História da Psicologia das diferenças individuais - Síntese

O capítulo mostra que desde a Antiguidade já se interessavam pelas diferenças entre as pessoas, através da descrição do passado da Psicologia das diferenças individuais.

Já se tentava responder às seguintes perguntas:

  • Quais as coisas que diferenciam os seres humanos?
  • O que eles fazem para se diferenciar e por que se diferenciam?

ANTES DA CIÊNCIA

Renascimento ( séc. XVIII e XIX)

  •  A astrologia, já foram usadas para descrever as diferenças pessoais e predizer a conduta das pessoas;
  • Os filósofos gregos também se questionaram sobre as diferenças pessoais a partir de segundo uma série de princípios naturais. 
  • o pai do estudo das diferenças individuais, o Dr. Juan Huarte de San Juan: desempenhou papel importante a respeito das diferenças individuais.
  • começaram a surgir tentativas mais sistemáticas de encontrar respostas às perguntas sobre diferenças individuais. 
O mundo antigo 
  • A astrologia representou uma das primeiras tentativas de elaborar alguns princípios básicos para classificar e organizar as diferenças entre as pessoas. 
  • Ptolomeu relaciona os signos do zodíaco com os traços dos ser humano, com a finalidade de analisar as diferenças individuais. pretendia-se categorizar os indivíduos de forma que pudesse situá-los.
  • Teofrasto (372-288 a.C.), em seu livro Os caracteres morais, descreveu 30 “tipos morais”, entre eles o adulador, o trabalhador, o mal-educado ou o charlatão.
  • A doutrina clássica dos humores e temperamentos, de Galeno e Hipócrates de Cós, definindo formas tipológicas.
  • Platão, em sua obra A República, reconheceu e usou as diferenças individuais, a partir da qual começou a designar os cidadãos às tarefas. 
O Renascimento
  • O espanhol Juan Huarte de San Juan foi o primeiro pensador a elaborar um referencial sistemático para a análise das diferenças individuais. Desenvolveu uma teoria das faculdades, ou habilidades, em que diferencia as faculdades de imaginar, de entender e de memorizar
  • Huarte classifica e sistematiza as diferenças individuais atendo-se aos princípios básicos da doutrina científica  Examen de Ingenios consta de três partes fundamentais:
  1. Primeiro, estuda teoricamente as diversas personalidades, suas variedades e diferenças, sua relação com a constituição dos temperamentos, a teoria dos humores e do cérebro. Essa análise permite explicar as diferenças de talento ou aptidão. 
  2. Segundo, explora uma série de questões práticas, como as relações entre profissões e entre pessoas. 
  3. Finalmente, são dados conselhos para alcançar um engenho adequado, recorrendo, entre outras coisas, a melhoramentos na constituição biológica das pessoas.
Séculos XVIII e XIX
  • F.J. Gall foi um dos precursores da psicologia das diferenças individuais. Contestou os métodos introspectivos, próprios das perspectivas filosóficas, por considerá-los inadequados para o desenvolvimento de uma psicologia científica.
  • A craneometria ou frenologia de Gall introduziu vários tópicos  como as técnicas de mensuração das capacidades, de quantificação estatística, de comparação entre sexos, classes sociais ou raças.
  •  Gall representou a primeira psicologia objetiva das diferenças individuais depois de Huarte.
Inglaterra
  • H. Spencer preparou o caminho para o desenvolvimento de uma psicologia das diferenças individuais contemporânea e plenamente científica.
  •  Segundo Spencer, o estudo da mente deveria consistir em observar a maneira como ela evolui a partir de uma massa indiferenciada, até se tornar um organismo heterogêneo e integrado; esse processo denomina-se princípio de diferenciação.,
  •  integra o associacionismo inglês, representado por filósofos como John Locke e David Hume, à fisiologia sensório motora e à teoria da evolução do naturalista Lamarck.
  • O desenvolvimento da mente consistiria em um ajuste adaptativo às condições ambientais, e o cérebro humano acumularia experiências durante o processo de evolução.
  • os herdeiros do associacionismo britânico, o indivíduo era uma espécie de combinação entre organismo físico e atividade mental;
  •  os alemães, não havia problema em aceitar a ideia da variabilidade física.
Os verdadeiros pilares do estudo científico contemporâneo das diferenças individuais são:

 – Charles Darwin e Francis Galton. 
– O protestantismo e o capitalismo.

Escolas Científicas

No que diz respeito à pesquisa sobre as diferenças individuais, é possível identificar ao menos três escolas que compartilham o interesse por seu estudo.

A escola anglo-saxônica: Grã-Bretanha e América do Norte
  • Francis Galton: seu principal postulado teórico afirma que se existem variações essenciais nas propriedades físicas, elas também deverão existir nas psicológicas, e que há uma relação direta entre as diferenças individuais no funcionamento dos órgãos sensório-motores e as diferenças intelectuais.
  • Galton utilizou uma série de métodos estatísticos para coletar informações sobre as diferenças individuais
  • Galton foi o primeiro a tentar aplicar os princípios evolucionistas da variação, seleção e adaptação ao estudo dos indivíduos humanos (Anne Anastasi, 1958)
  • A contribuição teórica de Galton ao estudo das diferenças individuais na psicologia humana consiste em relacionar esse estudo com o mecanismo geral da evolução.(Maurice Reuchlin 1978)
Francis Galton desenvolveu uma série de técnicas para estudar cientificamente as diferenças individuais:

- formulou as principais medidas de dispersão, como, por exemplo, o desviopadrão; 
– inventou o percentil, os métodos de regressão e as tabelas de referência para interpretar os escores individuais; 
– elaborou os primeiros cadernos para o registro ponderado do desenvolvimento a partir do nascimento; – inventou diversos aparelhos de registro, como o apito de Galton para medir as funções auditivas, e provas para medir a discriminação da profundidade de cor, acuidade visual e daltonismo; 
– desenvolveu o índice de correlação para descrever a força da relação entre duas variáveis.

As principais características da escola britânica:

 – propunha que a natureza da mente devia ser explorada através da análise de uma série de elementos simples; 
– manifestava um repúdio explícito aos métodos introspectivos. Spearman expressava isso da seguinte maneira:
– apoiava-se em uma psicologia correlacional para descobrir, objetivamente, quais eram as tendências psíquicas importantes. Mais concretamente, pretendia descobrir quais eram as relações entre o rendimento dos sujeitos nos testes mentais e as atividades psíquicas mais interessantes; 
– rejeitava tanto as teorias clássicas das faculdades, que influenciaram fortemente as primeiras tentativas de construir uma psicologia científica, quanto o recurso da iluminação interna ou da intuição do pesquisador. A escola britânica pretendia produzir fatos verificáveis. Segundo Spearman, se esse programa tão ambicioso fosse bem-sucedido, daria à psicologia experimental o elo que faltava em sua justificação teórica e, ao mesmo tempo, se conseguiria um produto prático promissor; 
– enquanto o procedimento habitual na psicologia consistia em determinar, de modo subjetivo, uma área de pesquisa (como percepção, atenção, imaginação ou fadiga), a proposta da escola britânica consistia em não adotar nenhuma posição teórica ao iniciar a pesquisa e, assim, chegar a descobrir, experimentalmente, quais poderiam ser os conceitos teóricos importantes; 
– as pessoas utilizadas nas pesquisas psicológicas deviam representar a população geral. Spearman escreveu: “uma Universidade não é o lugar idôneo para procurar a correspondência natural entre funções”; 
– é necessário estudar os fundamentos cognitivos do rendimento das diferentes pessoas nas provas ou nos testes mentais. A obra de Charles Spearman A natureza da “inteligência” e os princípios da cognição constituiu o primeiro estudo cognitivo sistemático da história da psicologia. Segundo Carroll (1982), essa obra consiste em uma análise minuciosa dos processos de raciocínio, tal como se manifestam na resolução de silogismos, na obtenção de inferências a partir de proposições, na resolução de problemas matemáticos e em outros processos similares.

Escola americana:

– o Laboratório de Psicometria, de Louis Leon Thurstone, instalado na cidade de Chicago; – o Projeto sobre Aptidões, de Joy Paul Guilford e do exército americano; 
– o IPAT (Institute for Personality and Ability Testing 
– ou Instituto para Medição da Personalidade e das Capacidades), dirigido por Raymond Bernard Cattell; 
– a equipe da Universidade de Stanford, dirigida por Lewis Terman. Essa universidade foi, a partir desse momento, um centro aglutinador de várias equipes de pesquisa sobre as diferenças individuais. Autores do porte de Lee J. Cronbach e Richard Snow desenvolveram suas pesquisas nessa universidade. Muito perto da Universidade de Stanford, encontra-se a Universidade de Berkeley, onde trabalhou um dos autores mais importantes da psicologia das diferenças individuais, Arthur R. Jensen; 
– o Educational Testing Service, de Princeton.

A Escola Francesa:

Alfred Binet: o artigo escrito por Binet e Henri em 1895 (“A psicologia individual”), enquadra-se no movimento nascente dos testes mentais e critica a visão elementarista dos testes típicos da perspectiva de Galton e Cattell, basicamente sensório-motora.

 Binet e Simon (1905) expuseram algumas considerações no desenrolar de seu famoso trabalho Escala Métrica da Inteligência: 

– uma avaliação adequada da inteligência exige utilizar tarefas que estejam mais próximas das verdadeiras tarefas de interesse ou critério, ou seja, de desafios reais como, por exemplo, aprender as diversas matérias da educação fundamental; 
– a avaliação não deveria realizar-se em laboratório, e sim nos contextos naturais em que se desenvolvem essas tarefas. Nesse caso, as diversas matérias são ensinadas na escola;
– nesse tipo de prova, é necessário ter rapidez: é impossível prolongá-la além de 20 minutos sem cansar o indivíduo; 
– os testes devem ser heterogêneos e variados, capazes de abranger rapidamente um amplo leque de observações; 
– o objetivo deve ser observar um determinado nível de inteligência, separando a inteligência natural do aprendizado adquirido. Isso significa que pode vir a ser necessário sacrificar muitos exercícios com conteúdo verbal, literário ou escolar; 
– os alicerces essenciais da inteligência são o bom julgamento, a correta compreensão e o bom raciocínio;
 – a memória, mesmo sendo um elemento importante da inteligência, deve ser considerada de modo independente da capacidade de julgamento. É possível ter uma grande memória sem capacidade de julgamento e vice-versa.

A escala métrica da inteligência resulta, portanto, em uma teoria da inteligência. Por isso, segundo Oleron (1957), quando Binet expressa a inteligência com apenas uma cifra está supondo que o objeto de sua mensuração é único.

Contribuição de Alfred Binet ao desenvolvimento da psicologia das diferenças individuais consiste nos seguintes aspectos: 

– seu interesse básico pelo tema; 
– a ênfase que coloca no estudo das funções superiores, dos processos complexos do psiquismo, contraposta ao elementarismo e à simplicidade da perspectiva de Galton ou de J. M. Cattell; 
– sua insistência na necessidade de uma renovação metodológica. 
Nesse sentido, defende os testes mentais e uma concepção prática do exame psicológico.

A escola soviética
  • A tradição soviética é habitualmente chamada de psicofisiologia das diferenças individuais.
  • Seu objetivo principal foi encontrar uma explicação causal das diferenças de comportamento, por meio do estudo científico de variáveis fisiológicas, principalmente em animais, ainda que não exclusivamente.
  • Pavlov encontrou diferenças de condicionamento individuais, sistemáticas e reiteradas entre os cachorros estudados por ele. 
  •  Pavlov observou diferenças individuais sistemáticas entre os cachorros e, a partir dessa constatação, desenvolveu uma série de explicações teóricas sobre as possíveis causas fisiológicas das diferenças. 
OS TESTES MENTAIS
  • Um teste mental consiste em uma série de perguntas ou de problemas que ajudam a avaliar algumas propriedades psicológicas.
  •  Teste significa prova
  • Os testes são muito úteis na pesquisa e na prática psicológica, mas também possuem algumas limitações: permitem responder a algumas perguntas sobre as diferenças individuais, mas deixam outras sem responder. 
  • Segundo Terman (1924):
– o teste busca identificar as diferenças individuais, e não os universais da psicologia; 
– o teste é aplicado a um grande número de indivíduos;
 – o teste estuda a conduta mental, e não o conteúdo; 
– o teste não utiliza aparelhos; 
– o teste tenta oferecer um rápido diagnóstico do indivíduo; 
– os resultados dos testes são menos precisos do que os obtidos por meio de um experimento psicológico.

Períodos na investigação dos testes mentais:

Durante esse período de desenvolvimento (Carroll,1982):

– identificaram-se os principais problemas próprios do estudo das capacidades mentais;
– desenvolveram-se as metodologias básicas necessárias para produzir dados objetivos;
 – os testes de capacidade mental tornaram-se objetos de ampla utilização.

A "REVOLUÇÃO" COGNITIVA
  •  têm o objetivo de explorar o desempenho em tarefas intelectualmente exigentes, para descobrir em que se diferenciam as pessoas.
  • O objetivo da perspectiva cognitiva é detalhar os passos necessários para realizar uma variedade de tarefas intelectualmente exigentes.
  •  Segundo a perspectiva cognitiva, quando os pesquisadores projetam testes, tarefas ou provas para explorar propriedades psicológicas importantes, como a inteligência, deveriam aproveitar os atributos psicológicos dos materiais de estímulo, além dos componentes do processo intelectual que, supostamente, são necessários para responder.

 REFERÊNCIAS:

COLOM, Roberto. Psicologia das Diferenças Individuais. Capítulo 1: História da Psicologia das Diferenças Individuais.


Nenhum comentário:

Postar um comentário