- parte de queixas dos clientes atendidos na clínica.
- busca compreender ...
- a existência o mundo contemporâneo.
- como é vivenciado o contato com o outro na atualidade.
- Revisa bibliografia a respeito do que a GT fala das relações e do homem.
- Percepção de que os sofrimentos apontam para uma dificuldade de estabelecer diálogo, intimidade e entrega.
A Gestalt-terapia...
As autoras...
- sugerem que a possibilidade do contato pleno, da entrega, da abertura, da awareness se encontram em falência na contemporaneidade.
- que a GT pode auxiliar o sujeito a olhar de forma mais crítica para os fenômenos trazidos à clínica pelos clientes.
- pretendem compreender os valores da sociedade atual a partir de dilemas levados por esses clientes.
- reafirma posição dialética fundada no diálogo e na relação, observando o ser integralmente.
1. A experiência do contato: do eu-outro, para o nós.
- É como se eu fosse vermelho e ele amarelo, eu só queria que de vez em quando virássemos laranja e depois voltássemos a ser vermelho e amarelo e assim por diante. (Stela)
- Observa-se o desejo de fazer contato na relação com o outro, e seu sofrimento por não conseguir.
- traz sentimento de solidão e frustração.
2. O processo de contato e suas interrupções
- Na Gestalt-Terapia existem muitas formas de se olhar para o contato e suas interrupções.
- A GT propõe 4 etapas para abordar o contato e a forma como ele acontece no tempo:
- pré-contato
- contato
- contato final
- pós-contato
- As maiores demandas na clínica apontam para a dificuldade na experiência da alteridade (relação do que é o outro) e do diálogo.
- Substituir o desconhecido e o diferente pelo conhecido em uma tentativa de evitar fazer contato com alfo que o ameaça acaba se tornando uma neurose.
- A forma como se interrompe a dinâmica de contato fala da singularidade daquela pessoa e mostra o momento em que se bloqueia o fluxo da experiência, onde a dificuldade parece estar mais presente.
- Destaca-se na clínica, como interrupções no momento do contato e do contato final a retroflexão, proflexão e egotismo.
2.1. Contato
- Na etapa do contato a energia mobilizada já está comprometida, isto quer dizer que:
- já houve a eleição de uma figura
- o organismo já teve uma sensação
- já se conscientizou de sua necessidade
- já se mobilizou e agiu em direção a uma possível satisfação.
- O momento é...
- o da agressão,
- de lidar com a diferença e com o outro,
- envolve conflito,
- destruição e assimilação do novo, dessa figura escolhida para a satisfação de uma necessidade.
- O self...
- frente ao conflito procura assimilar e se perceber no processo, bem como, estar mais aware de si.
- quando a figura esta definida e a energia comprometida, o organismo se encontra na iminência da interação de si.
- Bloqueando essa etapa de contato...
- a energia que estava sendo direcionada retorna para si - retroflexão
- ou a energia é direcionada para o outro, de forma enviesada, ocorrendo a proflexão.
- Retroflexão e Proflexão...
- falam da impossibilidade da pessoa expressar suas necessidade para o outro de forma direta,
- impede o agir espontâneo frente ao outro, de encontrar e trocar com este diretamente, com confiança e coragem de assumir o risco que isso inclui.
- evita-se aí o conflito direto
- as formas disponíveis para tentar alguma satisfação nesses casos são:
- ou satisfazer a si mesmo
- ou uma tentativa de eliciar no outro uma resposta mais ou menos esperada.
- na Retroflexão...
- isolamento é marcado por uma autossuficiência, um fazer você mesmo, enrijecendo a fronteira de contato e cindindo-se do ambiente, do outro;
- aqui há uma desistência do outro ou se entende que precisar dele é uma fraqueza, fazendo consigo mesmo aquilo que se precisa.
- na Proflexão
- no isolamento há uma espécie de “cegueira” e o outro passa a ser como uma tela de projeção, fantasiado, um espectro enevoado no qual se vê apenas uma idealidade.
- proflexão, toma-se o outro como objeto, de modo a satisfazer a sua necessidade.
- em ambos os casos
- utiliza-se de manipulação, de comportamentos evocativos e indiretos, redobrando seus esforços quando encontra alguma resistência.
- suas relações se mantêm empobrecidas, sem a sensação de estar satisfeito.
2. Contato final
- é o ápice do processo do contato, porém, não chega a ser o seu final em si, já que este acontece no pós-contato, momento da assimilação e do crescimento.
- Trata-se, então, do momento da união, do encontro eu-figura em si.
- Segundo Clarkson (1989) esse é o momento do engajamento total, cheio e vibrante com a figura da ação escolhida.
- o self está absorvido de maneira imediata e plena na figura que descobriu-e-inventou; no momento não há praticamente nenhum fundo.
- A figura incorpora todo o interesse do self, e o self não é nada mais do que seu interesse presente, de modo que o self é a figura (Perls, Hefferline & Goodman, 1951/1997, p. 221).
- O sentimento de ego ativo da etapa anterior do conflito e agressão abranda-se ou desaparece.
- Dizer que o fundo está vazio é falar em ato de entrega total com a figura escolhida, com atenção plena.
- No caso Stela esse é o momento em que ego e self se fundem formando uma só cor.
- Momento derradeiro para se experienciar tanto o outro quanto a si mesmo, onde está presente a qualidade da totalidade campo-organismo-ambiente.
- envolve renúncia de si, de entrega, onde o self se sente mais vivo:
- Egotismo
- impossibilidade de viver esse ato de entrega, em que figura e fundo se fundem em um só, de forma plena.
- Segundo Perls, Hefferline & Goodman (1951/1997) consiste numa dificuldade em renunciar ao controle e à vigilância, numa ansiedade frente à indiferenciação, numa preocupação última com nossas próprias fronteiras, consigo ao invés de com aquilo que é contatado.
- Há uma dificuldade em “relaxar o controle, soltar-se, ter a audácia de terminar a ação empreendida, abrir as fronteiras ao encontro” (Robine, 2006 p. 131).
- O self, ao se enrijecer e evitando se entregar...
- não consegue agir em sua dimensão de espontaneidade e criatividade.
- se vê em uma situação de emergência em cada possibilidade de interação e por isso mesmo precisa se proteger.
- não permite vivenciar plenamente o encontro, ficando o contato esquecido enquanto possibilidade.
3. A experiência na contemporaneidade...
- Pode-se pensar em duas formas de existir no tempo presente:
- uma alienada, acrítica, apartada de uma reflexão sobre o mundo atual,
- e outra, a qual Agamben chama de contemporânea, que é a vivência daquele que “mantém fixo o olhar no seu tempo, para nele perceber não as luzes, mas o escuro” (2009, p. 62)
- isso não significa de modo algum uma inércia, mas sim, como acrescenta ele, “uma habilidade particular, que nesse caso, equivalem a neutralizar as luzes que provêm da época para descobrir as suas trevas, o seu escuro especial, que não é, no entanto, separável daquelas luzes” (2009, p. 63).
3.1. Marcas da contemporaneidade
- há um “mal-estar” na contemporaneidade (Freud)
- perda das referências
- referências,
- o racionalismo
- o cientificismo,
- o incremento do individualismo,
- a aceleração do tempo.
- Com a fenomenologia...
- Começa-se a pensar que consciência e mundo não são separados, mas aspectos de uma mesma realidade, na qual corpo e mente estão associados numa experiência intencional.
- Franklin Leopoldo e Silva (2012) nos lembra de uma célebre frase de Jean Paul Sartre, em que este afirma que o inferno são os outros. Segundo o autor viver junto implica numa partilha de valores sobre a vida aspirações comuns, ou seja, um movimento em direção a uma vida comum, uma convivência.
- A solidão numa sociedade massificada encoraja o indivíduo a buscar alívio e abrigo em grupos sectários, nos quais a homogeneidade representa a segurança que não está presente na experiência autêntica da diversidade.
- Santos (2009, p. 18) afirma: “Temos direito a ser iguais quando a diferença nos inferioriza; temos direito a ser diferentes quando a igualdade nos descaracteriza”.
4. Entrecruzamentos...
- como dizia Merleau-Ponty (1964/2000), a carne do mundo, se comungamos de um fundo comum, de uma generalidade, de uma cultura que nos atravessa a todos, podemos inferir que nãoé à toa que muitos estamos adoecidos.
- Compartilhamos de uma teia também adoecida, de um fundo que não é favorável à experiência de alteridade, ao encontro, à intimidade, à singularidade, à criação de novos possíveis.
Segundo as autoras...
- Vimos, em nossa clínica, que as pessoas têm tido cada vez mais dificuldade em lidar com o momento do conflito e da entrega.
- A dificuldade do conflito é uma dificuldade do embate, da
- agressão;
- A da entrega diz respeito a abrir mão de uma atividade, de se lançar na experiência de união e dissolução das fronteiras.
- Podemos estar em uma atividade mecânica, guiada pela pressa, que reflete uma lógica de produtividade e um medo de parar e encarar a ansiedade da incerteza frente ao desconhecido
- Ou podemos estar também num modo de ser passivo, engolindo pronto aquilo que vem de fora.
- Em ambos os casos alienados e acríticos, o que permeia esses dois modos de estar no mundo é uma alienação tanto pela atividade quanto pela passividade.
- Os sujeitos em sua passividade introjetam esses valores como normas naturalizadas e não se questionam sobre eles, apenas os reproduzem.
- A sociedade atual estipula normas gerais que indicam o que é certo/normal e o que está fora dessa margem, o errado/ anormal. Segue-se padrões sem questionamentos.
- É preciso um gesto de interrupção para se perceber:
- requer parar para pensar, parar para olhar, parar para escutar, pensar mais devagar, olhar mais devagar, e escutar mais devagar; parar para sentir, sentir mais devagar, demorar-se nos detalhes, suspender a opinião, suspender o juízo, suspender a vontade, suspender o automatismo da ação, cultivar a atenção e a delicadeza, abrir os olhos e os ouvidos, falar sobre o que nos acontece, aprender a lentidão, escutar aos outros, cultivar a arte do encontro, calar muito, ter paciência e dar-se tempo e espaço.
- É justamente por estarmos apressados que nos distanciamos do que é da ordem da experiência, isolados uns dos outros, individualizados e numa constante competição nos afastamos da possibilidade de nos encontrarmos com o outro, de “estar com”.
- "na rearticulação dos coletivos pela adoção de uma postura de diálogo e afirmação da alteridade, uma proposta de estabelecermos um espaço possível de esperança, em que sejam construídas relações onde haja espaço para o encontro, para a experiência de olhar e ser olhado, do reconhecimento, da empatia, do estar com, do reestabelecimento do vínculo. Com isso, vemos uma possibilidade de uma rearticulação entre as partes e o todo."
- a clínica que se propõe e se estabelece dentro dessa lógica da alteridade restabelecida e forma dialética pode se configurar também enquanto um lugar que atua em prol da reversibilidade do quadro em que nos encontramos.
- Criamos através da relação terapêutica, a possibilidade da pessoa resgatar a conexão primordial, religando-a a si mesma e aos demais, constituindo ou restaurando a sua própria humanidade”
A Gestalt-terapia...
- busca recuperar o sentido da experiência concreta, do vivido e, para além disso, busca ampliar a awareness, ou seja, através da presentificação, restaurar nos sujeitos a dimensão do sensível e sua possibilidade criativa, de agressão.
- traz uma proposta de saúde baseada na espontaneidade e na possibilidade de sermos no mundo de forma mais crítica, menos alienada.
- sua terapia torna-se essa possibilidade de reconexão, que também encontramos na experiência do coletivo.
- torna-se necessário que nos arrisquemos diante do novo, pois a experiência, como já dissemos, comporta uma dimensão de risco e de travessia, de coragem para enfrentar a dimensão do perigo, que abarca tanto o júbilo como o sofrimento em meio a uma sociedade que se é proibido sofrer.
- Direcionados sempre para o fim, perdemos o meio, e com isso o espaço da experiência, do acontecimento e da transformação, lugares do qual se ocupa a GT.
Referências:
Pepsico. SILVA, Thatuana Caputo Domingues; BAPTISTA, Camilia Santos; ALVIM, Mônica Botelho. O contato na situação contemporânea: um olhar da clínica da Gesatlt-terapia.
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