Freud e a Psicologia de Grupo
- Na sua obra "Psicologia de Grupo e Análise do Ego", de 1920-22, Freud discute algumas ideias sobre grupos a partir dos estudos de Le Bon.
- Ele utiliza o termo “grupo” como equivalente a “massa” e “multidão”.
- Nessa obra não vamos encontrar referência a técnica grupal, mas algumas concepções preliminares sobre grupos.
Uma
relação que envolva no mínimo duas pessoas já pode ser considerada como uma
relação social, ao contrário do que se costuma pensar, ou seja, que a
Psicologia Social estuda as influências de várias pessoas sobre o indivíduo;
além de estudar um grupo de pessoas ou multidão.
O interesse dessa ciência é...
- estudar o indivíduo como fazendo parte de um grupo, de uma profissão, de uma instituição ou de um grupo de pessoas reunidas momentaneamente para atingir um determinado objetivo.
- Isto porque o instinto social vem à luz nessas situações.
Psiclogia Social e Psicologia de Grupo
- A Psicologia de Grupo nasceu da primeira
- Freud utiliza essas expressões como sinônimas.
- Para Freud [1920-22(1976)] “a psicologia de grupo interessa-se assim pelo indivíduo como membro de uma raça (. ) ou como parte componente de uma multidão que se organizam em grupo, numa ocasião determinada, para um intuito definido” (p. 92).
Le Bon, citado em Freud [1920-22(1976)] menciona algumas características de um grupo.
- A primeira delas diz respeito à “mente coletiva”, ou seja, a maneira de pensar e de agir de uma pessoa é diferente de quando está no grupo. A tendência é se comportarem de forma diferente.
Zimerman (2000) ampliou esta ideia e desenvolveu o que ele chamou de “campo grupal”:
- num grupo os fenômenos encontrados são reflexos da interação entre os participantes, e não uma somatória de cada um.
Conceito de Grupo e de Campo Grupal
- É da natureza do homem interagir entre si. Para tanto, alguns conceitos estudados nas relações humanas dizem respeito à interação social, comunicação e grupo.
- A Psicologia Grupal apropria-se justamente desta necessidade que o indivíduo tem de agrupar-se, inicialmente espontaneamente – família, grupo na escola, creche, cursos, trabalho, clube, etc.
Segundo Zimerman (2000)...
- “grupo” pode ser definido como um conjunto de pessoas. Um conjunto de pessoas refere-se a uma “comunidade”, que por sua vez, um conjunto de comunidades constitui uma sociedade.
- Entretanto, o grupo que interessa (o grupo terapêutico) tem que ter alguns requisitos, como salienta Zimerman (2006). Um simples aglomerado de pessoas não forma um grupo propriamente dito.
- Este autor ilustra claramente essa concepção quando compara um grupo com uma orquestra: antes de iniciar o concerto os músicos, isoladamente, são simples músicos. Mas quando o maestro inicia a regência, a orquestra se torna um grupo de fato, pois cada um tem seu papel, lugar e posição, além de um objetivo em comum: tocar uma canção. Nesse mesmo sentido, um grupo terapêutico possui um objetivo, uma tarefa a cumprir e uma organização própria.
- Quando as pessoas estão num grupo forma-se o que Zimerman (2000) chama de “campo grupal”, que constitui numa “estrutura que vai além da soma dos componentes” (p. 84).
- É resultante de alguns fenômenos subjetivos que são reflexos da interação de todos os membros. São eles:
- fantasias, mecanismos de defesas, ansiedades, resistências, transferência e contratransferência, vínculos, etc.
- Os fenômenos grupais acontecem em todos os grupos, espontâneos ou terapêuticos.
- A diferença reside no fato de que no segundo há um coordenador (terapeuta) que irá identificar e trabalhar tais fenômenos.
- o campo grupal refere-se à dinâmica de interação entre todos os participantes e ao terapeuta. Entretanto, as identidades específicas de cada membro precisam ser respeitadas.
- Embora não aja evidência científica de que a família nuclear (pai, mãe e irmãos) seja considerada como o grupo primordial ou primeiro, uma associação com o grupo terapêutico permite observar algumas semelhanças.
- Em qualquer família, percebe-se que cada membro desempenha papel e função definidos, assim como nos grupos terapêuticos.
- A associação vai além e permite analisar que no grupo familiar há regras e maneiras próprias de organização e funcionamento, muitas vezes implícitas.
- Estão envolvidos sentimentos ambivalentes, como os de amor (segurança, aconchego, carinho) e de ódio, ciúme, inveja, rivalidade e rejeição.
- As figuras, materna e paterna constituem nos primeiros modelos de identificação para o indivíduo (RAVAZZOLA, 1997).
A família, para Osório (1997, p. 50) “é uma unidade
grupal onde se desenvolvem três tipos de relações pessoais – aliança (casal),
filiação (pais/filhos) e consanguinidade (irmãos)”.
- É uma instituição universal, presente em todas as culturas e épocas históricas. O que varia com a contemporaneidade é a estrutura, formando novas configurações.
- A família tradicional – pai, mãe e filhos – é cada vez menos comum, ao passo que a união entre homossexuais, produções independentes, (re) casamentos, adoções e filhos de casamentos anteriores são cada vez mais frequentes.
Segundo Zimerman (2000)...
- o grupo familiar lembra não só a estrutura do grupo terapêutico, mas também a relação que o paciente desenvolve com o terapeuta e vice-versa. Assim, o campo grupal é constituído de sentimentos e de tipos de vínculos muito semelhantes.
Em Psicanálise chamamos de relações objetais:
- a forma com a qual o indivíduo se relaciona com as pessoas em geral é influenciada por suas vivências e experiências com as figuras infantis, inicialmente pai, mãe e irmãos e/ou outros cuidadores (como avós, babás, etc.).
A função materna...
- pode ser resumida pelo conceito de Winnicott, isto é, da mãe suficientemente boa. Refere-se aquela mãe que é capaz de gratificar e de frustrar seu bebê na medida certa. É aquela mãe que consegue prover as necessidades físicas e emocionais – de alimento, calor, amor, carinho.
- Sua função é a de ser continente, ou seja, acolher as angústias e ansiedades da criança e depois devolvê-la modificada. Por outro lado, essa mãe pode frustrá- la na medida certa, sabendo estar ausente (ZIMERMAN, 2000).
Quanto aos irmãos...
- estes também têm sua influência na dinâmica do grupo familiar.
- Para Zimerman (2000) é entre os irmãos que se experimenta a capacidade de lidar com sentimentos ambivalentes, que são vivenciados em relacionamentos futuros.
- Referem-se aos sentimentos fraternais, de cuidado, carinho e zelo com o irmão, assim como também aos sentimentos marcados por rivalidade, ciúme e inveja.
No grupo...
- o indivíduo tem um “sentimento de poder invencível”, segundo Le Bon, citado em Freud [1920-22(1976)].
- Seus instintos são aflorados às vezes até de forma irresponsável.
- Além disso, há o fenômeno do contágio, que faz com que os sentimentos e atos sejam contagiosos quando o indivíduo está no grupo.
- Muitas vezes o interesse coletivo sobrepõe ao interesse individual.
Yalom (2006) faz menção a essa teoria do contágio...
- quando revela, a partir de suas pesquisas, que uma parte dos pacientes que desistem da grupoterapia teme que o sofrimento do outro os contagie de alguma forma.
- Nesse sentido, os fenômenos inconscientes exercem mais influência que nossa vida consciente.
- A maior parte de nossos comportamentos é regida pelas leis da instância psíquica que não temos conhecimento – o inconsciente.
- aos elementos heterogêneos do grupo.
- Pessoas com história de vida diferente reúnem-se entre si, provisoriamente, porque possuem algum objetivo em comum. Por isso mesmo devem estar ligadas por um elo.
A necessidade de haver um líder no grupo já era um tema discutido por Le Bon, citado em Freud [1920-22(1976)].
- Este autor faz uma associação do grupo com um rebanho obediente, o qual precisa de um pastor. Mas salienta que o líder deve ter algumas qualidades, como “prestígio”, acreditar fielmente nas suas ideias, além de ser imponente.
McDougall, também citada em Freud [1920-22(1976)] dá sua contribuição...
- quando afirma que um grupo não é uma mera reunião de pessoas.
- Um grupo psicológico é formado de pessoas que têm algo em comum, objetivos em comum e, principalmente, precisa haver organização.
- Dessa forma, os grupos podem ser muito produtivos. O autor cita como exemplo a criação de folclores e canções populares, produzidas por um grupo de pessoas.
- De uma forma ou de outra, as características descritas acima serviram de ponto de partida para o desenvolvimento da técnica grupal a qual se apresenta hoje, podemos dizer que tais ideias foram esculpidas e aprimoradas, pois não são contrárias à literatura atual sobre grupos psicológicos.
REFERÊNCIAS:
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