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domingo, 3 de novembro de 2019

Sexualidade na Terceira Idade: desmistificando preconceitos com Rádila Fabrícia Salles

Rádila realizou uma pesquisa com o objetivo de analisar as concepções sobre a atividade sexual dos idosos frente às mudanças no processo de envelhecimento.

A sexualidade humana é um fenômeno complexo, onde estão presentes fatores biológicos, psicológicos e socioculturais. Ela chama atenção para o fato de que a sexualidade não se restringe ao ato sexual em si, mas está na maneira como se vive  e expressa, através de gestos, como se anda, se veste, etc. Envolve os fenômenos da vida sexual, sendo determinado por três aspectos biológicos, psicológicos e social.

Socialmente, a sexualidade do idoso acaba sendo restringida devido a ideia de que o idoso não sente desejo sexual,  o que Rádila chama a atenção para a necessidade de que a sociedade reveja seus conceitos e preconceitos, pois o idoso sente necessidade de troca afetiva por toda a vida. Isso pode levar o idoso a reprimir seus desejo a  enfrentar sentimentos de culpa e de vergonha.

Papaleo Netto (2007) chama atenção para os seguintes fatores:
  • a vida sexual deixou de ser meio de procriação e se tornou fonte de satisfação e realização pessoal.
  • As pessoas chegam a idades mais avançadas não dispostas a abandonar a vida sexual.
  • A AIDS obriga a todos repensar a sexualidade.
Outro fator que dificulta o dioso a enfrentar as mudanças ocorridas é a falta de comunicação, pois essa geração não tem o hábito de falar de suas dificuldades, nem de sexualidade.

Em sua pesquisa Rádila observou que 5% dos entrevistados  têm faixa etária acima de 80 anos, porém sua maioria 75% entre 60 e 69 anos. Observou-se que a grande maioria deles não busca informações sobre sexo, e que a escassez de informação sobre sexualidade é grade, não se sentem preparados para lidar com o assunto e se sentem excluídos do contexto.

Para os autores, o envelhecimento não é uma etapa somente de perdas mas também de aquisições como visão ampla da existência, e que embora, as relações sexuas aconteçam com menor frequência, ainda acontecem, dado as interferências biológicas, psicológicas e sociais. É necessário entender o significado do sexo nessa etapa da vida para o indivíduo, já que este enfrenta diversas dificuldades físicas e psicológicas provenientes da velhice. Vicente (2005) diz que a sexualidade é uma característica humana que não se perde com o tempo, mas se vai desenhando conforme a história vivenciada pelo corpo durante sua trajetória existencial, isso mostra que, a sexualidade do idoso é fruto da vida sexual que ele teve durante sua vida.

Rádila pode constatar que 51,7% dos idosos são ativos sexualmente, contrariando muitos dos valores sustentados pela sociedade atual, embora 95% tenham enfrentado alterações como indisposição, falta de interesse, problemas de saúde, privacidade e disponibilidade de companheiro(a). Contatou-se que não há idade para a prática do sexo, e que homens e mulheres saudáveis podem manter-se sexualmente ativos, independentemente da idade.

REFERÊNCIAS:
Congresso nacional de envelhecimento humano
Sexualidade na terceira idade: desmistificando preconceitos
Rádila Fabricia Salles
Fundação educacional de Fernandópolis - FEF.


sexta-feira, 4 de outubro de 2019

Teoria Psicogenética de Henri Wallon na perspectiva do envelhecimento.


HENRI WALLON ( 1879-1962) – Francês (Médico, Filósofo e Psicólogo).

Embora se saiba que Wallon se dedicou ao estudo da criança por acreditar que esse era o caminho para se compreender a origem dos processos psicológicos humanos, a seguir uma análise de sua teoria na perspectiva do envelhecimento humano


AFETIVIDADE E INTELIGÊNCIA – TEORIA PSICOGENÉTICA

Estudou o desenvolvimento infantil a partir das dimensões cognitivas, afetivas e motora. Estudou o desenvolvimento de forma integral, recusando-se a estudar as partes isoladamente. Nessa perspectiva, sabe-se que o desenvolvimento humano na velhice é impactado de forma significativa nessas dimensões estudadas por Wallon (cognição, afetividade e motricidade).

A Psicologia genética está mais interessada em compreender quais as origens dos processos psíquicos.
Entendia que os processos psicológicos têm origem orgânica biológica, mas que só podem ser entendidos quando consideramos as maneiras pelas quais as influencias socioambientais interagem com esses processos. Portanto, considera tanto as condições orgânicas quanto as exigências sociais que influenciam o desenvolvimento psíquico.  O idoso chega na sua última fase, conforme essas influências socioambientais agiram em sua vida, durante todo o processo de desenvolvimento do sujeito, e são essas influências junto a sua história de vida que irão determinar de este terá uma vida de qualidade na terceira idade ou não, e ainda, como este se comportará no enfrentamento da última fase de sua vida.

Wallon entende que a estrutura biológica é a primeira condição para a atividade psíquica. Não pode haver atividade psíquica sem uma estrutura biológica. A mente opera com os estímulos que são recebidos do meio externo e do mundo são as grandes mantenedoras da existência e do desenvolvimento humano. Desenvolvemo-nos, na interdependência entre fatores biológicos e sociais. Desta forma, pode-se perceber que as condições biológicas do indivíduo irão influenciar no padrão de vida que idoso terá, pois as perdas e incapacidades da velhice, podem impor limitações da atividade psíquica do indivíduo.

O desenvolvimento do pensamento infantil não ocorre de forma contínua, marcado por crises e conflitos, resultado do amadurecimento dos sistema nervoso que traz novas possibilidades orgânicas para o exercício  do pensamento e alterações do meio social que traz novas situações e estímulos diferenciados. É do conflito dessas duas condições que emergem o pensamento e a inteligência. Logo conflitos e contradições não são problemas, mas fazem parte do desenvolvimento psíquico normal da criança. As crises muitas vezes são dinamizadoras do processo desenvolvimental, e portanto, benéficas. Sendo assim, o idoso que passou pelas fases anteriores do seu desenvolvimento, enfrentando positivamente os problemas, e aprendendo com eles, chega na velhice com pensamentos e inteligência bem estruturados para lidar com a última fase de sua vida.

Para ele o desenvolvimento não se dá de forma linear, por isso ele rompe com visões lineares e positivas ao construir um modelo de investigação e interpretação próprio. Pois, percebe que o desenvolvimento humano é marcado por avanços, recuos e contradições; não há uma sucessão de estágios, mas sim, desenvolvimentos que ocorrem de forma simultânea. Essa afirmativa de Wallon demonstra que ainda na velhice, é possível haver desenvolvimento na vida do idoso, tantos nos aspectos cognitivos quando bem estimulados, quanto nos aspectos psicológicos, mesmo havendo declínio das condições biológicas ou físicas.

Afetividade, motricidade e inteligência.

A inteligência se desenvolve após a afetividade, contrariando outras teorias. A inteligência surge de dentro da afetividade e estabelece com ela certa relação de conflito, talvez seja por isso que nos interessamos em aprender as coisas que mais gostamos do que as que não gosta. Ao nascer somos frágeis seres orgânicos e dependemos de outros para cuidar de nós, desenvolvendo uma absoluta dependência até os dois primeiros anos, e por isso, nos tornamos seres afetivos, a emotividade do bebe expressa no choro e no grito garante que o adulto se mobilizara para atender suas necessidades. Logo a expressão emocional assim é uma linguagem e sua função é social usada para comunicar necessidades. Não se deve confundir afetividade com amor e carinho. Afetividade estamos falando das coisas que nos afetam (ao olhar do outro, objeto, elementos internos como fome e lembranças) trata-se de eventos internos ou externos.

O choro afeta o adulto que cuida dela. O choro é culturalmente interpretado pelo adulto e é a partir daí age para atender a crianças. É no contexto dessa interação emocional e social que se dá o desenvolvimento cognitivo da criança. Wallon destaca a importância das atividades, motoras nesse processo, pois o bebe também expressa suas emotividades por gestos, expressões faciais. O ato motor é uma atividade expressiva que comunica os atos emocionais do bebe e ao mesmo tempo gera estados emocionais nos adultos.

Na medida em que a função simbólica se desenvolve, ou seja, que a criança se torna capaz de pensar sobre coisas que não estão presentes, como ver o desenho e associar a algo real, essa capacitação cognitiva permite a internalização de atos motores  quer dizer, os atos motores vão diminuindo porque as crianças desenvolvem outros recursos para se comunicar, como as palavras; além disso adquire maior controle e refino sobre o ato motor.

Ele não coloca a inteligência como o principal componente do desenvolvimento, mas defende que a vida psíquica é formada por três dimensões: motora, afetiva e cognitiva, e que essas dimensões coexistem e atuam de forma integrada.  Essas três dimensões afetam diretamente a vida do sujeito no processo de envelhecimento, quando as limitações motoras começam a surgir, afetando emocionalmente e cognitivamente a vida do idoso.
Defende que o processo de evolução depende tanto da capacidade biológica do sujeito, quanto do ambiente que o afeta de alguma forma. É o meio que vai permitir que essas potencialidades se desenvolvam. Dessa forma, pode-se pensar que havendo cuidados biológicos satisfatórios com a saúde física, e vivendo num ambiente que estimule e incentive o idoso a atividades cognitivas, certamente poderão se manter ativos e atuantes na velhice.

Principais características dos 6 estágios de desenvolvimento infantil de Wallon:
Em cada um dos estágios a criança interage com seu ambiente de formas específicas enquanto busca construir sua própria identidade.

Cada estágio representa um tipo de preparação para o estágio seguinte mas revela a descontinuidade.  O desenvolvimento alterna fases de introspecção, voltar-se para si mesmo, e outras, de extroversão, nas quais o individuo se volta para o meio externo, em busca de autonomia.

As idades e o tempo de duração de cada estágio variam de criança para crianças, por conta das características individuais e suas relações.

ESTÁGIO IMPULSIVO-EMOCIONAL (0 A 1 ANO)

  •  Realiza movimentos reflexos involuntários e impulsivos.
  •  Aos poucos vai respondendo afetivamente aos adultos que são seus intermediários entre ele e a realidade externa, nessa relação passa a usar gestos para se comunicar.
  • Aos 3 meses consegue sorrir para as pessoas, fortalecendo só vínculos coma s pessoas, e é através da afetividade que se estabelece os mais fortes vínculos com as pessoas.
  •  A função inicial da emotividade é mobilizar a mãe que irá atender as suas necessidades. É pela emoção expressiva, choro, grito, etc., que o bebe comunica as suas necessidades.
  • Até aproximadamente 1 ano o bebê está concluindo o processo de socialização com as pessoas que o cercam, fase em que ainda é totalmente dependente.
  • Se interessam por objetos a medida em que estes são apresentados pelos adultos. Com o avançar do desenvolvimento a criança vai aprendendo a agir diretamente com seu meio, em um processo crescente de individuação; torna-se mais autônoma.

ESTÁGIO SENSÓRIO-MOTOR E PROJETIVO ( 1 A 3 ANOS)
  • A EXPLORAÇÃO DO ambiente físico se se acentua na medida em que a criança aprende a segurar coisas e a se deslocar.
  • O desenvolvimento das capacidades cognitivas das crianças está em pleno desenvolvimento, explorando o mundo através dos sentidos e habilidades motoras. Tudo deve ser tocado e sentido.
  • Pouco a pouco o ato motor vai diminuindo e cedendo lugar ao ato mental, ao pensamento, como o desenvolvimento da fala o pensamento também ganha impulso.
  •  A aquisição da linguagem permite que o pensamento se manifeste através da fala, o que rompe com a manifestação motora do pensamento, e isso representa um salto qualitativo no desenvolvimento infantil.
  •  É necessário que a vivência sensória motora do mundo seja inibida pela criança para que a sua vida mental floresça.
ESTÁGIO DO PERSONALISMO (3 A 6 ANOS)
·       Há um conflito entre seu desejo pela autonomia e o fortalecimento do vínculo com a família.
·       Como o processo de formação da personalidade é a tarefa psíquica mais importante desse estágio, a criança nega os adultos, muitas vezes se opondo a eles. Seu pensamento volta-se quase que exclusivamente para si. Ela precisa adquirir consciência de si mesma em suas relações com o mundo.
·       Inicio da vida escolar, o vínculo familiar se flexibiliza e a criança se direciona para a autonomia uma vez que a vida escolar  exige que tome decisões sozinhas, realize escolhas, concorde ou descorde, enfim, se vendo em situações conflituosas.
·       Ao mesmo tempo em que caminha para autonomia, se desenvolve a imitação dos adultos que convive, modo de ser e pensar porque admiram.
·       Afetividade se manifesta de modo mais simbólico, por palavras e ideias

ESTÁGIO CATEGORIAL ( 7 A 12 ANOS)
·       A criança utiliza cada vez mais a inteligência para explorar e conhecer os objetos no meio físico e social, que podem ser transformadas e remanejadas dando margem a criatividade.
·       \a inteligência e o interesse pelo mundo externo predominam.  A criança avança para o pensamento abstrato, ganha maior controle de habilidade como a memória voluntaria (capacidade de memorizar coisas voluntariamente), obtém maior controle da atenção.

ESTÁGIO DA ADOLESCÊNCIA ( A PARTIR DOS 12 ANOS)
·       As modificações corporais que resultam da ação dos hormônios sexual, levam ao adolescente a buscar uma nova personalidade.
·       Há uma ruptura do equilíbrio afetivo, deseja compreender suas inquietações, seus desejos, sua sexualidade e sua real identidade., sendo importante que o adulto ao perceber essas necessidades ofereçam diálogo e apoio aos adolescentes.
·       O adolescente deseja diferenciar-se do adulto. Apresenta contornos mais racionais, criando teorias sobre seus relacionamentos com as pessoas.
·       Os conflitos internos e externos fazem com que o adolescente se volte para si mesmo, a fim de buscar sua autoafirmação, como forma de lidar com as transformações corporais e psíquicas impulsionadas pela maturação sexual.
·       O desenvolvimento permanece por toda a vida e não se encerra na adolescência. A afetividade e a cognição sempre estarão em movimento, em interação entre as inúmeras atividades que desenvolvemos ao longo da vida.

sábado, 28 de setembro de 2019

Erik Erikson e a Teoria Psicossocial do Desenvolvimento Humano

Erik Homburger Erikson nasceu em Frankfurt, Alemanha, em 1902 (vindo a falecer em 1994). Foi trabalhar em uma escola para pacientes submetidos à psicanálise, contatando o grupo de Anna Freud. Em 1933,  mudou-se para os Estados Unidos, tornou-se o primeiro psicanalista infantil americano.

Embora Erikson não negasse a teoria freudiana sobre desenvolvimento psicossexual, mudou seu enfoque desta, para o problema da identidade e das crises do ego, ancorado em um contexto sociocultural.  

Com sua teoria, Anna Freud também transformou os estágios psicossexuais de seu pai em estágios de busca de domínio do ego, dando a base para os estudos de Erik Erikson. Esta fase na Psicanálise ficou conhecida como época da “Psicologia do Ego”, onde se diminuía a ênfase no inconsciente (Hall, et. al., 2000). 

Em meados do século XX, Erikson começa a construir sua teoria psicossocial do desenvolvimento humano, repensando vários conceitos de Freud, sempre considerando o ser humano como um ser social, antes de tudo, um ser que vive em grupo e sofre a pressão e a influência deste

Contribuições importantes à Psicanálise, segundo a teoria de Erikson:
  • deixa uma teoria na qual o ego tem uma concepção ampliada e realiza estudos psicohistóricos.
  • Distribuiu o desenvolvimento humano em fases (Estágios psicossociais)cujos nomes designam um determinado conflito da fase.
  • Desviou-se do foco fundamental da sexualidade para as relações sociais.
  • Observou que, o que construímos na infância em termos de personalidade não é totalmente fixo e pode ser parcialmente modificado por experiências posteriores.
  • Em cada fase, o indivíduo cresce a partir das exigências internas de seu ego, mas também das exigências do meio em que vive, sendo portanto essencial a análise da cultura e da sociedade em que vive o sujeito em questão.
  • Em cada estágio o ego passa por uma crise (que dá nome ao estágio). Esta crise pode ter um desfecho positivo (ritualização) ou negativo (ritualismo). Da solução positiva, da crise, surge um ego mais rico e forteda solução negativa temos um ego mais fragilizado
  • A cada crise, a personalidade vai se reestruturando e se reformulando de acordo com as experiências vividas, enquanto o ego vai se adaptando a seus sucessos e fracassos.
  • Ao sair das crises do ego ou estágios, o sujeito sairia com um ego (no sentido freudiano) mais fortalecido ou mais frágil, de acordo com sua vivência do conflito, e este final de crise influenciaria diretamente o próximo estágio, de forma que o crescimento e o desenvolvimento do indivíduo estaria completamente imbricado no seu contexto social, palco destas crises. 
AS CRISES DO EGO:

1. Confiança Básica x Desconfiança Básica 

É a infância inicial (estágio oral freudiano).A atenção do bebê se volta à pessoa que provê seu conforto, que satisfaz suas ansiedades e necessidades em um espaço do tempo suportável: a mãe. A mãe lhe dá garantias de que não está abandonado à própria sorte no mundo. Assim se estabelece a primeira relação social do bebê.

E justamente sentindo falta da mãe que a criança começa a lidar com algo que Erikson chama de força básica (cada fase tem a sua força característica). Nesta, a força que nasce é a esperança. Quando o bebê se dá conta de que sua mãe não está ali, ou está demorando a voltar, cria-se a esperança de sua volta. E quando a mãe volta, ele compreende que é possível querer e esperar, porque isso vai se realizar; ele começa a entender que objetos ou pessoas existem, embora esteja fora – temporariamente – de seu campo de visão. 

Quando o bebê vivencia positivamente estas descobertas, e quando a mãe confirma suas expectativas e esperanças, surge a confiança básicaou seja, a criança tem a sensação de que o mundo é bom, que as coisas podem ser reais e confiáveis. Do contrário, surge a desconfiança básica, o sentimento de que mundo não corresponde, que é mau ingrato. A partir daí, já podemos perceber alguns traços da personalidade se formando, ainda que em tão tenra idade (Erikson, 1987 e 1976). 

É importante que a criança conviva com pequenas frustrações, pois é daí que ela vai aprender a definir quais esperanças são possíveis de serem realizadas, dando a noção do que Erikson chamou de ordem cósmica, ou seja, as regras que regem o mundo. Nesta fase também o bebê tem a ideia de sua mãe como um ser supremo, numinoso, iluminado. Nesta mesma época, começam as identificações com a mãe, que é por enquanto, a única referência social que a criança tem. 

Se esta identificação for positiva, se a mãe corresponder, ele vai criar o seu primeiro e bom conceito de si e do mundo (representado pela mãe). Se a identificação for negativa, temos o idolismo, ou seja, o culto a um herói, onde o bebê acha que nunca vai chegar ao nível de sua mãe, que ela é demasiadamente capaz e boa, e que ele não se identifica assim. Inicialmente, a criança vai se tornar agressiva e desconfiada; mais tarde, elas vão se tornar menos competentes, menos entusiasmadas, menos persistentes. 

importância da confiança básica é devida, segundo Erikson, ao fato de implicar a ideia de que a criança “não só aprendeu a confiar na uniformidade e na continuidade dos provedores externos, mas também em si próprio e na capacidade dos próprios órgãos para fazer frente ao seus impulsos e anseios” (1987, p.102). 

2. Autonomia x Vergonha e Dúvida 

Estágio anal freudiano, a criança já tem algum controle de seus movimentos musculares, então direciona sua energia às experiências ligadas à atividade exploratória e à conquista da autonomia. Porém, 
logo a criança começa a compreender que não pode usar sua energia exploratória à vontade, que tem que respeitar certas regras sociais e incorporá-las ao seu ser, fazendo assim uma equação entre manutenção muscular, conservação e controle (Erikson, 1976). 

A aceitação deste controle social pela criança implica no aprendizado – ou no início deste – do que se espera dela, quais são seus privilégios, obrigações e limitações. Deste aprendizado surge também a capacidade e as atitudes judiciosas, ou seja, surge o poder de julgamento a criança, já que ela está aprendendo as regras. 

 A questão é que os adultos, para fazerem as crianças aprenderem tais regras – como a de ir ao banheiro, tão enfatizada por Freud – fazem uso da vergonha e ao mesmo tempo do encorajamento para dar o nível certo de autonomia. 

Expor a criança à vergonha constante, o adulto pode estimular o descaramento e a dissimulação, como formas reativas de defesa, ou o sentimento permanente de vergonha e dúvida de suas capacidades e potencialidades. 

 Na aprendizagem do controle, seja do autocontrole o do controle social, temos o nascimento da força básica da vontade, que, manifestada na livre escolha, é o precedente essencial para o crescimento sadio da autonomia. Essa vontade se manifesta em várias situações práticas, como a manipulação de objetos, a verbalização eu se inicia, a locomoção que avança em suas capacidades, tudo o que possibilite uma atividade exploratória mais autônoma e independente.

Neste estágio, o principal cuidado que os pais tem que tomar é dar o grau certo de autonomia à criança. Se é exigida demais, ela verá que não consegue dar conta e sua autoestima vai baixar. Se ela é pouco exigida, ela tem a sensação de abandono e de dúvida de suas capacidades. Se a criança é amparada ou protegida demais, ela vai se tornar frágil, insegura e envergonhada. Se ela for pouco amparada, ela se sentirá exigida além de suas capacidades. 

Vemos portanto que os pais tem que dar à criança a sensação de autonomia e, ao mesmo tempo, estar sempre por perto, prontos a auxilia-la nos momentos em que a tarefa estiver além de suas capacidades. Se a criança se sentir envergonhada demais por não conseguir dar conta de determinada coisa ou se os pais reprimem demais sua autonomia, ela vai entender que todo o problema dela, toda a dúvida e a vergonha vieram de seus pais, adultos, objetos externos.Com isso, começará a ficar tensa na presença deles e de outros adultos, e poderá achar que somente pode se expressar longe deles. 

3. Iniciativa x Culpa 

Fase fálica freudiana, a criança já conseguiu a confiança, e a autonomia, com a expansão motora e o controle. Agora, cabe associar á autonomia e à confiança, a iniciativa, pela expansão intelectual. A combinação confiança-autonomia dá à criança um sentimento de determinação, alavanca para a iniciativa. 

Com a alfabetização e a ampliação de seu círculo de contatos, a criança adquire o crescimento intelectual necessário para apurar sua capacidade de planejamento e realização(Erikson, 1987, p.116).



 Quando ela já se sente capaz de planejar e realizar, ou seja, ela tem um propósito, ela tende a duas atitudes: numa delas, a criança pode ficar fixada pela busca de determinadas metas. Freud descreveu uma destas fixações a qual chamou de Complexo de Édipo, onde a criança nutre expectativas genitais com o pai do sexo oposto

Quando a criança se empolga na busca de objetivos além de suas possibilidades, ela se sente culpada, pois não consegue realizar o que desejou ou sabe que o que desejou não é aceitável socialmente, e precisa de alguma forma conter e reinvestir a carga de energia que mobilizou. Então, ela fantasia (muitas vezes magicamente) para fugir da tensão. Geralmente tais objetivos se dão no plano sexual e na vida adulta o não resolvimento da falta de iniciativa pode causar patologias sexuais (repressão, impotência) ou pode ser ainda expressos pela somatização do conflito (doenças psicossomáticas). O despertar de um sentimento de culpa, na mente da criança, poderá ficar atrelado à sensação de fracasso, o que gera uma ansiedade em torno de atitudes futuras (Erikson, 1987, p. 119). 

 Nesta fase, as crianças querem que os adultos lhes deem responsabilidades, como arrumar a casa, varrer o quintal ou ajudar a consertar algo. É muito importante que os adultos lhes mostrem também que há certas coisas que ainda não podem fazer, embora possam permitir ajudas em algumas atividades. Quando a criança se dá conta de que realmente existem coisas que estão fora de suas capacidades (ainda), ela se contenta, não em fantasiar, mas sim em realizar uma espécie de “treino”, o que, na verdade, se constitui num teste de personalidade que a criança aplica em si. Para isso, ela utiliza jogos, testando sua capacidade mental, dramatizações, testando várias personalidades nela mesma, e brinquedos, que proporcionam uma realidade intermediária. Tudo isso é o que faz a conexão sadia do mundo interno e externo da criança nesta fase. 

 Erikson alerta ainda para o perigo da personificação. Quando a criança, tentando escapar da frustração de ser incapaz para algumas coisas, exagera na fantasia de ter outras personalidades, de ser totalmente diferente do que é várias vezes, ela pode se tornar compulsiva por esconder seu verdadeiro “eu”; nesse caso, pode passar a sua vida desempenhando “papéis”,e afastar-se cada vez mais do contato consigo mesmo. 

4. Diligência x Inferioridade 

Erikson deu um destaque a esta fase que, contraditoriamente, foi a menos explorada por Freud, no esquema freudiano, corresponde à fase de Latência, por julgá-la um período de adormecimento sexualPeríodo é marcado, para Erikson, pelo controle, mas um controle diferente do que já discutimos. Aqui, trata-se do controle da atividade, tanto física como intelectual, no sentido de equilibrá-la às regras do método de aprendizado formal, já que o principal contato social se dá na escola ou em outro meio de convívio mais amplo do que o familiar. 

 Com a educação formal, além do desempenho das funções intelectuais, a criança aprende o que é valorizado no mundo adulto, e tenta se adaptar a ele. Da ideia de propósito, ela passa à ideia de perseverança, ou seja, a criança aprende a valorizar e, até mesmo, reconhece que podem existir recompensas a longo prazo de suas atitudes atuais, fazendo surgir, portanto, um interesse pelo futuro. Nesta fase, começam os interesses por instrumentos de trabalho, pois trabalho remete à questão da competência. 


A criança nesta idade sente que adquiriu competência ao dedicar-se e concluir uma tarefa, e sente que adquiriu habilidade se tal tarefa foi realizada satisfatoriamente. Este prazer de realização é o que dá forças para o ego não regredir nem se sentir inferior. Se falhas seguidas ocorrerem, seja por falta de ajuda ou por excesso de exigência, o ego pode se sentir levemente inferior e regredir, retornando às fantasias da fase anterior ou simplesmente entrando em inércia. Além disso, a criança agora precisa de uma forma ideal, ou seja, regulada e metódica, para canalizar sua energia psíquica. Ela encontra esta forma no trabalho/estudo, que lhe dá a sensação de conquista e de ordem, preparando-o para o futuro, que, aos poucos, passa a ser uma das preocupações da criança. É nesta fase que ela começa a dizer, com segurança aparente, o que “quer ser quando crescer”, como uma iniciação no campo das responsabilidades e dos planejamentos. A ordem e as formas técnicas passam a ser importantes para as crianças desta fase. 

Mas Erikson alerta para o formalismo, ou seja, a repetição obsessiva de formalidades sem sentido algum para determinadas ocasiões, o que empobrece a personalidade e prejudica as relações sociais da criança. 

 5. Identidade x Confusão de Identidade

Fase onde ele desenvolveu mais trabalhos, tendo dedicado um livro inteiro à questão da chamada crise de identidade. Em seus estudos, Erikson ressalta que o adolescente precisa de segurança frente a todas as transformações – físicas e psicológicas – do período. Essa segurança ele encontra na forma de sua identidade, que foi construída por seu ego em todos os estágios anteriores. 

 Esse sentimento de identidade se expressa nas seguintes questões, presentes para o adolescente: sou diferente dos meus pais? O que sou? O que quero ser?. Respondendo a essas questões, o adolescente pretende se encaixar em algum papel na sociedade. Daí vem a questão da escolha vocacional, dos grupos que frequenta, de suas metas para o futuro, da escolha do par, etc. Existe aí também o surgimento do envolvimento ideológico, que é o que comanda a formação de grupos na adolescência, segundo Erikson. O ser humano precisa sentir que determinado grupo apóia suas idéias e sua identidade. Mas se o adolescente desenvolver uma forte identificação com determinado grupo, surge o fanatismo, e ele passa a não mais defender suas idéias com seus argumentos, mas defende cegamente algo que se apossou de suas idéias próprias. Erikson discute a integração de adolescentes em grupos nazistas e fascistas, por exemplo, em Erikson (1987). 

Toda a preocupação do adolescente em encontrar um papel social provoca uma confusão de identidade, afinal, a preocupação com a opinião alheia faz com que o adolescente modifique o tempo todo suas atitudes, remodelando sua personalidade muitas vezes em um período muito curto, seguindo o mesmo ritmo das transformações físicas que acontecem com ele.

 Erikson lembra que o se humano mantém suas defesas para sobreviver. Ao sinal de qualquer problema, uma delas pode ser ativada. Nesta confusão de identidade, o adolescente pode se sentir vazio, isolado, ansioso, sentindo-se também, muitas vezes, incapaz de se encaixar no mundo adulto, o que pode muitas vezes levar a uma regressão. Também pode acontecer de o jovem projetar suas tendências em outras pessoas, por ele mesmo não suportar sua identidade. Aliás, este é um dos mecanismos apontados por Erikson como base para a formação de preconceitos e discriminações

 Porém, a confusão de identidade pode ter um bom desfecho: em meio á crise, quanto melhor o adolescente tiver resolvido suas crises anteriores, mais possibilidades terá de alcançar aqui a estabilização da identidadeQuando esta identidade estiver firme, ele será capaz de ser estável com os outros, conquistando, segundo Erikson, a lealdade e a fidelidade consigo mesmo, com seus propósitos, conquistando o senso de identidade contínua. 

6. Intimidade x Isolamento 

Ao estabelecer uma identidade definitiva e bem fortalecida, o indivíduo estará pronto para uni-la à identidade de outra pessoa, sem se sentir ameaçado. Esta união caracteriza esta fase. Existe agora a possibilidade de associação com intimidade, parceira e colaboração. Podemos agora falar na associação de um ego ao outro.

Para que essa associação seja positiva, é preciso que a pessoa tenha construído, ao longo dos ciclos anteriores, um ego forte e autônomo o suficiente para aceitar o convívio com outro ego sem se sentir anulado ou ameaçado. Quando isso não acontece, ou seja, o ego não é suficientemente seguro, a pessoa irá preferir o isolamento à união, pois terá medo de compromissos, numa atitude de “preservar” seu ego frágil. Quando esse isolamento ocorre por um período curto, não é negativo, pois todos precisam de um tempo de isolamento para amadurecer o ego um pouco mais ou então para certificar-se de que ele busca realmente uma associação. Porém, quando a pessoa se recusa por um longo tempo a assumir qualquer tipo de compromisso, pode-se dizer que é um desfecho negativo para sua crise. 

 Um risco apontado por Erikson para esta fase é o elitismo, ou seja, quando há formação de grupos exclusivos que são uma forma de narcisismo comunal. Um ego estável é minimamente flexível e consegue se relacionar com um conjunto variável de personalidades diferentes. Quando se forma um grupo fechado, onde se limita muito o tipo de ego com o qual se relaciona, poderemos falar em elitismo. 

7.Generatividade x Estagnação 

Nesta fase, o indivíduo tem a preocupação com tudo o que pode ser gerado, desde filhos até idéias e produtos. Ele se dedica à geração e ao cuidado com o que gerou, o que é muito visível na transmissão dos valores sociais de pai para filho. Esta é a fase em que o ser humano sente que sua personalidade foi enriquecida – e não modificada – com tais ensinamentos. Isso acontece porque existe uma necessidade inerente ao homem de transmitir, de ensinar. É uma forma de fazer-se sobreviver, de fazer valer todo o esforço de sua vida, de saber que tem um pouco de si nos outros. Isso impede a absorção do ser em si mesmo e também a transmissão de uma cultura. 

 Caso esta transmissão não ocorra, o indivíduo se dá conta de que tudo o que fez e tudo o que construiu não valei a pena, não teve um porquê, já que não existe como dar prosseguimento, seja em forma de um filho, um sócio, uma empresa ou uma pesquisa. 

Nesta fase também a pessoa tem um cuidado com a tradição e, por ser “mais velho”, pensa que tem alguma autoridade sobre os mais novos. Quando o indivíduo começa a pensar que pode se utilizar em excesso de sua autoridade, em nome do cuidado, surge o autoritarismo. Cada vez mais esta fase tem se ampliado. Até algumas décadas atrás, a forma de viver esta fase era casando e criando filhos, principalmente para a mulher. Hoje, com uma gama maior de escolhas a serem feitas, as formas de expressar a generatividade também se ampliam, de forma que as principais aquisições desta fase, como dar e receber, criar e manter, podem ser vividas em diversos planos relacionais, não somente na família. Segundo os autores, são diversas formas de não se cair no marasmo da lamentação, que Erikson chama de estagnação. 

8. Integridade x desespero 

Agora é tempo do ser humano refletir, rever sua vida, o que fez, o que deixou de fazer. Pensa principalmente em termos de ordem e significado de suas realizações. Essa retrospectiva pode ser vivenciada de diferentes formas. 

A pessoa pode simplesmente entrar em desespero ao ver a morte se aproximando. Surge um sentimento de que o tempo acabou, que agora resta o fim de tudo, que nada mais pode fazer pela sociedade, pela família, por nada. São aquelas pessoas que vivem em eterna nostalgia e tristeza por sua velhice. 

A vivência também pode ser positiva. A pessoa sente a sensação de dever cumprido, experimenta o sentimento de dignidade e integridade, e divide sua experiência e sabedoria. Existe ainda o perigo do indivíduo se julgar o mais sábio, e impor suas opiniões em nome de sua idade e experiência. 

 Erikson fala de duas principais possibilidades: procurar novas formas de estruturar o tempo e utilizar sua experiência de vida em prol de viver bem os últimos anos ou estagnar diante “do terrível fim”, quando desaparecem pouco a pouco todas as fontes de carícia se vão e o desespero toma conta da pessoa. Erikson (1987), faz uma ressalva acerca das crises e de suas conseqüências na construção da personalidade. Em suas palavras, “uma personalidade saudável domina ativamente seu meio, demonstra possuir uma certa unidade de personalidade (...). De fato, podemos dizer que a infância se define pela ausência inicial desses critérios e de seu desenvolvimento gradual em passos complexos de crescente diferenciação. Como é, pois, que uma personalidade vital cresce ou, por assim dizer, advém das fases sucessivas da crescente capacidade de adaptação às necessidades da vida – com alguma sobras de entusiasmo vital?” (Erikson, 1987, p. 91) 

Teoria do Plano de Vida

Segundo Erikson, durante o ciclo vital construiríamos o que ele denomina plano de vida, um curso, um roteiro segundo o qual as crises do ego vão se desenrolar de certa maneira, que parece ter sido determinada pela infância, pelas primeiras crises do sujeito. 

Alguns marcos de passagem e montagem do plano de vida de Erikson:
  •  A construção da confiança básica,
  • A iniciativa, onde ficam arraigados os ideais e os propósitos, importante elemento da formação da identidade.
  •  A indispensável contribuição da fase da iniciativa para o desenvolvimento ulterior da identidade consiste com a realização plena da gama de capacidades do indivíduo. 
  • Pela escolarização,a criança se insere no mundo social e lida com os papéis que este envolve. 
  • A importância clara das relações sociais na montagem do plano de vida, porque, é através da aprendizagem de determinados papéis, que a criança vai antecipando e exercitando alguns características e habilidades para seus futuros papéis. 
  •  Na fase da adolescência,  a importância desta etapa é crucial porque nela são revivenciados todos os conflitos das fases anteriores, seus bons ou maus desfechos, e os sentimentos gerados ao longo da infância pelas chamadas crises do ego. Ao definirmos quem somos, pensamos juntamente o que faremos de nossa vida. Consolida-se o plano de vida. 
  • A fase da generatividade onde “a própria natureza da generatividade sugere que a sua patologia, minimamente circunscrita, deve ser agora procurada na geração seguinte”. Esta é a força propulsora da passagem da cultura humana,
  • Inovação em que ele  fala da importância de se considerar o contexto histórico e cultural, utilizando estas informações como instrumento de análise, afinal, são elas que vão nos dar indicativos da formação de uma identidade. 

REFERÊNCIAS
Artigo sobre "Erikson e a Teoria Psicossocial do Desenvolvimento"  de Elaine Rabello, José Silveira Passos.
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domingo, 15 de setembro de 2019

Texto sobre Terceira Idade publicado na Revista Contexto & Saúde, Ijuí • v. 10 • n. 20 • Jan./Jun. 2011

  
INTRODUÇÃO
população idosa, a nível mundial, tem demonstrado crescimento expressivo nas últimas décadas, em virtude da expansão de sua expectativa de vida.

descoberta de novos  medicamentos possibilitou um amplo controle e tratamento eficiente de doenças infectocontagiosas e crônico-degenerativas, às  quais somadas às intervenções estratégicas modernas de diagnóstico e cirurgia proporcionaram uma elevação da vida média da população (ARAÚJO et al., 1999; HOFFMANN, 2002).

O avanço da expectativa de vida ocorreu originalmente em países desenvolvidos, porém, é nos países em desenvolvimento que tal processo tem ocorrido de forma mais maciça (COSTA; VERAS, 2003). O Brasil mesmo tendo iniciado seu processo de envelhecimento somente na década de 60, acompanha essa tendência mundial, com um envelhecimento rápido e intenso (CHAIMOWICZ, 1997).

dinâmica do envelhecimento da população mundial fez com que a ciência, os  pesquisadores e também a população buscassem formas para minimizar ou evitar os efeitos do envelhecimento, fato que proporcionou nos últimos anos um aumento de pesquisas voltadas para o envelhecimento humano, surgindo várias teorias com o propósito de explicar as causas desse fenômeno (BARROS NETO; MATSUDO; MATSUDO, 2000).

Dentre as inúmeras teorias que buscam apontar as causas do envelhecimento pode-se  destacar: a Teoria Genética, a Teoria Imunológica, a Teoria do Acúmulo de Danos, a Teoria das Mutações, a Teoria do Uso e Desgaste e a Teoria dos Radicais Livres (RLs), uma das teorias mais plausíveis até o momento. Essa teoria sustenta a ideia de que o envelhecimento celular normal seja desencadeado e acelerado pelos RLs, moléculas instáveis e reativas capazes de reagir com os constituintes do organismo em busca de uma maior estabilidade.
O presente estudo tem como objetivo a elaboração de uma revisão bibliográfica, abordando as principais teorias do envelhecimento humano, correlacionando com modificações que ocorrem no organismo.

PECULIARIDADES DO ENVELHECIMENTO

envelhecimento humano está sujeito a influências intrínsecas, como a constituição genética individual responsável pela longevidade máxima e os fatores extrínsecos condizentes às exposições ambientais a que o indivíduo sofreu (tipo de dieta, sedentarismo, poluição, entre outros), os quais proporcionam uma grande heterogenidade no envelhecimento. Além disso, o envelhecimento orgânico humano pode ser caracterizado como senescência, envelhecimento normal, ou como senilidade, envelhecimento patológico.A senescência é caracterizada como um processo fisiológico com transformações que ocorrem normalmente com o passar dos anos (sem distúrbios de conduta, amnésias, entre outros), enquanto que a senilidade significa a presença de doenças crônicas ou outras alterações que podem acometer a saúde do idoso (perda da capacidade de memorizar, prestar atenção, não conseguir se orientar, etc.) (BRINK, 2001; PAPALÉO NETTO, 2002).
Com o envelhecimento o ser humano sofre várias alterações marcantes, entre as quais pode-se citar: embranquecimento dos cabelos e calvíce (embora sejam características também vinculadas a aspectos étnicos, genéticos, sexuais e endócrinos); redução na estatura; aumento do diâmetro do crânio e aumento da amplitude do nariz e orelhas caracterizando a conformação facial do idoso. Também ocorre diminuição da espessura e perda da capacidade de sustentação da pele, o que leva ao surgimento de bolsas orbitais, enrugamento e aumento dos sulcos labiais; surgimento do arcus senilis (círculo branco em torno da córnea); alteração da cavidade bucal (perda da elasticidade da mucosa, queratinização e aumento da espessura do epitélio) com perda do paladar; desgaste dos dentes e modificação na língua que perde grande quantidade de suas papilas gustativas (BARROS NETO; MATSUDO; MATSUDO, 2000; BEATTIE; LOUIE, 2001; CARVALHO FILHO, 1996; FREITAS; MIRANDA; NERY, 2002).

O envelhecimento também ocasiona mudanças na composição corpórea com, geralmente, ganho de peso, devido ao aumento do tecido adiposo e redução de tecidos muscular e ósseo. A deposição do tecido adiposo ocorre em maior concentração no tronco e ao redor de vísceras como rins e coração (CARVALHO FILHO, 1996; FREITAS; MIRANDA;
NERY, 2002).

Segundo Cunha e Jeckel-Neto (2002), pode-se caracterizar o envelhecimento como uma das etapas sequenciais da vida, apresentando-se como um processo lento, progressivo e inevitável, caracterizado por diversas modificações morfológicas, funcionais, bioquímicas e psicológicas, que contribuem para o aumento da vulnerabilidade e incidência dos processos patológicos no organismo.

AS TEORIAS DO ENVELHECIMENTO

Atualmente várias teorias são propostas para explicar a origem do fenômeno do  envelhecimento, cada qual com um conjunto de conceitos, fatos e indicadores. Esta variedade de teorias provém dos vários pontos de controvérsia que surgem no momento de estabelecer os fatores envolvidas no processo do envelhecimento, bem como, do próprio entendimento desse fenômeno complexo, uma vez que muitas teorias formuladas apoiam-se somente numa alteração biológica isolada, sem considerar a noção de complexidade e integridade, condições que caracterizam o envelhecimento (CUNHA; JECKEL- NETO, 2002).

Teoria Genética defende a ideia de que o envelhecimento é resultado de alterações bioquímicas programadas pelo próprio genoma, o qual poderia regular a expectativa de vida por meio de diferentes genes, dessa forma, cada ser vivo apresentaria uma duração de vida estipulada pelo seu padrão genético, algo que tenta ser comprovado pela realização de várias pesquisas acerca da longevidade, somadas às constatações na prática clínica dos  envelhecimentos precoces (progeria infantil ou síndrome de Hutchinson-Gilford e progeria do adulto ou síndrome de Werner) doenças que estariam relacionados à deficiências de enzimas controlados por genes autossômicos recessivos (BORGONOVI; PAPALÉO NETTO, 1996; TORRES, 2002). Outro mecanismo genético considerado seria o encurtamento do telômero, estrutura localizada no final dos cromossomos de células eucarióticas, como fator determinante no desencadeamento do envelhecimento, uma vez que é responsável ela proteção dos cromossomos e replicação do DNA cromossomal (TORRES, 2002).
Segundo Cunha e Jeckel-Neto (2002), o encurtamento dos telômeros também traria como consequência perdas de informações genéticas e instabilidades genômicas no decorrer da vida. Contudo, a avaliação experimental desta teoria é lenta pelo fato da existência de grande número de variáveis e à limitação dos métodos experimentais.

O sistema imune é constituído por dois mecanismos: o celular, representado pelos Linfócitos T (células timo dependentes), responsáveis pela manutenção da estabilidade homeostática e vigilância imunológica do indivíduo; e o humoral representado pelas imunoglobulinas originárias dos Linfócitos B, e que permanecem aderidos à sua membrana (BORGONOVI;PAPALÉO NETTO, 1996).  A função imunológica decai com o avanço dos anos, motivo pelo qual a hipótese básica da teoria imunológica seja a de que a redução da eficácia do sistema imune, mantido pela interação entre linfócitos e macrófagos no organismo, ao longo dos anos tornaria as pessoas mais susceptíveis contra as agressões, provocando assim, o envelhecimento. Tal teoria postula que a diminuição da resposta imune estaria relacionada ao envelhecimento do timo, órgão central no desenvolvimento e diferenciação de Linfócitos T (CUNHA; JECKEL-NETO, 2002).

Um conhecimento mais abrangente acerca dos Linfócitos T auxiliaria na compreensão do envelhecimento, além da necessidade de haver mais pesquisas para a confirmação dessa teoria, uma vez que as alterações imunitárias podem ser conseqüências e não causas do envelhecimento (BORGONOVI; PAPALÉO NETTO, 1996).

Segundo a Teoria do Acúmulo de Danos ou também denominada Erro Catástrofe, a principal causa do envelhecimento seria o acúmulo de moléculas defeituosas provenientes de falhas no reparo e na síntese de moléculas intracelulares com o avanço da idade, o que repercutiria na perda progressiva da função do organismo. As falhas de reparo e síntese seriam oriundas de erros na transcrição do RNA e sua tradução em proteínas, gerando uma elevação na concentração de proteínas modificadas e não funcionais (TORRES, 2002).

Segundo Orgel (1963 apud BORGONOVI; PAPALÉO NETTO, 1996), o motivo pelo quais essas proteínas inativas surgem é devido a erros na síntese enzimática principalmente de polimerases, responsáveis pela síntese de RNA a partir da transcrição do DNA. Dessa forma, a transcrição de uma enzima modificada pode ocasionar elevação de uma ou mais bases  púricas ou pirimídicas do código genético, provocando a formação de sequências errôneas
de aminoácidos, que por sua vez leva a síntese de proteínas não funcionais.

Os erros sendo acumulativos e transmissíveis atingiriam uma elevada ocorrência, provocando o efeito chamado de erro catástrofe, onde a célula sofreria uma ineficiência letal,  ocasionando sua morte e por consequência, a redução da capacidade funcional, fato que caracterizaria o envelhecimento  (CUNHA; JECKEL-NETO, 2002).

Evidências em pesquisas contradizem a Teoria do Erro Catástrofe quanto a transcrição e tradução, pois nestes estudos esses dois processos relacionados à síntese de proteínas se mantiveram estáveis com o aumento da idade, além disso, outras pesquisas revelaram que a sequência de aminoácidos de inúmeras proteínas importantes ao organismo mantivera-se constantes ao longo dos anos (BORGONOVI; PAPALÉO NETTO, 1996), portanto, até hoje não há evidências suficientemente concretas que sustentem esta hipótese.

A Teoria das Mutações pressupõe que as sucessivas alterações que ocorrem nas células somáticas (46 cromossomos), ao transcorrer dos anos, produziriam células mutantes incapazes de cumprir suas funções biológicas, o que provocaria um declínio progressivo dos órgãos e tecidos, com instalação do envelhecimento (CUNHA; JECKEL-NETO, 2002). As mutações podem ter origem das transformações do mecanismo de reparo da molécula de DNA, sendo possível que sejam repassadas para as células filhas (BORGONOVI; PAPALÉO NETTO, 1996). Segundo Schimke e colaboradores (1986 apud BORGONOVI; PAPALÉO NETTO, 1996), as mutações são ocasionadas pela existência de inúmeras áreas de replicação do DNA no cromossomo, o que desencadeia um número alto de replicação de determinados segmentos do DNA e por consequência inúmeros rearranjos e mutações. Esse acúmulo de células heterogêneas durante os anos seria a explicação de doenças de fundo clonal como câncer e arteriosclerose. Várias informações acerca das mutações cromossômicas em células somáticas relacionadas à idade estão sendo difundidas, principalmente como respostas à radiação ou mutagênicos, porém analisando o envelhecimento como um processo uniforme, existem poucas pesquisas para a fundamentação dessa teoria (CUNHA; JECKEL-NETO, 2002).

A Teoria do Uso e Desgaste baseia-se na ideia de que o envelhecimento seja o resultado do acúmulo de agressões ambientais do dia-a-dia, as quais ocasionariam a diminuição da capacidade do organismo em recuperar-se totalmente. Onde, os ferimentos, infecções, inflamações e outras formas de agressões sejam eles, ferimentos ou patógenos, se somariam ao longo dos anos no indivíduo e dessa forma, as lesões ocasionadas provocariam alterações nas células, tecidos e órgãos desencadeando o envelhecimento (CUNHA; JECKEL-NETO, 2002).

Atualmente essa teoria encontra-se desacreditada, apesar de defender danos que são dependentes do tempo e podem aumentar a possibilidade de morte do indivíduo, sem, no entanto, atuarem como causadores do processo do envelhecimento. Além do que, pode-se considerar a Teoria do Uso e Desgaste  não como uma teoria, mas um aspecto relevante para auxiliar outras teorias no que diz respeito ao desgaste de um órgão ou área do Organismo relacionando- o com a idade, sem se transformar em um fato causal do envelhecimento (CUNHA; JECKEL- NETO, 2002).

A Teoria dos RLs foi introduzida pela primeira vez em 1956 pelo médico norte-americano Denham Harman e adquirindo somente a partir da década de 80, maior importância no meio científico quando inúmeros trabalhos foram desenvolvidos em relação aos RLs e suas conseqüências ao organismo. Esta teoria propunha que o envelhecimento normal seria resultado de danos intracelulares aleatórios provocados pelos RLs, moléculas instáveis e reativas, que atacariam as diferentes biomoléculas do organismo em busca de estabilidade (OLSZEWER, 1994; TORRES, 2002). Esta teoria vem recebendo uma atenção especial de diversos estudiosos e pesquisadores do assunto, em virtude de seus efeitos sobre o metabolismo explicarem os processos de envelhecimento, assim como as doenças relacionadas (LANE, 2003). Os RLs são espécies químicas que podem ser átomos, moléculas ou fragmentos de moléculas (OLIVEIRA, 2002). São espécies químicas contendo um ou mais elétrons não pareados no orbital externo da camada de valência (a última camada de elétrons) sendo mais reativos que as espécies com elétrons pareados. Devido a sua alta reatividade os RLs, buscam, rapidamente, extrair um elétron de qualquer partícula, molécula ou átomo em sua vizinhança, a fim de recuperar a pariedade, e em decorrência, a estabilidade (ABDALLA; LIMA, 2001; DUARTE,2003; LEITE; OLIVEIRA, 2002; SARNI, 2003). Os RLs podem ser eletricamente neutros, terem carga positiva ou negativa (LEITE; SARNI, 2003). Essas espécies químicas incluem as espécies reativas do oxigênio (EROS) e as espécies reativas de nitrogênio (ERNS). As EROS são representadas por todos os radicais do oxigênio, como o ânion radical superóxido (O2 .), radical hidroxila (HO.), radical alquila (L.), alcoxila (LO.) e peroxila (LOO.). Enquanto que as ERNS são representadas pelo peroxinitrito (ONOO-), o óxido nítrico (.NO) e o radical dióxido de nitrogênio (.NO2). No entanto, o ânion peroxinitrito (ONOO-), o ácido hipocloroso (HOCl), o peróxido de hidrogênio (H2O2), o oxigênio singlet (1O2) e o ozônio (O3) não são RLs mas podem provocar reações radicalares no organismo, fato que os levam a serem considerados como espécies reativas (ABDALLA; LIMA, 2001). A formação de RLs pode ocorrer tanto no citoplasma, nas mitocôndrias como na membrana celular (MOREIRA; SHAMI, 2004), e em diferentes situações metabólicas, como por exemplo, na cadeia transportadora de elétrons, na peroxidação lipídica, nos processos NADPH – oxidase dos fagócitos e xantina desidrogenase/oxidase da isquemia/ reperfusão (TORRES, 2002; OLIVEIRA, 1999), como também, na via das Reações de Fenton e Haber-Weiss (FERREIRA; MATSUBARA, 1997). Em contrapartida, as fontes exógenas de RLs são representadas pelas radiações gama e ultravioleta, os medicamentos, as bebidas alcoólicas, a dieta, o cigarro e os poluentes ambientais (BUCHLI, 2002; MOREIRA; SHAMI, 2004). Os RLs são oriundos em grande parte da respiração  celular, que ocorre no interior da mitocôndria na presença de oxigênio, o qual sofre um desvio em seu metabolismo normal, recebendo um elétron extra o que lhe confere atividade e capacidade para induzir a formação dos demais RLs, demonstrando que a mitocôndria seria o principal constituinte do organismo responsável pelo envelhecimento (ALI; ASHOK, 1999; BALU et al., 2003; BENETT Jr.; CASSARINO, 1999). Paralelamente o organismo desenvolveu mecanismos de proteção antioxidante que são formados por um sistema endógeno enzimático e um sistema exógeno não enzimático. Ambos os sistemas são os responsáveis pela manutenção do equilíbrio entre a produção e neutralização dos RLs, contudo, quando esse equilíbrio é alterado, tem-se uma situação metabólica denominada estresse oxidativo (MATTAR, 2000; OLSZEWER, 1994). Com o estresse oxidativo, a elevada produção dos RLs e sua grande capacidade reativa ocasionariam não somente reações com os componentes nucleares e citoplasmáticos das células (principalmente DNA e RNA) com diminuição de suas funções, como também, reações com proteínas, lipídios, enzimas, colágenos e hormônios induzindo modificações orgânicas que justificariam o envelhecimento (BORGONOVI; PAPALÉO NETTO, 1996). Portanto, o envelhecimento seria um fenômeno secundário ao estresse oxidativo, em que ocorrem reações de oxidação lipídica, protéica e reações com o DNA o que provocaria modificações dos tecidos e código genético, e por conseqüência ocasionariam as deficiências fisiológicas características do avançar da idade e provenientes desses danos intracelulares provocados pelos RLs (ALMADA FILHO, 2002; FERREIRA; MATSUBARA, 1997).

Segundo Cunha e Jeckel-Neto (2002), os danos estariam relacionados ao tipo de radical presente, sua taxa de produção, a integridade estrutural das células e aos diferentes sistemas antioxidantes do organismo. Segundo Capote et al. (2000), várias pesquisas científicas evidenciam que as EROs geradas na mitocôndria podem produzir danos em sua membrana interna, nos constituintes de sua cadeia respiratória, além de afetar o DNA mitocondrial. Portanto, os danos cumulativos do oxigênio sobre a mitocôndria (lesões no DNA mitocondrial e declínio nas atividades dos transportadores de elétrons), seriam os responsáveis pela diminuição no desempenho fisiológico das células e pelo envelhecimento, hipótese sustentada pela Teoria dos RLs (CUNHA; JECKEL- NETO, 2002). Segundo Almada Filho (2002), diversos estudos documentaram a presença do estresse oxidativo sistêmico no envelhecimento e em doenças relacionadas. Diversos procedimentos experimentais foram e estão sendo realizados com o intuito de comprovar a relação real dos RLs com o envelhecimento, mas o que se constata é um grande número de contradições
acerca dos resultados das pesquisas, o que evidencia a necessidade de maiores estudos sobre os danos moleculares ocasionados pelos RLs no organismo e o modo como estes,  contribuem para o processo do envelhecimento (ALI; ASHOK, 1999). Portanto, o envelhecimento do organismo é um processo complexo, onde os danos provocados pelos RLs são possivelmente expressivos, mas, contudo, não sejam os únicos mecanismos envolvidos no declínio fisiológico. Uma conclusão absoluta a cerca do tema torna-se difícil, uma vez que essas espécies reativas apresentam meia-vida extremamente curta, dificultando sua mensuração in vivo, além disso, apesar dos RLs poderem deixar resquícios de sua atividade e produtos de seu metabolismo não necessariamente comprova que estes sejam os fatores causais do envelhecimento. A dificuldade se encontra em estabelecer se os RLs são a causa do envelhecimento ou simplesmente ocorrem durante o processo de envelhecimento. Apesar disso, a tarefa de desvendar tais questionamentos é importante, pois conhecendo as causas do envelhecimento e sua base molecular permitirá desenvolver meios efetivos para reduzir as perdas orgânicas associadas ao envelhecimento e a muitas doenças associadas (OLSZWER, 1994; WICKENS, 2001).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O envelhecimento é um fenômeno complexo que envolve inúmeros fatores, o que consequentemente, provoca a elaboração de várias hipóteses e teorias voltadas para explicar esse processo. Pela variedade de teorias fica evidente a falta de um consenso sobre os conceitos básicos que poderiam explicar o fenômeno biológico do envelhecimento, apesar de ser um processo palpável e visível.  Dentre as várias teorias do envelhecimento, nos últimas décadas, tem-se dado maior atenção à Teoria dos RLs, isto é, sobre a atuação destas espécies reativas e seus efeitos nocivos no organismo, enfocando principalmente a ação destes, no envelhecimento. De acordo com esta teoria, o comprometimento fisiológico desencadeado com o passar dos anos, seria em sua grande maioria oriundos da ação dos RLs sobre os constituintes orgânicos, em detrimento a uma menor atividade do sistema antioxidante. Tendo como base esses argumentos, pode-se considerar a Teoria dos RLs, viável e plausível, uma vez que, estudos comprovam a existência real dessas espécies no organismo e a sua atuação. Possivelmente a ação dos RLs, apesar de apresentar efeitos marcantes sobre o organismo, explique parte do fenômeno biológico do envelhecimento, somando-se às outras teorias, para que juntas, possam formar uma  teoria fundamental que esclareça, defina e interprete todas as modificações que ocorrem ao longo da vida e que repercutem no envelhecimento. Para isso, ainda será necessário uma série de pesquisas, para que se obtenha um amplo esclarecimento sobre esse processo instigante, chamado envelhecimento.

REFERÊNCIAS
ABDALLA, D. S. P.; LIMA, E. S. Peroxidação Lipídica: mecanismos e avaliação em amostras biológicas. Revista Brasileira de Ciências Farmacêuticas,
São Paulo, v. 37, n. 3, set./dez. 2001.
ALI, R.; ASHOK, B. T. The aging paradox: free radical theory of aging. Experimental Gerontology, Elmford, v. 34, n. 3, p. 293-303, jun. 1999.
ALMADA FILHO, C. de M. Antioxidantes e Radicais Livres. In: CANÇADO, F. A. X.; FREITAS, E. V.; GORZONI, M. L.; PY, L.; NERI, A. L. Tratado de Geriatria e Gerontologia. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2002. p. 744-748.
ARAÚJO, G. S. de; BAPTISTA, C. A.; BORGES, S. F.; CARVALHO, T.; DRUMMOND, F. A.; FREITAS, E. V.; HERNANDEZ, A. J.; LAZZOLI, J. K.; LEITE, N.; LEITÃO, M.; NAHAS, R. M.; NÓBREGA, A. C. L.; OLIVEIRA, M. A. B.; PEREIRA, J.; PINTO, M.; RADOMINSKI, R. B.; ROSE, E. H.; TEIXEIRA, J. A. C.; THIELE,
E. S. Posicionamento Oficial da Sociedade Brasileira de Medicina do Esporte e da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia: Atividade Física e Saúde no Idoso. Revista Medicina do Esporte, São Paulo, v. 5, n. 6, nov./dez. 1999. , nov. 2001.