II-As ideias psicológicas na produção cultura da companhia de Jesus no Brasil do s´´eculo XVI e XVII - Resenha Crítica


REFERÊNCIA:
Em “As ideias psicológicas na produção cultural da companhia de Jesus no Brasil do século XVI e XVII”, do livro História da Psicologia no Brasil: Novos Estudos, de autoria de Marina Massimi, retrata a importância da cultura luso-brasileira para a Psicologia, desde a influência colonial evidenciando diferentes grupos ou realidades culturais que representam, expressam ou transmitem determinados modelos culturais. Trata-se de um texto sobre as influências dos jesuítas sobre o povo indígena, após assumirem o Brasil em missão de catequese, que irão corroborar para a história das ideias psicológicas.
RESENHA CRÍTICA:
O texto revela que os jesuítas, ao assumirem o Brasil com a missão de levar ideias, sonhos e desilusões, riquezas e contradições do Velho mundo, para o Brasil recém-descoberto. Contudo, pode-se observar que surgia a partir de então um poder imposto pelos recém-chegados, sobre a formação cultural local, sem a preocupação da aceitação por parte do povo nativo, que tem sua cultura potencialmente agredida pela imposição da cultura europeia. Levam como proposta de transformação da população nativa, o espírito da pedagogia humanista, impondo uma educação religiosa que fosse capaz de transformar a sociedade indígena no padrão religioso europeu, proposto pelos jesuítas. A intenção poderia até ser boa, mas houveram muitas consequências trágicas já que a obrigatoriedade e imposição de seus costumes agrediam a liberdade do homem livre que viva no Brasil, pois é preciso compreender e respeitar, que a cultura de um povo perpassa pelas crenças, valores, credos, arte, religião, não sendo possível estabelecer analogias na condição de analisar a melhor ou a pior, já que se trata de aspectos subjetivos que compõe uma sociedade.
Muito religiosos, os jesuítas tinham como principais dimensões da espiritualidade e de sua formação a ênfase no conhecimento de si mesmo e no diálogo interpessoal. Entretanto, essa busca exige um saber prévio que os indígenas não demonstravam ter, tendo em vista as diferentes culturas. Esse, um dos motivos pelos quais, os jesuítas, ao imporem seu modelo de educação, acabam violentando a cultura de um povo acostumado a viver em liberdade.
Denise Machado trata do estudo da alma e a cura das enfermidades do ânimo, como importante fonte do conhecimento da teoria psicológica difundida no ambiente cultural da Companhia de Jesus em Portugal e no brasil, que perpassa pela leitura de comentários às obras psicológicas de Aristóteles, de caráter moral e oratória obrigatória, que embora tenha sido imposta ao povo indígena, também trouxe conhecimentos.
Talvez essa imposição de costumes e valores de um povo sobre outro povo de cultura diferente, tenha se refletido em comportamentos humano e social motivados pelas paixões de cada cultura, estabelecendo assim, uma relação de amor e ódio entre os diferentes povos.
Vieira acreditava que os fenômenos psicológicos deveriam ser estudados do conhecimento de si, da conversão religiosa e do comportamento virtuoso, na maneira como o homem concebe e conhece a si mesmo. A partir daí, surgem duas realidades diversas, como o lodo e a divindade, sendo o lodo associado a parte inferior do eu e a divindade, que remete o ser a Deus. Provavelmente, Vieira já tinha uma noção clara de que através de princípios religiosos, muito dos comportamentos vinculados às paixões e ao lodo humano, o homem poderia se transformar em alguém melhor, a partir do autoconhecimento, tanto que ele dizia que “quem se conhece pela parte do corpo ignora-se, e só quem se conhece pela parte da alma se conhece”. Provavelmente, Vieira reconhecia na alma, a essência do sujeito, que jamais morreria, que atualmente chamamos de Espírito ou Alma, na qual se encontra registradas todas as suas experiências. De fato, a essência do sujeito reflete quem de fato ele é, e ainda que este não tenha consciência de si, ao se manifestar, por meio de suas experiências, acaba expondo a sua suposta essência.
Dentre as expectativas dos jesuítas para colonizar o Brasil, estava a evangelização, como meio de transmitir ideias psicológicas acerca de si e do outro. É claro que o povo indígena, de cultura religiosa completamente diversa da cultura religiosa europeia, enfrentou enormes desafios de língua, aceitação e agressão. A ideia de “Estou eu imaginando todas as almas dos homens uma...”, do Padre Manoel da Nóbrega, denota uma arrogante tentativa de padronizar um povo, a um modelo cartesiano, embora houvesse uma preocupação em identificar as características psicológicas do índio, que o fez reconhecer no indígena uma inferioridade cultural em relação a outras nações, mas a questão é até que ponto eles de fato eram inferiores, pois é preciso compreender que as diferentes culturas precisam ser respeitadas já que estas são construídas em cima de seus potencias valores mais importantes e relevantes para a existência de um povo.
Diante da prepotência em julgar uma raça culturalmente inferior, acreditaram que a educação era necessária para moldá-los ao seu padrão cultural considerado ideal, já que se pensava que, o homem é uma tabula rasa a ser preenchida por suas experiências, como bem explicou John Locke, que denomina como passivo o espírito.
Alexandre Gusmão propõe que a construção do conhecimento acerca da criança deveria ser realizada em métodos e doutrinas próprias das tradições ocidentais, destacando-se pela teoria dos humores, e pela parábola destinada a evidenciar a importância da educação, no que diz respeito ao projeto de vida individual. Pode-se considerar que, esse ideal humanista do desenvolvimento, se não houvesse implícita, a intenção de domínio sobre o povo indígena, por parte dos europeus, seria de fato, uma abertura às infinitas possibilidades do ser e da confiança na educação, a partir da busca voluntária de transformação por parte do indígena.
Esse trabalho se destina a obtenção de uma melhor compreensão sobre a realidade em que se instaurou o processo de colonização dos portugueses no Brasil, sobrepondo a cultura europeia sobre a cultura indígena brasileira.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
MASSIMI, Marina. História da Psicologia no Brasil: Novos Estudos. II-As ideias psicológicas na produção cultural da companhia de Jesus no brasil do século XVI e XVII

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