HENRI WALLON ( 1879-1962) – Francês (Médico, Filósofo e Psicólogo).
Embora se saiba que Wallon se dedicou ao estudo da criança por acreditar que esse era o caminho para se compreender a origem dos processos psicológicos humanos, a seguir uma análise de sua teoria na perspectiva do envelhecimento humano.
AFETIVIDADE E INTELIGÊNCIA – TEORIA PSICOGENÉTICA
Estudou o desenvolvimento infantil a partir das dimensões cognitivas, afetivas e motora. Estudou o desenvolvimento de forma integral, recusando-se a estudar as partes isoladamente. Nessa perspectiva, sabe-se que o desenvolvimento humano na velhice é impactado de forma significativa nessas dimensões estudadas por Wallon (cognição, afetividade e motricidade).
A Psicologia genética está mais interessada em compreender quais as origens dos processos psíquicos.
Entendia que os processos psicológicos têm origem orgânica biológica, mas que só podem ser entendidos quando consideramos as maneiras pelas quais as influencias socioambientais interagem com esses processos. Portanto, considera tanto as condições orgânicas quanto as exigências sociais que influenciam o desenvolvimento psíquico. O idoso chega na sua última fase, conforme essas influências socioambientais agiram em sua vida, durante todo o processo de desenvolvimento do sujeito, e são essas influências junto a sua história de vida que irão determinar de este terá uma vida de qualidade na terceira idade ou não, e ainda, como este se comportará no enfrentamento da última fase de sua vida.
Wallon entende que a estrutura biológica é a primeira condição para a atividade psíquica. Não pode haver atividade psíquica sem uma estrutura biológica. A mente opera com os estímulos que são recebidos do meio externo e do mundo são as grandes mantenedoras da existência e do desenvolvimento humano. Desenvolvemo-nos, na interdependência entre fatores biológicos e sociais. Desta forma, pode-se perceber que as condições biológicas do indivíduo irão influenciar no padrão de vida que idoso terá, pois as perdas e incapacidades da velhice, podem impor limitações da atividade psíquica do indivíduo.
O desenvolvimento do pensamento infantil não ocorre de forma contínua, marcado por crises e conflitos, resultado do amadurecimento dos sistema nervoso que traz novas possibilidades orgânicas para o exercício do pensamento e alterações do meio social que traz novas situações e estímulos diferenciados. É do conflito dessas duas condições que emergem o pensamento e a inteligência. Logo conflitos e contradições não são problemas, mas fazem parte do desenvolvimento psíquico normal da criança. As crises muitas vezes são dinamizadoras do processo desenvolvimental, e portanto, benéficas. Sendo assim, o idoso que passou pelas fases anteriores do seu desenvolvimento, enfrentando positivamente os problemas, e aprendendo com eles, chega na velhice com pensamentos e inteligência bem estruturados para lidar com a última fase de sua vida.
Para ele o desenvolvimento não se dá de forma linear, por isso ele rompe com visões lineares e positivas ao construir um modelo de investigação e interpretação próprio. Pois, percebe que o desenvolvimento humano é marcado por avanços, recuos e contradições; não há uma sucessão de estágios, mas sim, desenvolvimentos que ocorrem de forma simultânea. Essa afirmativa de Wallon demonstra que ainda na velhice, é possível haver desenvolvimento na vida do idoso, tantos nos aspectos cognitivos quando bem estimulados, quanto nos aspectos psicológicos, mesmo havendo declínio das condições biológicas ou físicas.
Afetividade, motricidade e inteligência.
A inteligência se desenvolve após a afetividade, contrariando outras teorias. A inteligência surge de dentro da afetividade e estabelece com ela certa relação de conflito, talvez seja por isso que nos interessamos em aprender as coisas que mais gostamos do que as que não gosta. Ao nascer somos frágeis seres orgânicos e dependemos de outros para cuidar de nós, desenvolvendo uma absoluta dependência até os dois primeiros anos, e por isso, nos tornamos seres afetivos, a emotividade do bebe expressa no choro e no grito garante que o adulto se mobilizara para atender suas necessidades. Logo a expressão emocional assim é uma linguagem e sua função é social usada para comunicar necessidades. Não se deve confundir afetividade com amor e carinho. Afetividade estamos falando das coisas que nos afetam (ao olhar do outro, objeto, elementos internos como fome e lembranças) trata-se de eventos internos ou externos.
O choro afeta o adulto que cuida dela. O choro é culturalmente interpretado pelo adulto e é a partir daí age para atender a crianças. É no contexto dessa interação emocional e social que se dá o desenvolvimento cognitivo da criança. Wallon destaca a importância das atividades, motoras nesse processo, pois o bebe também expressa suas emotividades por gestos, expressões faciais. O ato motor é uma atividade expressiva que comunica os atos emocionais do bebe e ao mesmo tempo gera estados emocionais nos adultos.
Na medida em que a função simbólica se desenvolve, ou seja, que a criança se torna capaz de pensar sobre coisas que não estão presentes, como ver o desenho e associar a algo real, essa capacitação cognitiva permite a internalização de atos motores quer dizer, os atos motores vão diminuindo porque as crianças desenvolvem outros recursos para se comunicar, como as palavras; além disso adquire maior controle e refino sobre o ato motor.
Ele não coloca a inteligência como o principal componente do desenvolvimento, mas defende que a vida psíquica é formada por três dimensões: motora, afetiva e cognitiva, e que essas dimensões coexistem e atuam de forma integrada. Essas três dimensões afetam diretamente a vida do sujeito no processo de envelhecimento, quando as limitações motoras começam a surgir, afetando emocionalmente e cognitivamente a vida do idoso.
Defende que o processo de evolução depende tanto da capacidade biológica do sujeito, quanto do ambiente que o afeta de alguma forma. É o meio que vai permitir que essas potencialidades se desenvolvam. Dessa forma, pode-se pensar que havendo cuidados biológicos satisfatórios com a saúde física, e vivendo num ambiente que estimule e incentive o idoso a atividades cognitivas, certamente poderão se manter ativos e atuantes na velhice.
Principais características dos 6 estágios de desenvolvimento infantil de Wallon:
Em cada um dos estágios a criança interage com seu ambiente de formas específicas enquanto busca construir sua própria identidade.
Cada estágio representa um tipo de preparação para o estágio seguinte mas revela a descontinuidade. O desenvolvimento alterna fases de introspecção, voltar-se para si mesmo, e outras, de extroversão, nas quais o individuo se volta para o meio externo, em busca de autonomia.
As idades e o tempo de duração de cada estágio variam de criança para crianças, por conta das características individuais e suas relações.
ESTÁGIO IMPULSIVO-EMOCIONAL (0 A 1 ANO)
- Realiza movimentos reflexos involuntários e impulsivos.
- Aos poucos vai respondendo afetivamente aos adultos que são seus intermediários entre ele e a realidade externa, nessa relação passa a usar gestos para se comunicar.
- Aos 3 meses consegue sorrir para as pessoas, fortalecendo só vínculos coma s pessoas, e é através da afetividade que se estabelece os mais fortes vínculos com as pessoas.
- A função inicial da emotividade é mobilizar a mãe que irá atender as suas necessidades. É pela emoção expressiva, choro, grito, etc., que o bebe comunica as suas necessidades.
- Até aproximadamente 1 ano o bebê está concluindo o processo de socialização com as pessoas que o cercam, fase em que ainda é totalmente dependente.
- Se interessam por objetos a medida em que estes são apresentados pelos adultos. Com o avançar do desenvolvimento a criança vai aprendendo a agir diretamente com seu meio, em um processo crescente de individuação; torna-se mais autônoma.
ESTÁGIO SENSÓRIO-MOTOR E PROJETIVO ( 1 A 3 ANOS)
- A EXPLORAÇÃO DO ambiente físico se se acentua na medida em que a criança aprende a segurar coisas e a se deslocar.
- O desenvolvimento das capacidades cognitivas das crianças está em pleno desenvolvimento, explorando o mundo através dos sentidos e habilidades motoras. Tudo deve ser tocado e sentido.
- Pouco a pouco o ato motor vai diminuindo e cedendo lugar ao ato mental, ao pensamento, como o desenvolvimento da fala o pensamento também ganha impulso.
- A aquisição da linguagem permite que o pensamento se manifeste através da fala, o que rompe com a manifestação motora do pensamento, e isso representa um salto qualitativo no desenvolvimento infantil.
- É necessário que a vivência sensória motora do mundo seja inibida pela criança para que a sua vida mental floresça.
ESTÁGIO DO PERSONALISMO (3 A 6 ANOS)
· Há um conflito entre seu desejo pela autonomia e o fortalecimento do vínculo com a família.
· Como o processo de formação da personalidade é a tarefa psíquica mais importante desse estágio, a criança nega os adultos, muitas vezes se opondo a eles. Seu pensamento volta-se quase que exclusivamente para si. Ela precisa adquirir consciência de si mesma em suas relações com o mundo.
· Inicio da vida escolar, o vínculo familiar se flexibiliza e a criança se direciona para a autonomia uma vez que a vida escolar exige que tome decisões sozinhas, realize escolhas, concorde ou descorde, enfim, se vendo em situações conflituosas.
· Ao mesmo tempo em que caminha para autonomia, se desenvolve a imitação dos adultos que convive, modo de ser e pensar porque admiram.
· Afetividade se manifesta de modo mais simbólico, por palavras e ideias
ESTÁGIO CATEGORIAL ( 7 A 12 ANOS)
· A criança utiliza cada vez mais a inteligência para explorar e conhecer os objetos no meio físico e social, que podem ser transformadas e remanejadas dando margem a criatividade.
· \a inteligência e o interesse pelo mundo externo predominam. A criança avança para o pensamento abstrato, ganha maior controle de habilidade como a memória voluntaria (capacidade de memorizar coisas voluntariamente), obtém maior controle da atenção.
ESTÁGIO DA ADOLESCÊNCIA ( A PARTIR DOS 12 ANOS)
· As modificações corporais que resultam da ação dos hormônios sexual, levam ao adolescente a buscar uma nova personalidade.
· Há uma ruptura do equilíbrio afetivo, deseja compreender suas inquietações, seus desejos, sua sexualidade e sua real identidade., sendo importante que o adulto ao perceber essas necessidades ofereçam diálogo e apoio aos adolescentes.
· O adolescente deseja diferenciar-se do adulto. Apresenta contornos mais racionais, criando teorias sobre seus relacionamentos com as pessoas.
· Os conflitos internos e externos fazem com que o adolescente se volte para si mesmo, a fim de buscar sua autoafirmação, como forma de lidar com as transformações corporais e psíquicas impulsionadas pela maturação sexual.
· O desenvolvimento permanece por toda a vida e não se encerra na adolescência. A afetividade e a cognição sempre estarão em movimento, em interação entre as inúmeras atividades que desenvolvemos ao longo da vida.
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