O contato na situação contemporânea: um olhar da clínica da Gestalt-terapia

  • parte de queixas dos clientes atendidos na clínica.
  • busca compreender ...
    • a existência o mundo contemporâneo. 
    • como é vivenciado o contato com o outro na atualidade.
  • Revisa bibliografia a respeito do que a GT fala das relações e do homem.
  • Percepção de que os sofrimentos apontam para uma dificuldade de estabelecer diálogo, intimidade e entrega.
A Gestalt-terapia...

  • considera que o homem e todo organismo vivo está interligado com o resto do mundo;
  • só faz sentido falar do homem que vive em determinado meio que faz parte de sua existência e forma com ele uma totalidade.
  • tem foco nas relações organismo-ambiente, que o sujeito mantém consigo, com o outro e o meio em que vive.
  • se debruça no estudo do contato em si, ou seja, na forma como o indivíduo se relaciona consigo, com o outro e o meio, da fronteira que interconecta eu-mundo e eu-outro.
  • Considera o Self contato.
  • Self é definido como sistema de contatos em que o eu se desloca do interior do psiquismo  para o campo, como processo que se desenrola no tempo, espontaneamente, expressivamente e de forma criadora, segundo Alvim (2012).
  • Fronteira de contato marca uma delimitação temporal - indica o momento  em que nos deparamos com uma novidade que nos causa estranhamento e nos faz partir em busca de um sentido para este encontro.
  • Esse novo encontro com a novidade gera uma certa tensão por esse encontro, logo, falar da experiência é falar de contato.
  • Ajustamento criativo é processo de encontro e assimilação de uma diferença, que implica se arriscar diante do novo e do desconhecido, ou seja, a forma como o cliente se autorregula diante da novidade. O ajustamento criativo implica em uma ação espontânea no campo, podendo ser ativo (quando se quer realizar algo) ou passivo ( quando se espera que lhe façam algo) segundo Perls, Hefferline &Goodman (1651/11997)
  • As autoras...
    • sugerem que  a possibilidade do contato pleno, da entrega, da abertura, da awareness se encontram em falência na contemporaneidade.
    • que a GT pode auxiliar o sujeito a olhar de forma mais crítica para os fenômenos trazidos à clínica pelos clientes.
    • pretendem compreender os valores da sociedade atual a partir de dilemas levados por esses clientes.
    • reafirma posição dialética fundada no diálogo e na relação, observando o ser integralmente.

    1. A experiência do contato: do eu-outro, para o nós.

    - É como se eu fosse vermelho e ele amarelo, eu só queria que de vez em quando virássemos laranja e depois voltássemos a ser vermelho e amarelo e assim por diante. (Stela)
    • Observa-se o desejo de fazer contato na relação com o outro, e seu sofrimento por não conseguir.
    • traz sentimento de solidão e frustração.
    2. O processo de contato e suas interrupções
    • Na Gestalt-Terapia existem muitas formas de se olhar para o contato e suas interrupções.
    • A GT propõe 4 etapas para abordar o contato e a forma como ele acontece no tempo:
      • pré-contato
      • contato
      • contato final
      • pós-contato
    • As maiores demandas na clínica apontam para a dificuldade na experiência da alteridade (relação do que é o outro) e do diálogo.
    • Substituir o desconhecido e o diferente pelo conhecido em uma tentativa de evitar fazer contato com alfo que o ameaça acaba se tornando uma neurose.
    • A forma como se interrompe a dinâmica de contato fala da singularidade daquela pessoa e mostra o momento em que se bloqueia o fluxo da experiência, onde a dificuldade parece estar mais presente.
    • Destaca-se na clínica, como interrupções no momento do contato e do contato final a retroflexão, proflexão e egotismo.
    2.1. Contato

    • Na etapa do contato a energia mobilizada já está comprometida, isto quer dizer que:
      •  já houve a eleição de uma figura
      •  o organismo já teve uma sensação
      • já se conscientizou de sua necessidade
      • já se mobilizou e agiu em direção a uma possível satisfação.
    • O momento é...
      • o da agressão, 
      • de lidar com a diferença e com o outro, 
      • envolve conflito,
      •  destruição e assimilação do novo, dessa figura escolhida para a satisfação de uma necessidade.
    • O self...
      • frente ao conflito procura assimilar e se perceber no processo, bem como, estar mais aware de si.
      • quando a figura esta definida e a energia comprometida, o organismo se encontra na iminência da interação de si.
    • Bloqueando essa etapa de contato...
      • a energia que estava sendo direcionada retorna para si - retroflexão
      • ou a energia é direcionada para o outro, de forma enviesada, ocorrendo a proflexão.
      • Retroflexão e Proflexão...
        •  falam da impossibilidade da pessoa expressar suas necessidade para o outro de forma direta,
        •  impede o agir espontâneo frente ao outro, de encontrar e trocar com este diretamente, com confiança e coragem de assumir o risco que isso inclui.
        • evita-se aí o conflito direto
        • as formas disponíveis para tentar alguma satisfação nesses casos são:
          • ou satisfazer a si mesmo 
          • ou uma tentativa de eliciar no outro uma resposta mais ou menos esperada.
      • na Retroflexão...
        • isolamento é marcado por uma autossuficiência, um fazer você mesmo, enrijecendo a fronteira de contato e cindindo-se do ambiente, do outro; 
        • aqui há uma desistência do outro ou se entende que precisar dele é uma fraqueza, fazendo consigo mesmo aquilo que se precisa.
      • na Proflexão
        • no isolamento há uma espécie de “cegueira” e o outro passa a ser como uma tela de projeção, fantasiado, um espectro enevoado no qual se vê apenas uma idealidade.
        • proflexão, toma-se o outro como objeto, de modo a satisfazer a sua necessidade.
      • em ambos os casos
        • utiliza-se de manipulação, de comportamentos evocativos e indiretos, redobrando seus esforços quando encontra alguma resistência.
        • suas relações se mantêm empobrecidas, sem a sensação de estar satisfeito.
    2. Contato final
    • é o ápice do processo do contato, porém, não chega a ser o seu final em si, já que este acontece no pós-contato, momento da assimilação e do crescimento. 
    • Trata-se, então, do momento da união, do encontro eu-figura em si. 
    • Segundo Clarkson (1989) esse é o momento do engajamento total, cheio e vibrante com a figura da ação escolhida.
    • o self está absorvido de maneira imediata e plena na figura que descobriu-e-inventou; no momento não há praticamente nenhum fundo.
    • A figura incorpora todo o interesse do self, e o self não é nada mais do que seu interesse presente, de modo que o self é a figura (Perls, Hefferline & Goodman, 1951/1997, p. 221).
    • O sentimento de ego ativo da etapa anterior do conflito e agressão abranda-se ou desaparece.
    • Dizer que o fundo está vazio é falar em ato de entrega total com a figura escolhida, com atenção plena. 
      • No caso Stela esse é o momento em que ego e self se fundem formando uma só cor. 
      • Momento derradeiro para  se experienciar tanto o outro quanto a si mesmo, onde está presente a qualidade da totalidade campo-organismo-ambiente.
      • envolve renúncia de si, de entrega, onde o self se sente mais vivo:
    • Egotismo 
      •  impossibilidade de viver esse ato de entrega, em que figura e fundo se fundem em um só, de forma plena.
      • Segundo Perls, Hefferline & Goodman (1951/1997) consiste numa dificuldade em renunciar ao controle e à vigilância, numa ansiedade frente à indiferenciação, numa preocupação última com nossas próprias fronteiras, consigo ao invés de com aquilo que é contatado.
      • Há uma dificuldade em “relaxar o controle, soltar-se, ter a audácia de terminar a ação empreendida, abrir as fronteiras ao encontro” (Robine, 2006 p. 131).
      • O self, ao se enrijecer e evitando se entregar...
        •  não consegue agir em sua dimensão de espontaneidade e criatividade.
        • se vê em uma situação de emergência em cada possibilidade de interação e por isso mesmo precisa se proteger.
        • não permite vivenciar plenamente o encontro, ficando o contato esquecido enquanto possibilidade.
    3. A experiência na contemporaneidade...
    • Pode-se pensar em duas formas de existir no tempo presente:
      •  uma alienada, acrítica, apartada de uma reflexão sobre o mundo atual, 
      • e outra, a qual Agamben chama de contemporânea, que é a vivência daquele que “mantém fixo o olhar no seu tempo, para nele perceber não as luzes, mas o escuro” (2009, p. 62)
      •  isso não significa de modo algum uma inércia, mas sim, como acrescenta ele, “uma habilidade particular, que nesse caso, equivalem a neutralizar as luzes que provêm da época para descobrir as suas trevas, o seu escuro especial, que não é, no entanto, separável daquelas luzes” (2009, p. 63).
    3.1. Marcas da contemporaneidade
    • há um “mal-estar” na contemporaneidade (Freud)
      • perda das referências
      • referências,
      • o racionalismo 
      • o cientificismo, 
      • o incremento do individualismo, 
      • a aceleração do tempo.
    • Com a fenomenologia...
      • Começa-se a pensar que consciência e mundo não são separados, mas aspectos de uma mesma realidade, na qual corpo e mente estão associados numa experiência intencional.
      • Franklin Leopoldo e Silva (2012) nos lembra de uma célebre frase de Jean Paul Sartre, em que este afirma que o inferno são os outros. Segundo o autor viver junto implica numa partilha de valores sobre a vida aspirações comuns, ou seja, um movimento em direção a uma vida comum, uma convivência.
      • A solidão numa sociedade massificada encoraja o indivíduo a buscar alívio e abrigo em grupos sectários, nos quais a homogeneidade representa a segurança que não está presente na experiência autêntica da diversidade.
      • Santos (2009, p. 18) afirma: “Temos direito a ser iguais quando a diferença nos inferioriza; temos direito a ser diferentes quando a igualdade nos descaracteriza”.
    4. Entrecruzamentos...
    • como dizia Merleau-Ponty (1964/2000), a carne do mundo, se comungamos de um fundo comum, de uma generalidade, de uma cultura que nos atravessa a todos, podemos inferir que nãoé à toa que muitos estamos adoecidos.
    •  Compartilhamos de uma teia também adoecida, de um fundo que não é favorável à experiência de alteridade, ao encontro, à intimidade, à singularidade, à criação de novos possíveis.
    Segundo as autoras...
    • Vimos, em nossa clínica, que as pessoas têm tido cada vez mais dificuldade em lidar com o momento do conflito e da entrega. 
    • A dificuldade do conflito é uma dificuldade do embate, da
    • agressão; 
    • A da entrega diz respeito a abrir mão de uma atividade, de se lançar na experiência de união e dissolução das fronteiras.
    • Podemos estar em uma atividade mecânica, guiada pela pressa, que reflete uma lógica de produtividade e um medo de parar e encarar a ansiedade da incerteza frente ao desconhecido 
    • Ou podemos estar também num modo de ser passivo, engolindo pronto aquilo que vem de fora. 
    • Em ambos os casos alienados e acríticos, o que permeia esses dois modos de estar no mundo é uma alienação tanto pela atividade quanto pela passividade.
    • Os sujeitos em sua passividade introjetam esses valores como normas naturalizadas e não se questionam sobre eles, apenas os reproduzem.
    • A sociedade atual estipula normas gerais que indicam o que é certo/normal e o que está fora dessa margem, o errado/ anormal. Segue-se padrões sem questionamentos.
    • É preciso um gesto de interrupção para se perceber:
      • requer parar para pensar, parar para olhar, parar para escutar, pensar mais devagar, olhar mais devagar, e escutar mais devagar; parar para sentir, sentir mais devagar, demorar-se nos detalhes, suspender a opinião, suspender o juízo, suspender a vontade, suspender o automatismo da ação, cultivar a atenção e a delicadeza, abrir os olhos e os ouvidos, falar sobre o que nos acontece, aprender a lentidão, escutar aos outros, cultivar a arte do encontro, calar muito, ter paciência e dar-se tempo e espaço.
      • É justamente por estarmos apressados que nos distanciamos do que é da ordem da experiência, isolados uns dos outros, individualizados e numa constante competição nos afastamos da possibilidade de nos encontrarmos com o outro, de “estar com”.
    • "na rearticulação dos coletivos pela adoção de uma postura de diálogo e afirmação da alteridade, uma proposta de estabelecermos um espaço possível de esperança, em que sejam construídas relações onde haja espaço para o encontro, para a experiência de olhar e ser olhado, do reconhecimento, da empatia, do estar com, do reestabelecimento do vínculo. Com isso, vemos uma possibilidade de uma rearticulação entre as partes e o todo."
    • a clínica que se propõe e se estabelece dentro dessa lógica da alteridade restabelecida e forma dialética pode se configurar também enquanto um lugar que atua em prol da reversibilidade do quadro em que nos encontramos.
    • Criamos através da relação terapêutica, a possibilidade da pessoa resgatar a conexão primordial, religando-a a si mesma e aos demais, constituindo ou restaurando a sua própria humanidade”
    A Gestalt-terapia... 
    • busca recuperar o sentido da experiência concreta, do vivido e, para além disso, busca ampliar a awareness, ou seja, através da presentificação, restaurar nos sujeitos a dimensão do sensível e sua possibilidade criativa, de agressão.
    • traz uma proposta de saúde baseada na espontaneidade e na possibilidade de sermos no mundo de forma mais crítica, menos alienada.
    • sua terapia torna-se essa possibilidade de reconexão, que também encontramos na experiência do coletivo.
    • torna-se necessário que nos arrisquemos  diante do novo, pois a experiência, como já dissemos, comporta uma dimensão de risco e de travessia, de coragem para enfrentar a dimensão do perigo, que abarca tanto o júbilo como o sofrimento em meio a uma sociedade que se é proibido sofrer.
    • Direcionados sempre para o fim, perdemos o meio, e com isso o espaço da experiência, do acontecimento e da transformação, lugares do qual se ocupa a GT.
    Referências:
    Pepsico. SILVA, Thatuana Caputo Domingues; BAPTISTA, Camilia Santos; ALVIM, Mônica Botelho. O contato na situação contemporânea: um olhar da clínica da Gesatlt-terapia.

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