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quarta-feira, 4 de agosto de 2021

Concepção de saúde-doença e o cuidado em saúde

 Aspectos teóricos conceituais de dois tópicos fundamentais, que estão intimamente interligados para a compreensão do campo da saúde:

  • concepções de saúde-doença e do cuidado em saúde;
  • respeito à determinação social da doença.
Objetivos:

  • apresentar as diferentes concepções sobre saúde-doença e cuidado, de forma a relacionar as necessidades em saúde com base nas características de uma população em um dado território; 
  • caracterizar a relação entre o processo saúde-doença e as dinâmicas existentes de cuidado relativo à organização das ações e serviços de saúde e as redes sociais de apoio;
  • e tratar dos diferentes determinantes sociais do processo saúde-doença com base nas características de uma dada população.
Para Refletir...

a) O que significa ter saúde? O que contribui para que as pessoas
tenham saúde?
b) O que significa estar doente? O que favorece o adoecimento
das pessoas?
c) O que você faz quando adoece? O que significa para você ser
cuidado?
d) Como os trabalhadores de saúde interferem no processo saúdedoença
das pessoas?

Os diferentes modelos explicativos do processo saúde-doença e do cuidado:
  • se faz presente desde a Antiguidade
  • concepções, avanços e limitações explicativas dos modelos.
  • proximidades e disparidades com as concepções de saúde, doença e cuidado da atualidade.
Modelo mágico-religioso ou xamanístico
  • A visão mágico-religiosa sobre a saúde e a doença e sobre como cuidar era a predominante na Antiguidade.
  • concebiam as causas das doenças como derivadas tanto de elementos naturais como de espíritos sobrenaturais
  • Adoecer era uma transgressão de natureza indivudal ou coletiva, e para reaver a saúde, requeriam a divindades, sacerdotes, feiticeiros e xamãs.
  • As relações com o mundo natural se baseavam em uma cosmologia que envolvia deuses e espíritos bons e mau
  • A religião  era o ponto de partida para a compreensão do mundo e de como organizar o cuidado.
Modelo holístico
  • As medicinas hindu e chinesa, também na Antiguidade, traziam uma nova forma de compreensão da doença.
  • A noção de equilíbrio é que vai dar origem à medicina holística.
  • Traz a ideia de “proporção justa ou adequada” com a saúde e a doença.
  • A saúde era entendida como o equilíbrio entre os elementos e humores que compõem o organismo humano.
  • Um desequilíbrio desses elementos permitiria o aparecimento da doença.
  • Contribuições de Alcmeon (século V a.C.), para quem o equilíbrio implicava duas forças ou fatores na etiologia da doença.
  • os opostos podiam existir em equilíbrio dinâmico ou sucedendo-se uns aos outros (Heráclito apud Herzlich, 2004).
  • A causa do desequilíbrio estava relacionada ao ambiente físico, tais como: os astros, o clima, os insetos etc.
  • o cuidado deveria compreender o ajuste necessário para a obtenção do equilíbrio do corpo com o ambiente, corpo este tido como uma totalidade.
  • Cuidado, em última instância, significa a busca pela saúde que, nesse caso, está relacionada à busca do equilíbrio do corpo com os elementos internos e externos.

Modelo empírico-racional (hipocrático)
  • tem seus primórdios no Egito (3000 a.C.).
  • filósofos (século VI a.C.) procuravam encontrar explicações não sobrenaturais para as origens do universo e da vida, bem como, para a saúde e a doença.
  • Hipócrates (século VI a.C.) estabeleceu a relação homem/meio com o desenvolvimento de sua Teoria dos Humores, teoria a qual defendia que os elementos água, terra, fogo e ar estavam subjacentes à explicação sobre a saúde e a doença (Herzlich, 2004).
  • Na concepção hipocrática...
    • Saúde é fruto do equilíbrio dos humores; 
    • Doença é resultante do desequilíbrio deles;
    • Cuidado depende de uma compreensão desses desequilíbrios para buscar atingir o equilíbrio.
    Modelo de medicina científica ocidental (biomédico)
    • predominante na atualidade
    • tem suas raízes vinculadas ao contexto do Renascimento e de toda a Revolução Artístico-Cultural, que ocorreram a partir do século XVI.
    • O Método de Descartes (séculos XVI e XVII) definiu as regras que constituem os fundamentos do seu enfoque sobre o conhecimento:
      •  não se deve aceitar como verdade nada que não possa ser identificado como tal; 
      • separar cada dificuldade a ser examinada em tantas partes quanto sejam possíveis e que sejam requeridas para solucioná-las;
      •  condução do pensamento de forma ordenada, partindo do simples ao mais complexo;
      • necessidade de efetuar uma revisão exaustiva dos diversos componentes de um argumento.
    • Conceito biomédico da doença...
      • desajuste ou falha nos mecanismos de adaptação do organismo ou ausência de reação aos estímulos a cuja ação está exposto [...], processo que conduz a uma perturbação da estrutura ou da função de um órgão, de um sistema ou de todo o organismo ou de suas funções vitais (Jenicek; Cléroux, 1982 apud Herzlich, 2004)
    • Explica a doença e tratar o corpo em partes cada vez menores, reduzindo a saúde a um funcionamento mecânico (Barros, 2002).
    • Concepção fragmentária, modelo da teoria mecaniscista onde o homem é visto como corpo-máquina.
    • No Renascimento surge a explicação para as doenças relacionadas às situações ambientais; a causa das doenças passava a estar num fator externo ao organismo, e o homem era o receptáculo da doença.
    • Teoria dos Miasmas associada ao surgimento das epidemias e as condições do ambiente.
    • A intervenção de cuidado é baseada numa visão reducionista e mecanicista, em que o médico especialista é o mecânico que tratará da parte do corpo-máquina defeituosa ou do ambiente para o controle das possíveis causas de epidemias.
    • O cuidado, na concepção biomédica, está focado, segundo Foucault (1979), no controle do espaço social, no controle dos corpos.
    Modelo sistêmico
    • Final da década de 1970 começou a ganhar força.
    • O sistema, neste caso, é entendido como “um conjunto de elementos, de tal forma relacionados, que uma mudança no estado de qualquer elemento provoca mudança no estado dos demais elementos” (Roberts, 1978 apud Almeida Filho; Rouquayrol, 2002).
    • noção de sistema incorpora a ideia de todo, de contribuição de diferentes elementos do ecossistema no processo saúde-doença.
    • a estrutura geral de um problema de saúde é entendida como uma função sistêmica, na qual um sistema epidemiológico se constitui num equilíbrio dinâmico.
    • cada vez que um dos seus componentes desse sistema sofre alguma alteração, esta repercute e atinge as demais partes.
    • Sistema epidemiológico é o conjunto formado por agente suscetível e pelo ambiente, dotado de uma organização interna que regula as interações determinantes da produção da doença, juntamente com os fatores vinculados a cada um dos elementos do sistema (Almeida Filho; Rouquayrol, 2002, p. 49)
    • Requer um sistema de saúde complexo, que contemple um conjunto de ações e serviços de saúde capaz de identificar as interações dos determinantes da produção e reprodução das doenças e de atuar de forma efetiva no enfrentamento destes
    Modelo da História Natural das Doenças (modelo processual)

    • Leavell e Clark, no ano de 1976 foram os principais sistematizadores desse modelo.
    • definiram história natural da doença como o conjunto de processos interativos que cria o estímulo patológico no meio ambiente ou em qualquer outro lugar, passando da resposta do homem ao estímulo, até as alterações que levam a um defeito, invalidez, recuperação ou morte (Leavell; Clark, 1976 apud Almeida Filho; Rouquayrol, 2002).
    • visa ao acompanhamento do processo saúde-doença em sua regularidade, compreendendo as inter-relações do agente causador da doença, do hospedeiro da doença e do meio ambiente e o processo de desenvolvimento de uma doença.
    • apresenta uma dimensão basicamente qualitativa de todo o ciclo, dividindo em dois momentos sequenciais o desenvolvimento do processo saúde-doença:
      •  o pré-patogênico - considerado período epidemiológico, diz respeito à interação entre os fatores do agente, do hospedeiro e do meio ambiente; permite ações de promoção da saúde e a proteção específica.
      •  o patogênico - corresponde ao momento quando o homem interage com um estímulo externo, apresenta sinais e sintomas e submete-se a um tratamento; envolve a prevenção secundária e a prevenção terciária.
    • considerar a possibilidade de evitar a morte,
    • Traz diferentes possibilidades de prevenção e promoção da saúde, como interromper a transmissão, evitar o caso e promover vida com qualidade.

    O processo saúde-doença
    • se configura como um processo dinâmico, complexo e multidimensional 
    • engloba dimensões biológicas, psicológicas, socioculturais, econômicas, ambientais, políticas, enfim, pode-se identificar uma complexa interrelação quando se trata de saúde e doença de uma pessoa, de um grupo social ou de sociedades
    • é um conceito central da proposta de epidemiologia social, que procura caracterizar a saúde e a doença como componentes integrados de modo dinâmico nas condições concretas de vida das pessoas e dos diversos grupos sociais; 
    • cada situação de saúde específica, individual ou coletiva é o resultado, em dado momento, de um conjunto de determinantes históricos, sociais, econômicos, culturais e biológicos.
    Conceito de Saúde segundo a OMS (1948)

    “estado de completo bem-estar físico, mental e social”, passando de uma visão mecânica da saúde para uma visão abrangente e não estática do processo saúde-doença.

    Na 1a Conferência Internacional sobre Promoção da Saúde, realizada em 1986, o conceito passou a estar relacionado à noção de promoção da saúde, que significa capacitar a comunidade para atuar na melhoria da sua qualidade de vida e saúde, incluindo uma maior participação social no controle do processo de saúde e doença (Organização Pan-Americana de Saúde, [199-]).

    A noção de promoção da saúde no conceito da OMS significa...
    •  incluir indivíduos e grupos no processo saúde-doença, de modo que possam identificar aspirações, satisfazer necessidades e modificar favoravelmente o meio ambiente, o que significa compreender os indivíduos e grupos como agentes na promoção da saúde.

    Definição de saúde presente na Lei Orgânica de Saúde (LOS), n. 8.080, de 19 de setembro de 1990, lei que regulamenta o Sistema Único de Saúde e é complementada pela Lei n. 8142 de dezembro de 1990:

    "A saúde tem como fatores determinantes e condicionantes, entre outros, a alimentação, a moradia, o saneamento básico, o meio ambiente, o trabalho, a renda, a educação, o transporte, o lazer, o acesso a bens e serviços essenciais; os níveis de saúde da população expressam a organização social e econômica do país" (Brasil, 1990, Art. 3).

    A saúde, a doença e o cuidado...
    •  são determinados socialmente, variando conforme os tempos, os lugares e as culturas;
    • as organização das ações e serviços de saúde e das redes de apoio social precisam ser planejada e geridas de acordo com as necessidades da população de um dado território.
    Promover saúde...
    • é em última instância, promover a vida de boa qualidade, para as pessoas individualmente e para as suas comunidades no território. 
    • A estratégia de promoção da saúde foi orientada para a modificação dos estilos de vida, para a adoção de hábitos saudáveis.
    • Visa...
      • Acesso equitativo à saúde como direito de todos;
      • Desenvolvimento de um entorno facilitador da saúde;
      • Ampliação e potencialização das redes de apoio social;
      • Promoção de atitudes afirmativas para a saúde acompanhadas de estratégias de enfrentamento adequadas;
      • Ampliação da noção de construção compartilhada do conhecimento e de difusão de informações relacionadas à saúde;
      • Fortalecimento da noção de responsabilidade social e civil de gestores de forma compartilhada com a sociedade organizada.
    Promoção da saúde não é de responsabilidade exclusiva do setor saúde; ela vai muito além: aponta na direção de um bem-estar global, em que indivíduos, grupos sociais e Estado têm papel importante a exercer para sua conquista.

    Referências: Qualificação de Gestores do SUS. Concepção de sapude doença e o cuidado em saúde.

    quarta-feira, 3 de abril de 2019

    Medicina Social

    Antes de se falar em saúde coletiva, é importante o entendimento de alguns conceitos:

    Doença seria a alteração biológica do estado de saúde de um ser, manifestada pelo conjunto de sintomas, perceptíveis ou não; enfermidade, mal, moléstia; alteração do estado de espírito ou do ânimo de um ser.

    Saúde é um estado de completo bem-estar físico, mental e social e não apenas a ausência de doença (OMS), cujos principais determinantes são:
    • Ambiente social
    • Ambiente econômico
    • Ambiente físico
    • Características do comportamento de cada indivíduo.
    A Saúde abrange os aspectos físicos, sociais e psicológicos de um indivíduo.

    Na Antiguidade a medicina  interpretava as doenças como as forças do mal, e os tratamentos eram de feitiçaria, exorcismo e cirurgias primitivas.

    Na Idade Média, a Igreja soberana, retorna ao misticismo e passa a controlar a prática da medicina.

    Na Renascença, séc. XV, inicia-se os estudos da anatomia e a prática médica, o que levou a dissecar humanos, marco do estudo oficial da anatomia. Nesse período René Descartes associava o corpo humano como uma máquina, e admitia a dicotomia mente e corpo.

    Pós-renascença, surge a teoria anatômica da doença, com avanços tecnológicos e uso do microscópio.

    Século XIX surge a Teoria celular da doença, com Louis Pasteur que trás a vacina contra a raiva, Teoria dos germes da doença (vírus e bactérias). Medicina Moderna.

    Surge o modelo biomédico, onde a doença é tida como ação de um vírus, bactérias ou algum agente patogênico que invade o corpo. Há uma visão reducionista da doença, e do paciente. Mente é separada do corpo e a saúde se define como ausência de doença.

    Medicina Psicossomática, não tem identificação biológica, mas trata-se de conflitos psicológicos, conforme Sigmund Freud. Surgem os diagnósticos e tratamento de patologias físicas causadas por processos deficientes da mente. Teoria reducionista, abrangendo apenas os aspectos psicológicos.

    Medicina comportamental, do Behaviorismo de Watson, Thorndike e Skinner, com a Teoria do comportamento observável e a Teoria da Aprendizagem. Essa medicina integra a ciência do comportamento e a biomédica com o objetivo de promover a saúde e tratar as doenças.

    Medicina Social, proposta por Foucoult, na Idade Média, é individualista e possui aspecto coletivo discreto. NO capitalismo do século XVIII e XIX, sai do individual para o coletivo, socializando o corpo/objeto,no que diz respeito a força de produção e de trabalho. 

    Na Alemanha a Política Médica parte da observação mais completa da morbidade, mais do que a simples relação entre morte e nascimento, surgindo o processo de normatização da prática e do saber médico. A atividade médica passa a ser administrada e organizada, funcionários médicos são nomeados com responsabilidades sobre determinadas regiões, surgindo a Medicina Social do Estado.

    NA França, fim do séc. XVIII a Medicina Social surge com a Urbanização, razão econômica motivada pelas relações comerciais, e razões políticas devido a classe operário que se mobilidade, ocasionando o medo urbano.

    A Medicina Urbana tem como objetivos analisar as regiões amontoadas, confusões e perigos, controla a circulação de pessoas, coisas e água. Se organizam  com as distribuições e sequências. A Medicina passa a ser de propriedade privada, chamada Medicina Social Urbanista.

    Na Inglaterra, séc XIX a Medicina dos pobres, operários e da força de trabalho, acontece no contexto da revolução francesa, das revoltas políticas, da expansão da indústria que dispensa os serviços prestados pela população. Surge a Cólera 1832, que faz separar o espaço de ricos e de pobres nas cidades.

    Com a Revolução Industrial, surgem os proletários, trabalhadores que precisavam estar bem para trabalhar. Com isso, é permitida a assistência médica aos pobres, não para proteger o pobre, mas para proteção das classes ricas; Lei dos pobres, implica em controle médico. Era uma Medicina assistencial, onde as vacinas eram administradas compulsoriamente para impedir as epidemias. A Medicina privada era para quem tinha poder aquisitivo. Quem não tinha, usava a Medicina Social Assistencialista.