Conceito de Resistência na Psicanálise

  •  Na psicanálise a palavra RESISTÊNCIA  toma um sentido bem particular e bem difundido, merecendo o status de um importante conceito psicanalítico.

Dois conceitos segundo dicionário psicanálitico:

  • conceito de resistência, na psicanálise, designa "o conjunto das reações de um analisando cujas manifestações, no contexto do tratamento, criam obstáculos ao desenrolar da análise" (Roudinesco & Plon, 1998, p. 659)
  • ou "tudo o que, nos actos e palavras do analisando, se opõe ao acesso deste ao seu inconsciente" (Laplanche & Pontalis, 1988, p. 595-6)
O conceito de resistência na obra de Freud

Freud agrupo esses conceitos de acordo com seus significados e contextos de uso:
  • Resistência da doença 
    •  resistência ao tratamento e à cura, mas ainda não se referia à psicanálise. 
    • Esse conceito de resistência tem uma grande semelhança com o conceito psicanalítico, na medida em que este também consiste na resistência ao tratamento, porém por parte do doente, não da doença.
  • Resistência do organismo ou do paciente
    • seria a resistência do organismo à doença.
  • Resistencia à hipnose e sugestão
    • Freud (1889/1987) já mencionava a resistência enquanto um obstáculo à hipnose na sua resenha do livro Hipnotismo, de August Forel, onde escreve que "essa influência apenas raramente se efetua sem resistência da parte da pessoa hipnotizada" (p. 118).
    • Em seu artigo Hipnose, de 1891, afirma que "sempre que surge uma intensa resistência contra o uso da hipnose, devemos renunciar ao método e esperar até que o paciente, sob a
    • influência de outras informações, aceite a idéia de ser hipnotizado" (Freud, 1891/1987,
    • p. 125).
    • A resistência à hipnose era, sem dúvida, uma resistência consciente, o que a afasta da concepção psicanalítica. 
    • A psicanálise, por seu lado, parece ter encontrado no inconsciente uma forma de  deslegitimar a resistência, interpretada como íntima ao mecanismo do recalque.
  • Ressitência à constituição do conceito psicanalítico;
  • Ressitência à concepção neurológica
  • Resistência a interpretação dos sonhos
    • "Sua opinião de que o sonho é absurdo significa apenas que você tem uma resistência interna contra a interpretação dele" (ibid., p. 154); 
    •  "Lembrei-me de minha resistência em proceder à interpretação, de quanto a havia odiado, e de como declarara que o sonho era puro absurdo" (ibid., p. 156). 
    • Freud fala também do sentido dos sonhos "com um estímulo dental", onde "havia  invariavelmente resistências fortíssimas a sua interpretação" (ibid., p. 363).
São elementos do conceito psicanalítico de resistência:  associação, lembrança (Há outros?)

O sentido eminentemente psicanalítico do conceito de resistência só apareça nos Estudos sobre a histeria, segundo Freud:

"A quantidade de afeto que devotamos à primeira associação de um objeto oferece resistência a que ela entre numa nova associação com outro objeto [...]" (Freud, 1893/1987, p. 190).

O fenômeno da resistência só vem se configurar efetivamente no último dos cinco relatados, o da Srta.
Elisabeth von R., cujo tratamento se iniciou no outono de 1892 e foi descrito por Freud como sua  primeira análise integral de uma histeria", sobre o qual conclui que aklgo acontecia a paciente que lhe escondia, e que não poderia se livrar de suas dores enquanto escondesse qualquer coisa. Freud conclui que:

 "A resistência que ela havia repetidamente oferecido à reprodução das cenas que atuaram de forma dramática correspondera, na verdade, à energia com que a representação incompatível fora expulsa de suas associações" (ibid., p. 170). Fala-nos ainda que a paciente "ofereceu forte resistência à tentativa de se promover uma associação entre o grupo psíquico isolado e o resto do conteúdo de sua consciência" (ibid., p. 177).

No seu ensaio sobre "A psicoterapia da histeria", última parte do seu livro com Breuer, Freud (ibid., p. 264) traz a questão da resistência um pouco mais sistematizada:

[...] a situação conduziu-me de imediato à teoria de que, por meio de meu trabalho psíquico, eu tinha de superar uma força psíquica nos pacientes que se opunha a que as representações patogênicas se tornassem conscientes (fossem lembradas). [...] De tudo isso emergiu, como que de forma automática, a idéia de defesa.

De fato, a defesa, que se havia tornado um importante critério na classificação das neuroses por Freud, estava intimamente relacionada à resistência. Creio que seja pertinente a observação de que os dois conceitos chegam a se confundir em alguns momentos, como no trecho a seguir: "[...] e durante todo o tempo tenho negligenciado de tal maneira o aspecto da defesa ou resistência" (ibid., p. 272). De fato, se restringirmos o conceito de resistência ao fenômeno do afastamento de certas representações da consciência, este será bem parecido com o de defesa, assim como com o de recalque. Entretanto, o conceito de resistência é mais amplo, e usado em múltiplos contextos.

Ainda neste ensaio, Freud apresenta a tarefa do terapeuta como a de superar a "resistência à associação" (ibid., p. 265), e vem salientar a importância do fator afetivo entre as motivações do médico para superar a resistência do paciente.

De fato, é em A interpretação dos sonhos, publicado em 1900, que o conceito de resistência,  toma uma forma mais elaborada em relação à teoria e à prática da psicanálise. O último sentido que o  conceito assume no seu livro sobre os sonhos é o da resistência ao tratamento ou análise de uma forma geral:

  • "Portanto, eu estivera comparando minha paciente Irma com duas outras pessoas que também teriam sido resistentes ao tratamento" (ibid., p. 131); 
  • "Esse sonhador pertencia a um tipo de pessoas cujas perspectivas terapêuticas não são favoráveis: até certo ponto, não oferecem absolutamente nenhuma resistência à análise [...]" (ibid., p. 344-5). 
  • Ou esta resistência pode ser dirigida especificamente ao analista:  "[...] quando um paciente se encontra num estado de resistência a mim [...]" (ibid., p.170)

  • "A psicanálise é justificadamente desconfiada. Uma de suas regras é que tudo o que interrompe o progresso do trabalho analítico é uma resistência" (ibid., p. 475). 

    Referência:  Recorte do Artigo: A gênese do conceito de resistência na psicanálise.  André Santana Mattos - http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2176- 106X2010000100002#1a

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