A transformação do hospital em Instituição Médica

A ORIGEM DO HOSPITAL

Muito se fala sobre medicina, saúde e doença, entretanto, pouco se fala sobre os hospitais, onde se exerce as atividades médicas, e de onde se extrai o saber da medicina moderna.

Final do Império Romano e boa parte do período medieval:

  • Hospitais são Instituições Religiosas e filantrópicas.
  • Igreja Católica constrói hospitais como meio de praticar a caridade cristã. Séc. IV surge o primeiro hospital na Capadócia, para a prática da caridade. Outras surgiram posteriormente.
  • A finalidade desses hospitais era assistencialista, e não destinada à cura de paciente. Pretendia-se dar assistência aos pobres e desamparados.
  • Tinha como missão praticar a caridade, prover um teto, roupas, alimento, acolher quem nada tinha, mas sobretudo, pregar a palavra de Deus.
  • Os hóspedes do hospital religioso eram devassos, prostitutas, delinquentes, venéreos, pobres, desabrigados, doentes, loucos. Funcionava como depósito de minorias e desfavorecidos seguindo a lógica da exclusão. A maioria destes, ia ao hospital para esperar a morte num ambiente de acolhimento cristão, e não para cuidar da saúde.
1656 - Criou-se o Hospital Geral de Paris, França, fins do século XVIII:
  • Deixa de ser filantrópico e religioso e passa a ser Instituição Médica de caráter público e Estatal.
  • Dá início à medicina do espaço urbano por toda Europa, especialmente na Alemanha, França e Inglaterra.
  • Passou a ser responsável pela internação de todos os pobres, tanto os válidos(que podiam trabalhar) como os inválidos (não podiam trabalhar).
  • Unidade de internação destinada exclusivamente a mulheres, homens, crianças e adultos válidos e inválidos. Uma Instituição de Internação Geral. A única coisa que teriam em comum as pessoas encarnadas era a condição de pobreza e desamparo.
  • Internação podia ser voluntária ou involuntária, porém, era determinada pelas autoridades públicas.
  • O Diretor tinha todos os poderes de autoridade: direção, administração, correção e punição, não só sobre os internos para sobre os pobres. Internava quando achasse que devia, quem quer que fosse, sob o regime Absolutista de poder.
  • OS doentes quando eram internados não era exatamente para cuidar da saúde, mas para serem separados da sociedade a qual poderiam contagiar,  ou morrer num ambiente protegido, com uma assistência religiosa e médica.
  • Michel Foucault chamou essas intervenções de Grande Intervenção ou Grande Enclausuramento, por sua natureza semijurídica de controle e segregação. Além disse considerava o Hospital a Terceira Ordem de Repressão, já que sua estrutura de poder se situava entre Polícia e a justiça.
  • Com a Revolução Industrial, houve muitas migrações do campo para as cidades, urbanização, e com o crescimento da pobreza, surgem muitas doenças. havia a necessidade de  uma Medicina Urbana, com instituições sobre as quais o Estado pudesse intervir. Assim, os Hospitais Gerais auxiliavam a ordem pública, excluindo do meio urbano os inimigos do rei e do Estado, e eram destinados àqueles cujos crimes não os levavam à prisão, aos calabouços, aos suplícios públicos.
FINAL DO SÉCULO XVIII- Hospital passa a ser visto como instrumento terapêutico:
  • Surgem as primeiras observações sobre o hospital como Instituição de cura e tratamento de doenças.
  • Tenon, por solicitação da academia de ciências,  visita a medicina social com o objetivo de reestruturar o Hospital Geral de Paris.
  • Observou os tipos de doentes existentes nos hospitais, como eram distribuídos e tratados. Sua preocupação era descobrir como poderiam ser melhor tratados, melhor distribuídos, como poderiam contaminas uns aos outros ou aos trabalhadores dos hospitais, ou a população. Seu objetivo era organizar os hospitais.
  • Nos presídios também haviam médicos, embora não fosse uma Instituição Médica. da mesma forma, haviam médicos nas escolas, fábricas, etc.
  • O hospital passou a ser medicalizado, isto é, tornou-se uma instituição médica especializada, devido ao seu estado insalubre e de desordem, devendo ser um espaço higienizado pela medicina social.
  • O hospital torna-se instituição médica e a medicina, um saber e uma prática hospitalar.
  • As doenças passam a ser agrupadas, com base no modelo epistemológico das ciências naturais. Os médicos isolavam o objeto de estudo para não prejudicar a observação. Afastava e agrupava os objetos de acordo com características semelhantes e diferentes, conseguindo classificar em famílias, gêneros e espécies. Com isso o Hospital passa a ser um lugar de exame, laboratório fundamentado em método científico, mas sobretudo, lugar de propósito de cura e não mais de morte.
  • A ideia inicial da cura surgia em decorrência de anular os efeitos negativos e nocivos do hospital no espaço urbano, e não de reduzir o sofrimento humano.
  • Medicalização do hospital surge a partir de uma nova tecnologia política chamada por Michel Foucault (1977) de DISCIPLINA.
TECNOLOGIA POLÍTICA SEGUNDO MICHEL FOUCAULT:
  • Arte de distribuição espacial dos indivíduos.
  • Exercício de um controle sobre desenvolvimento de uma ação
  • Vigilância constante e permanente dos indivíduos.
  • Registro de tudo que ocorria na instituição.
MODIFICAM OS PAPÉIS DO CLERO, ESTADO, POVO E CIÊNCIA - PRINCÍPIOS INTEGRADOS AOS HOSPITAIS
  • Clero e Estado - deia de ter o privilégio da lei.
  • Povo - podia escolher, decidir, construir a nova sociedade
  • Ciência - assumia a palavra da verdade da objetividade, da ordem e da moral. Única possibilidade de se chegar à verdade das coisas e dos fatos.
PRINCIPIO DO ISOLAMENTO
  • Isolar para observar
  • Observar para conhecer
  • Conhecer para administrar

Nenhum comentário:

Postar um comentário