Síntese do Artigo: HUMILHAÇÃO SOCIAL – UM PROBLEMA POLÍTICO EM PSICOLOGIA

HUMILHAÇÃO SOCIAL – UM PROBLEMA POLÍTICO EM PSICOLOGIA

A IDEIA DE HUMILHAÇÃO SOCIAL
A humilhação social é um problema político e psicológico, uma modalidade de angústia disparada pelo impacto traumático da desigualdade de classes: para assim caracterizá-lo, recorremos à investigação marxista e à psicanálise.


O QUE AMBOS TÊM EM COMUM?
  • Pensadores que ultrapassaram a Segunda Guerra Mundial (em Frankfurt ou Paris, exilados na Inglaterra ou nos EUA)
  • Escritores de grande envergadura dialética, utilizavam o método do diálogo cujo foco é a contraposição e contradição de ideias a outras ideias.
  • Observavam as experiências sociais(Marx) e individuais (Freud) para construir suas teorias (empirismo)


PORQUE O AUTOR RECORRE A MARX E FREUD?
  • O autor recorre a Marx e Freud para discutir a Humilhação social chamando atenção por se tratar de um assunto da Psicologia social.
  • Chama atenção para o fato de ser Marx e Freud , um não exclui o outro, e ao mesmo tempo, seus pensamentos não se misturam, o que o autor chamou de associações híbridas (psicanálise marxista ou Freud-marxismo). E que se utilizasse a expressão Marx ou Freud suporia uma concorrência entre ambos, o que não é o caso.


Caso de uma solução ética: Justapondo (por uma coisa ao lado da outra), fundindo (unindo) ou equiparando (igualar) noções marxistas e freudianas, costuma implicar em:
um rebaixamento terminológico generalizado (termos técnicos seriam rebaixados),
na descaracterização de conceitos distintivos (retirar características que diferencia os conceitos)  e principalmente, na simplicidade dos fenômenos em causa. (Tudo se torna simples e natural) o problema se naturalizaria.

Não se deve associar formações inconscientes (acepção freudiana) a formações políticos-culturais (acepção marxista). Os processos políticos informam a subjetividade, e que o indivíduo ao processar essa subjetividade, a modifica a partir de sua perspectiva de vida, de forma singular.


REIFICAÇÃO MARXISTA E FREUDIANA

As pessoas passam a não ver as pessoas, mas sim a sua função e portanto, eles passam a ser taxados como as outras pessoas dessas funções são taxados. Por exemplo, como o Fernando Pessoa, passou a ser visto como os garis e passou a ser tratado como tal e a ser excluído, não é mais visto, a não ser quando alguém precisa de uma informação. Invisíveis sociais.

 A Psicologia Social se caracteriza pela exigência de encontrar o homem na cidade, o homem no meio dos homens, a subjetividade como aparição singular, no campo das experiências. (Não para considerar o indivíduo, nem focar na subjetividade do homem separado de suas relações sociais).

A ideia da subjetividade realizando-se intersubjetividade (uma revelação) comunicando consciências individuais, umas com as outras, em reciprocidade.

A Psi Social incide sobre problemas intermediários, e não somente sobre o indivíduo ou sobre a sociedade, sendo esse o problema da Humilhação social.

O TRABALHADOR IMPEDIDO

Entrevista realizada com Gerônimo um frentista de posto.
Em seu discurso:
  • Regime da cidade grande.
  • As condições sociais para aquisição de bens de tal modo que parecem tratar-se de coisas que só se obtêm por meio do dinheiro e ponto final.
  • Aponta a inépcia e os maus tratos quanto à previdência social (INPS). O tema saúde é recorrente entre os trabalhadores.
  • Saúde é virtude corporal por excelência, a saúde do corpo, desde então, vem necessariamente polarizar sua segurança psicossocial.


SÁLARIOS X PREÇOS X SAÚDE (discurso circular e aflito).
  • O trabalho que sidera o trabalhador e também os interlocutores. Esvazia.
  • Aquele que foi espoliado oferece o que resta sua força muscular como mercadoria para venda em troca do salário.
  • A vida, em sua concreta riqueza de qualidades, parece sempre adiada para depois dos salários, riqueza parca e abstrata.
  • O Trabalho mecanizado quer absorver o trabalhador e sua ação, mas também sua consciência, suas mãos, suas palavras, na gangorra da alienação.

DISCURSO CIRCULAR X PENDULAR
  • Ultrapassado, tempo estilizado (Simone Weill). O caráter pendular da palavra pode ser o sintoma de uma vida socialmente pendular, que se reproduz e se reproduz gastando-se sem desenvolvimento.
  • O trabalho faz experimentar de uma forma extenuante o fenômeno da finalidade devolvida como uma bola; trabalhar para comer, comer para trabalhar... Se considerarmos um dos dois como um fim, ou ambos separadamente para existir.
  • Palavras das tarefas assalariadas, conversa breve: faça isso, não faça isso... Que economiza palavras, que desejamos saber e se cumprem o serviço, ponto final. São frases e as preces do homem reduzido á tarefa ou a força muscular: “Faço o que mandaram” Deus me dê saúde para trabalhar.

O TRABALHADOR IMPEDIDO

Frentista.
A ubiquidade do dinheiro. Estar presente ao mesmo tempo em todos os lugares. A solidariedade no âmbito privado da família. Dissociação dos laços públicos qualidades concretas e humanas, absorvidas pelo  mercado.

Questionamento sobre a mudança de cultura e a descoberta do mundo capitalista.
 - Gerônimo, a despeito da pobreza sertaneja, não teria conhecido um mundo de solidariedade familial e interfamilial?

Vivenciar a realidade da megalópole São Paulo.
 Gerônimo nunca teria conhecido o aluguel, viveria da casa paterna. É com ressentimento que se queixa de um colega paulistano, seu primeiro hospedeiro, mas já no terceiro dia exigindo que o recém-chegado se retirasse

A igualdade de pessoas na compra e venda
 Na cidade, vendedores ou compradores, deixamos entre parênteses quaisquer outros traços da vida comum

"minha liberdade começa onde começa a dos outros”
 Falsa oposição entre liberdade e vida social, obscurecendo nossa atenção para as condições sociais da liberdade e obscurecendo nossa atenção para as condições libertadoras da vida social.

Cenas de mecanismo
 As Sociedades Burguesas, guiadas pelos imperativos do Mercado e não pelos imperativos da vida em comum, esvaziaram e tornaram maquinais os relacionamentos sociais. Falta de humanidade nas relações.

Hierarquia pelo dinheiro
 A reificação pode se indicar pela maneira como hierarquiza suas necessidades, privilegiando os salários e a saúde. Existe uma condição social inteira e continuamente presa ao dinheiro.

 INPS
 A saúde do corpo, desde então, vem necessariamente polarizar sua segurança psicossocial. A falta da previdência social por exemplo, aponta a inépcia e os maus tratos. Começa inserindo o problema numa ordem de ações coletivas: o lado do governo, o lado do presidente, o lado dos cidadãos – "ele só [o governo, o presidente] não vai conseguir dominar a nação" Preço X 

O CIDADÃO IMPEDIDO
“Um bairro pobre não é feito de ruinas”. O que esta frase nos faz refletir?
A proposta apresentada nesse trabalho é uma pesquisa no bairro de Vila Joaniza, periferia Sul de São Paulo e que tem, nesse decorrer do texto, uma praça como protagonista. É uma praça com árvores, umas cinco ou seis, rodeadas de cimento, sem bancos e sem coreto. O que isso pode significar?
Pracinha para passar, não para passear. O cimento é lançado por motivos funcionais: regula o limite entre calçada e rua, disciplinando os pedestres ...os cidadãos não são seres que se detêm, que se demoram ou sossegam, mas que estão em trânsito”.
São bairros que o tempo não vai destruir porque eles não puderam nascer com o tempo. São lançados sobre eles situações sem estrutura e tão pouco resultados.
Dentre outros pontos importantes, o texto nos apresenta o imponente Teatro Municipal de São Paulo.  As Mulheres das Creches e Centro de Juventude foram assistir o corpo de baile, a convite da Prefeitura e Secretaria da cultura de São Paulo.
Cidadãos pobres abrindo portas aos cidadãos pobres, tornava-os especialmente gentis”.  E uma pausa para mais uma reflexão!
Os hábitos, frieza de tratamento e desprezo percebidos em uma cidade grande, geralmente é o elemento de maior destaque diante de um tratamento recebido O cidadão impedido é marcado pela demarcação de um espaço, a autonomia cultural está dividida em diferenças no trabalho e lados sociais.
A leitura deste texto traz  a  sensação  de que a cidade é bloqueada para os pobres. Locais que pareciam ser convidativos tornaram-se inabitáveis para os pobres que são marcados pelos signos de exclusão.  O sentimento da dignidade parece desfeito, deixa de ser espontâneo.
Quando o cidadão passa por uma humilhação ela se internaliza, ela mesma interrompe as condições pelas quais o humilhado enfrentaria a humilhação. Ela vem como um gesto, um olhar, uma palavra, são comportamentos verbais e pré-verbais que alcançam o sujeito e vêm invadi-lo, governando-o de dentro como uma força física, uma energia que perdeu significado, sem que o próprio sujeito possa agora decifrá-la.
Em Psicanálise, o nome para afetos inomináveis é sempre o mesmo: angústia, o mais desqualificado dos afetos, moeda dos afetos traumáticos.

Texto: Santa Rita e São Bernardo
  O texto inicia falando sobre a insatisfação dos funcionários do Centro de Juventude Santa Rita para com sua coordenadora. Insatisfação essa, vinda da não diferenciação entre o "ser patroa'' e "ser coordenadora" .  O que leva a  coordenadora a  realizar uma reunião com os funcionários para que os mesmos relatassem suas queixas, que são trazidas através de relatos sobre suas experiências negativas com antigos empregadores  e como eles estavam se sentindo da mesma forma na atual função.  O texto também traz o conceito de "enraizamento" de Simone Weil para falar sobre a participação do homem no mundo. Para Weil, o homem possuiria uma raiz pela sua participação real, ativa e natural na existência da coletividade.  A  importância da comunicação também é abordada no texto, assim como, o progresso industrial que criou uma separação entre a dimensão intelectual (homens que mandam) e a dimensão manual ( homens que obedecem). 
Nas linhas de montagem, cada operário está pregado a um ponto parcial do trabalho. Nada mais forte no homem do que o sentimento de apropriar -se pelo pensamento dos objetos e das operações em que investe seu trabalho.
O melhor da obra de Simone Weil.
Um plano de enraizamento operário de modo que trabalhador, no trabalho, pudesse sentir-se em casa, sentir-se no que lhe pertenceria e empenharia seu espírito .O plano supõe abolição de grandes fábricas e a proibição de trabalhos degradantes.
Em 1936,o Estado Francês.
Foi assumido pelo governo socialista da frente popular. Neste momento, os metalúrgicos da região parisiense entram em greve.
A greve generalizada.
Não havia dependido de qual quer provocação. A unidade sindical, grande trunfo então conquistado, tampouco havia sido decisiva para a greve: entre os metalúrgicos, na ocasião, não havia se não alguns poucos milhares de sindicalizados.
Na ocupação das fábricas, o determinante foi algo diferente de uma reivindicação particular, por mais importante que fosse (Como o direito a férias pagas, por exemplo, só conquistado naquele ano).
A alegria de entrar na fábrica.

Com a autorização sorridente de um operário que vigiada a porta.Alegria de encontrar palavras de acolhimento.Alegria de ouvir,em voz do barulho impiedoso das máquinas,músicas,cantos e risos! Passear entre máquinas caladas,que não cortam mais dedos.Alegria de conversar, nesses lugares em que dois operários podiam trabalhar meses seguidos,lado a lado sem que nenhum soubesse o que pensava o vizinho .


FONTE: Artigo Humilhação Social, um problema político em psicologia.
José Moura Gonçalves Filho Instituto de Psicologia – USP

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