Uma análise das duas Revoluções Cognitivas

 Por Silvio José Lemos Vasconcellos     e                                                                                                     Cristiane Teresinha de Deus Virgili Vasconcellos

  • Anos 50 - enfoque cognitivo tem assumido um papel fundamental na pesquisa psicológica. 
  • Primeira Revolução Cognitiva - é a designação do movimento intelectual que iniciou uma nova área de estudos conhecida como ciência cognitiva.  
  • Segunda Revolução Cognitiva - enfatiza a importância das práticas discursivas para os processos mentais humanos

Comparação e caracterização das duas Revoluções Cognitivas:

  • Primeira Revolução Cognitiva (final da Década de 50 e início dos anos 60)
  • Diferentes áreas do conhecimento, tais como Filosofia, Antropologia, Linguística, Psicologia e Neurociência acabaram por servir-se de uma nova e promissora metáfora para estudar o psiquismo humano (Mandler, 2002). 
  • A “metáfora computacional” mostrou-se possibilitou investigações científicas sobre os fenômenos mentais, gerando, dentro de um caráter interdisciplinar, as ciências cognitivas.
  • Houve avanço das pesquisas experimentais sobre os fenômenos mentais e as discussões envolvendo questões ontológicas sobre a relação mente e cérebro.
  • Foi reivindicada a necessidade de uma compreensão mais holística da cognição, levando-se em conta a sua interface com os fenômenos culturais (Bruner, 1997; 1998)
  • Essas mudanças acabaram por consolidar uma nova ruptura, surgindo a Segunda Revolução Cognitiva (Harré, 1999; Harré & Gillet, 1999; Laszlo, 2004; Mahoney, 1998).
A PRIMEIRA REVOLUÇÃO COGNITIVA
  • pode ser caracterizada como uma contrarrevolução (Miller, 2003)
  • urgiu efetivamente no final da década de 50 e início dos anos 60.
Ano 1956, conforme destaca Gardner (2003), foi quase um consenso no tocante ao início da revolução cognitiva para uma série de historiadores amadores... segundo Miller (2003) teria sido em 11 de setembro de 1956...
  •  Simpósio sobre teoria de informação, no Instituto Massachusetts de Tecnologia:
    • Pesquisadores presentes: Noam Chomsky, George Miller, Allen Newell e Herbert Simon.
    • Temas como as limitações da memória humana, o inatismo de alguns mecanismos de produção da linguagem e a execução de certos teoremas pela máquina foram alguns dos assuntos abordados com base numa série de propostas incipientes.
  • Foram  publicadas as obras: 
    • A Study of Thinking de Bruner, Goodnow e Austin; 
    • Three Models for the Description of Language de Chomsky; 
    • The Magical Number Seven, Plus or Minus Two de G. Miller; 
    • The Logic Theory Machine de Newell e Simon e Language, 
    • Thought and Reality de Benjamin Whorf.
  • Noam Chomsky
    • mostrou  que o desenvolvimento da linguagem não poderia ser explicado tão somente com base nos estímulos recebidos (Chomsky, 1957)
  • George Miller
    • quantificou as limitações de algumas funções cognitivas (Miller, 1956)
    • a revolução cognitiva pode ser compreendida como uma contrarrevolução, o mesmo não pode ser dito sobre o advento do Construtivismo em suas vertentes narrativas e discursivas.
  • Allen Newell e Herbert Simon.
    • evidenciaram as regras que estavam por trás da capacidade de inferência humana
  • Marvin Minsky
    • buscou replicar a funcionalidade de inúmeros aspectos da cognição humana (Gardner, 2003)
  • Ideia presente no cerne de todas essas pesquisas:
    •  a mente poderia ser interpretada como um software específico rodando em um hardware específico.
    • a realidade dos fenômenos mentais não poderia ser reduzida às propriedades físicas do cérebro.
  • Gardner (2003) afirma que:
    •  “essa ambiciosa disciplina baseia-se no pressuposto de que é válido falar em representação interna, ou seja, em um nível separado entre as células nervosas da fisiologia e as normas comportamentais de uma cultura” (Gardner, 2003, p. 356). 
  • Mandler (2002) afirmou que:
    • a citada revolução não apenas rompeu com os pressupostos vigentes no que se refere à consolidação de uma ciência psicológica, como também se tornou um marco a partir do qual uma série de novos procedimentos experimentais mostraram-se possíveis em diferentes contextos e em diferentes países.
  • Flavell, Miller & Miller (1999) afirmou que os estudos das diferentes funções cognitivas na esfera da Psicologia voltou-se, nesse sentido, para:
    •  uma série de propriedades mensuráveis, tais como a velocidade de processamento, o tempo de reação e a prontidão para identificar estímulos diversos.
A SEGUNDA REVOLUÇÃO COGNITIVA
  • Harré e Gillet (1999), Harré (1999) e Laszlo (2004) propõem que esse processo já possa ser caracterizado como uma segunda revolução cognitiva.
  • Harré e Gillett (1999) esse entendimento pode ser denominado como psicologia discursiva e sustenta-se em três pressupostos essenciais: 
1) Muitos fenômenos psicológicos podem ser interpretados como propriedades do discurso privado (pensamento), bem como do discurso público (comportamento)
2) A utilização privada dos sistemas simbólicos vincula-se a processos discursivos interpessoais 3) A produção de fenômenos psicológicos tais como emoções, decisões e atitudes ou mesmo características da personalidade envolve questões de posicionamento dos atores.

  •  Psicologia Discursiva (Edwards & Potter, 1992) apresenta-se com um modelo explicativo emergente, sustentando uma profunda mudança na forma de compreender e estudar a cognição humana que, por sua vez, é denominada como uma segunda revolução cognitiva (Harré, 1999) 

(Mahoney, citado por Gonçalves, 1993, p.177). 
  • Para o citado autor, o termo construtivista descreve um conjunto de mudanças mais amplas no âmbito das ciências cognitivas que se mostra capaz de respaldar um novo olhar sobre o ser humano.
  • O que contraria a visão estritamente racionalista, tendo ainda implicações diretas na prática clínica, uma vez que o foco da terapia cognitiva passa a recair mais sobre um processo de organização das experiências e menos sobre a reestruturação das próprias cognições do paciente (Mahoney, 1998)
O conjunto de mudanças como uma segunda revolução cognitiva pauta-se pelo fato de que uma nova forma de conceber e explicar os fenômenos mentais consolidou-se no âmbito das ciências cognitivas.
  • Tais mudanças estão diretamente relacionadas a um conjunto de teorias que acabou por enfatizar aspectos mais dinâmicos e dialéticos da cognição, considerando-se ainda a própria interface entre o ser humano e o seu meio cultural.
  • Tais preceitos não fizeram parte, de outro modo, do arcabouço da primeira revolução cognitiva.
  • uma ruptura epistemológica ocorreu, ainda que de um modo parcial, e que essa mesma ruptura congregou e vem congregando importantes pesquisadores no contexto das ciências cognitivas.
DIFERENÇAS HISTÓRICAS E PROBLEMAS CONCEITUAIS
  •  o termo “segunda revolução cognitiva” parece não descrever um tipo de transformação tão radical quanto aquela ocorrida no final dos anos cinquenta.
  • houve uma profunda ruptura metodológica capaz de gerar um crescente número de pesquisas voltadas para fenômenos mentais até então pouco explorados.
  • o advento das ciências cognitivas e uma subsequente incorporação de outras formas de estudar e explicar os fenômenos mentais ocorrida no âmbito dessa mesma abordagem.
  • década de 50 o meio científico assistiu, nessa época, não apenas uma ruptura com os preceitos epistemológicos precedentes, como também a emergência de um novo modelo descritivo capaz de agregar diferentes áreas do conhecimento.
  • segunda revolução cognitiva não chegou a produzir, ao contrário da primeira, uma nova analogia no que se refere à discussão ontológica mente e cérebro.
  • os principais expoentes da revolução cognitiva produziram, ou pelo menos, pensaram estar produzindo uma solução definitiva para o problema ontológico da mente, que passou a ser explicada de forma não redutível às ocorrências cerebrais.
  • falar em primeira e segunda revolução cognitiva é falar em processos históricos bastante distintos quanto às próprias transformações geradas no meio científico e quanto aos seus respectivos impactos.
CONSIDERAÇÕES FINAIS 

O advento de um novo modo de conceber e investigar a mente ocorrido no final dos anos cinquenta é designado como Revolução Cognitiva, onde o computador acaba servindo como uma metáfora promissora, vinculada a uma nova compreensão ontológica da mente. 

Um crescente número de trabalhos experimentais, a partir de então, encarrega-se de estudar os processos de memória, atenção, raciocínio, percepção, evidenciando que a mente poderia ser investigada de um modo verdadeiramente científico. 

Em termos gerais, esse trabalho procurou mostrar que esse mesmo processo pode ser apropriadamente compreendido como uma revolução ocorrida no meio científico e, mais especificamente, dentro de um conjunto de ciências que direta ou indiretamente voltam-se para as diferentes questões relacionadas ao psiquismo. 

Em contrapartida, ainda que importantes e ainda que os estudos subsequentes tenham enfatizado o caráter intrinsecamente proativo e cultural da cognição, os mesmos não se configuram como uma revolução. Não é possível, até o presente momento, considerar que tenha ocorrido o mesmo grau de convergência ou o mesmo efeito transformador, capaz de redirecionar uma série de trabalhos e pesquisas experimentais tal como ocorreu na revolução cognitiva propriamente dita.

As novas concepções surgiram e, sob muitos aspectos, tais concepções acabaram por evidenciar limitações no que se refere à própria metáfora computacional. Por outro lado, essas revisões são, segundo a ideia que defendemos neste artigo, frutos de uma única e mesma revolução. O

REFERÊNCIAS 
Vasconcellos & Vasconcellos (2007)

Referências citadas no artigo:
Andler, D. (1998). Cálculo e representação: as fontes. Em D. Andler (Org.), Introdução às Ciências Cognitivas (pp. 25-54). (M. S. M. Amoretti, Trad.). São Leopoldo: Unisinos. Baum, W. M. (1999). Compreender o Behaviorismo: ciência, comportamento e cultura. (M. T. A. Silva e cols. Trads.). Porto Alegre: Artmed. Bem, S. & Keijzer, F. (1996). Recent changes in the concept of cognition. Theory and Psychology, 6, 449-469. Bruner J. (1997). Atos de significação (S. Costa, Trad.). Porto Alegre: Artes Médicas. Bruner J. (1998). Realidade mental, mundos possíveis (M. A. G. Domingues, Trad.). Porto Alegre: Artes Médicas. Button, G., Coutler, J., Lee, J. R. R. & Sharrock, W. (1998). Computadores, mentes e conduta (R. L. Ferreira, Trad.). São Paulo: UNESP. Carone, I. (1998). A questão dos paradigmas na Psicologia: um balanço crítico. Psicologia em Estudo, 3,191-200. Chomsky, N. (1957). Syntatic Structures. The Hauge: Mouton. Crick, N. R. & Dodge, K. A. (1994). A review and reformulation of social information-processing mechanisms in children’s social adjustment. Psychological Bulletin, 115, 74-101.







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