência da sua singularidade. Portanto, o homem é a categoria central da
existência. A existência individual, assim a concebe Kierkegaard, é para ser vivida... Kierkegaard exalta o concreto, o
singular, o homem enquanto subjetividade."(8) (pg.32)
- A consciência é...
- viva, livre, ela existe voltada para as coisas, ela existe orientada de forma imediata para as coisas.
- Ela sempre visa algo.
- Todo ato humano visa um objeto, não ocorre no vazio, por isto Husserl dizia: "Toda consciência é consciência de alguma coisa".
REFERENCIAS:
RIBEIRO, jorge Ponciano. Gestalt-Terapia Refazendo um caminho. 8ª edição revisada. Summus editorial.
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