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terça-feira, 20 de setembro de 2022

Anorexia e Bulimia na Adolescência

 A adolescência 

  •  período cronológico caracterizado como o processo de transição da infância para a vida adulta, com significativas transformações físicas, psicológicas, emocionais e sociais.
  • A Organização Mundial de Saúde define adolescência como o período da vida que começa aos 10 anos e termina aos 19 anos completos (DA COSTA et al 2019).
O que acontece na adolescência?
  •  O processo de solidificação da personalidade, 
  • o desejo de melhorar a aparência física 
  • a inserção em grupos de mesma faixa etária, com interesses semelhantes ocorrem na adolescência. 
  • os adolescentes sentem necessidade de serem aceitos e, para isso, acabam seguindo os preceitos de beleza expostos nos meios sociais e de comunicação, que são adotados pelos grupos nos quais se inserem. 
  • As marcantes transformações fisiológicas, psicológicas e sociais da adolescência modificam o relacionamento do indivíduo consigo mesmo, com a família e o mundo, proporcionando a formação da identidade e a busca da autonomia. 
  • A importância da adolescência na formação de hábitos e estilos de vida, bem como a vulnerabilidade deste grupo às questões socioeconômicas, às desigualdades de gênero, aos aspectos de raça/etnia e, aos diferentes tipos de preconceitos determinam a necessidade de uma atenção específica a este segmento populacional (BRASIL, 2010).
  • A qualidade de vida da criança e do jovem é muito mais abrangente que da criança e depende diretamente do etilo de vida proporcionado pela família e também, pelo meio ambiente em que eles vivem, como os aspectos relacionados à estrutura da cidade, muitas vezes determinados pelo Estado. 
  • Entre eles, destacam-se os itens de saneamento básico, acesso e programas de saúde pública, sistema público educacional, programas públicos de esporte e de atividade física (ARENA, 2017). 
  •  A literatura tem demonstrado que durante a adolescência, como um período de transição evolutiva entre a infância e a idade social adulta parece aumentar a presença de sintomas de ansiedade e depressão. 
  • A presença de sintomas psicossomáticos, de preocupações e de comportamentos de autolesão, também, aumenta na adolescência. 
  • Foi documentado que o aparecimento de sintomas clinicamente significativos na adolescência aumenta o risco de sofrer perturbações psicológicas na idade adulta (GÓMEZ-BAYA, MENDOZA, PAINO, SANCHEZ, & ROMERO, 2017). 
 São diversos os fatores que podem influenciar negativamente a saúde mental e o bem-estar dos adolescentes: 

  • a relação com os pares, 
  • o mal relacionamento com a família, 
  • o consumo de álcool, 
  • as perturbações mentais, 
  • a falta de competências pessoais e sociais, entre outros. 
Em contexto escolar, a saúde mental pode ser promovida através de programas preventivos que impliquem o governo, comunidade, família e escola (TOMÉ, MATOS, CAMACHO, GOMES, REIS & BRANQUINHO, 2018). 

Qualidade de vida e bem-estar

  •  A qualidade de vida e o bem-estar estão relacionados com a saúde mental dos adolescentes, nomeadamente, com os sintomas físico e psicológico, sintomas depressivos, ansiedade e stress, nível de preocupação, percepção de felicidade e comportamentos de autolesão (SAWYER, AZZOPARDI, WICKREMARATHNE, & PATTON, 2018). 
  • Verificam-se diferenças de gênero em relação a percepção de qualidade de vida e fatores associados à saúde mental (SANTOS et al 2019). 
  • A caracterização e compreensão da qualidade de vida e saúde mental dos adolescentes é fundamental para a identificação da população que corre maior risco de desenvolver problemas de saúde mental, o que é crucial para o planeamento de programas, promoção da saúde e programas de prevenção (GASPAR, et al 2018).  
  • A procura pelo corpo perfeito e a necessidade de obter aceitação podem gerar uma dissociação do corpo real e do corpo objeto de desejo, provocando a diminuição da autoestima e a insatisfação com a imagem corporal, o que concorre para o surgimento de transtornos psicológicos. 
Insatisfações com a Imagem corporal do jovem
  • A insatisfação com o corpo pode predispor ao desenvolvimento de transtornos alimentares em adolescentes, uma vez que eles estão suscetíveis (DA COSTA et al 2019). 
  • As últimas duas décadas registraram elevação no quantitativo de pesquisas que buscaram identificar a insatisfação de jovens quanto à sua imagem corporal, bem como o risco de desenvolvimento dos transtornos alimentares, com destaque para a anorexia nervosa e a bulimia nervosa. 
  • A insatisfação com o corpo e tais transtornos alimentares têm se apresentado cada vez mais frequente e precocemente, causando implicações para a saúde dos adolescentes, uma vez que podem contribuir para o desenvolvimento de quadros depressivos, diminuição da autoestima e tentativa de suicídio (DA COSTA et al 2019).
Diferenças clínicas 
  • Embora a AN e a BN em adolescentes compartilhem muitas semelhanças clínicas, as diferenças, às vezes, consideráveis, entre esses dois transtornos precisam ser levadas em conta.
  •  Existem questões diagnósticas específicas para as quais o terapeuta deve definir uma estratégia distinta para a BN, opostamente à AN (LE GRANGE et al 2020):
1- Comorbidade: 
  • talvez a diferença potencial mais importante na apresentação clínica entre AN e BN seja a presença de comorbidades psiquiátricas. 
  • Pode-se dizer que a BN na adolescência cobre um continuum  sintomático mais amplo, quando comparada à AN. 
  • O manejo da BN em adolescentes, portanto, pode ser consideravelmente mais difícil, no sentido de que doenças comórbidas têm potencial para desviar o terapeuta da tarefa principal imediata. 
  • Na AN, nenhuma outra condição comórbida, exceto a tendência suicida aguda, pode superar a auto-inanição, tornando mais fácil a tarefa do terapeuta de ater-se ao transtorno alimentar. 
2- Ênfase sintomática: 
  • Enquanto a AN diz respeito a uma redução do peso ostensivamente por razões de “saúde”, a BN tem mais a ver com a superestimativa da forma física. Além disso, o DSM (Manual de Diagnóstico e Estatística de Transtornos Mentais) traça uma clara distinção entre a AN e a BN; enquanto a ênfase na AN está claramente sobre um emagrecimento significativo, a BN concentra-se em episódios de consumo alimentar compulsivo, seguidos por comportamentos compensatórios inapropriados, como vômitos autoinduzidos e abuso de laxantes. 
3- Estilo familiar: 
  • Famílias de pacientes com BN também demonstram estilos de relacionamento diferentes daqueles de famílias com pacientes com AN. 
  •  Enquanto as famílias de pacientes com AN tendem mais a evitar conflitos e anseiam por manter uma impressão de boa educação, as famílias de pacientes com BN, com frequência, tendem a ser um pouco mais desorganizadas e conflituosas, convidando o terapeuta a estabelecer alguma ordem. 
4- Orgulho x vergonha: 
  • A BN está associada a vergonha considerável, e as pacientes relutam em revelar seus sintomas. 
  • Na AN, por outro lado, a vergonha está associada à alimentação, enquanto as pacientes muitas vezes extraem um orgulho considerável de seus sintomas. Esta diferença pode facilitar a mudança, na BN; apesar de esconderem os sintomas, a vergonha associada com eles pode servir como um motivador para a mudança. 
Existem, também, aspectos ou características psicológicas específicas para as quais o terapeuta deve traçar uma estratégia distintiva para a BN, em oposição à AN (LE GRANGE et al 2020): 

1- Motivação por parte dos pais
  • pacientes jovens com transtornos alimentares raramente se sentem motivados para o tratamento, mas com sinais óbvios de inanição na AN, provavelmente os pais têm mais facilidade para separar a doença da paciente e para se motivarem a assumir o encargo da restauração do peso. 
  • Na BN, a motivação é mais dúbia, e o terapeuta pode ter de se esforçar muito mais para informar os pais sobre a natureza secreta da BN, de maneira que possam encontrar um modo de ajudar as filhas adolescentes que não parecem bem. 
2- Independência:
  •  Comparados com pacientes médios com AN, jovens com bulimia muitas vezes dão a impressão de terem estabelecido um grau muito maior de independência, mesmo se essa é, com frequência, bastante ambivalente.
  •  Enquanto na AN a independência é geralmente um ato voluntário, na BN ela ocorre mais como uma reação a outras pessoas. 
  • No fim, nem o paciente com AN nem aquele com BN é realmente independente. 
  • A aparência de maior independência pode ter consequências óbvias para o tratamento, no sentido de que os pais podem ter aceitado o nível de independência que suas filhas estabeleceram de uma maneira tal que pode ser difícil retornar a uma posição na qual exercem um controle maior sobre sua alimentação e sobre outras liberdades do que realmente desejariam exercer. 
  • Similarmente, a adolescente com BN pode não aceitar a aparente interferência dos pais em suas liberdades com a facilidade com que muitos jovens com AN aceitariam. 
  • A tarefa dos pais é ajudar a reduzir a ansiedade da filha e colocá-la de volta na “trilha certa” da adolescência. 
  • Em outras palavras, os pais estão “consertando” as filhas; as adolescentes com bulimia ainda podem apresentar regressão, embora não com a mesma gravidade dos adolescentes com AN. 
3- Insight psicológico: 
  • Algumas pacientes demostram insight acerca de seu dilema, enquanto outras não reconhecem que têm um problema. 
  • O desafio para o terapeuta de convencer a paciente de que precisa da ajuda dos pais para lidar com a bulimia será muito maior se ela rejeitar teimosamente a ideia de que tem uma doença grave. 
  • Em nossa experiência, contudo, a maioria das adolescentes com BN entende que não estão bem e sentem alguma motivação para superar suas dificuldades com a alimentação (a BN é sentida como mais distônica ao ego).
  •  Por outro lado, adolescentes com AN, em geral, relutam em entreter o pensamento de que estão gravemente enfermas - apresentando uma negação que representa um dilema particular para os médicos que precisam ajudar tais pacientes a alterarem seus comportamentos. 
4- Experimentação da adolescência:
  • Adolescentes com BN estão mais propensas que suas colegas com AN a terem experimentado uma faixa mais ampla de problemas da adolescência (por exemplo, relacionamentos amorosos precoces e drogas). 
  • Isso não apenas pode complicar os esforços do terapeuta para manter a família concentrada no restabelecimento de hábitos alimentares saudáveis para os adolescentes, mas os pais podem considerar mais difícil intervir no grau considerado desejável pelo terapeuta, se sentem que têm uma adolescente relativamente independente, com muitas experiências diferentes, com a qual precisam lidar, alguém que veem como além de seus esforços de instrução ou orientação. 
5- Pressão do grupo de companheiras: 
  • Em linha com os dois últimos temas, adolescentes com BN estão mais ligadas ao seu grupo de colegas e, portanto, podem sentir maior pressão para ajustarem-se às expectativas deste grupo. 
  • Novamente, isso pode complicar a tarefa do terapeuta e dos pais para descobrirem como esses podem ter um impacto significativo sobre o transtorno alimentar da filha, à luz das expectativas (por exemplo, por um corpo “perfeito”) do grupo de colegas. 
  • Entretanto, o fato de a adolescente com AN geralmente sentir-se menos envolvida com seu grupo de companheiras e mais isolada em termos sociais não torna o tratamento menos difícil, embora por razões diferentes.

segunda-feira, 25 de abril de 2022

Indicação de Livro: A Clínica Gestáltica com Adolescente.

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A prática clínica da Gestalt-terapia cresce a olhos vistos, e cada vez mais são necessárias leituras e produções que auxiliem o leitor - seja ele profissional ou estudante de psicologia - a compreender melhor o universo do adolescente. Neste livro, autores engajados e atuantes relatam suas experiências no campo educacional, institucional e na clínica, tecendo reflexões e trazendo novas possibilidades de intervenção. Entre os temas abordados na obra estão transtorno de conduta, conflitos com a lei, bullying, orientação profissional e o papel da família durante o tratamento. Prefácio de Lilian Frazão.

Indicação de Livro: Transtornos Clínicos da Infância e da Adolescência

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Este livro traz um olhar compreensivo da Gestalt-Terapia sobre as principais psicopatologias da infância e da adolescência. O princípio da totalidade postula que o adoecimento da sociedade leva ao adoecimento da família, que, por sua vez, adoece o(s) filho(s). Tudo e todos estão interligados. Nada existe por si só, ninguém adoece sozinho, os distúrbios emocionais emergem da relação entre indivíduo e ambiente. Saúde e doença dependem da personalidade e das condições ambientais, fazem parte do ciclo da vida. Antes de apresentar a concepção de doença, discorro sobre saúde, pontuando ser um fenômeno multifacetado, com vários lados de manifestação, como vivacidade, espontaneidade, criatividade, originalidade. Abordo ainda a formação da autoestima, do autoconceito e do autossuporte como processos interdependentes no desenvolvimento da personalidade e do funcionamento saudável, ressaltando que uma boa autoestima está associada a bons pensamentos sobre si (e vice-versa) e, desse modo, o indivíduo torna-se capaz de ser seu próprio apoio para expressar seus sentimentos e pensamentos autênticos e para lidar com situações de tensão. A obra cursa na direção de apontar a doença como tentativa da criança ou do adolescente, em sofrimento psicológico, salvar o reinado do amor e da saúde da família ao se tornar a vítima, o doente, o porta-voz do desequilíbrio do sistema familiar.

Gestalt-terapia com crianças e adolescentes - Atendimento aos Pais/ Sheila Anthony

 Atendimento aos pais na GT:

  • O sintoma apresentado pela criança é apenas uma figura que emerge de um fundo que reflete um aspecto de sua totalidade e da totalidade de seu sistema familiar.
  • A presença de problemas emocionais e comportamentais da criança está nos pais - os pais projetam suas tragédias infantis na relação com seus pais, em seus filhos. Delegam seus dramas aos seus filhos.
  • Nas relações de medo da criança/adolescente em relação aso pais, traz a tona a disfuncionalidade do sistema familiar como um todo. As crianças captam as necessidade dos pais(minha mãe precisa que eu rpecise dela). É melhor que fique calado, contenha minha alegria, por que meu pai grita comigo. Passa a privilegiar as necessidades dos pais, e a da criança ou adolescente fica de fundo.
  • criança - figura- queixa-sintoma-parte
  • Convoca-se os pais a serem coparticipante no processo terapêutico da criança e do adolescente. Os pais precisam se tornar aliados, parceiros para o tratamento psicoterápico da criança e do adolescente.
  • Os pais provocam tensão na relação terapêutica, desafiam o terapeuta. Primeiro trazer os pais, dar consciência de que são importantes na mudança dos filhos. A criança muda se o campo muda também. A tarefa do terapeuta é ampliar a consciência. 
  • Ampliar a consciência dos pais sobre seus filhos sobre esse olhar julgador, critico, parcial sobre seus filhos. Sensibilizar os pais com o sofrimentos dos filhos é essencial.
  • Conversar com os pais e levá-los a idade que tinham na idade de seu filho, como eram nas suas relações, seus problemas.
  • Adoecimento é excessos ou faltas de determinadas expressões, emocionais, comportamentos, etc. Equilíbrio é saúde.
  • No trabalho com os pais o terapeuta busca promover a comunicação genuína entre eles e os filhos, falar de seus medos. 
  • Com o adolescente é importante levar os pais a renegociarem os valores, os horários, atribuindo responsabilidades e incentivando a autonomia.
  • Pais temem a perda do filho adolescente, quando em busca de sua individuação, de sua autonomia. Reconhecer a individualidade do outro é essencial. É preciso reconhecer o momento de EU, TU e NÓS.
  • Reconhecer e respeitar as limitações de cada um. Um problema que vive o adolescente quando descobre que já não são mais aqueles deuses, os heróis, que também, são frágeis, porém, ainda precisam ter pais que servem de apoio e que podem contar.

quarta-feira, 23 de março de 2022

Recurso para situar o cliente adolescente, na sua fase do desenvolvimento.




  • Tem como objetivo primeiro, facilitar o contato do cliente, com o modo de ser e estar no mundo, estimulando a relação dialógica para que se possa chegar a awareness.
  • Situando o Adolescente para identificar os aspectos fenomenológicos que está vivenciando e com os quais se identifica.

segunda-feira, 13 de setembro de 2021

A Orientação Profissional e a Crise na Adolescência

  • identifica as principais influências dos adolescentes em seus processos de escolha profissional
  • como as principais fontes de informações e suas percepções com relação à importância de uma orientação profissional adequada. 
  • avaliou-se o nível de ansiedade apresentado por cada aluno durante este processo de escolha
  • pretende demonstrar a importância da orientação profissional, especialmente no período da adolescência
A adolescência...
  • fase do desenvolvimento humano que se encontra entre a infância e a fase adulta
  • ocorrem transformações de ordem física, psíquica e social
  • o adolescente vivencia diversas experiências e escolhas que envolvem toda sua expectativa de vida.
  • Finaliza o ensino Médio.
  •  o adolescente se vê diante da possibilidade de escolher continuar os seus estudos (mediante ingresso em curso técnico ou superior) ou ingressar no mercado de trabalho. 
  • precisa definir o seu futuro e buscar a sua independência
  • sofre uma forte influência da sua família e dos seus companheiros
  • a família projeta seus desejos e expectativas
  • abarcam todo o mundo emocional e intelectual do indivíduo, assim como sua vida social.
  •  Sparta e Gomes (2005) afirma que“não só fisiológicas, cognitivas e psicológicas, mas também em relação aos papéis sociais a serem assumidos pelo indivíduo”
Principais influências dos adolescentes em relação à escolha profissional
  • os temores e expectativas dos mesmos com relação ao ingresso no curso superior; 
  • os meios apresentados e/ou buscados pelos adolescentes para sanar suas dúvidas com relação a suas opções e a quantidade de informações específicas disponíveis para os adolescentes
  • Santos (2005 apud BECKER; BOBATOet al., 2012) explica que:
    • os fatores que influenciam o jovem podem variar desde suas características individuais a suas convicções políticas e religiosas, passando por seus valores e crenças, sua situação político-econômica, a família e seus pares. 
    • Dessa maneira, conhecer todos esses aspectos se faz tão importante quanto o conhecimento de si, visto que, ao refletir sobre tais influências, os jovens podem desenvolver uma visão crítica que dê espaço a identificação dos pontos positivos e negativos que direcionam suas escolhas. 
    • a literatura aponta a família como um dos principais fatores que podem tanto facilitar como dificultar o processo de escolha do adolescente com isso, o indivíduo acaba, inevitavelmente, fazendo uma escolha com base nos valores de sua família
  • Almeida e Pinho (2008, p. 173) apontam que:
    •  a família como o principal elemento que pode tanto ajudar quanto dificultar a escolha profissional. 
    • O processo de orientação profissional pode analisar e trabalhar estas influências de várias maneiras, de forma a ajudar o adolescente a entendê-las para assim poder utilizá-las de maneira consciente em sua tomada de decisão
    • na escolha da profissão, além dos interesses e aptidões do indivíduo, importará a forma como ele vê o mundo e como vê a si próprio. 
    • importará as informações que ele  detiver sobre as profissões existentes no mercado de trabalho e as influências recebidas do seu meio. 
    • A influência da família poderá ser exercida de forma mais expressa ou de forma mais discreta e manipuladora. 
    • Ao nascer, já trazemos conosco uma enorme expectativa por parte da família, visto que nossos pais ou criadores, via de regra, depositam seus sonhos em nós.
  •  Filho (2002 apud BECKER; BOBATOet al., 2012) explica que:
    •  ao se identificar com alguém por meio de sua ocupação, o adolescente cria expectativas e estereótipos com relação àquela profissão. 
    • Os amigos, por outro lado, teriam relação com a questão social e de status.
A Orientação Profissional ou Vocacional realizada pelo Psicólogo
  • Dá suporte ao indivíduo que não consegue decidir quanto a sua carreira profissional e que apresentam dúvidas quanto ao que querem ser e qual caminho deve seguir.
  • Abrange desde o aconselhamento do indivíduo até a sua escolha profissional
  • Auxilia-o para um autoconhecimento e desenvolvimento de interesses, aptidões e domínios.
  •  O serviço de orientação profissional ajuda ao sujeito a tornar-se cidadão, a encontrar sua identidade profissional, estruturando também sua identidade pessoal, permitindo assim um projeto de vida permeado de responsabilidade.
Pressupostos necessários à prática da Orientação profissional:
  • deve estar ciente do papel a desempenhar e de sua responsabilidade com o sujeito.
  • consolidar a relevância das políticas públicas que possam acompanhar e fiscalizar os serviços prestados de orientação, que precisam estar de acordo com as orientações da Associação Brasileira de Orientação Profissional (ABOP).
  • Pode ser feito por equipe muldisicplinar mas é preciso ressaltar que é exclusivo apenas ao psicólogo a aplicação de testes e avaliações psicológicas
  • sugerir aos pais trabalhem numa relação de colaboração junto aos psicólogos, podendo de fato contribuir para o desenvolvimento vocacional dos seus filhos, prestando-lhes um apoio mais qualificado.
Para Silva, Oliveira e Coelho (2002)...

  • ... ao profissional da orientação profissional caberá guiar o adolescente nesse difícil processo de conscientização de suas próprias necessidades, dando-lhe a oportunidade de conversar sobre suas dificuldades, sobre os obstáculos encontrados, as apreensões, medos, dúvidas, interesses, aptidões e desejos.
Para Ferretti (1997 apud NEPOMUCENO; WITTER, 2010)...
  • ...  hoje em dia a orientação profissional é uma intervenção onde o orientador minimiza os fatores que dificultam a decisão profissional e objetiva auxiliar a pessoa em sua escolha de maneira que realize uma opção ocupacional adequada para si.
Para Rocha (2010 apud NORONHA; AMBIEL et al., 2010)...
  • ... durante o processo de orientação profissional, a pessoa é levada a conhecer suas características pessoais, em especial seus interesses, escolhas, valores, personalidade, aptidões, motivações e perspectivas de carreiras
A Orientação Profissional e a Crise na Adolescência.
  • Lisboa (1997 apud ALMEIDA; PINHO, 2008) explica que a identidade ocupacional está diretamente ligada à identidade pessoal e ambas abrangem todas as identificações feitas pelo adolescente durante sua vida.
  • Conger e Petersen (1984 apud ALMEIDA;PINHO, 2008) afirmam que a constituição da identidade ocupacional é uma das principais tarefas desenvolvimentais da adolescência. 
  • em meio a toda a crise vivida na adolescência, os jovens de hoje têm que construir sua identidade ocupacional
  • Hirt e Raitz (2010, p. 22-23) afirma que as influências presentes na escolha da profissão envolve:
    • o lugar da residência, 
    • o sexo, 
    • passa pela ocupação dos pais, 
    • pelo salário oferecido,
    • o status, dentre outros.
  • Lucchiari (1993 apud NORONHA; AMBIEL; FRIGATTO, 2010, p. 3), afirma que tal processo exige um nível de autoconhecimento que em alguns casos pode propiciar um desconforto.
  • Nepomuceno e Witter (2010) afrma que a escolha de uma profissão é uma das decisões mais sérias da vida de alguém, visto que ela irá determinar, de certa maneira,o destino da pessoa, assim como seu estilo de vida, a sua educação e até o tipo de pessoas com quem irá conviver no trabalho e na sociedade. Segundo os mesmos autores, a principal dificuldade ainda é desfazer os mitos que rondam as profissões e informar aos jovens sobre as profissões, as carreiras, as possibilidades de cursos técnicos e superiores e sobre o mercado de trabalho com informações concretas e atualizadas.
 Referências:

Artigo de Adriana Carla de Britto Silva; Vivian Maria Bezerra Melo; André Fernando de Oliveira Fermoseli. 

quinta-feira, 3 de junho de 2021

A Entrevista de Anamnese

 

  • coleta de informações aprofundadas sobre o avaliando, focando as áreas mais importantes de sua vida e os motivos que o levaram a buscar atendimento.
  •  essas informações  que irão fundamentar a formulação das hipóteses diagnósticas iniciais e, consequentemente, a escolha de instrumentos e técnicas a serem utilizados no psicodiagnóstico, os psicólogos, em geral, realizam uma extensa entrevista sobre a história de vida da pessoa.
  • A Entrevista de Anamnese...

  • é um tipo de entrevista realizada para investigar a história do examinando, ou seja, os aspectos de sua vida considerados relevantes para o entendimento da queixa.
  • anamnese significa trazer à consciência os fatos relacionados à queixa e à história do avaliando.
  • Em caso de crianças a anamnese é feita com pais ou responsáveis.
  • A anamnese é um tipo de entrevista clínica direcionada a investigar fatos e, por isso, o psicólogo tem uma posição mais ativa nos questionamentos.
  • é o momento de coletar informações, devendo evitar posicionamentos a respeito.
  • A entrevista de anamnese tem caráter investigativo, priorizando o levantamento de informações cronologicamente organizadas e que guiam a tomada de decisão sobre como prosseguir com a avaliação (Cunha, 2000)
  • geralmente é feita em forma de entrevista semiestruturada, ou seja, há um roteiro prévio contendo aspectos essenciais a serem abordados para orientar algumas pergun tas, e esse roteiro vai sofrendo adaptações durante a entrevista.
  • Antes de iniciar a anamnese, é necessário estabelecer um rapport adequado com o informante, explicando os objetivos gerais da entrevista, bem como sua duração e seu papel no processo de psicodiagnóstico.
  • Durante a entrevista de anamnese, vamos construindo imagens e percepções sobre o avaliando, estando ele presente ou não.
  • é um recurso limitado
  • O psicólogo precisa ter habilidades para perguntar, escutar, prestar atenção no informante e anotar o que ele diz. As respostas do entrevistado devem ser anotadas com exatidão e, preferencialmente, nas palavras dele, a fim de se evitar interferências da interpretação do psicólogo no registro.
  • Pode-se gravar audio na anamnese 
  • Deve-se sempre informar e pedir a autorização do avaliando ou do informante para todas as formas de registro.

  • Anamnese com crianças...
    • a avaliação da história pré e perinatal e o alcance dos marcos do desenvolvimento têm uma importância central
    • condições de saúde física e mental da mãe durante a gravidez e após o nascimento do bebê, sobre a realização de acompanhamento pré-natal e sobre possíveis intercorrências na gravidez (quedas,
    • acidentes e outros eventos significativos). 
    • Também devem ser registrados detalhes sobre o parto, sobre as condições emocionais e de saúde da mãe neste momento, sobre as condições da criança ao nascer, sobre o índice Apgar no primeiro e no quinto minuto, sobre as características e capacidades iniciais do bebê, sobre a reação dos pais, sobre a ocorrência de conflitos familiares na época, entre outros.
    • deve-se explorar os indicadores  esperados para a idade, envolvendo o período de alcance de um marco do desenvolvimento específico e a qualida de com que a criança passou a desempenhar aquela habilidade.
    Anamnese com Adolescentes.
    • deve considerar as diversas mudanças que ocorrem nessa fase, especialmente as hormonais, físicas e relacionadas à formação da identidade.
    • Deve-se dar atenção especial à socialização, ao interesse em relacionamentos íntimos, às questões relacionadas à sexualidade, ao histórico escolar e aos problemas específicos dessa fase da vida.
    • Erickson (1976) caracterizou a adolescência como uma fase especial no processo do desenvolvimento, em que a confusão de papéis e as dificuldades para estabelecer uma identidade própria marcam a transição entre a infância e a vida adulta.
    • Quanto à socialização, as relações na adolescência tendem a se tornar mais amplas e importantes
    • Comportamentos opositores podem surgir ou se acentuar nessa fase da vida
    • investigar as relações do adolescente com os pais, irmãos, amigos, colegas, figuras de autoridade e de identificação (Cunha, 2000).
    • Investigar sobre a sexualidade, a vida escolar,
    Anamnese com adultos...
    • o desenvolvimento nas fases anteriores da vida é investigado em termos da possível ocorrência de problemas pregressos relevantes, sem grande detalhamento.
    • As questões mais importantes referem-se às de mandas desenvolvimentais esperadas nos âm bitos sexual, familiar, social, ocupacional e físico. 
    • Hutteman, Hennecke, Orth, Reitz e Specht (2014)propõem que os aspectos mais centrais da vida dos adultos podem ser organizados em cinco domínios:
      •  (1) relacionamento íntimo, 
      • (2) vida familiar, 
      • (3) vida profissional, 
      • (4) vida social e 
      • (5) alterações físicas
    • avaliar a qualidade das relações com o parceiro ou cônjuge, envolvendo a satisfação geral com a relação, a área sexual, os padrões comportamentais do casal, os pontos positivos e possíveis problemas enfrentados.
    • Quanto ao domínio da vida familiar, deve-se enfocar a qualidade das relações e de tarefas como administrar o lar e dividir responsabilidades com os demais membros da família.
    • Em relação à vida profissional, que tem papel central na vida do adulto, merecem atenção a situação ocupacional, a satisfação com o próprio desempenho na carreira, a concretização ou não de planos e metas de vida, a satisfação com o trabalho e com as condições financeiras, e os relacionamentos com a chefia, colegas e subordinados.
    • Quanto à vida social, deve-se buscar informações sobre a rede de contatos do adulto e a importância que ele atribui aos seus relacionamentos
    Anamnese com Idosos...
    • Além do que foi dito, é importante considerar aspectos do envelhecimento e perdas ocorridas ao longo da vida que possam estar relacionadas à queixa.

    Fontes complementares de informação...

    • Exames neurológicos, genéticos, psiquiátricos, fonoaudiológicos, entre outros, podem esclarecer muito sobre a queixa do paciente, direcionar hipóteses diagnósticas e melhorar a acurácia da avaliação.
    •  Os registros escolares, como cadernos, provas, boletins e documentos produzidos por professores, também podem ter muita relevância na avaliação. 
    • Os registros digitais, por meio de fotos e vídeos, também podem ser fontes preciosas de informação.

    Importância dos conhecimentos teóricos para a entrevista de anamnese

  • exige conhecimentos de áreas diversas, como desenvolvimento humano, técnicas de entrevista, processos psicológicos e psicopatologia.
  • O psicólogo deve ter conhecimentos suficientes sobre os fenômenos avaliados ou buscar esses conhecimentos para a compreensão posterior dos dados coletados.
  • ter  conhecimentos sobre eventos recorrentes na clínica, como a ação dos psicofármacos, seus efeitos colaterais e suas possíveis interferências no desempenho em testes ou na sintomatologia do paciente. 
  • conhecimento das características dessa síndrome e dos efeitos colaterais do medicamento permite descartar a hipótese de transtorno de tique

  • Importante observar...
    • Quando a anamnese é pouco informativa ou confusa, torna-se necessário recorrer a outras fontes de informação para tentar reconstituir a história do avaliando. 
    • Em caso de confusões, informações divergentes ou incompletas, uma estratégia bastante útil é perguntar a mesma questão de diferentes formas e em momentos diferentes da entrevista.
    • As perguntas que sugerem respostas diretas, do tipo sim ou não, devem ser evitadas na anamnese.
    • O conhecimento do vocabulário e o domínio da mesma língua do informante não impedem a ocorrência de dificuldades de compreensão da fala espontânea
    • Para a anamnese ser bem realizada, o psicólogo deve ter conhecimentos teóricos sobre o que pretende avaliar e estar atento a estratégias que otimizem a qualidade das informações coletadas.


    Referências:

    HUTZ et al, 2016. Cap.6 - Mônia Aparecida Silva e Denise Ruschel Bandeira

    segunda-feira, 30 de novembro de 2020

    Ideações e tentativas de Suicídio em Adolescentes com Práticas Sexuais Hetero e Homoeróticas.

      O Artigo...

    • buscou conhecer as associações entre orientação sexual e ideações e tentativas de suicídio.
    • evidenciou-se que os não heterossexuais têm mais chances de pensarem e tentarem suicídio, comparativamente aos heterossexuais. 
    •  dentre o grupo de adolescentes que se assumiram não heterossexuais, os que estão mais vulneráveis são aqueles que se autodefiniram bissexuais e “outros”, os quais constituem o grupo de pessoas menos assumidas, dentre os não heterossexuais.
    • constatou-se que os respondentes apresentam diversas opiniões e valores homofóbicos, sexistas e heterocentrados, o que revela ser o espaço escolar, onde se encontram esses jovens não heterossexuais, bastante carregado de posicionamentos discursivos discriminatórios.
    •  a questão do suicídio é uma problemática de saúde pública
    •  jovens não heterossexuais necessita de abordagens específicas para a prevenção e de atenção relativas a essa conduta.
    •  estudos sobre as homossexualidades não desconsideram as implicações das normas sexuais na construção das identidades lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais e transgêneros (LGBTs)
    Segundo Katz (1996) e Spencer (2004) a Heterossexualidade...

    •   passou a ser sinônimo de normalidade apenas em fins do século XIX, quando se construiu o discurso de que ela seria a forma ideal de felicidade amorosa e erótica, em oposição à homossexualidade. 
    •  tornou-se referência legítima dos desejos, ideais, princípios e valores (heteronormatividade)um sentimento de superioridade em relação a todas as outras manifestações plurais das sexualidades (heterossexismo)
    Cardoso (2003) - Heterossexismo...

    • assume que o heterossexismo é um mito e, como tal, uma inverdade que “explica o mundo do desejo e do amor e, principalmente, [ele] garante a estabilidade das coisas
    • – o heterossexismo justifica uma ordem moral intocável; intocável porque não é questionada, não é avaliada; é aceita como um mito, uma verdade óbvia, natural e universal.
    Moreno (1999) e Welzer-Lang (2001) - Sexismo...
    • e a suposta superioridade dos homens (biologicamente falando) em relação às mulheres, o qual pode se desdobrar, por exemplo, no machismo. 
    Homofobia...
    •  é entendida como o medo ou o descrédito quanto às pessoas homossexuais ou àqueles que são presumidos o serem, bem como a tudo que faça referência aos atributos, esperados para um sexo, encontrados em outro sexo (Welzer-Lang, 2001). Segundo Tin (2003)
    • pode igualmente se voltar à própria pessoa homossexual, já que imprime sobre o sujeito uma negatividade em relação à homossexualidade e às pessoas homossexuais (Eribon, 2008)
    •  é um dispositivo de controle, no sentido foucaultiano (Foucault, 1988)
    • busca afastar todo e qualquer questionamento ou desestabilização da naturalização da norma(lidade) da conduta heterossexual, fundando, dessa forma, bases para o reforço do binarismo dos gêneros, o qual se aprende (Clauzard, 2002)
    • promove uma percepção negativa e homogeneizada da homossexualidade, no campo social, que resulta, no campo individual, em uma homofobia interiorizada.
    Estigma....
    •  pode ser considerado como dispositivo de controle 
    • tem por objetivo  a manutenção, em alguns grupos que exibem uma diferença indesejável, do sentimento de menosvalia social imputado a eles
    •  determina inexoravelmente a sua desqualificação como Sujeitos de Direito que ao mesmo tempo que vêem negada a sua cidadania, negam-se a conquistá-la.
    • O registro negativo imputado pelo estigma provoca o que Erving Goffman descreveu como identidade deteriorada. (1988).
    Borrillo (2000) aponta que as pessoas homossexuais são vitimizadas do seguinte modo: 

    1) Os homens homossexuais são vitimizados, pois, em sendo homo, se “igualam” às mulheres na posição de eventual receptor do pênis. Logo, são vistos como “efeminados”, deixando de fazer parte do universo viril. Por isso, o estereótipo de que todos os homossexuais masculinos são “mulherzinhas”, “desmunhecados” e/ou “maricas”. 

    2) De outro lado, as mulheres homossexuais são vitimizadas, já que, em sendo homo, supostamente deixam de cumprir sua função de “fêmea” reprodutora dos filhos “de um macho”, e não são aceitas no universo viril, ainda que emasculadas, pois não possuem o pênis. Em acréscimo, ao se identificarem enquanto lésbicas, assumem uma postura ativa em relação ao seu desejo sexual. Como tal atividade é exclusiva do universo masculino, elas são rechaçadas pelos homens e pelas outras mulheres, pois quebraram a barreira do silêncio em relação à suposta passividade feminina.

    Blumenfeld (1992), Isay (1998) e Hardin (2000) assinalam que tais efeitos englobam: 

    1) Negação da sua orientação sexual (do reconhecimento das suas atrações emocionais) para si mesmo e para os outros; 
    2) Tentativas de mudar a sua orientação sexual; 
    3) Sentimento de que nunca se é “suficientemente bom”, o qual conduz à instauração de mecanismos compensatórios, como, por exemplo, ser excessivamente bom na escola ou no trabalho (para ser aceito); 
    4) Baixa autoestima e imagem negativa do próprio corpo, depressão, vergonha, defensibilidade, raiva e/ou ressentimento – o que pode levar ao suicídio já em tenra juventude;
     5) Desprezo pelos membros mais “assumidos” e “óbvios” da comunidade LGBT; 
    6) Negação de que a homofobia é um problema social sério; 
    7) Projeção de preconceitos em outro grupoalvo (reforçados pelos preconceitos já existentes na sociedade);
    8) Tendência de tornar-se psicológica ou fisicamente abusivo, ou permanecer em um relacionamento abusivo; 
    9) Tentativas de se passar por heterossexual, casando-se, por vezes, com alguém do sexo oposto, para ganhar aprovação social ou na esperança de “se curar”; 
    10) Práticas sexuais não seguras e outros comportamentos autodestrutivos e de risco (incluindo a gravidez e o de ser infectado pelo vírus HIV); 
    11) Separação de sexo e amor e/ou medo de intimidade, capaz de gerar até mesmo um desejo de ser celibatário(a); 
    12) Abuso de substâncias (incluindo comida, álcool, drogas e outras).

    Epidemiologia de Suicídio em Adolescentes independentemente de  orientação e ou identidade sexual
    • No Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA (Brasil, 1995), Art. 2º, considera-se “criança, para os efeitos desta Lei, a pessoa até doze anos de idade incompletos, e adolescentes aquela entre 12 (doze) e 18 (dezoito) anos de idade”.
    • Para a Organização Mundial de Saúde (WHO, 1986) entende como adolescente o indivíduo que possui entre 10 (dez) e 20 (vinte) anos de idade.
    •  o período da adolescência tem como característica biológica a puberdade, a qual traz consigo a maturação sexual ocorrente da mesma forma, universalmente, em meninos e meninas.
    • nesse período, o(a) adolescente irá construir sua identidade tendo como medida os referentes coletivos e não apenas os de seu núcleo familiar de origem
    • há uma busca do(a) adolescente em adotar valores e comportamentos visando à aceitação pelo grupo ao qual pertence.
    • esse período de maior desenvolvimento e amadurecimento biológico e psicológico, o(a) adolescente se torna mais susceptível a conflitos emocionais.
    •  primeiras pressões sociais, que, articuladas à realidade emocional dos envolvidos, podem contribuir para alterações de comportamento e surgimento de quadros depressivos, os quais, se não forem superados, correm risco de desembocar em ideações e tentativas de suicídio.
    O Suicídio...
    •  Marcus (1995) e Cassorla (1998a; 1998b), o suicídio – ato voluntário de pôr fim à própria vida –, para muitas pessoas, pode ser a última alternativa para lidar com a tensão resultante da não aceitação de desejos (sexuais ou não), no campo social. 
    • Trata-se, portanto, de um ato intimamente ligado ao contexto onde ele se produz (Barros, 1998). 
    • Segundo Zwahr-Castro (2005), apesar de as taxas de suicídio permanecerem relativamente estáticas, nos últimos sessenta anos, nos Estados Unidos, entre os adolescentes ocorre uma maior preocupação com essas taxas por dois motivos: 

    a) a taxa de suicídio, nessa faixa etária, quadriplicou nos últimos cinquenta anos; e

     b) o suicídio contagioso ou os grupos de suicídio parecem ser mais comuns entre os jovens que entre outros segmentos da população.

    • Entre os adolescentes, o suicídio é a terceira causa de morte, sendo que 4.000 jovens tiraram a própria vida, em 2001

    Suicídio de Adolescentes e Orientação Sexual Homossexual: epidemiologia e casuística...

    • O ato de atentar contra a própria vida já foi entendido como pecado, crime, liberdade individual, efeitos das condições sociais (Durkheim, 1897[1969];
    •  Ariès, 1977), chegando hoje à visão contemporânea de psicopatologia ou condicionamento genético.
    • entendem-se as ideações e tentativas de suicídio de adolescentes “não heterossexuais” como efeitos dos processos homofóbicos e não uma decorrência de processos patológicos individuais. 
    • procura-se compreender o quanto o estigma de se descobrir “não heterossexual”, para si mesmo e/ou para os outros, contribui para levar um(a) adolescente ao ato de pensar e/ou de atentar contra a sua própria vida.
    • EUA -  os jovens gays são de duas a três vezes mais propensos a tentar o suicídio comparativamente aos jovens heterossexuais, compreendendo o total de 30% anual de suicídios juvenis.
     Foram investigados quatro fatores de risco ao suicídio:
    •  pensamentos sobre a própria morte, 
    • desejo de morrer, 
    • pensamentos sobre cometer suicídio 
    • tentativa de suicídio.

     Pesquisas realizadas no Brasil...

    • Entre 2.256 (98,8%) respondentes, 484 estudantes declararam já terem pensando em suicidar-se, o que representa uma prevalência de 21,5%
    • Independentemente da orientação sexual dos respondentes, as meninas (359) apresentaram uma prevalência maior, com 74,2%, de pensamentos suicidas, que os meninos 25,8% (125)
    •  Para ambos sexos, independentemente da orientação sexual, esse fato se deu, na maioria das vezes, entre os 14 e os 16 anos, 312 (67,5%)
    • A prevalência de pensamentos suicidas entre os heterossexuais foi de 20,7%. 
    • A prevalência de pensamentos suicidas entre os não heterossexuais, essa prevalência foi de 38,6%

    Os adolescentes tomados por desejos eróticos em relação a pessoas de mesmo sexo biológico – neste estudo, denominados “não heterossexuais” 
    • sentem medo da exclusão e da injúria (Verdier e Firdion, 2003; Eribon, 2008);
    • se afastam da sociedade, tornando-se vulneráveis à depressão e, em alguns casos, a pensamentos e tentativas de suicídio (SavinWilliams, 1990, 1998; Taquette e col., 2005)
    Como enfatiza Castañeda (2007, p. 91)...
    •  todas as crianças são criadas por seus pais a partir de um modelo heterossexista, que as faz crer que um dia irão se casar e formar uma família: “[...] é o que lhes repetem incansavelmente seus pais, a escola, a cultura e a sociedade em geral”
    •  Dar-se conta que isso, provavelmente, não acontecerá e que será necessário renunciar a um projeto de vida longamente preparado, é um processo extremamente lento e doloroso. Trata-se de uma perda importante.
    Como isso vai afetar psicologicamente o indivíduo? Elizabeth Kübler-Ross (1969), o(a)s psicólogo(a)s envolvido(a)s nos Estudos de Gênero e LGBT (Castañeda, 2007), dirão que...
    • na pessoa que toma consciência de sua homossexualidade, encontrar-se-á a negação (“Talvez não seja verdade.”), 
    • a raiva (“Por que eu?”), 
    • a barganha (“Farei de tudo para evitar isso. Vou compensar esse ‘defeito’, sendo o melhor...”), 
    • a depressão (“Nunca serei feliz.”), 
    • a aceitação (“Sou o que sou e não preciso nem me esconder, nem tentar agradar ninguém para ser aceito.”). Quando dá certo.
    O suicídio em adolescentes não heterossexuais...
    • está acompanhado de certa desesperança e negação interna da sexualidade, que costumam ser reforçadas pela sociedade heteronormativa em que vivemos (Oliveira, 1998).
    •  a pressão social vai acentuar um estado de melancolia no sujeito, que dificultará que ele faça o luto da heterossexualidade
    •  a construção de uma identidade sexual na qual a pessoa se reconheça e se sinta autorizada a expressar seus desejos, ainda que o contexto em que viva não seja propício. 
    O(a)s jovens bissexuais e/ou os que ainda não se definiram estão em maior risco. 
    • Isso faz supor que, em uma sociedade onde a organização das relações entre os gêneros se dá a partir de uma lógica binária de formatação da sexualidade, de fato, aquele(a)s que se sentem atraído(a)s por ambos os sexos podem mesmo encontrar maior dificuldade de compreensão e estabelecimento de parcerias amorosas, já que tal sujeito é visto ou como “indeciso”, “oportunista” ou “imaturo” (Castañeda, 2007)
    • a negociação do “sair do armário”, isto é, revelar-se LGBT para si, familiares, amigos/as e escola, passa por situações diversas e implica respostas distintas, uma vez que, em cada lugar, a homossexualidade terá um valor, uma representação, uma consequência. 
    •  A saúde sexual é concomitante à saúde mental.
    • e, a bissexualidade é bem mais incompreendida do que as identidades: gay e lésbica, que há tempos são publicitadas pelos movimentos sociais LGBT.
    •  o(a)s jovens não heterossexuais estão mais vulneráveis
    Referências
    FILHO, Fernando Silva Teixeira; Rondini, Carina Alexandra. Ideações e tentativas de Suicídio em Adolescentes com Práticas Sexuais Hetero e Homoeróticas.

    sábado, 31 de outubro de 2020

    Melanie Klein (1882-1960)

     


    Breve História...

    Psicanalista austríaca classificada como psicoterapeuta pós-freudiana.

    1916 (Budapeste) teve primeiro contato com a obra de Sigmund Freud.Seu analista Sándor Ferenczi que a incentivou a trabalhar com crianças.

    1919 tornou-se membro da Sociedade de Psicanálise de Budapeste.

    1923 passou a se dedicar integralmente a psicanálise.

    1924 Apresentou no VIII Congresso Internacional de Psicanálise o trabalho “A técnica da análise de crianças pequenas”

    1927 tornou-se membro da Sociedade Britânica de Psicanálise., publicou seu livro “O tratamento psicanalítico de crianças” onde criticou ideias de Freud.

    1945 a Sociedade Britânica de Psicanálise se divide em três grupos: annafreudianos, kleiniano e independe.

    1947 publicou Contribuições à psicanálise.

    1955 fundou a Fundação Melanie Klein e publicou o Artigo:   A técnica psicanalítica através do brinquedo; sua história, sua significação, escrito a partir de uma conferência de 1953.

    1960 – morreu aos 78 anos de idade.

          Teoria das Relações Objetais

    Essa teoria deriva da teoria pulsional de freud.  Sua teoria difere da abordagem Freudiana em três pontos fundamentais:

    Dá ênfase menos aos impulsos biológicos e maior importância aos padrões de relacionamento que a criança desenvolve no seu entorno.]

    Destaca a intimidade e o cuidado da mae. Ao contrario de Freud que enfatiza o poder e o controle dos ´pais.

    Busca por contato e relacionamento é a motivação fundamental do comportamento humano e não o prazer sexual.

    •     Relações objetais são as relações que a criança estabelece com os objetos que estão ligados a       satisfação de suas necessidades e esse objeto pode ser pessoas, coisas, ou até parte de pessoas        como o seio da mãe.

    Freud parte do princípio de que o ser humano busca sempre reduzir a tensão provocada por desejos insatisfeitos. O objeto que reduz essa tensão nas crianças é a pessoa que atende as suas necessidades, por isso, Klein estudou a relação das crianças estabelecem com os primeiros objetos, que são a mãe e seu seio servindo de modelo para as demais relações objetais.

         Para Klein os relacionamentos estabelecidos na vida adulta nem sempre são o que aprecem. Todo relacionamento está permeado por representações psicológicas de antigos objetos que foram significativos na infância incluindo as pessoas. Enxergamos parcialmente esses objetos nas pessoas com as quais nos relacionamos, são reminiscências, restos de experiências do passado que projetamos no presente. Freud considera o Id, o Ego e o Superego, porém, Klein ignora o Id e se atém somente ao Ego e Superego:

    EGO

    Freud afirma que existe desde o nascimento, mas não atribui nenhuma função psíquica ao ego antes que a criança atinja os 3-4 anos de idade. A criança pequena é dominada pelo id. Para Klein o Ego atinge a maturidade antes do que pensa Freud. O EGO é extremamente desorganizado nas primeiras semanas de vida, mas já é forte o suficiente para sentir ansiedade e usar mecanismos de defesa psíquicos e para desenvolver relações objetais tanto na fantasia como na realidade.

    Começa se desenvolver com as primeiras experiencias do bebê na amamentação, quando a mãe não apenas o alimenta, mas lhe dá carinho e a sensação de segurança. Em contrapartida, o bebê experimenta fome, sensação de abandono e insegurança quando a mãe não pode atende-lo quando chora.

    Melanie atribui as experiencias agradáveis e desagradáveis ao seio bom e seio mal respectivamente. Que são fantasias desenvolvidas pelo bebe. É a partir do seio bom e o seio mal que se iniciam as experiências do ego que é o centro de sua personalidade. Assim todas as experiências vividas pelo bebe passam a ser avaliadas pelo ego como relacionadas ao seio bom e o seio mal mesmo sem estar ligada a amamentação. O seio é apenas a primeira relação objetal do bebe que serve de protótipo para todas as demais relações interpessoais.

    O Ego precisa se dividir para emergir de maneira integrada: Divide-se em seio bom e seio mal para lidar com as experiencias prazerosas e desagradáveis. Eu bom quando é alimentado e amado e eu mal é vivido quando experimenta fome e desamparo e isso é o que vai permitir que o bebe gerencie os aspectos positivos e negativos dos objetos externos.

    Com o desenvolvimento do bebe suas percepções passam a ser mais realistas e dessa forma o ego passa a se unificar e integrar.


    SUPEREGO

    Percebe o superego de maneira diferente de Freud em pelo menos, três aspectos:

    Surge muito mais cedo na vida, antes dos 3 anos de idade. Para Freud o superego só emerge aos 5 anos de idade. O superego não é uma alteração do complexo de édipo. Ele é muito mais duro e cruel do que Freud descreve, afirmou Klein.

    Para Freud o superego suporta dois subsistemas: ego ideal que gera sentimento de inferioridade e consciência que gera culpa. Klein concorda que superego de crianças mais velhas funciona dessa fora, mas que em crianças menores, gera terror ao invés de sentimento de culpa.

    Melanie percebeu que as crianças pequenas têm medo de serem devoradas, cortadas ou dilaceradas em pedaços que é um medo desproporcional, daí o terror. Para ela esse terror vem dos desejos destrutivos das crianças, das frustrações vividas por elas nas relações objetais e são vividos com muita ansiedade. Como uma briga entre a energia criadora e destruidora. A violência extrema do superego inicial é uma relação do psiquismo a agressividade do ego que procura se autodefender dos próprios desejos destrutivos mobilizando as pulsões de vida e de morte.

    Para Klein esses embates são responsáveis por muitas tendências antissociais em adultos. Os que se desenvolvem saudavelmente, vai perdendo essa agressividade excessiva e vai se tornando uma consciência realista por volta dos 6 anos de idade.

     A Técnica da Análise na Puberdade -Adolescência

    Os impulsos dos adolescentes são mais poderosos, maior a atividade de suas fantasias e seu ego tem outros desígnios e outra relação com a realidade. Klein considera que há fortes pontos de analogia com a criança pequena, porque é na puberdade o sujeito torna a encontrar um maior domínio das emoções e do inconsciente e uma vida imaginativa muito mais rica. Nesse período, as manifestações da angústia e os afetos exprimem com uma intensidade infinitamente maior. Na adolescência, o Ego se esforça para combater a angústia ou modifica-la e, acaba sendo mais bem sucedido do que na infância. No universo adolescente, desenvolveu-se, largamente, seus interesses e atividades com o objetivo de dominar essa angústia, supercompensá-la e dissimulá-la perante si mesmo e perante os outros, o que faz assumindo uma postura de desafio e revolta característica da puberdade, o que dificulta bastante a análise, daí a importância de se ter rápido acesso à angústia do paciente e dos afetos que ele manifesta, caso contrário poderia ser bruscamente interrompida.  Os meninos previam violentos ataques físicos nas primeiras sessões.

    Para Klein as fantasias são inatas no sujeito, e são as representantes dos instintos, tanto libidinais como agressivos, os quais agem na vida desde o nascimento. As fantasias são a forma de funcionamento mental primária, de extrema importância neste período inicial da vida. Essa fantasia se transforma de acordo com o desenvolvimento, no decorrer das experiencias corporais sendo ampliada e elaborada, influenciando e sendo influenciada pelo ego em maturação.

    Klein parte das obras freudianas, tomando como ponto de partida a dimensão imaginária das fantasias. As primeiras fantasias da criança é o corpo da mãe, cujas atividades são a realização de desejos, negação de fatos dolorosos, segurança em relação aos fatos aterrorizadores do mundo externo, controle onipotente, reparação entre outras.

    A liberação destas fantasias masturbatórias é essencial não só para a atividade lúdica como também para todas as posteriores sublimações (Klein, 1996). Inibições graves tanto nas brincadeiras como em todo o aprendizado da vida da criança, inclusive no aprendizado da sexualidade, têm sua origem na repressão destas fantasias. Portanto, uma vida sexual satisfatória depende da liberação da vida fantasmática, principalmente das fantasias masturbatórias. As representações que as crianças do ato sexual dos pais podem ser consideradas o conteúdo primordial que se encontra por trás destas fantasias, as quais só são passíveis de revelação depois de um período considerável de análise e do consequente estabelecimento na criança de conteúdos genitais. Contudo, pode–se concluir que as fantasias atuam na mente de crianças, adolescentes e adultos, ao longo de todo o desenvolvimento psíquico, por meio de diferentes conteúdos imaginários.

    O Caso Bill– 15 anos de idade. (Klein, pg.123-124)

    Bill, de 15 anos de idade, fez uma cadeia ininterrupta de associações em torno de sua bicicleta e das diversas peças que a compunham; seu receio por exemplo, de que ela se danificasse se lhe imprimisse muita velocidade, superei-me de abundante material referente ao seu complexo de castração e sentimento de culpa por masturbação. Evidenciou-se que ele provava angustia e culpabilidade com suas relações com um certo amigo, mas essas relações não se baseavam na realidade; remontava a uma relação anterior mantida com um menino chamado Tony. Falando de uma excursão na companhia de seu amigo, durante a qual haviam trocado as respectivas bicicletas, Bill declarou que havia ficado com receio, sem que houvesse motivo para tal, de que sua bicicleta tivesse danificado. Baseando-se nessa lembrança do mesmo gênero, expliquei-lhe que seu receio parecia-se relacionar-se com as atividades sexuais mantidas com seu amigo Tony anos atrás. Quando lhe referi os motivos que me faziam pensar assim, ele concordou e lembrou-se de alguns detalhes dessa relação sexual. Seu sentimento de culpa a esse respeito e o consequente receio sexual de haver danificado seu pênis e seu corpo eram totalmente inconsistentes. Na análise de Willy, de 14 anos, cuja fase preliminar foi acima descrita, consegui descobrir com o auxílio de tópicos idênticos, a razão de seus profundos sentimento de culpa em relação ao irmão menor. Assim, quando Willy comentou que sua máquina a vapor estava necessitando de reparos, mencionou imediatamente a máquina de seu irmão, acrescentando que ficara inutilizada. Sua resistência a respeito e seu desejo de que a sessão chegasse ao fim, eram ocasionados, conforme se constatou, pelo receio de que sua mãe viesse a descobrir  as relações sexuais que haviam existido entre os dois irmãos e das quais, ele em parte, se recordava. Essas relações lhe haviam deixado uma profunda culpabilidade inconsciente, pois, sendo mais forte e mais velhoobrigara algumas vezes o irmão a sujeitar-se às mesmas. Desde então, sentia-se responsável pelo desenvolvimento anormal daquele que era gravemente neurótico. Willy tinha depressão, mas esse não era o caráter anormal. Detestava a companhia de outras pessoas, era bastante tímidoretraído e inativo e não tinha boas relações com irmãos e irmãs. Contudo, sua adaptação social era aparentemente normal, sendo um bom aluno. Sua análise durou 190 sessões.

    REFERÊNCIAS

    domingo, 27 de setembro de 2020

    Ideações e Tentativas de Suicídio em Adolescentes com Práticas Sexuais Hetero e Homoeróticas

     

    •  Pesquisa aplicada a adolescentes com idade entre 12 e 20 anos.
    • Pretendia conhecer as associações entre orientação sexual e ideações e tentativas de suicídio.
    •  Conclui-se que a questão do suicídio é uma problemática de saúde pública e que a população de jovens não heterossexuais necessita de abordagens específicas para a prevenção e de atenção relativas a essa conduta.
    HETEROSSEXUALIDADE
    • a heterossexualidade passou a ser sinônimo de normalidade apenas em fins do século XIX, , quando se construiu o discurso de que ela seria a forma ideal de felicidade amorosa e erótica  (Katz, 1996 e Spencer, 2004).
    • a heterossexualidade tornou-se referência legítima dos desejos, ideais, princípios e valores (heteronormatividade), produzindo, assim, um sentimento de superioridade em relação a todas as outras manifestações plurais das sexualidades (heterossexismo).(r Eribon e Haboury, 2003)
     Princípios desconstrucionistas das teorias pós-estruturalistas (Higgins, 1993):
    • Cardoso (2003) assume que o heterossexismo é um mito e, como tal, uma inverdade que “explica o mundo do desejo e do amor, além de garantir a estabilidade das coisas.
    •  o heterossexismo justifica uma ordem moral intocável; intocável porque não é questionada, não é avaliada.  é aceita como um mito, uma verdade óbvia, natural e universal.
    • esta ordem moral heterossexista sustenta o edifício econômico e político que questionamos”
    SEXISMO
    • É uma suposta superioridade dos homens (biologicamente falando) em relação às mulheres e, basicamente, sobre tudo o que diz respeito ao feminino
    • Desdobra-se para o machismo, que se nutre do poder dos homens e sobre tudo que diz respeito ao feminino
    • Essa arbitrariedade legitima a violência contra a mulher.
    HOMOFOBIA
    • é o medo ou o descrédito quanto às pessoas homossexuais ou àqueles que são presumidos o serem, bem como a tudo que faça referência aos atributos, esperados para um sexo, encontrados em outro sexo (Welzer-Lang, 2001). 
    • o termo é empregado para significar um processo específico de violência física, simbólica e/ou social contra o(a)s homossexuais.
    • A homofobia é um dispositivo de controle, no sentido foucaultiano (Foucault, 1988), que busca afastar todo e qualquer questionamento ou desestabilização da naturalização da norma(lidade) da conduta heterossexual
    • Tem  finalidade de oprimir todo(a)s aquele(a)s que ousam sentir, experimentar ou dizer de suas orientações e/ou identidades sexuais diversas da heterossexualide.
    •  promove uma percepção negativa e homogeneizada da homossexualidade, no campo social, que resulta, no campo individual, em uma homofobia interiorizada (estigma)
    Borrillo (2000) aponta que as pessoas homossexuais são vitimizadas do seguinte modo:

    1) Os homens homossexuais são vitimizados, pois, em sendo homo, se “igualam” às mulheres na posição de eventual receptor do pênis. Logo, são vistos como “efeminados”, deixando de fazer parte do universo viril. Por isso, o estereótipo de que todos os homossexuais masculinos são “mulherzinhas”, “desmunhecados” e/ou “maricas”.

     2) De outro lado, as mulheres homossexuais são vitimizadas, já que, em sendo homo, supostamente deixam de cumprir sua função de “fêmea” reprodutora dos filhos “de um macho”, e não são aceitas no universo viril, ainda que e masculadas, pois não possuem o pênis. 

    Em acréscimo, ao se identificarem enquanto lésbicas, assumem uma postura ativa em relação ao seu desejo sexual. Como tal atividade é exclusiva do universo masculino, elas são rechaçadas pelos homens e pelas outras mulheres, pois quebraram a barreira do silêncio em relação à suposta passividade feminina.

    Blumenfeld (1992), Isay (1998) e Hardin (2000) assinalam que tais efeitos englobam:

     1) Negação da sua orientação sexual (do reconhecimento das suas atrações emocionais) para si mesmo e para os outros; 

    2) Tentativas de mudar a sua orientação sexual; 

    3) Sentimento de que nunca se é “suficientemente bom”, o qual conduz à instauração de mecanismos compensatórios, como, por exemplo, ser excessivamente bom na escola ou no trabalho (para ser aceito); 

    4) Baixa autoestima e imagem negativa do próprio corpo, depressão, vergonha, defensibilidade, raiva e/ou ressentimento – o que pode levar ao suicídio já em tenra juventude; 

    5) Desprezo pelos membros mais “assumidos” e “óbvios” da comunidade LGBT; 

    6) Negação de que a homofobia é um problema social sério;

    7) Projeção de preconceitos em outro grupoalvo (reforçados pelos preconceitos já existentes na sociedade).

    8) Tendência de tornar-se psicológica ou fisicamente abusivo, ou permanecer em um relacionamento abusivo; 

    9) Tentativas de se passar por heterossexual, casando-se, por vezes, com alguém do sexo oposto, para ganhar aprovação social ou na esperança de “se curar”; 

    10) Práticas sexuais não seguras e outros comportamentos autodestrutivos e de risco (incluindo a gravidez e o de ser infectado pelo vírus HIV); 

    11) Separação de sexo e amor e/ou medo de intimidade, capaz de gerar até mesmo um desejo de ser celibatário(a); 

    12) Abuso de substâncias (incluindo comida, álcool, drogas e outras).

    Epidemiologia de Suicídio em Adolescentes Independentemente de Orientação e/ou Identidade Sexual

    O Adolescente

    • A adolescência é um período do desenvolvimento humano que possui diferentes interpretações para cada cultura e momentos históricos (Santos, 1996).
    • No Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA (Brasil, 1995), Art. 2º, considera-se “criança, para os efeitos desta Lei, a pessoa até doze anos de idade incompletos, e adolescentes aquela entre 12 (doze) e 18 (dezoito) anos de idade” , enquanto a Organização Mundial de Saúde (WHO, 1986) entende como adolescente o indivíduo que possui entre 10 (dez) e 20 (vinte) anos de idade.
    • O adolescente em adotar valores e comportamentos visando à aceitação pelo grupo ao qual pertence.
    •  tornam-se mais susceptível a conflitos emocional
    • passa a entrar aos poucos no universo adulto, recebendo as primeiras pressões sociais, que, articuladas à realidade emocional dos envolvidos, podem contribuir para alterações de comportamento e surgimento de quadros depressivos, os quais, se não forem superados, correm risco de desembocar em ideações e tentativas de suicídio.
    O suicídio
    • Marcus (1995) e Cassorla (1998a; 1998b), o suicídio – ato voluntário de pôr fim à própria vida, para muitas pessoas, pode ser a última alternativa para lidar com a tensão resultante da não aceitação de desejos (sexuais ou não), no campo social. 
    • Ato intimamente ligado ao contexto onde ele se produz (Barros, 1998). 
    •  Arenales e colaboradores (2002) salientam a existência de uma tendência de aumento dos suicídios em adolescentes, a partir dos anos 1950, tendo as taxas de suicídio nesse grupo triplicado desse período até os anos 80, estabilizando-se posteriormente. 
    • EUA tem como maior preocupação com essas taxas por dois motivos: 
              a) a taxa de suicídio, nessa faixa etária, quadriplicou nos últimos cinquenta anos; 
              b) o suicídio contagioso ou os grupos de suicídio parecem ser mais comuns entre os jovens que entre outros segmentos da população. 
    •  os pensamentos sobre o suicídio são ainda mais comuns que as tentativas ou os suicídios efetivados
    No Brasil, os dados de DATASUS de 2002 apontam que:
    • Entre 15 a 19 anos, a taxa de mortalidade por suicídio é de 4 para homens e 2 para mulheres em 100.000 habitantes e, no que tange à internação, a estimativa era de 583,3, para o ano de 2003. 
    • Para o Estado de São Paulo, a taxa é 7, enquanto, para a capital, é de 1,5 por 100.000 habitantes. 
    • Considerando o sexo do indivíduo independente da faixa etária, na capital paulista, tem-se 6.4 homens e 1,5 mulheres por 100.000 habitantes (D’Oliveira, 2005)
    • os homens, ao tentarem suicídio, têm mais “sucesso” (arma de fogo) comparativamente às mulheres,(medicamentos, enforcamento ou estrangulamento) por conta da tipologia do suicídio. embora as mulheres tentem mais.
    •  o suicídio como ocupando a 6ª posição entre as principais causas de óbito entre jovens de 15 a 24 anos.
    Suicídio de Adolescentes e Orientação Sexual Homossexual: epidemiologia e casuística
    •  entendem-se as ideações e tentativas de suicídio de adolescentes “não heterossexuais” como efeitos dos processos homofóbicos e não uma decorrência de processos patológicos individuais.
    • procura-se compreender o quanto o estigma de se descobrir “não heterossexual”, para si mesmo e/ou para os outros, contribui para levar um(a) adolescente ao ato de pensar e/ou de atentar contra a sua própria vida.
    • Pesquisas revelam que adolescentes homossexuais tem maior propensão a tentar suicídio que adolescentes heterossexuais.(Estado de Massachusetts, jovens LGBT 35,3% tentaram suicídio e Jovens Heterossexuais apenas 9,9%.
    • e o suicídio entre homossexuais, particularmente entre adolescentes e jovens adultos, tem sido considerado alto, nos últimos 25 anos.
    No Brasil foi feita uma pesquisa entre estudantes do ensino médio, em 2009:;
    • Aplicou-se um questionário de 131 perguntas, na sua maioria fechadas.
    • O questionário possui questões que abordam a identificação pessoal, trajetórias sexuais, homofobia, ideações e tentativas de suicídio e histórico de violência sexual e/ou física.
    • Considerou-se como fator a orientação sexual dos estudantes. As variáveis de desfecho usadas foram: pensamentos e tentativas suicidas, histórico de violência sexual e física. 
    • Entre 2.256 que responderam ao questionário, 484 estudantes declararam já terem pensando em suicidar-se, o que representa uma prevalência de 21,5%.
    • as meninas (359) apresentaram uma prevalência maior, com 74,2%, de pensamentos suicidas, que os meninos 25,8% (125) 
    •  Para ambos sexos, independentemente da orientação sexual, esse fato se deu, na maioria das vezes, entre os 14 e os 16 anos, 312 (67,5%)
    • A prevalência de pensamentos suicidas entre os heterossexuais foi de 20,7%. Entre os não heterossexuais, essa prevalência foi de 38,6%.
    • Em 480 adolescentes que disseram ter pensado em se matar, 442 são heterossexuais. Dentre estes, 137 (31,0%) tentaram se matar.
    • , evidenciouse que os não heterossexuais têm mais chances de pensar e tentar suicídio, comparativamente aos heterossexuais
    Os adolescentes tomados por desejos eróticos em relação a pessoas de mesmo sexo biológico – neste estudo, denominados “não heterossexuais” –, sentem medo da exclusão e da injúria (Verdier e Firdion, 2003; Eribon, 2008), se afastam da sociedade, tornando-se vulneráveis à depressão e, em alguns casos, a pensamentos e tentativas de suicídio (SavinWilliams, 1990, 1998; Taquette e col., 2005). 

    O suicídio em adolescentes não heterossexuais está acompanhado de certa desesperança e negação interna da sexualidade, que costumam ser reforçadas pela sociedade heteronormativa em que vivemos (Oliveira, 1998). 

    - Qual é a duração desse processo de luto? Segundo Castañeda (2007), para certas pessoas, ele nunca tem fim – e talvez seja a diferença mais importante entre os homossexuais “felizes” e aqueles que nunca terminam de fazer o luto da heterossexualidade, que é imposta como ideal de comportamento sexual.  É importante tomar consciência desse luto, que pode durar indefinidamente ou ressurgir sob formas diferentes.

    REFERÊNCIAS:
    Disponível em: https://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0104-12902012000300011&script=sci_arttex