HISTERIA - Sigmund Freud

Final do seculo XIX, Freud descobriu o Inconsciente através do estudo das histéricas, a partir do qual elaborou o método de tratamento chamado Psicanálise.

Em 1885 publicou seus estudos sobre a histeria. Obra composta por relato de cinco casos clínicos, sendo que quatro deles foi o próprio Freud quem atendeu, enfatizando a importância que suas pacientes tiveram para a construção da Teoria Psicanalítica.

As histéricas ensinaram a Freud alguns dos principais fundamentos da Psicanalise. Ouvir para Freud tornou-se mais que uma arte, mas um método, uma via privilegiada para o conhecimento, ao qual os pacientes lhe davam acesso.

A escuta do terapeuta e a fala do paciente foram ganhando reconhecimento que a hipnose foi perdendo seu valor e sua importância, vindo a abandonar a hipnose, adotando um novo modelo de tratamento: A Técnica de Associação Livre.

Sigmund Freud desenvolveu através da observação atenta, a atenção flutuante, interpretação hábil da associação livre, sem o recurso da hipnose,e enfim, a elaboração sobre as causas dos sofrimentos e o que fazer com ele.

HISTÓRIA DA HISTERIA
  • O nome “histeria” tem origem nos primórdios da medicina e resulta do preconceito, superado somente nos dias atuais, que vincula as neuroses às doenças do aparelho sexual feminino. 
  • Na Idade Média, as neuroses surgiam sob a forma de epidemias, em conseqüência de contágio psíquico, e estavam na origem do que era fatual na história da possessão e da feitiçaria. 
  • A sintomatologia não sofreu modificação até os dias atuais. 
  • Os pobres histéricos, que em séculos anteriores tinham sido lançados à fogueira ou exorcizados, em épocas recentes e esclarecidas, estavam sujeitos à maldição do ridículo; seu estado era tido como indigno de observação clínica, como se fosse simulação e exagero. 
O QUE É A HISTERIA - NEUROSE / DEFINIÇÃO
  • É uma neurose no mais estrito sentido da palavra - não há achadas de alterações perceptíveis do sistema nervoso, como também não se espera que qualquer aperfeiçoamento das técnicas de anatomia venha a revelar alguma dessas alterações.
  • Baseia-se total e inteiramente em modificações fisiológicas do sistema nervoso.
  • Leva em consideração as condições de excitabilidade nas diferentes partes do sistema nervoso.
  • É definida de um modo puramente nosográfico, pela totalidade dos sintomas que ela apresenta,  se caracteriza por um grupo de sintomas - exoftalmia, bócio, tremor, aceleração do pulso e alteração psíquica -, sem qualquer consideração relativa a alguma conexão mais íntima entre esses fenômenos.
  • É um quadro clínico que pode ser reconhecido com bastante clareza nos casos extremos (Grade Histeria), pois há casos de Histeria do tipo normal.
SINTOMATOLOGIA
  1. GRANDE HISTERIA
  • ATAQUES CONVULSIVOS - são precedidos de uma “aura” peculiar: pressão no epigástrio, constrição na garganta, latejamento nas têmporas, zumbido nos ouvidos, ou partes desse complexo de sensações.  É especialmente conhecido o globus hystericus, uma sensação atribuível aos espasmos da faringe, como se uma bola estivesse subindo do epigástrio para a garganta. Apresenta três fases:
          I) A primeira, “epileptóide”, assemelha-se a um ataque epiléptico unilateral. 
      II) A segunda fase, a dos “grands mouvements”, apresenta movimentos de “salamaleque”, atitudes em arco (arc de cercle), contorções e outros. A força é muito grande. Para diferençar esses movimentos de um ataque epiléptico, deve-se observar que os movimentos histéricos sempre são executados com certa correção e de modo coordenado, o que contrasta nitidamente com a cega brutalidade dos espasmos epilépticos. Geralmente se evitam os ferimentos comparativamente graves. 
      III) A terceira fase, a fase alucinatória do ataque histérico, a das “attitudes passionelles”, distingue-se pelas atitudes e posturas que sugerem cenas de movimento passional, que o paciente alucina e freqüentemente acompanha com as palavras correspondentes.

Considerações importantes durante o ataque:
  • A consciência pode conservar-se ou se perder, o que é mais frequente.
  • Os ataques acontecem em série, podendo durar diversas horas ou dias.
  • Ataques com fases em partes separadas, fragmentados,  são mais frequentes do que ataques completos.
  • Podem exibir um como de forma apoplectiforme  - ataques do sono. Pode parecer um sono natural ou apresentar diminuição da respiração e da circulação a ponto de ser confundido com a morte. Não há aí sintoma de ataques. Pode durar semanas e meses.
Sua sintomatologia mostra que esse excesso é distribuído por meio de ideias conscientes ou inconscientes.

2. ZONAS HISTERÓGENAS
  • áreas supersensíveis do corpo, nas quais um leve estímulo desencadeia um ataque cuja aura muitas vezes começa por uma sensação proveniente dessa área.
  • Situa-se na pele, nas partes profundas, nos ossos, nas membranas mucosas, até mesmo nos órgãos dos sentidos. 
  • São encontradas com maior freqüência no tronco do que nos membros e têm preferência por determinados locais - por exemplo, nas mulheres (e mesmo nos homens), numa área da parede abdominal correspondente aos ovários, na região coronária do crânio e na região inframamária; e nos homens, nos testículos e no cordão espermático. A pressão nessas áreas desencadeia, com freqüência, não uma convulsão, mas sim sensações-aura. 
  • A partir de muitas das zonas histerógenas também é possível exercer uma influência inibidora sobre os ataques convulsivos; uma vigorosa pressão sobre a área ovariana, por exemplo, desperta muitas pacientes no meio de um ataque histérico ou de um sono histérico, usando um cinto semelhante a uma funda para hérnia, cuja almofada comprima a área ovariana. 
  • As zonas histerógenas às vezes são numerosas, às vezes poucas, e podem ser unilaterais ou bilaterais.
3. DISTÚRBIOS DA SENSIBILIDADE 
  • Mais frequentes e importantes para o diagnóstico.
  • desempenham um papel relativamente pequeno nas doenças cerebrais orgânicas.
  • Consistem em anestesia ou hiperestesia, variando em extensão e intensidade.
  • A anestesia pode afetar a pele, as membranas mucosas, os ossos, os músculos e nervos, os órgãos dos sentidos e os intestinos, porém é mais comum na pele.
  • Não há redução do sentido tato, podendo originar a alfalgesia, sensação de dor.
  • A anestesia histérica pode surgir em focos disseminados unilaterais ou bilaterais, ou simplesmente em determinadas áreas,  nos membros ou em áreas situadas sobre órgãos internos atingidos por alguma doença (faringe, estômago etc.).
  • Reduz os reflexos sensoriais, como: reflexo conjuntival, espirro e faringiano.
  • Reflexos vitais são mantidos, como córnea e glote.
  • Reflexos vasomotores e a dilatação pupilar mediante estimulação da pele não são interrompidos.
  • A anestesia histérica é sempre um sintoma a ser pesquisado pelo médico, de vez que, na maior parte dos casos, mesmo quando tem ampla extensão e grande gravidade, geralmente escapa totalmente à percepção do paciente. 
  • A anestesia orgânica, deve-se enfatizar que os distúrbios histéricos da sensibilidade, a rigor, não prejudicam os pacientes em nenhuma atividade motora.
  • As áreas da pele que estão histericamente anestesiadas caracterizam-se, com freqüência, por anemia local e não sangram quando picadas.
  • Os distúrbios da sensibilidade são os sintomas nos quais é possível basear um diagnóstico de histeria, mesmo nas suas formas mais rudimentares. Freqüentemente existe uma relação recíproca entre a anestesia e as zonas histerógenas, como se toda a sensibilidade de uma parte relativamente grande do corpo estivesse comprimida numa única zona.
4. DISTÚRBIOS DA ATIVIDADE SENSORIAL
  • podem afetar todos os órgãos dos sentidos 
  • podem aparecer simultaneamente com ou independentemente de modificações na sensibilidade da pele.
  • Distúrbio Histérico da Visão não tem relação com daltonismo, embora se perca a sensibilidade ao roxo, e ao vermelho e azul geralmente persiste mais tempo.
  • Os objetos que se aproximam do olho e que dele se afastam são vistos em tamanhos diferentes e duplicados ou multiplicados
  • Surdez Histérica raramente é bilateral, muito frequente, combinada com anestesia do pavilhão da orelha, do canal auditivo e até mesmo da membrana do tímpano.
  • Quando existe distúrbio histérico do paladar e também do olfato, via de regra é possível encontrar anestesia das regiões da pele e da membrana mucosa pertencentes aos órgãos desses sentidos.
  • São freqüentes em pacientes histéricos a parestesia (sensação anormal e desagradável sobre a pele que assume diversas formas (p.ex., queimação, dormência, coceira etc.) e a hiperestesia (paroxismo da sensibilidade, tendente a transformar as sensações ordinárias em sensações dolorosas; acuidade anormal da sensibilidade a estímulosdos órgãos inferiores dos sentidos; às vezes, há uma extraordinária exacerbação da atividade sensória, especialmente do olfato e da audição.
5. PARALISIAS
  • São mais raras que as anestesias.
  • Quase sempre apresentam anestesia da parte do corpo paralisada.
  • Pode ocorrer de um braço ou perna, ou de ambos (paraplegia)
  • Tende a transformar as sensações ordinárias em sensações dolorosas; acuidade anormal da sensibilidade a estímulo.
  • Paralisia das pernas pode paralisar órgãos internos como intestino, causando fraqueza muscular, e seguida de afonia, incapacidade de executar movimentos da fala, sem voz.
6. CONTRATURAS
  • O aparelho reage a pequenos estímulos através da contratura.
  • Excessiva intensidade e podem ocorrer em qualquer posição.
  • Não relaxam no sono.
  • Tende a aumentar os espasmos devido às contraturas.
7. CARACTERÍSTICAS GERAIS - SINTOMATOLOGIA DA HISTERIA
  • Se apresentam de forma exagerada; uma dor é descrita como extremamente dolorosa.
  • uma anestesia e uma paralisia podem com facilidade tornar-se absolutas; 
  • uma contratura histérica causa a maior retração de que um músculo é capaz. 
  • Pode ocorrer simultaneamente e isoladamente.
  • Os sintomas psíquicos têm sua significação dentro do quadro total da histeria, mas não são mais constantes do que os diferentes sintomas físicos, os estigmas. Por outro lado, as modificações psíquicas, que devem ser assinaladas como o fundamento do estado histérico, ocorrem inteiramente na esfera da atividade cerebral inconsciente, automática. 
  • Os pacientes histéricos funcionam com um excesso de excitação no sistema nervoso - excesso que se manifesta ora como inibidor, ora como irritante, deslocando-se com grande mobilidade dentro do sistema nervoso. 
EVOLUÇÃO DA HISTERIA - IMPORTANTE SABER
  • Seus primeiros sinais provavelmente aparecem na adolescência. A partir dos 15 anos se mostra ativa em meninas. Em geral, primeiros anos de um casamento feliz interrompem a doença, podendo reaparecer os sintomas quando as relações conjugais ficam mais frias
  • as doenças histéricas, mesmo as de gravidade considerável, não são raridade em crianças entre seis e dez anos. 
  • Na histeria infantil são encontrados os mesmos sintomas das neuroses dos adultos.
  • As crianças histéricas são, com bastante freqüência, precoces e altamente dotadas; em numerosos casos, a histeria é, por certo, simplesmente sintoma de profunda degeneração do sistema nervoso, que se manifesta em perversão moral permanente.
  • A histeria pode estar combinada com muitas outras doenças nervosas neuróticas e orgânicas, e tais casos oferecem grandes dificuldades à análise.
  • Via de regra, um homem histérico - ou uma mulher histérica - não constitui um único membro neurótico do círculo familiar
TRATAMENTO DA NEUROSE
  • Destaca-se três tarefas: o tratamento da disposição histérica, dos ataques histéricos (histeria aguda) e dos sintomas histéricos isolados (histeria local).
  • Cabe ao médico a escolha do tratamento.
  • O convívio com a família deve ser substituído por um período de internação em casa de saúde e a isto os parentes geralmente oferecem maior resistência do que os próprios pacientes.
  • A massagem e a eletricidade, os outros métodos terapêuticos não devem ser negligenciados.
  • Hidroterapia e Ginástica, encorajar a movimentação.
  • Pode-se utilizar a hipnose.

REFERÊNCIAS:
Obras completas de Sigmund Freud. Volume I.
Podcast - Professor Jose´Antonio Pereira.


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