Terceira Etapa - Projeto Integrador I

7.      INTRODUÇÃO
           O Projeto Integrador, cujo tema-eixo é a Psicologia contemporânea: novos horizontes de possibilidades, vem mostrar como a profissão da Psicologia pode contribuir para a sociedade atual, sobretudo, nas áreas Clínica, Social, Hospitalar e Jurídica, aqui propostas, em que o profissional tem sido requisitado, discutindo as possibilidades de trabalho, para atender a novas demandas por parte da sociedade.
           A construção desse projeto se dá pela necessidade de se investigar junto ao mercado de trabalho e à população, como efetivamente a Psicologia tem contribuído com a população, nos segmentos sociais, comunidades ou grupos afins, bem como, evidenciar os meios pelos quais o profissional tem se utilizado na sua atuação, para tal fim.
          Inicialmente, a equipe foi subdividida em pequenos grupos, para tornar possível um levantamento de dados capaz de ratificar o propósito do projeto. Cada subgrupo, ficou com responsabilidade de pesquisar sobre a profissão da área designada, sobre a abordagem teórica que dá sustentação ao que irão explorar, elaborar e aplicar questionários junto à população para averiguar, o que eles pensam sobre a importância da Psicologia para a sociedade, e se as pessoas veem na Psicologia, uma forma de contribuir para a sociedade. Além disso, irão elaborar perguntas para entrevistar profissionais das respectivas áreas, a fim de, levantar os pontos fracos da profissão, que podem ser melhorados, e os pontos positivos, que confirmam a ideia de que a Psicologia pode contribuir para a sociedade atual.
            Embora, esse trabalho se disponha a falar de novas possibilidades da Psicologia enquanto profissão, e suas contribuições para a sociedade contemporânea, não se pode falar de um presente, sem se reportar às estruturas históricas que possibilitou chegar no atual cenário em que se encontra a profissão da Psicologia. Sendo assim, e não tendo a pretensão de esgotar o assunto, será abordada no contexto da história, desde a evolução do homo sapiens, em que o objeto de estudo já era o sujeito em si, e como o comportamento humano já demonstrava a necessidade de se ter uma ciência que explicasse o porquê de tantas diferenças evolutivas ao longo da caminhada do ser humano, sempre procurando mostrar os fatores relevantes que vieram a favorecer e contribuir para a existência da Psicologia.
            Em seguida, serão abordados os pensamentos dos filósofos que antecederam à Psicologia enquanto ciência, com a finalidade de entender como esses pensadores, preocupados com o estudo do comportamento humano, mas sobretudo, com o caminhar de uma sociedade que se apresentava caótica e geradora de muitos conflitos entre as pessoas e suas instituições que os governavam, já contribuíam para a formação de uma nova ciência que fosse capaz de estudar os problemas da sociedade, e propor soluções para que as pessoas conseguissem ter uma melhor qualidade de vida, em meio a tantos problemas.
            A partir da Psicologia Moderna e Científica, será feita uma abordagem mais aprofundada, a fim de destacar as efetivas contribuições da psicologia para a sociedade, desde o início de seu surgimento, na condição de ciência e profissão até se chegar nas abordagens teóricas atuais, contemporâneas, que dão sustentação às pesquisas teóricas e de campo realizadas para aferir importância da profissão de Psicologia, bem como, as contribuições que esta trás para a sociedade na atualidade.
           A Psicologia na contemporaneidade, nesse Projeto Integrador, abrange as áreas de atuação: Social, Hospitalar, Jurídica e Clínica, demonstrando que a Psicologia abarca um grande horizonte de possibilidades de atuação, nas quais se faz necessário o profissional de Psicologia, exercendo seu papel em contribuição à sociedade.
          Por fim, as pesquisas de campo ratificam as contribuições que a Psicologia, enquanto ciência e profissão, tem disponibilizado à sociedade, por meio desses novos campos de atuação do psicólogo.

8.      INFLUÊNCIAS EVOLUCIONÁRIAS NA FORMAÇÃO DA PSICOLOGIA

         Sem a pretensão de esgotar os estudos das origens evolucionárias do homem, podemos aqui destacar muitos fatores observados a partir do homem primitivo, que influenciaram na formação da Psicologia.
          O homem atual tem seus ancestrais desde os Australopitecos, chamados Macacos do Sul que viveram há 2,5 milhões de anos atrás. A partir daí, surgem as várias espécies do gênero homo até chegar no Homem Sapiens, Homem inteligente da contemporaneidade. (HARARA, 2012)
          Observou-se que houve uma expansão das redes neurais dos humanos, por mais de 2 milhões de anos, mas não se sabe ainda, as motivações para que isso acontecesse (HARARI, 2012). O fato é que nessa época, havia uma necessidade iminente de sobrevivência, e sobreviviam aqueles que melhor se adaptavam ao meio em que viviam, daí a observação de aspectos cognitivos e da motricidade do homem primitivo nas suas relações de convivência e na sua interação com o meio em que viviam.
           O chamado homem das cavernas, andavam agachados como os animais e quatro patas, até que alcançaram algumas habilidades de sobrevivência que mudaram sua postura para ereta. Com mãos livres, desenvolveram aspectos cognitivos que ampliaram as suas habilidades de sobrevivência. Esses fatores de adaptações e sobrevivência, contribuíram para que estes adotassem novos comportamentos, favorecendo a uma concentração cada vez maior de nervos e músculos, culminando com a evolução do sistema nervoso, o que na atualidade é de extrema importância para se entender os processos de sensação e percepção através dos órgãos sensoriais básicos, da audição, olfato, paladar, tato e visão, além de seus diversos subsentidos. Desenvolveram uma linguagem bem definida entre os humanos, que modificou suas relações interpessoais. A linguagem teve grande importância da Revolução Cognitiva, culminando para o surgimento da chamada fofoca. (HARARI, 2012).   
Percebeu-se que o ser humano podiam ser socializados e educados, moldando assim, o seu comportamento (HARARI, 2012), sendo o comportamento, objeto de estudo específico da Psicologia Comportamental.
             Há 100 mil anos, surge a atual espécie humana, homo sapiens, que significa homem inteligente, o homem saltou para o topo da cadeia alimentar, mas isso trouxe muitos medos e ansiedades, na forma de se relacionar com o meio. A descoberta do fogo favoreceu ao controle da insegurança que os faziam sentir medo em relação a alguns animais ferozes (HARARI, 2012). Atualmente, o homem moderno continua a sentir medos, ansiedades, inseguranças, porém, não mais de animais ferozes. A Sociedade moderna, muito mais complexa do que os pequenos bandos ou tribos sapiens, desenvolveram essas sensações autodestrutivas, e que contribuem para o desenvolvimento de transtornos e desequilíbrios emocionais, que vem demandando cada vez mais o auxílio dos psicólogos nos divãs.
           Com a Revolução Cognitiva, o Sapiens desenvolveu habilidades de inteligência, criatividade e sensibilidade, estudadas até hoje pela Psicologia contemporânea. Essa revolução cognitiva, ao proporcionar ao homem uma nova forma de viver, notou-se que o sistema motor do homo sapiens foi evoluindo em diversos aspectos, influenciadas pelas mutações genéticas das espécies (HARARI, 2012), no que diz respeito ao comportamento e na sua interação com o meio em que vive. E essa evolução motora não seria possível sem a evolução do sistema nervoso e seus aspectos cognitivos, que vão corroborar para a necessidade de se criar uma ciência capaz de estudar o homem e sua interação com o meio.

9.      INFLUÊNCIAS FILOSÓFICAS PARA A FORMAÇÃO DA PSICOLOGIA

 A Psicologia, assim como todo produto humano tem uma história; sua trajetória é considerada muito nova em relação às demais ciências existentes. Contudo, embora seja uma ciência recente, já possui uma vasta desenvoltura e eficácia. (BOCK, 2001). Foi na Grécia antiga, no período de 700 A. C., num contexto histórico de desenvolvimento, ascensão econômica, social e das cidades-estados que surgem, decorrente dos presentes avanços, a necessidade de estudo da realidade. Filósofos pré-socráticos se debruçam a entender o homem e o mundo a partir da percepção e os fenômenos naturais com a finalidade de descobrir porque o homem o vê ou se o homem vê o mundo que já existe. (BOCK, 2001). Aristóteles (384-327 a.C.), acreditava que a alma e o corpo não poderiam se dissociar, e que a psique ou alma seria o princípio ativo da vida. Estudou as diferenças entre a razão, percepção e sensação. Promoveu o estudo sistematizado do anima, além de postular a Teoria da mortalidade da alma e a relação de pertencimento ao corpo. Ele acreditava haviam três tipos de alma: alma vegetariana; alma animal, e por fim, a alma humana, dotada de inteligência o que diferencia o homem dos demais.  Platão (427-347 a.C.), definiu a cabeça como o lugar no corpo físico para a razão, seria o lugar onde se encontra a alma do homem. Concebia a alma separada do corpo, porém reconheceu sua interação, e que essa ligação se daria pela medula. Postulou a teoria da Imortalidade da alma, pois afirmava que após a morte, a alma ficava livre para ocupar um novo corpo. (BOCK, 2001)
Dentre os filósofos renascentistas, destaca-se René Descartes (1596-1650). Determinista, acreditava que tudo deveria ter uma causa que explicaria as coisas. Também racionalista, usava a razão para explicar as coisas, pois afirmava que toda verdade era contestável, exceto as verdades produzidas pela matemática. Sua dúvida metódica estava em duvidar de tudo o que já existia e que já era conhecido. (CREDER, 2018).  Admitiu essa disposição dualista uma vez que considera a mente e o corpo distintos, mas contrapõe quando diz que a interação entre eles era maior que se imaginava. Postulou a separação do corpo e da mente, reconheceu também sua interação, porém, atribuiu mais importância à mente, chamando o homem de “coisa pensante”.  Reducionista, Descartes afirmava que coisas complexas deveriam ser reduzidas em unidades mais simples, para serem compreendidas. Falou da subjetividade, ratificando que cada um aprende o mundo de uma forma diferente, e que o meio, a personalidade, a agressividade e as motivações pessoais influenciavam o sujeito. Postulou ainda, a teoria do Ato-Reflexo, que trata dos momentos involuntários ligados ao homem. Descartes também influencia na Psicologia moderna quando sugeriu que a mente dá origem a duas espécies de ideias. São elas: Ideias inatas, que independe de experiência externa, ela nasce com o indivíduo; e Ideias derivadas, que são produzidas a partir de um ensinamento externo. (CREDER, 2018). 

10.   PSICOLOGIA ENQUANTO CIÊNCIA E PROFISSÃO

             Wilhelm Wundt (1832-1926) Pai da Psicologia Moderna, criou o primeiro Laboratório de Psicologia na cidade de Leipzig, na Alemanha, conferindo assim à Psicologia o estatuto de ciência plena. (MYERS; DEWALL. 2017)                                                                                         
           Acreditava que os psicólogos deveriam investigar os processos elementares da consciência (experiência imediata), suas combinações e relações, da mesma maneira que os químicos estudam os elementos fundamentais da matéria. (DAVIDOFF, 1983).
O mundo da Psicologia contém olhares, tons e sentidos; é o mundo do escuro e do claro, do barulho e do silêncio, do áspero e do liso; seu espaço é às vezes grande e às vezes pequeno, sabem-no todos os que voltaram à casa de sua infância; seu tempo é às vezes curto e às vezes longas. Contém também os pensamentos, emoções, lembranças, imaginações, volições (escolhas) que naturalmente se atribuem à mente...  (DAVIDOFF, 1983 apud TITCHENER, 1983)
          Wundt percebeu que era importante estudar as operações mentais centrais, tais como: atenção, intenções e metas. Contribuiu com a introspecção analítica, que é o ato em que a pessoa analisa seus estados mentais, tomando consciência deles. Postulou haver dois tipos de experiências: mediatas e imediatas. As experiências mediatas diziam respeito aos conteúdos objetivos, que poderiam ser observados; as experiências imediatas, diziam respeito a subjetividade do sujeito, que somente a pessoa poderia descrever através da sensações e percepções percebidas por ela. (DAVIDOFF, 1983).

11.   A PSICOLOGIA DO SENSO-COMUM
          Foi realizada uma pesquisa de campo junto à população, no Parque da Cidade de Salvador, onde foram entrevistadas 49 pessoas. Essa pesquisa teve como objetivo mostrar o conhecimento das pessoas sobre a Psicologia a partir do senso-comum.
- 92% dos entrevistados já ouviram falar em Psicologia. Apenas 8% nunca ouviram falar sobre a Psicologia, os quais possivelmente, não têm acesso a informações básicas no que se trata da saúde mental e bem-estar do ser humano;
- Apenas 44% dos entrevistados já foram ao Psicólogo realizar uma consulta. Considera-se, pois essa baixa demanda preocupante, visto que, os índices de casos que desencadeiam depressão; distúrbio de ansiedade generalizado; transtorno bipolar; distúrbio do pânico; esquizofrenia; suicídio; dentre outros, estão ocorrendo cada vez mais com o homem, independe de cor, sexo ou nível socioeconômico. 
- 100% dos entrevistados consideram o tratamento psicoterapêutico importante. Entretanto, convém levantar-se a hipótese de que muitos entrevistados podem ter se sentido intimidados em responder tal questão de forma positiva, levando-se em consideração que os estudantes que realizavam a pesquisa pertencem ao curso de Psicologia. Ressalta-se essa questão porque, infelizmente, muitos que pertencem ao senso comum, ainda têm a ideia de que psicólogo é “médico de loucos”.
- 96% das pessoas entrevistadas acreditam que a Psicologia exerce algum tipo de importância na sociedade atual. Vislumbra-se esse argumento de forma significativa, pois, é sinal de que uns números crescentes de pessoas vêm, paulatinamente, despertando para a importância de que a Psicologia passa a ser fundamental para o tratamento e/ou equilíbrio da mente e do corpo.
- Apenas 56% dos entrevistados conhecem realmente em quais áreas a Psicologia pode atuar na contemporaneidade.  A Psicologia é uma ciência nova, entretanto, vem expandido muito rápido o seu potencial nas mais diversas áreas de atuação. Essa rápida expansão não é ainda perceptível de forma ampla aos olhos do senso comum. Por essa razão, é comum que muitos não saibam que o profissional de Psicologia pode atuar recentemente nas éreas de: Psicologia do Esporte; Psicologia do Exército; Psicologia dos Desastres; dentre outras.
- Apenas 26% acham que o atendimento com o psicólogo é acessível a todos. E, de alguma forma se percebe que o fato da maioria observar que essa acessibilidade ainda não existe de fato é bastante lúcido. Pois, por mais que atualmente existem serviços gratuitos que tratem da saúde psicológica social e mental, tais como: CRAS, CAPS, CREAS, dentre outros, os serviços disponíveis de Psicologia ainda são poucos, comparados com a grande demanda que o suporta.
Conclui-se, portanto, que ainda há muito que se expandir no sentido de disseminação das contribuições efetivas que a Psicologia traz para a sociedade na atualidade, para que essa valorização seja observada tanto pelas pessoas, para procurarem o psicólogo com mais frequência e menos tabus impostos pela sociedade, na tentativa de viabilizar um tratamento humanizado e coerente com cada situação psicológica correspondente; como também seja mais valorizada pelos poderes públicos, para que sejam visionários no sentido de ampliação de serviços para demandas e melhoramento destes, pautando-se no oferecimento de programas de saúde psicossociais e mentais mais igualitários e eficazes para todos.

12.   ABORDAGENS CONTEMPORÂNEAS DA PSICOLOGIA

Do início do século XIX até a contemporaneidade, abrange diversas abordagens teóricas que fundamentam as chamadas forças da Psicologia, desde a sua dissociação da Filosofia, tornando-se ciência e profissão. Sem a pretensão de aprofundar cada abordagem teórica da contemporaneidade, mas apenas, com a finalidade de evidenciar a fundamentação teórica que sustenta a ação do psicólogo, nas diferentes áreas de atuação, é importante mencionar, muito brevemente, as abordagens que compõe a Psicologia atual, para adentrar no contexto das Psicologias Social, Hospitalar, Clínica e Jurídica.
·       Behaviorismo ou Comportamentalista surge a partir do século XIX e XX e propõe o comportamento como objeto de estudo da Psicologia. John Watson (1878 – 1958), considerado Pai da Psicologia, apresentou um Behaviorismo mais metodológico e clássico.  B.F. Skinner (1904-1990), com seu behaviorismo mais radical, apresentou a filogenética, a ontogenética e a cultura como elementos básicos para a análise do comportamento. Traz como princípios básicos o reforço positivo e negativo como processo de fortalecimento do comportamento, bem como, a punição como processo de enfraquecimento do comportamento; e ainda, a extinção, fazendo com que um estímulo reforçado deixe de acontecer. (HORTA, 2017).
·       Psicanalítica, de Sigmund Freud, trouxe dentre suas maiores contribuições para a Psicologia, a terapia da conversa, a noção de que simplesmente falar sobre nossos problemas pode ajudar a aliviá-los.  Para Freud o comportamento humano é motivado por instintos relacionados às necessidades básicas de sobrevivência, reprodução e prazer.  A mente humana está estruturada em duas partes principais: a mente consciente e inconsciente. (SCHULTZ, 1999).
·       Humanismo ou Gestalt, cujos principais teóricos foram Maslow e Rogers, que tiveram como ponto inicial e principal objeto, a percepção. O processo da percepção encontra-se entre os estímulos fornecidos pelo meio e a resposta do indivíduo. Dessa maneira, o que é percebido pelo indivíduo e como é percebido são importantes elementos para que se possa compreender o comportamento humano. O comportamento, portanto, deveria ser observado em seus aspectos mais globais e deveria haver a consideração das condições que alteram a percepção do estímulo. (SCHULTZ, 1999).
     
13.   ÁREAS DE ATUAÇÃO DA PSICOLOGIA

13.1.      PSICOLOGIA SOCIAL
            A Psicologia Social estudou o processo de mutualidade e de influência entre as pessoas, respondendo questões ligadas a este processo, entendendo que, diferentemente do senso comum, o homem não toma atitudes (comportamento, ação) e sim desenvolvem os próprios valores em relação aos objetos do meio social. No processo de socialização o indivíduo se torna parte de um determinado grupo social, apropriando-se do conjunto de conhecimentos deste grupo. (BOCK, 2000)
           A partir da observação da sociedade, dos seus grupos e posicionamentos a Psicologia Social mantém-se como área de conhecimento da Psicologia que procura aprofundar o conhecimento da natureza social do fenômeno psíquico. ‘’Assim, a Psicologia Social busca compreender como se dá a construção desse mundo interno a partir das relações sociais vividas pelo homem. ’’ (BOCK, 2000, p.185). Ou seja, o mundo passa a ser visto não como fator de influência para o desenvolvimento da subjetividade, mas como algo empírico 
Em 1993, dando continuidade aos objetivos da Constituição de 1988, foi criada a Lei Orgânica da Assistência Social, regulamentando o SUAS (Serviço Único de Assistência Social). Esse serviço consiste numa Política Pública da Seguridade Social de atuação relativamente recente, com objetivo de garantir através de um conjunto coletivo de ações a garantia dos direitos sociais, tais como: direitos individuais, liberdade, segurança, bem-estar, igualdade, desenvolvimento e justiça (Constituição da República Federativa do Brasil, 1988). Divide-se em dois níveis de complexidade: a proteção social básica, com a atuação dos Centros de Referência da Assistência Social (CRAS); e a proteção social especializada, dividida em média e alta complexidade, integrando os Centros de Referência Especializado de Assistência Social (CREAS). (SILVA; CORGOZINHO, 2011, p.12)
A inserção e consolidação do psicólogo na atuação de políticas públicas no Brasil se deram em 2005, com a incorporação do profissional na equipe do CRAS. Junto ao trabalho de proteção social, os psicólogos possuem diversas possibilidades de atuação e contribuição nos centros de assistência pública, garantindo, através de um trabalho transversal e multissetorial, a prática de ações interventivas. A atuação do psicólogo junto às políticas públicas, em especial a Assistência Social, surge como opção de atendimento e auxílio para uma classe social menos privilegiada. (SILVA; CORGOZINHO, 2011, p.14)
      No artigo “Atuação do psicólogo no CREAS em municípios de pequeno porte” (SILVA, 2013), foram abordados diversos aspectos e questões acerca da atuação e cotidiano dos psicólogos nos Centros, fazendo referências a entrevistadas que  apontaram diversas dinâmicas e atividades como medidas cotidianas de auxílio psicossocial, dentre elas estão: oficinas, visitas domiciliares, tomada de decisões, reuniões, trabalhos de prevenção, dentre outras, além do atendimento psicológico compõe a atenção psicossocial de forma priorizada. Tendo como referência documento publicado em 2006 e citado pelo Conselho Federal de Psicologia, no Portal do Centro de Referência Técnica em Psicologia e Políticas Públicas em 2009, esse serviço deve realizar o “acolhimento, escuta, atendimento especializado, em rede, interdisciplinar, encaminhamento e acompanhamento”, visando promover ações socioeducativas que garantam a proteção dos sujeitos, fortalecimento da autoestima, convivência familiar e comunitária de forma digna de modo a enfrentar e superar a situação de violação de direitos (SILVA, 2013).
      Um dos principais casos no âmbito da Psicologia Social é o abuso sexual do infanto-juvenil, se trata de um problema mundialmente recorrente, porém foi a partir das últimas décadas que esse impasse foi significantemente combatido. No atual contexto das políticas públicas, sua equipe especializada que é composta por psicólogos, responsabiliza-se pela oferta do Serviço de Enfrentamento ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes. Diante do exposto, o trabalho profissional do psicólogo, exige diretamente a necessidade de articular os recursos psicológicos com as diversas áreas profissionais, já que, ações interdisciplinares fazem-se necessário para o auxílio na intervenção demandada às vítimas e familiares, que estão diretamente e indiretamente envolvidas nos casos de abuso sexual infanto-juvenil. Portanto, a Psicologia Social contribui de forma efetiva para a sociedade contemporânea em diversas situações sociais, principalmente, nos casos de abuso sexual do infanto-juvenil.
A entrevista realizada com o profissional de Psicologia Social Dr. Rogério Rodrigues Gomes discorre sobre os campos de atuação da profissão e relata casos impactantes no âmbito da Psicologia Social. Explana sobre as novas áreas de atuação, pontuando os prós e os contras de se desempenhar um trabalho laboral na Psicologia Social. Elucida e ratifica, portanto, de forma significativa, a importância das principais contribuições que o psicólogo social desempenha na contemporaneidade.

13.2.       PSICOLOGIA CLÍNICA

A Psicologia clínica é um campo de práticas profissionais e produção de conhecimento, que não se deve “sujeitar” a uma escola ou linha teórica, apoiando-se na representação de seu mundo clínico, a partir de seus referenciais teóricos como ferramenta essencial nas práticas das psicoterapias, se desenvolvendo como um sistema de conhecimentos a serem aplicados a partir do diálogo, marcando o paradoxo do exercício terapêutico, no qual o terapeuta necessita de seu referencial para construção do problema, na contrapartida de se distanciar desse referencial para não correr o risco de impor uma narrativa teórica ao sujeito. (BOCK; GONÇALVES; FURTADO, 2002, P. 242)
A prática da psicoterapia sofre influência do contexto histórico e cultural do indivíduo, levando-se em conta sua subjetividade, suas ações sociais, a subjetivação na geração de sentidos e significados, como caráter transformador das patologias do cliente, não ficando restrita a uma única abordagem da Psicologia, pois é no âmbito da clínica, que se desenvolve a aplicação do diagnóstico terapêutico, meio pelo qual foram revelados diversos problemas de ordem social, que contribuíram para o desenvolvimento de uma Psicologia Clínica focada na perspectiva  das questões da personalidade, do sujeito e sua patologias. (BOCK; GONÇALVES; FURTADO, 2002, P. 246)
Em 1896, Witmer, nos Estados Unidos, inaugurou a primeira clínica psicológica e se agregou com uma variedade de acadêmicos na área; trabalhava com crianças, com déficit no aprendizado na escola e com perturbação mental. A Psicologia clínica era vista como uma derivação da medicina. No fim da Segunda Guerra Mundial, em 1930, o olhar da Psicologia clínica mudou dando visibilidade ao profissional que lidava com distúrbio emocional decorrentes da guerra passando a Psicologia a ser uma derivação da Psiquiatria. (PETRARCA, 1997)
Dentre as principais abordagens que se trabalha na clínica, destaca-se a Psicanálise, de Sigmund Freud na abordagem do inconsciente, o Cognitivo-comportamental que se baseiam nas teorias do comportamentalismo (Behaviorismo) de Skinner, buscando entender o comportamento do cliente, como se relaciona com o meio em que vive e o modo como ele entende e se sente; o Humanismo-existencialismo, a partir das teorias de Carl Rogers e Maslow, no qual o cliente deve ser aceito como ele é. (SOUZA, 2011).
A terapia reproduz um cenário dialógico, com a finalidade de se produzir processos novos de significação e sentido, geradores de novos espaços de subjetivação do sujeito implicados na terapia em si, buscando compreender o outro, a partir de sua própria experiência, não se limitando, portanto, a uma única abordagem teórica na prática clínica. As psicoterapias auxiliam na restauração psicológica do cliente, na melhoria de sua saúde mental, mas sobretudo, na forma como o cliente lida com seus problemas, pois é nesses ambientes em que se associam a linguagem do inconsciente aos discursos dialogados, evidenciando a subjetividade, os processos simbólicos e representativos do sujeito. (BOCK; GONÇALVES; FURTADO, 2002, P. 251)
Ao longo dos 50 anos a Psicologia Clínica sempre se configurou como o espaço de inserção com maior visibilidade no Brasil. Durante este tempo, a atuação se diversificou, refletindo a ampliação do olhar sobre as práticas. A concepção de Psicologia Clínica deixa de ser restrita ao atendimento em consultório privado por meio de atividades de psicoterapia, já que a mesma abrange diferentes abordagens. Segundo o CRP do Rio Grande do Sul, a Psicologia Clínica ganhou as ruas, hospitais, escolas, está presente em instituições públicas e privadas, no trabalho, nos Centros de Atenção Psicossociais, relacionada diretamente à ação política e aos Direitos Humanos, continuando a ser, um dos principais campos de atuação da profissão, porém, de forma muito mais ampla e mais próxima da vida das pessoas. (CRP-RS, 2012)
A entrevista com o profissional de Psicologia Clínica José Antônio Pereira da Silva desenvolve abordagens sobre o espaço da Psicologia na atualidade. Pontua paulatinamente quais são os principais desafios a serem encontrados durante o exercício da profissão, bem como destaca as vantagens, alegrias e satisfações com as quais o psicólogo clínico pode se deparar. Clarifica de forma ampla qual o papel do profissional de psicologia social e quais as suas relevantes contribuições para a sociedade contemporânea.

13.3.      PSICOLOGIA HOSPITALAR

Atualmente, observa-se que o Psicólogo hospitalar contribui efetivamente com o auxílio e suporte ao paciente hospitalizado, em estado de adoecimento e aos seus familiares, sempre buscando formas de proporcionar uma maior confiança e segurança, assegurando-se de questões ligadas a qualidade de vida do paciente, utilizando de teorias e práticas da Psicologia na área da saúde, gerando um equilíbrio durante o tratamento do paciente. Fornece suporte junto a equipe de saúde multidisciplinar, que varia de acordo com as necessidades do paciente, especialmente com ênfase na área de saúde mental, pois ao contrário do que se pensa no senso comum. Não está voltada especificamente para os problemas psicossomáticos e sua prioridade é o reconhecimento do paciente como uma pessoa, enxergando-o muito além do seu quadro, através da escuta, sempre dando voz ao paciente, para fazer a sua avaliação. O psicólogo tem a responsabilidade de emitir laudos que ajudem a equipe médica a entender sua condição mental e a melhor maneira de proceder com o diagnóstico, como medos, as queixas e confortá-lo para a sua nova condição, e assim, pensar nas melhores possibilidades de trata-lo (BERGER, 2018)
O psicólogo hospitalar trabalha em ambulatórios, unidades de terapia Intensiva, UTIs pediátricas, semi-intensivas e neonatais, pronto atendimento. Enfermarias em geral, centro médico cirúrgico, auxílios pré e pós-operatórios. (AUGUSTO, 1996, p.45)
 “A Psicologia hospitalar é o campo de entendimento e tratamento dos aspectos psicológicos em torno do adoecimento” (SIMONET, 2006). Ela seria uma área subjetiva, ajudando a passagem dos pacientes pelos mais diversos processos de adoecimentos. Apesar de alcançar um vasto campo, a psicologia hospitalar é uma especialidade exclusivamente brasileira, porém é comparada à Psicologia da saúde, a diferença entre ambas é que a Psicologia da saúde é mais ampla e abrange toda a área da saúde e doença, logo, os psicólogos hospitalares trabalham mais voltados para dentro dos hospitais.
Durante os últimos 20 anos percebe-se que ocorreu um aumento significativo no desempenho do psicólogo nessa área, apesar de ainda não ser de grande destaque. Durante as pesquisas realizadas observa-se poucas pessoas que se lembraram de ter tido o acompanhamento do profissional enquanto estavam passando por situações dos mais diversos tipos de adoecimento, porém as que obtiveram acompanhamento alegaram ter sido essencial para o seu tratamento, ajudando de uma forma “mais humana”, dando uma tranquilidade em relação ao processo. (BERGER, 2018)
Na entrevista realizada com a psicóloga Ana da Paz Matos Moreno, especializada em Psicologia Hospitalar discorre-se sobre os desafios e a necessidade do profissional de Psicologia nessa área em questão, enfatizando, pois, as suas contribuições na sociedade atual; analisam-se as dificuldades encontradas nesse ambiente laboral; cita as influências no desenvolvimento da Psicologia Hospitalar; elucida-se sobre as resistências que podem haver em relação ao recebimento do tratamento com o psicólogo por parte do paciente e/ou familiares e desenvolve uma explanação em torno da postura do profissional de Psicologia Hospitalar durante um quadro de UTI e  perante o óbito de um paciente.

13.4.      PSICOLOGIA JURÍDICA

Psicólogos brasileiros que atuam na área da Psicologia jurídica tiveram seu   reconhecimento como profissão, na década de 1960. Os primeiros trabalhos ocorreram na área criminal, enfocando estudos acerca de adultos criminosos e de adolescentes infratores da lei. (LAGO, 2009)
O trabalho do psicólogo junto ao sistema penitenciário existe ainda que não oficialmente em alguns estados brasileiros há pelo menos 40 anos. Contudo, foi a partir da promulgação da lei de execução penal (lei federal n 7210/84) Brasil (1984), que o psicólogo passou a ser reconhecido legalmente pela instituição penitenciaria. Esse histórico inicial reforça a aproximação da Psicologia e do Direito através da área criminal e a importância dada a avaliação psicológica. O psicólogo jurídico também participa nos processos do Direito Civil. Destacando-se o direito da infância e juventude, área em que o psicólogo iniciou sua atuação no então denominado juizado de menores de São Paulo. (ALVES, 2002)
A Psicologia Jurídica é uma emergente área de especialidade da ciência psicológica, se comparada às áreas tradicionais de formação e atuação da Psicologia. Os setores da Psicologia Jurídica são diversos. Há os mais tradicionais, como a atuação em Fóruns e Prisões, e há também atuações inovadoras como a Mediação e a Autópsia psíquica, uma avaliação retrospectiva mediante informações de terceiros.  Vem crescendo nos últimos anos e na atualidade, e compreende a investigação, em diferentes níveis de complexidade, dos fenômenos psicológicos no âmbito da Justiça e dos exercícios do Direito, prestando serviços de assessoramento direto e indireto às organizações de Justiça e as instituições que cuidam dos direitos dos cidadãos. Sua ação não se restringe na elaboração de psicodiagnóstico, mas também, assessoramento como perito a órgãos judiciaisIntervenção: planejamento e realização de programas de prevenção, tratamento, reabilitação e Integração ao meio socialPlanejamento de campanhas de combate à criminalidade; Pesquisa e atendimento às vítimas de violênciaMediação: alternativas à via judicial. (LAGO, 2009)
 Está presente em quase todos os tribunais de justiça do país incluindo organizações que integram os poderes Judiciário, Executivo e o Ministério público em diversas áreas de atuação: Varas de Família, Infância e Juventude, Práticas de adoção, Conselho Tutelar, prisões, abrigos, unidades de internação, dentre outras. Com a efetiva contribuição de profissionais de Psicologia na contemporaneidade são resolvidos conflitos familiares, realizadas adoções, solucionadas disputas de guarda, regulamentadas visitas de pais e avós, interditando pessoas que não tem capacidade de gerir seus bens, atendendo adolescentes em conflitos com a Lei, acompanhadas execuções de penas propostas do regime penal dos sentenciados. Cuida de avaliações de abuso infantil ou doméstico, violência, partilha de herança ou uma disputa conjugal em um divórcio litigioso, o que entra no ramo da Psicologia Civil, um braço da Psicologia Jurídica. (ALVES, 2002)
A Psicologia Criminal interessa-se pelos desejos, pensamentos, intenções e reações dos criminosos, de forma a traçar perfis e solucionar crimes. As perguntas centrais do objeto de estudo desta área da psicologia, prendem-se muito com “O que fez com que este crime acontecesse? ”Ou“ O que fez o indivíduo cometer o crime?”, porém abrange as reações posteriores ao crime, à fuga, até mesmo no tribunal. Esta não se interessa apenas em resolver o crime, ela vai mais além, tenta perceber a sua origem íntima, estudando os perfis de todos os intervenientes, criminosos e vítimas.  (SILVA, 2018)
 Na entrevista realizada com o profissional da Psicologia Jurídica, Dr. Cláudio da Silva elucida questões sobre as contribuições efetivas do profissional de Psicologia jurídica na contemporaneidade; cita as novidades existentes nessa área; esclarece como funciona a Psicologia jurídica na prática e enfatiza quais são os desafios que o profissional de Psicologia jurídica necessita enfrentar para desempenhar um bom trabalho.

14.   CONCLUSÃO

De acordo com o demonstrado neste trabalho, percebe-se que o profissional de Psicologia desempenha um trabalho abrangente, que engloba o estudo do homem e sua subjetividade, perpassando pela evolução do homo sapiens, a História da Psicologia, a compreensão do papel que desempenha enquanto profissional de Psicologia, as relações interpessoais que esse homem estabelece no meio em que vive e as sensações e percepções que cada indivíduo possui acerca do mundo.
Convém destacar que as peculiaridades inerentes a cada área pesquisada: Psicologia Social, Psicologia Clínica, Psicologia Hospitalar e Psicologia Jurídica; vem elucidar as efetivas contribuições que o profissional de Psicologia oferece ao indivíduo, independente de cor, religiosidade, naturalidade ou posição socioeconômica; estabelecendo um desempenho profissional simultaneamente necessário e benéfico ao cliente, regado de empatia, compreensão dos seus próprios valores e promovendo uma saúde mental equilibrada.
Ratifica-se, pois, que tanto o aprofundamento dos estudos voltados à Psicologia, como a observação das contribuições que esse profissional traz e ainda pode complementar para a contemporaneidade, não devem ser cessados; uma vez que a Psicologia trata-se de uma ciência nova e que se encontra em completa expansão nas mais diversificadas áreas, para servir de suporte ao clima organizacional geral, proporcionando conhecimento e adequação das emoções, sentimentos, tristezas, alegrias, etc. O psicólogo, portanto, aplica intervenções necessárias, para que, junto com o cliente, possa desvendar razões e entender as dificuldades que o cercam, proporcionando uma transformação benéfica interior a cada indivíduo.



15.   APÊNDICES
15.1.      QUESTIONÁRIO APLICADO EM PESQUISA DE CAMPO
   PESQUISA DE CAMPO – PSICOLOGIA DO SENSO COMUM

1.     O que você sabe sobre Psicologia?

2.     Você já fez alguma consulta ou terapia com psicólogo?

3.     Que tipos de problemas você acha que o psicólogo ajuda seus clientes a resolver?

4.     Onde você acha que o psicólogo deve estar presente para atuar  profissionalmente?

5.     Como que o psicólogo  pode contribuir para a sociedade?




















15.2.      ENTREVISTAS COM PROFISSIONAIS DAS ÁREAS
ENTREVISTA COM PSICÓLOGO SOCIAL


Nome: Rogério Rodrigues Gomes, Doutor em Psicologia.
Professor de Psicologia da Faculdade de Ciência e Tecnologia (FTC)


Pergunta: Quais são as principais formas de atuação de um psicólogo social?
O psicólogo social enquanto categoria de trabalho realiza ações psicossociais no âmbito do SUAS. Este é composto de diversos dispositivos de atenção à população com vulnerabilidades sociais e violações de direitos. Outra atuação possível é no campo da pesquisa, onde a Psicologia Social se destaca como um conjunto de linhas teóricas complexas que têm oferecido importantes contribuições neste âmbito.

Pergunta: O que engloba a Psicologia Social?
O objeto da Psicologia Social é o estudo do comportamento social humano. Para tal é imprescindível estudar as relações do psiquismo com a cultura e de como estás relações se desenrolam nas interações.

Pergunta: Quais as contribuições da Psicologia Social para a sociedade?
A Psicologia Social modificou a forma com que a Psicologia entendia o ser humano. A Psicologia estudava o ser humano abstrato, desvinculado da sociedade, da cultura e da dialética filogênese x sociogênese. A Psicologia Social ao entender o humano de forma contextualizada é capaz de realizar análises sobre as experiências subjetivas que não estão desvinculadas da sociedade, das relações étnicas, de gênero e de poder. A Psicologia Social trabalha em nome da emancipação humana e propõe que o sujeito tome consciência de que é ativo na construção da sociedade e de sua própria história.

Pergunta: O que há de novo dentro da Psicologia Social?
A atuação em áreas interdisciplinares que defendem os direitos humanos. A Psicologia em situações carcerárias. A estratégia de redução de danos no campo da saúde. O estudo sobre a consciência ambiental humana.

Pergunta: Quais os prós e contras de trabalhar na área da Psicologia Social?
Destaca-se como uma área instigante, pois permite ao profissional trabalhar com a população em situações diversas: comunidade, dispositivos de cuidados psicossociais, contextos culturais tradicionais.
O contra é o estigma que é colocado pelas outras abordagens, por desconhecerem a Psicologia Social e por entenderem que o ser humano é isolado do mundo, consideram a Psicologia Social como se está não fosse uma abordagem na Psicologia. Claro que isso é fruto de desinformação e alienação de uma Psicologia elitista e descontextualizada.

 Pergunta: Qual foi o caso mais impactante que você presenciou atuando como psicólogo social?
Situações de violência extrema quando trabalhei por nove anos no CREAS. Casos de abuso sexual, negligências, violência contra a mulher, o idoso e os deficientes, trabalho e prostituição infantil também impactam muito.


ENTREVISTA COM PSICÓLOGO CLÍNICO

José Antônio Pereira da Silva - Psicólogo
Coordenador e professor supervisor da FTC (Faculdade de Tecnologia e Ciências)

Pergunta: Como você vê a Psicologia hoje?

Resposta: Bom, eu acredito que hoje a Psicologia, ela realmente vem conquistando um espaço na sociedade enquanto uma profissão no campo do saber, que pode contribuir para o bem-estar da sociedade como um todo em diversas áreas de atuação (clínica, hospitalar, organizacional, saúde pública e saúde privada). Então, eu acredito que hoje ela vem ganhando espaço, mas ainda tem muito a que se fazer.

PerguntaQual o papel do Psicólogo na sociedade contemporânea?  E qual sua importância?

Resposta: Os nossos papéis são diversos.  Então, por exemplo, se a gente for pensar clinicamente, é prestar uma assistência psicológica diante do mal-estar, que o sujeito diante da sua singularidade pode estar passando. Mas, não só ao sujeito, nós podemos tratar também da família, quando a gente for pensar nos atendimentos familiares, atendimento de casal, de crianças e daqueles sujeitos que já nascem com algumas debilidades/patologia e que podemos dar essa assistência.  Fora isso, na realidade nós temos outras formas de assistência que é, por exemplo: CAPS, atendimentos sociais que atendem crianças em situações de risco. Então, hoje nós temos um amplo campo de assistência e de atuação do psicólogo e que poderá na realidade auxiliar a sociedade hoje e enfrentar os novos desafios. A importância é como mediador do sujeito, diante desses novos desafios. Acho que é uma importância de mediar, ser ali um interlocutor, alguém que pode amparar. Necessariamente a gente não tem a resposta pronta, essas respostas precisam ser construídas. Essas novas formas de lidar com o ser humano e seus novos modelos de ser, novos modelos de família, novos modelos de estar, novas escolhas... Então, podemos intermediar essa travessia e essas construções.

PerguntaQuais os principais desafios dessa procissão?

Resposta: Bom, o principal desafio... Acho que é aprender a lidar com as diferenças e respeitá-las. O outro é na realidade, assim é, se preparar adequadamente para poder suportar esse lugar. Porque precisa de tempo, investimento, amadurecimento, um trabalho pessoal, a gente sabe que apenas a graduação não é o suficiente. O grande desafio é que os Psicólogos se conscientizem de que para suportar essa função que ocupamos na nossa sociedade, é preciso se preparar academicamente, teoricamente, se preparar enquanto pessoas. Para poder suportar o sofrimento do outro, você precisa saber lidar com o seu.

PerguntaQuais as vantagens, alegrias e satisfações no seu trabalho?

Resposta: A grande vantagem é fazer o que eu gosto. As alegrias é ver os feitos do nosso trabalho, não só como Psicólogo clínico, mas como professor. Isso me dá muitas alegrias, saber que é um trabalho desafiador, um trabalho difícil, mas é um trabalho gratificante, quando você percebe os feitos desse trabalho, na vida do sujeito, na vida da família do sujeito, nas escolhas que ele faz e nos resultados que obtém. 

PerguntaO que é a Psicologia clínica?

Resposta: A Psicologia clínica, ela tem diversos aspectos. Um dos aspectos é exatamente você primeiro saber escolher e escolher uma abordagem, que você se identifica, gosta de fazer e acreditar nessa abordagem e no alcance que ela tem e fazer uma formação adequada para o exercício da função. No meu caso, que sou da Psicanálise, fiz minha análise pessoal, fiz minha formação extra universidade, mantendo essa formação permanente, mais de 27 anos de formado, mas continuo vinculado à instituição psicanalítica. Além de participar de seminários, estudos com cortes, escrevendo todo ano um texto, um artigo para publicar, fazendo estudos clínicos, então é, uma formação permanente e caso quando ainda preciso fazer supervisão.

ENTREVISTA COM PSICÓLOGO JURÍDICO

Cláudio da Silva - Psicólogo Especialista em Neuropsicologia
Doutor em Psicologia Forense
Professor na FTC

Pergunta: O que tem de novo na psicologia jurídica?
A psicologia jurídica hoje está com um movimento chamado à psicologia investigativa, na Inglaterra e ela está muito focada na construção de perfis criminais e da investigação através dos chamados perfis geográficos. Perfil geográfico, é uma técnica na qual são analisadas as características do crime e do criminoso em função de uma base de informações que envolvem não apenas a perpetração do fato típico e ante jurídico, mas também a sua localização dentro do processo de tempo e espaço. A partir daí você faz o cruzamento de informações e consegue obter com uma margem considerável de acerto, o perfil do criminoso e com isso você tem uma melhoria de 85% nas resoluções dos crimes. Essa talvez seja a técnica mais poderosa que hoje nós temos na psicologia investigativa que junta às bases da ciência comportamental, da criminalista e dos processos psicólogos básicos.
Pergunta: Quais são as contribuições do psicólogo jurídico para a sociedade atual?

Hoje, nós estamos desenvolvendo técnicas de mediação, técnicas relacionadas a análise da culpabilidade; verificamos também a natureza do perfil criminoso através dos testes psicométricos, mas também podemos atuar através de políticas públicas relacionadas a segurança, reeducação comportamental do delinquente ou do criminoso. Existem muitas atividades também relacionadas a decisões de trabalho e também no âmbito jurídico.

Pergunta: Se você fosse fazer uma divulgação sobre a Psicologia o que você falaria para a população?

Bom, no caso, eu acho que a contribuição maior da psicologia enquanto área científica é o entendimento do comportamento humano. E se a gente fosse falar da psicologia criminal é a possibilidade de entendimento do crime dentro de uma vertente psicológica. Então, acho que a divulgação seria os métodos de investigação, auxílio a justiça no caso da psicologia jurídica.

Pergunta: Como funciona a psicologia jurídica na prática?
Existem diversas formas de funcionamento da psicologia jurídica. Porque ela tem várias áreas, mas quando nós relacionamos com a justiça geralmente somos convocados, através de uma petição onde o juiz estabelece o que vamos fazer, se um laudo psicológico ou uma intervenção clínica, dentre outras coisas. Se nós estamos dentro de uma instituição de natureza jurídica, fluxo pode ser um pouco diferente, nós podemos estar dedicados a alguma atividade especifica, como por assessoramento das penitenciarias ou uma atividade asilar, o psicólogo vai atuar neste sentido também, vai depender muito do local. Mas, via de regras, nós temos sempre um aval de uma autoridade judiciária.
Pergunta: Quais são os desafios desta profissão?

O maior desafio da psicologia jurídica hoje é se estabelecer como uma ciência reconhecida de aporte as práticas do direito, e de manter as suas ferramentas como os testes psicométricos. O psicólogo jurídico muitas vezes é questionado quando ele produz laudos, ou quando ele produz algum parecer. Então ele precisa estar muito bem embasado.



ENTREVISTA COM PSICÓLOGO HOSPITALAR

Ana Maria da Paz Moreno – Especialista em Psicologia Hospitalar
Psicóloga no Hospital Santa Izabel

Pergunta: Qual o seu maior desafio como psicólogo hospitalar?
O trabalho do psicólogo hospitalar não é um trabalho linear, que podemos nos preparar simplesmente e saber como atuar, é um trabalho que nos desafia diariamente porquê estamos lidando com o sofrimento, com a morte e lamentações humanas e cada pessoa lida com isso de uma forma diferente e isso convoca a estarmos lidando com as reações mais diversas possíveis tanto das pessoas que adoecem como dos seus familiares.
Pergunta: Para você, qual a necessidade da Psicologia Hospitalar?
É uma área muito importante porque o ambiente do hospital é um ambiente que as pessoas vêm para tratar de doenças orgânicas e físicas, mas somos um ser integrado, corpo mente e espírito, então não tem como dissociar um ser humano que sofre fisicamente sendo que o sofrimento emocional está sendo também vivenciado. Então somos os profissionais que estaremos atentos a isso e iremos dar voz ao sujeito que muitas vezes o foco só está sendo biológico, sendo que também é muito importante dar o suporte emocional tanto para o paciente quanto para os familiares.
Pergunta: Percebe-se que existe uma necessidade da atuação do psicólogo em caráter   multidisciplinar, no trato com os pacientes e familiares. É comum encontrar resistência a essa presença, tendo em vista que, muitos pacientes/familiares focam apenas na questão física?
No geral as pessoas são bem receptivas, tanto os pacientes quanto seus familiares, existem pessoas que são mais resistentes que associam a psicologia a notícias ruins, mas na maioria dos casos há receptividade. Quando há resistência, é muito relativa e não há essa especificidade de pacientes ou familiares, tem a ver com a característica pessoal de cada um. Há pessoas que não se sentem muito a vontade e respeitamos isso.
Pergunta: Quais as maiores dificuldades, pontos fracos que precisam ser melhorados, que você encontra dentro da psicologia hospitalar?
Tem algumas situações difíceis, temos dificuldades de todos os tipos, diversas. Aqui no hospital Santa Izabel especificamente a psicologia tem um espaço muito respeitado de atuação, mas às vezes em outras instituições há uma dificuldade por ser uma profissão nova e se inserir nas equipes muitas vezes não é fácil. E tem também as dificuldades emocionais, pois somos profissionais e precisamos fazer um trabalho pessoal para saber lidar e saber separar o que é nosso e o que é do outro (isso independente da área de atuação psicológica) e inevitavelmente iremos lidar com situações que irão nos mobilizar e nos tocar pela experiência de vida e experiência que já passamos e vivenciamos e temos que estar atento e ter cuidado para saber lidar de forma profissional.
Pergunta: O que mais influenciou no desenvolvimento da Psicologia hospitalar?
O ser humano estar além do corpo biológico contribui para que a Psicologia entre no hospital, para se perceber que se precisa também cuidar desse lado emocional e de que a doença física e orgânica traz o sofrimento psíquico.
Pergunta: A Psicologia hospitalar se atém apenas ao trabalho com os familiares do paciente durante o processo de internação ou, em caso do paciente vir a óbito, os profissionais continuam prestando assistência aos familiares?
Em caso de óbito, que geralmente acontece com os pacientes que estão na UTI (ou algumas vezes na enfermaria) nós começamos a acompanhar o processo desde o início, todo o processo durante o agravamento do paciente, dando o acompanhamento a família também até o momento do óbito se estivermos presente. Mas após a saída do hospital, quando achamos necessário damos encaminhamento fora se a família tiver interesse. Mas nós pessoalmente ficamos restritos ao hospital.
Pergunta: Fora o óbito, quais os outros problemas enfrentados pelo psicólogo hospitalar?
Várias situações podem ser difíceis de lidar, como o adoecimento em si. As patologias, do ponto de vista neurológico, costumam acontecer de forma súbita, como por exemplo: um AVC, aneurisma, e isso radicalmente muda a vida daquela pessoa e dos familiares. Então essas situações que causam esse acontecimento de forma tão abrupta de alguma maneira trazem mobilização emocional e alguma vezes uma desorganização da família e do paciente. As tentativas de suicídio também são uma dificuldade, o que acaba sendo muito traumático para todos os envolvidos.
Pergunta: Durante sua atuação qual o caso que mais te marcou?
O caso que mais marcou não só a mim, mas também toda a equipe envolvida, foi o de um paciente com idade de 15 anos que ficou aqui durante 5 meses na UTI, e um total de 9 meses no hospital, esse caso marcou muito porquê primeiramente por conta da idade, todos se mobilizam muito quando é uma pessoa jovem doente, e foi um caso muito grave que não havia muitas perspectiva de cura, sem muita expectativa de sobrevivência ou por ser um caso neurológico, mesmo que houvesse sobrevivência poderia não haver recuperação e poderia não voltar a ser quem era, tendo sequelas. Mas esse caso surpreendeu a todos, pois ela conseguiu se reabilitar, e nós consideramos um milagre pois era muito difícil haver chance de recuperação, nós enquanto equipe ficamos muito felizes com esse resultado.




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