É comum a criatividade ser reconhecida pelo senso comum e conceituada por diversos autores como produto de algo interno, como se fosse intrínseca ao indivíduo. Entretanto, o recorte externalista de Skinner rejeita a causalidade interna e enfatiza que todos os comportamentos são determinados a partir das variáveis ambientais externas, como já foi argumentado em capítulos anteriores. Devido a este posicionamento, muitos autores o criticam dizendo que sua teoria não explica as realizações criativas.
Mas é utilizando esse recorte que Skinner, não só considera a existência de comportamentos criativos, como os explica em algumas obras: A Tecnologia do Ensino, Ciência e Comportamento Humano e Sobre o Behaviorismo. De acordo com Skinner (2003), a criatividade sempre foi considerada como algo difícil de ser explicado até o surgimento do conceito de comportamento operante, porque as justificativas para explicá-la, até então, eram mentalistas.
Para mostrar que a criatividade consiste em um comportamento, e que, dessa forma, é selecionado por suas conseqüências, Skinner contrapõe o processo de condicionamento operante e o processo de evolução descrito por Darwin.
Skinner (2003) afirma que, na história das espécies (proposta por Darwin), os traços acidentais originados de mutações foram selecionados em virtude de uma maior sobrevivência da espécie; então, do mesmo modo. acontece com as variações comportamentais que são selecionadas em virtude de suas conseqüências reforçadoras.
O conceito de seleção é mais uma vez a chave. As mutações na teoria genética e evolutiva, são casuais e as topografias das respostas selecionadas pelo reforço são, se não aleatórias, pelo menos não necessariamente relacionadas com as contingências em que serão selecionadas. E o pensamento criador preocupa-se grandemente com a produção de 'mutações'. Escritores,artistas, compositores, matemáticos, cientistas e inventores estão familiarizados com as formas explícitas de tomar mais provável a ocorrência de comportamento original (Skinner. 2003, p. 101). Assim, toma-se claro que a originalidade não está ligada a processos internos, como enfatizam os mentalistas. Os comportamentos criativos são, como qualquer outro comportamento, selecionados pelas suas conseqüências.
A seleção por conseqüências invariavelmente implica história. Ao longo do tempo, resultados bem-sucedidos (reforço) tomam algumas ações mais prováveis, os resultados malsucedidos (não reforço ou punição) tornam outras ações menos prováveis (Baum. 1999, p. 101).
Skinner (1998) faz a distinção entre o que se pode chamar de ideias originais e não-originais. As respostas não-originais são aquelas provenientes da imitação ou governadas por regras. Já as respostas originais são aquelas que resultam da manipulação das variáveis, ou seja, modeladas pelas contingências.
“Artistas, compositores e poetas às vezes seguem regras (imitar o trabalho dos outros, por exemplo, é uma forma de seguir regras), mas atribui-se mérito maior ao comportamento devido a exposição pessoal a um ambiente- (Skinner, 2003, p. 110-U1).
Baum (1999), um behaviorista radical contemporâneo, argumenta que o objetivo da atividade de qualquer artista seja ele pintor, escritor, compositor, ou cientista, é buscar a novidade, algo que nunca tenha sido visto ou criado antes. Nesse sentido, cada trabalho criado se constitui como único e novo, não só para a comunidade, mas também para seu próprio acervo.
Entretanto, ninguém cria um trabalho a partir do nada, pois mesmo cada trabalho tendo seu aspecto singular, está relacionado com realizações anteriores e origina-se de uma história de vida particular. É perfeitamente passível de verificação que, embora a compositora Marisa Monte não faça duas músicas exatamente iguais, suas composições parecem umas cora as outras, mais do que se fosse realizada uma comparação entre uma música dela com as de Gal Costa, por exemplo.
Então, cada trabalho novo é feito com base nos anteriores e depende das conseqüências, pois mesmo não sendo possível sustentar empiricamente, pode-se levantar a hipótese de que se Marisa Monte não tivesse tido conseqüências reforçadoras para suas composições, provavelmente não teria continuado a compor. “Os trabalhos anteriores estabelecem um contexto no qual o trabalho novo pode se parecer com eles. mas não tanto que pareça ‘aquela coisa velha"’ (Baum. 1999, p. 102).
E quanto mais o indivíduo tem a oportunidade de comportar-se. nesse caso. compor cada vez mais, maior será a probabilidade de reforçamento e conseqüentemente serão instalados comportamentos criativos, pois '‘as grandes sinfonias de Mozart são uma seleção de um número maior, os grandes Picassos são só uma parte do produto de uma vida de pintura” (Skinner, 1972. p. 172).
Assim, Skinner (1972) afirma que o importante é evocar comportamentos porque só assim serão emitidas respostas, que se fossem de outro modo, não apareceriam. Para Skinner, a cultura desempenha um papel fundamental na instalação de comportamentos criativos.
Isto fica evidente quando sustenta que “em igualdade de Regras são estímulos que especificam condições, a cultura terá maior probabilidade de descobrir um artista original, se induz muita gente a pintar quadros ou de produzir um grande compositor, se induz muita gente a compor " (Skinner, 1972. p. 171 -172).
Diante disso, torna-se claro que Skinner consegue explicar as realizações criativas sem recorrer a argumentos mentalistas. E ainda enfatiza que as pessoas podem ser instruídas para aprenderem a ser criativas, ou seja, podem ter um ambiente favorável para o aprendizado de comportamentos criam-os.
“Por definição, não se pode ensinar comportamento original, pois não seria original ser ensinado, mas podemos ensinar ao estudante a arranjar ambientes que maximizem a probabilidade de que ocorram respostas originais" (Skinner, 1972, p. 169). Isso por sua vez desestrutura a concepção mentalista, que é determinista ao afirmar que a criatividade é um dom e, conseqüentemente, quem faz trabalhos originais e apresenta respostas criativas os faz porque nasceu com esse traço interno.
De acordo com Skinner, quando se atribui a “criatividade” a um dom interno, retira-se a responsabilidade de realmente criar contingências ambientais favoráveis ao desenvolvimento de tais comportamentos criativos.
O professor que acredita que o estudante cria uma obra de arte através do exercício de alguma faculdade interior e caprichosa não investigará as condições sob as quais o estudante de fato faz um trabalho criativo. Será também menos capaz de explicar este trabalho quando ocorrer e não tenderá a induzir os estudantes a se comportarem criativamente (Skinner, 1972. p. 160-161).
Nesse sentido, os comportamentos inovadores são aprendidos pelo indivíduo, como qualquer outro comportamento. De acordo com Skinner (2002), mesmo algumas variações comportamentais ocorrendo de maneira acidental, os indivíduos podem aprender a ser criativos porque o seu comportamento (criativo) é selecionado pelas conseqüências reforçadoras que o sucedem.
Isso significa que a “criatividade" é determinada pelas contingências ambientais, de modo que o comportamento criativo está relacionado à história de reforçamento de cada indivíduo. Assim, quanto mais alguém é exposto a situações problemas que lhe suscitem variações comportamentais. as quais são selecionadas a partir das conseqüências reforçadoras. provavelmente maiores serão os comportamentos criativos.
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