Pensamento Sistêmico: o novo paradígma

Esteves de Vasconcellos 1995 a cita "o pensamento sistêmico como o novo paradigma da ciência."
Pensar sistematicamente é pensar dentro dos seguintes princípios:
  • COMPLEXIDADE
  • INSTABILIDADE
  • INSTERSUBJETIVIDADE
Wilden (1972) trás a ideia de que: "o conceito de sistema se refere aos modos em que acontecem as relações ou conexões entre os elementos e as relações entre as relações" (p.204).

O autor considera que um profissional para ser sistêmico vive-ver o mundo e atua nele - assume para si esses pressupostos.

Cecchim (1991) afirma que: " o que vemos como sistema é simplesmente o encaixe de seus membros uns com os outros" (p.13).  Esse terapeuta sistêmico enfatizou a necessidade de exercitarmos sempre a maneira sistêmica de pensar e sugeriu o seguinte exercício:
  • observar as interações entre os membros da família,
  • observar as interações dos terapeutas com o cliente.
  • O verbo "ser" é proibido. Deve ser substituído sempre pelo verbo "estar". Não falar no verbo ser, e usar somente o verbo estar, implica dizer que tudo pode ser circunstancial e não definitivo.
  • As situações observadas devem ser ditas e descritas como se vê a situação, sem contradizer o que já disseram.
  • O foco da observação deve ser ampliado até que o terapeuta, faça ele mesmo parte do cenário de observação.
  • Observar se há relação de causalidade entre os membros da família, isto é, observar responsabilidades.
MENTE SISTÊMICA
  • AMPLIA O FOCO DA OBSERVAÇÃO - COMPLEXIDADE
         Permite que o observador perceba em que circunstâncias o fenômeno acontece. as relações intrassistêmicas e intersistêmicas, uma teia de sistemas.
  • DESCREVE O VERBO ESTAR - INSTABILIDADE
         Distingue o dinamismo das relações presentes, algo em constante mudança e evolução, assumindo a instabilidade, a imprevisibilidade e incontrolabilidade do sistema.
  • ACATA OUTRAS DESCRIÇÕES - INTERSUBJETIVIDADE
         Reconhecer sua própria participação na formação da realidade com que está trabalhando, ´passa a atuar no espaço de intersubjetividade, atuando na co-construção das soluções.

PENSAMENTO RELACIONAL
  • Admitir a complexidade e a incerteza das coisas, faz o terapeuta sistêmico utilizar o pensamento relacional, sobre o qual, se este não é verdadeiro em si, deve estar relacionado com o que ou com quem?
  • A construção intrassubjetiva do conhecimento também introduz instabilidade, deixando de ter a expectativa da previsibilidade e controlabilidade.
  • As três dimensões - complexidade, subjetividade e intersubjetividade - exercem  relações recursivas e articuladoras entre as três dimensões, já que distinguir as conexões e articulações é uma característica da forma sistêmica de pensar.
NOVOS PARADIGMAS DA CIÊNCIA SISTÊMICA
  • COMPLEXIDADE - sistemas amplos, redes, ecossistemas, causalidade circular, recursividade, contradições, pensamento complexo.
  • INSTABILIDADE - desordem, evolução, imprevisibilidade. saltos qualitativos, auto-organização, incontrolabilidade.
  • INTERSUBJETIVIDADE - inclusão do observador, autorreferência, significação da experiência na conversação, co-construção.
Nem tudo que é apresentado hoje, como pensamento sistêmico, é novo-paradigmático. Isso ocorre porque algumas propostas apresentadas como sistêmica, não contemplam a inclusão do observador. Não se admite na constituição da "realidade", já que esta inclusão, requer a disposição para enfrentar as dificuldades naturais de mudar paradigmas. Acreditam que tem um conhecimento especial desse mundo, quando se abstrai de mudar paradigmas. É preciso rever nossas crenças sobre como conhecemos o mundo.

Capra 1996, p.50, em sua Teoria dos sistemas vivos, assume duas grandes dimensões do pensamento sistêmico:
  1. O pensamento sistêmico é CONTEXTUAL
  2. O pensamento sistêmico é PROCESSUAL
Além disso, apresenta a Teoria da Cognição de Santiago, de Maturama e Varela:
  • Faz afirmações sobre suas contribuições que preservam a existência da realidade objetiva, admitindo a possibilidade de um universo. 
  • Trás a ideia de "conhecimento aproximado da realidade"
A PALAVRA ARTICULAÇÃO
  • Associada a uma forma de articular, que é a própria ciência tradicional, a dialética.
  • Permite o resgate e a integração da ciência tradicional pelo cientista novo-paradigmático.
  • Corresponde a ultrapassagem da Ciência tradicional (teorias e técnicas) para o cientista novo-paradigmático ( complexidade, instabilidade e intersubjetividade)
O MUNDO QUE CRIAMOS DEPENDE DE NOSSA ESTRUTURA PESSOAL (DETERMINISMO ESTRUTURAL).
  • O mundo que ele cria depende de seus valores, epistemologia e crenças(subjetividade);
  • É no cientista que se produz a quebra de paradigmas.
  • O cientista que aceita a pergunta sobre a observação de um fenômeno natural, e se permite refletir é que aparecem os caminhos da objetividade.
  • É fundamental para mudarmos uma visão de mundo, nos permitir a reflexão.
  • Ao mudar sua visão de mundo o cientista já não é mais o mesmo.
  • O cientista novo-paradigmático, sente-se livre para usar recursos e conhecimentos desenvolvidos quando convier. Pensamento complexo.
  • Muita coisa muda com a mudança de paradigma.
  • O cientista admite que tanto a  complexidade quanto a auto-organização são aspectos dele próprio.
Falar de pensamento sistêmico novo-paradigmático, é falar em uma epistemologia que distingue o observador nas três dimensões: complexidade, instabilidade e intersubjetividade.

CONSTRUTIVISMO E CONSTRUCIONISMO SOCIAL

Marilene Grandesso (2000) estuda diferentes tipos de construtivismo (construção do indivíduo) e o construcionismo social (construção coletiva), sob a ótica das CONVERGÊNCIAS e das DIVERGÊNCIAS entre eles. Essas duas correntes, construtivista e construcionista social, representa uma transição que possa favorecer a convivência e o diálogo entre as diferenças. Qualquer teoria psicológica construtivista ou construcionista - sobre como as pessoas constroem seu conhecimento do mundo tem relação com a intersubjetividade ou a objetividade entre parênteses; ambas caminham para a objetividade ao contrário da teoria sistêmica novo-paradigmática. Logo, observa-se uma transição entre uma epistemologia filosófica e uma epistemologia científica:

CIÊNCIA TRADICIONAL          -           CIENTISTA NOVO-PARADIGMÁTICO
Epistemologia filosófica                              Epistemologia científica.
(Filosofia da Ciência)                                 (Ciência da ciência)
Epistemologia para a ciência                       Epistemologia par ao viver
(para conhecer e atuar cientificamente)      (para estar e agir no mundo, inclusive para fazer ciência)

Na perspectiva do novo paradigma, a postura ética do cientista é uma implicação necessária e inevitável dos seus novos pressupostos epistemológico, especialmente o pressuposto da co-construção da realidade, que trás o sujeito do conhecimento para o âmbito da ciência. Vasconcellos elucida que seremos sempre éticos se efetivamente aceitarmos o outro " como legítimo outro na convivência"(Vasconcellos apud Maturana 1990, p.25).

 Já Forest (1973) afirma que para ser ético, o especialista precisa estar sempre se interrogando

- Com essas minhas ações estou abrindo alternativas para que sistema ?-família, grupo de trabalho, comunidade,etc. 
- Posso escolher autonomia para um caminho melhor para si mesmo?
- Minha ação está condizente com minhas crenças em que o sistema é auto-organizador?
- estou levando em consideração as conexões inter sistêmicas e as possíveis repercussões de minha ação em outros pontos da rede ou do sistema de sistemas?

Obs.: Essas respostas só virão a partir da constante interação com o sistema.

O olhar do profissional deve ser atento às motivações, sabendo que o que cada um diz fala mais de si do que da coisa observada. Isso fará com o profissional amais tente impor ao sistema as soluções que ele mesmo considera as melhores. O profissional não será portanto um especialista em solução, mas sim, um especialista na criação de contextos de autonomia. 

Vasconcellos pensa que uma forma de trabalhar pelo desenvolvimento dessa postura ética e a realização de exercícios e vivências várias que permitam experimentar as características sistêmicas de nossa inserção no universo, em todas as suas dimensões.(p.178)

Nas questões da interdisciplinaridade, que é a relação das disciplinas que têm uma correlação entre si, Vasconcellos, entende que sendo o pensamento complexo uma condição básica para essa prática, a partir do pensamento novo paradigmático, não se pode pensar em complexidade sem incluir o sujeito, assumindo a objetividade entre parênteses, já que o sujeito é a subjetividade em si. Admitir a construção da intersubjetividade do conhecimento da natureza, é se colocar na posição privilegiada do cientista, de estar em diálogo com outros cientistas.

O pensamento sistêmico novo-paradigmático, sendo admitido como novo paradigma da ciência,  se contradiz à ideia de "certo" ou "certeza". A partir desse paradigma não se admite mais a ideia de certeza. Todo o trabalho é desenvolvido num espaço consensual.


Referências: 

VASCONCELLOS, Maria Jospe Esteves de. Pensamento Sistêmico: o novo paradigma da ciência. Campinas, SP. papirus.2002;`


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