Transtorno do Espectro Autista (TEA)

 


O termo “autismo” foi utilizado pela primeira vez, em 1906 pelo psiquiatra Plouller, para descrever o isolamento frequente em alguns de seus pacientes.


Contudo, a palavra “autismo” foi criada por Eugênio Bleuler, em 1911, para descrever um sintoma de esquizofrenia, o qual chamou de “fuga da realidade”. (AUTISMO)


Somente a partir de 1940 que o transtorno ganhou maior atenção, quando o médico austríaco Leo Kanner, teve contato nos Estados Unidos com um grupo de crianças (11), que tinham em comum, a característica de isolamento extremo desde o início da vida e um instinto de preservação da mesmice, chamada de autismo. (AUTISMO..., 2019, pg.7)

Em 1944, o pediatra alemão Hans Asperger desenvolveu uma tese, na qual expõe um conjunto de sinais semelhantes aos descritos por Kanner em crianças na idade de três anos. “Parece que para o sucesso da ciência e da arte, um traço de autismo é essencial. (ARPERGER,1944)


A palavra “Autismo” é de origem grega (autós), que significa “por si mesmo”, designando comportamentos que centralizam em si, ou seja, voltado para o próprio sujeito. O transtorno do Espectro Autista (TEA) é considerado um transtorno do neurodesenvolvimento. É no início do desenvolvimento infantil, geralmente antes da criança ir à escola, que ela apresenta um grupo de condições de ordem socioemocional e comportamental, que caracterizam o TEA. (DSN-V, pg.91). O conceito de espectro reflete a ampla gama de desafios que podem vir a afetar as pessoas. (FONTES, 2014).


O Dia Mundial da Conscientização do Autismo foi criado com a finalidade de chamar atenção para a inclusão social das pessoas portadoras do espectro.

Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU) mais de 70 milhões de pessoas no mundo, possuem TEA – Transtorno do Espectro Autista.

No Brasil, também é comemorado o Dia Nacional de Conscientização sobre o Autismo, instituído pela Lei 13.652, de 2018, aprovada pelo Congresso Nacional Brasileiro. (ALVES; ASSUNÇÃO, 2020)

Sabe-se que, com o avanço da ciência e das pesquisas sobre o Autismo, novas hipóteses e descobertas permitiram que diversas áreas do saber aprendessem mais sobre o espectro, porém, segundo a especialista e pesquisadora Patrícia Braga (2019), do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da USP, ainda há questões complexas sobre o autismo,  que não possuem respostas definidas, tais como: Qual a causa? Como se manifesta? Existe melhor maneira de lidar?


Ela explica que é preciso considerar que, “Cada autista é um autista” e que “São muitos autismos, então é difícil generalizar”, havendo ainda, muitas lacunas a serem descobertas.  Portanto, conforme afirma Klin (2006) apud (GUEDES; TADA, 2015), o autismo tem permanecido em um conceito heterogêneo, que inclui múltiplos sintomas e uma variedade de manifestações clínicas, de níveis, de desenvolvimento e funcionamento.

 Há três níveis de intensidade no Autismo:

Trata-se do nível mais suave, no qual a criança apresenta sintomas leves ou sutis e que não afetam tanto o desenvolvimento escolar, o trabalho na vida adulta e as relações interpessoais. Não necessita de tanto apoio, mas apenas de auxílio. (GAIATO, 2016)

Nesse grupo, o autista necessita de maior apoio, com psicoterapia para trabalhar habilidades psicossociais e redução do estereótipo, além da fonoaudiologia para trabalhar a linguagem da criança. (GAIATO, 2016)

Esse nível representa a condição mais crítica do autismo, no qual a pessoa depende muito do auxílio para realizar suas tarefas, necessitando alguém em tempo integral para auxiliá-lo. Vale ressaltar que as estereotipias e o prejuízo da linguagem são muito grandes. (GAIATO, 2016)

A fisiopatologia do Autismo se ocupa das funções anormais ou patológicas do organismo do indivíduo, sendo necessário compreender como essas alterações influenciam o funcionamento normal do mesmo, bem como, determinam as características clínicas que compõe o TEA.  Entretanto é importante ressaltar que o autista não apresenta anomalias físicas não sendo possível identifica-lo pela sua aparência. (AUTISMO..., 2019, pg. 9).

Atualmente o Autismo é descrito por dois principais esquemas, o Manual de Diagnóstico Estatístico (DSM-IV) da Associação Americana de Psiquiatria, e a Classificação Internacional de Doenças (CID-10) da Organização Mundial de Saúde. Ambos classificam o Autismo como um Transtorno Invasivo do Desenvolvimento (TID). (SIQUEIRA et al, 2016).

 

 


A ciência ainda não descobriu a causa e nem mesmo a cura para o autismo. Contudo, os cientistas, através de um estudo do Rady Children´s Institute for Genomic Medicine, na Califórnia EUA (2017) têm defendido a importância do sequenciamento do genoma ou exoma para o diagnóstico de crianças com suspeita de doença genética, como é o caso do TEA.

A neurocientista Dra. Patrícia Braga (2019) explica que dentre a diversidade de características que torna cada autista singular, há algumas características que todo autista apresenta: 


Dificuldade de comunicação, em que a criança pode não conseguir falar ou apresentar um atraso na aquisição da fala; dificuldade de sustentar uma conversa.



Pode ainda ter dificuldade em reconhecer emoções, alegria e tristeza através da face; Dificuldade de comunicação não verbal; reciprocidade afetiva prejudicada.



Dificuldade de interação social e interesses, em que a criança apresenta dificuldade de ter e manter um relacionamento de amizade; isolamento.

Comportamentos restritos ou estereotipados ou repetitivos, que estabelecem um padrão restrito e repetitivo de interesses e de atividades, podendo passar horas em apenas uma atividade. Podem usar sempre uma mesma roupa, abanar as mãos ou verbalizar algo e repetir por diversas vezes. (AUTISMO..., 2019, pg. 9). Essas características e outras variam de acordo com o nível do autismo.

Moraes (2014) apud Siqueira at al (2016), descreve as principais alterações no cérebro autista. Siqueira et al (2016), relacionou os sintomas clínicos observados no Transtorno Autista com as áreas cerebrais afetas.  Segundo ela, o cérebro autista apresenta falha de comunicação entre os neurônios, dificultando o processamento de informações, apresentando como principais alterações:

 CÓRTEX PRÉ-FRONTAL

Responsável pelas funções executivas como planejar, raciocinar e julgar. Está envolvido no desenvolvimento da personalidade, nas emoções e na capacidade de exercer avaliação e controle adequado dos comportamentos sociais (Fuster,2008)

Os padrões de maturação do córtex pré-frontal em crianças autistas são mais lentos, o que é consistente com o desempenho cognitivo dos mesmos (Zilbovicius, Garreau, Samson, Remy, Barthelemy, Syrota&Lelord, 1995 apud Moraes, 2014, p.5).

AMÍGDALAS
Responsáveis pelo comportamento social e emocional. Processa emoções e o medo, além de coordenar respostas fisiológicas com nase nas informaç~eos cognitivas. s (Maren, 1996). A amigdala em crianças com autismo é inicialmente maior, entretanto, não continua a crescer com o desenvolvimento da idade, como é com os não autistas. Foi encontrado também correlação entre o volume da amigdala e a gravidade do quadro clínico (Nacewicz, Dalton, Johnstone, Long, McAuliff, Oakes& Davidson, 2006; POLŠEK ET AL., 2011 apud Moraes, 2014, p.5).

HIPOCAMPO
As regiões associativas temporais estão estreitamente conectadas aos sistemas sensoriais associativos frontais, parietais e límbico. (...) O lobo temporal é também fundamental para o processamento dos estímulos, dando origem às experiências vivenciadas em nosso mundo., O lobo temporal também está associado a organização cerebral da linguagem. “Esta ativação anormal do hemisfério esquerdo pode estar envolvida, nos prejuízos de linguagem e na resposta comportamental inadequada aos sons dos autistas”. (VILELA; DIOGO; SEQUEIRA, 2009) apud Siqueira et al (2016).

O comportamento autista tem sido relatado nas patologias clínicas do lobo temporal. As disfunções das regiões temporais podem explicar grande parte dos sintomas clínicos (déficit perceptivo, emocional e cognitivo) observados no autismo.

Sabe-se que o comportamento autista está associado a diversas disfunções cerebrais que atuam em diferentes regiões do mesmo, tais como a ativação anormal auditiva, que segundo os autores Vilela; Diogo; Sequeira (2009), está associada ao córtex temporal esquerdo. (Siqueira et al, 2016)

O DIAGNÓSTICO

De acordo com o DSM-V, para se diagnosticar o TEA é necessário identificar pelo menos, seis critérios comportamentais, sendo dois em um, e pelo menos em dois e três, nos “três agrupamentos de distúrbios na interação social, comunicação e padrões restritos de comportamento e interesses” (Klin, 2007 apud Siqueira et al, 2016)

Gadia et al, 2014 apud Siqueira et al, 2016, apresenta três critérios diagnósticos para o TEA, em conformidade com o DSM:

1) Déficits qualitativos na interação social, manifestados por: Dificuldades marcadas no uso de comunicação não-verbal; Falhas do desenvolvimento de 229 relações interpessoais apropriadas no nível de desenvolvimento; Falha em procurar, espontaneamente, compartir interesses ou atividades prazerosas com outros; Falta de reciprocidade social ou emocional.

2) Déficits qualitativos de comunicação, manifestados por: Falta ou atraso do desenvolvimento da linguagem, não compensada por outros meios (apontar, usar mímica); Déficit marcado na habilidade de iniciar ou manter conversação em indivíduos com linguagem adequada; Uso estereotipado, repetitivo ou idiossincrático de linguagem; Inabilidade de participar de brincadeiras de faz-de-conta ou imaginativas de forma variada e espontânea para o seu nível de desenvolvimento.

3) Padrões de comportamento, atividades e interesses restritos e estereotipados: Preocupação excessiva, em termos de intensidade ou de foco, com interesses restritos e estereotipados; Aderência inflexível a rotinas ou rituais; Maneirismos motores repetitivos e estereotipados; Preocupação persistente com partes de objetos

Tratamento

Segundo Bosa (2006) apud Siqueira et al (2016), para tratar crianças pequenas com autismo deve-se priorizar a terapia da fala, o estímulo na interação social e linguagem e a educação espacial. Já adolescentes autistas, “os alvos seriam os grupos de habilidades sociais, terapia ocupacional e sexualidade.” (Bosa, 2006). Na fase adulta do autista, o foco ´deve ser as questões de opções de moradia e a tutela. 

Contudo há os tratamentos não medicamentosos como a ludoterapia que se utiliza do lúdico como instrumento para a relação terapêutica, por meio de brinquedos e jogos. ((MARTELLI e COLS, 2000 apud SALIM, JUNQUEIRA, 2010, p.4) apud Siqueira et al (2016).

Barlotti (2007);Wernicke (2000) apud Siqueira et al (2016), afirmam que a estimulação precoce pode ser entendida como um conjunto de ações que visam proporcionar experiências sensoriais, motoras, cognitivas, sociais e afetivas, em crianças com algum atraso ou fatores de risco que poderão prejudicar o percurso normal do desenvolvimento, nos seus primeiros anos de vida. Dessa forma o terapeuta desenvolve de forma lúdica variados significados.

O tratamento medicamentoso tem a finalidade de reduzir sintomas de agitação, agressividade e irritabilidade muito presentes no autista. Sintomas estes que impedem que o indivíduo esteja inserido em programas de estimulação e educacionais


 


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