Relatório como atividade de
avaliação para obtenção de nota na disciplina de Socioantropologia, d do 2º
semestre, do curso de Psicologia.
Resumo
Esse
relatório trata das questões relacionadas à adultização erótica infantil, como
motivo de grande preocupação sobre a saúde biopsicossocial da infância, no
Brasil. Dentro desse contexto, que tem motivado profundas reflexões sobre as
consequências da adultização como influência do comportamento infantil, faz-se
necessário entender as causas e motivações que contribuíram para a banalização
da erotização precoce nas crianças.
Palavras-chave
Criança; Adultização; Infância;
Desenvolvimento; Inocência.
Introdução
As
causas e motivações da adultização infantil, podem ser observadas nas relações
de convivência do homem na sociedade em que vive, sobretudo, nos diferentes
meios de acesso às informações, que as crianças da contemporaneidade vem
dispondo, em seu cotidiano social.
Daí a
necessidade de se conhecer os fatores socioantropológicos que contribuíram para
se chegar a esse panorama dramático da adultização infantil no Brasil, bem
como, conhecer como a sociedade tem contribuído para amenizar os efeitos da
erotização infantil através da saúde pública, com ênfase na prevenção e
intervenção da criança erotizada.
Esse
relatório tem por finalidade, levantar o panorama da realidade brasileira, no
que tange a adultização erótica infantil, elucidando os meios viáveis a
proteção da criança, quando esta tem, a sua infância roubada.
1. Desenvolvimento
Para se obter uma maior compreensão da criança em si, é preciso
se reportar à Psicologia do Desenvolvimento que abrange o desenvolvimento
físico, cognitivo, e social ao longo da vida, com ênfase no modo pelo qual a
herança genética ou natureza interage com as experiências ou cultura da criança
no meio em que vive, entendendo que “Natureza é tudo que um homem traz consigo
para o mundo; cultura é qualquer influência que o afeta após seu nascimento. ”
(Francis Galton, English Men os Science, 1874). (MYERS;DEWALL, 2017, pg.146).
Sabe-se que há diferentes fases de desenvolvimento do homem,
desde a sua concepção até a idade adulta. Entretanto, tendo como objeto de
estudo a criança no processo de adultização erótica no âmbito social, torna-se
importante compreender inicialmente, seu desenvolvimento para depois, mostrar
como a sua interação com as diferentes culturas podem lhe roubar a infância.
O desenvolvimento se dá em diferentes estágios, tanto no que diz
respeito ao amadurecimento biológico como também, psicológico, e esses estágios
de desenvolvimento podem se dar de forma estável como é o caso do temperamento
das pessoas, como através de mudanças, o que acontece por meio da interação com
diferentes culturas, ao longo da vida.
Segundo Piaget, que estudou o desenvolvimento cognitivo das
crianças (MYERS; DEWALL, 2017), a mente de uma criança se desenvolve através
das atividades mentais ligadas a pensar, conhecer, lembrar e se comunicar,
levando-o a concluir que a mente da criança não era igual a mente de um adulto
em miniatura, cabendo aqui a reflexão sobre o comportamento adulto que vem
roubando a infância da criança, na convivência da atual sociedade. Piaget
sustentava que os estágios de desenvolvimento da mente, por exemplo, de uma
criança de 8 anos eram diferentes da de 3 anos, uma não pensa nem aprende, da
mesma forma que a outra, o que a de 8 anos já compreende, não é possível se
compreender aos 3 anos de idade. Portanto, é através dessa interação com o
mundo de diferentes culturas que as pessoas vão se ajustando, se adaptando ou
ainda, se acomodando a diferentes mudanças de comportamentos.
Na infância, entre os 2 e 7 anos de idade, a criança vivencia o
estágio pré-operacional, no qual ocorrem as representações das coisas com
palavras e imagens. Tudo que se fala e se vê acabam sendo reproduzidos pela
criança, de tal sorte que os pais têm grande responsabilidade na conclusão
desse estágio, onde os valores sólidos do exemplo, daquilo que se fala e como
se fala, bem como, daquilo que se permite a criança assistir. É nesse contexto,
que as diferentes culturas, expostas pelos diversos meios de comunicação, redes
sociais, internet em geral, têm ganho papel de destaque na influência do
comportamento infantil rumo à erotização com prejuízo da infância. Atualmente,
é muito comum se ver crianças nessa faixa etária, assistindo programas inadequados,
ouvindo músicas com palavras desapropriadas, e muitas vezes, incompreendidas
pela criança. Por outro lado, os pais ignorantes, quanto ao processo de
aprendizagem da faixa etária por meio das palavras e imagens, acabam permitindo
a interação da criança com a cultura adulta, negligenciando a capacidade de
aprendizado da mesma, por se ter pouca idade.
Entre os 7 e 11 anos de idade a criança vivencia o estágio que
Piaget chama de operacional concreto, no qual pensa logicamente a respeito de
eventos concretos e entende analogias. Ai a criança começa a despertar para
a consciência dos fatos, e a raciocinar
com coerência, podendo distinguir o certo do errado, o conveniente do
inconveniente, a verdade da mentira, o que certamente, garante a ela a
capacidade de compreender conteúdos adultos implícitos em insinuações musicais,
programas inadequados a faixa etária, e obviamente, os conteúdos explícitos
assistidos ou escutados, que irão corroborar para a adultização precoce da
criança, entretanto, ainda não têm uma dimensão lógica, racional sobre o
potencial moral maduro que lhe possibilite discernir coerentemente no
contexto. Contudo, a partir dos 12 anos
de idade, inicia-se a fase da puberdade, na qual começa a refinar o gosto pelo
que lhe agrada, a testar papéis, para posteriormente, formar a sua identidade,
fase em que apresentam grande confusão sobre quem realmente são. E nessa fase,
as diferentes formas de culturas com as quais interagem na família ou em
sociedade, será determinante para leva-la a um comportamento erotizado ou não
na infância.
Karl Marx (1818-1883), muito preocupado em compreender a
sociedade e a forma como o homem se comportava na sociedade, já afirmava que a
Ideologia abrange o conjunto de ideias, pensamentos, doutrinas e visões de
mundo numa sociedade, mas observou que essa ideologia era instrumento de
dominação, quando impõe crenças falsas ou ilusórias, fazendo com que o
indivíduo não perceba sua realidade pessoal, sem tomar consciência de sua
realidade social. Portanto, influências culturais que fomentam a erotização
infantil no Brasil, como os programas de televisão com conteúdo adulto, as
redes sociais com facilidades múltiplas de acessos, as famosas séries
disponíveis nos canais fechados, os diferentes gostos musicais que insinuam conteúdos
sensuais, quando não eróticos, acompanhados de um ritmo e danças, igualmente
sensuais e erotizados, certamente reproduzem o que Marx chamou de alienação,
onde o sujeito alienado, nesse contexto, é a própria criança, que por si só,
não tem ainda o discernimento para tomar consciência, dessa adultização,
culminando para a intitulada “infância
roubada”.
Com essa facilidade de acesso, se torna cada vez mais precoce, o
despertar das crianças para conteúdos adultos, sobre os quais ainda não se
encontram plenamente preparadas e desenvolvidas, para enfrentar os desafios de
uma sexualidade precoce, o que tem trazido graves consequências para essas
crianças, tanto no seu desenvolvimento infanto-juvenil quanto na idade adulta.
Observa-se um processo crescente de adultização infantil, como
forma de socialização de crianças para atender por exemplo, a um determinado
mercado consumidor, como pode ser visto, na confecção de sutiãs com enchimento
para crianças; batons produzidos especificamente para crianças, sapatinhos com
saltos entre outros acessórios, e vestuário adulto, sensual reproduzido em
miniaturas, direcionados a este público. Esse mercado consumidor em crescente e
contínuo propósito de intensificar o consumo, culmina para o que Karl Marx,
chamou de sociedade do ter, cujos valores estão pautados no consumo e nas
trocas comerciais, e não na sociedade do ser, cujos valores estão pautados na
dignidade humana.
Importante ressaltar, a responsabilidade dos pais e ou
responsáveis que contribuem, mesmo que inconscientemente, para a adultização
infantil, sem a preocupação dos efeitos sociais que trarão consequências para a
criança. E considerando que a criança é produto do meio em que vive, abrangendo
as células da família e sociedade, pode-se considerar que seus responsáveis
também se encontram envolvidos no processo de alienação, muitas vezes
incapacitados de perceber as consequências negativas que a erotização infantil
traz não só para a infância, também, por toda a vida da criança.
Outro aspecto interessante de se observar, é que mesmo
considerando a responsabilidade dos pais e ou responsáveis sobre a criança,
existem os fatores sociais, cujo acesso cada vez mais amplo, vai influenciando
as formas-pensamentos das crianças, repercutindo inevitavelmente em suas atitudes,
nas quais buscam reproduzir o que admiram como modelo no adulto, o que se pode
ver, através dos supostos ídolos, que influenciam num padrão de comportamento,
estereotipado, até mesmo, estigmatizado, que irão culminar para criança
adultizada, reproduzindo comportamentos, modo de se vestirem, maneira de falar.
Para Marx, essa realidade mostrar que o indivíduo, no caso a criança, não pensa
e faz aquilo que ela quer, até porque ainda não tem discernimento para tomar
consciência do que faz, mas seria algo que alguém quer que ele pense e faça, e
esse alguém se reflete numa sociedade de valores consumistas em detrimento de
valores morais, com os quais deveriam seus pais e responsáveis estarem
buscando. E, é claro que, como Marx bem afirmou, seus pensamentos e ações
acabam se voltando contra a própria criança, no caso, já que se tornam alvo de
uma erotização que potencializa as oportunidades de serem violentadas
sexualmente.
Skinner (MYERS; DEWALL, 2017), através de sua Teoria da
Aprendizagem, tinha como preocupação principal o comportamento humano, sobre o
qual observava, que reforços negativos contribuem para que o mal comportamento
não volte a ocorrer; em contrapartida, o reforço positivo, deve ser dado ao
comportamento positivo, para que este, volte a se repetir. Muito oportuna, a questão dos estímulos que
os pais e a sociedade disponibilizam no cotidiano infantil, para que
comportamento adultos, se reproduzam em atitudes infantis inconscientes. Há,
portanto, uma clara inversão de valores na sociedade contemporânea, que
reforçam positivamente, comportamentos inadequados à faixa-etária infantil,
roubando-lhe a sua inocência, e empurrando-lhe para a violência sexual iminente
do mundo adulto, que corrobora para a gravidez precoce, aquisição de doenças
sexualmente transmissíveis, estupros e consequentes abortos, sem aqui mencionar
os profundos danos psicológicos, que irão permear a por toda a vida, dessa
criança.
2.
Apresentação do tema-eixo e problema (questão norteadora);
Esse
relatório tem como tema-eixo a Infância, cujo tema “Inocência Roubada – Os riscos da adultização erótica em crianças
no Brasil”, propõe uma reflexão sobre os impactos da erotização precoce sobre a
infância brasileira.
Se,
por um lado, a criança não é considerada socialmente um ser completo, por
outro, na perspectiva de sua inserção na cultura, ela exerce grande influência
no consumo daquilo que lhe é sugerido como opção. Deve-se, no entanto, atentar
em sua entrada no mercado de consumo originalmente voltado para o público
adulto. Antes dos 12 anos, os indivíduos não estão capacitados para distinguir
no conteúdo com discernimento. As crianças acreditam que os conteúdos expostos
são para a sua felicidade, por isso, vê-se crianças reproduzindo inocentemente,
comportamentos adultos em danças (feet dance, funks, axés, etc.); vê-se
crianças reagindo com palavras adultas, em contextos infantis, vê-se crianças
reproduzindo atitudes erótica-adultas, sem muitas vezes, entender o seu sentido
moral real.
Todo esse panorama de desenvolvimento da infância,
dentro de um contexto cultural pautado na inserção da criança no mundo adulto,
traz expressivos impactos da erotização precoce, sobre a infância brasileira.
Dentre as muitas consequências da infância roubada, em
função da adultização erótica precoce no Brasil, observa-se um elevado índice
de gravidez na infância, entre meninas de 10 a 19 anos; crescente número de
vítimas de estupros; além das DST (doenças sexualmente transmitidas) que acabam
roubando a infância de uma criança, potencialmente saudável, equilibrada e
feliz.
Fatores como baixa renda, baixa escolaridade, pouca
perspectiva de futuro, falta de informação adequada e pontual, contribuem para
o aumento da gravidez na adolescência.
3.
Aprendizado
alcançado
Pôde-se compreender, ao
longo dos estudos, as influências que uma sociedade pode ter sobre o
comportamento das crianças, tanto em aspectos positivos como também, em
aspectos negativos, como a exposição à erotização precoce, bem como, a
alienação dos pais, contribuem para o incentivo a esse caminho, quando a
infância se constitui em um momento da vida sócio histórica e cultural,
interagindo na convivência individual e social, para que venha a ser o futuro
adulto, reflexo de uma infância erotizada e adultizada.
Estatísticas brasileiras mostram as
consequências dessa adultização precoce em relação a elevado número de meninas
e meninos que sofrem violência sexuais, tornando-se vulneráveis na sociedade,
ratificando assim, a importância de se
instaurar junto a essas famílias, consideradas de maior risco para a
adultização infantil, instituições sociais que possam viabilizar meios de
instrução através da educação e da orientação social, que possam desestimular
cada vez mais, a introdução da criança no mundo adulto, protegendo assim, a sua
integridade física, moral, e psicológica fortalecendo cada vez mais os chamados
valores morais e familiares, respeitando portanto, as devidas faixas de
desenvolvimento que a criança necessita para se tornar um adulto mais
equilibrado e feliz.
4.
Conclusão
e recomendações
Diante
do exposto, percebe-se claramente, o quão prejudicial tem sido para a criança,
vivenciar comportamentos adultos, trazendo consequências irreparáveis para toda
a vida da mesma, cuja inocência roubada, lhe tira a pureza e o direito que
viver cada etapa de seu desenvolvimento pessoal, sem os chamados conflitos de
“gente grande”.
Segundo a OMS, estima-se que, só no Brasil, 18 mil crianças
são vítimas de espancamento e uma a cada minuto de algum tipo de violência:
emocional, física ou sexual, e que cerca de 53 mil crianças mortas todos os
anos por homicídio no mundo. Já a UNICEF, afirma que entre 133 milhões e 275
milhões de crianças são vítimas ou testemunhas de violência em casa, o que
mostra que os estímulos dados às crianças, tornam-se uma arma letal para as
próprias crianças, o que só poderia ser revertido através de cuidados redobrados, com a educação das crianças, sobretudo, no
fortalecimento de valores sólidos, éticos, morais, que possam culminar para um
futuro adulto menos sofrido, mais equilibrado e feliz, nas suas relações de
convivência e interação social.
5.
Referências
QUITANEIRO,T;BARBOSA, M.L.O; OLIVEIRA, M.G.M. Um toque de clássicos Marx, Durkheim, Weber.
2ª ed. Revista e ampliada. Editora UFMG. 2003.
MYERS, D.G; DEWALL C.M. Psicologia. 11 ª Edição. Editora Gen Ltc.2017.
Exame. A
trágica realizada das crianças no Brasil e no mundo. Disponível em https://exame.abril.com.br/negocios/dino/a-tragica-realidade-da-infancia-no-brasil-e-no-mundo-dino89080130131/ Acesso em 31/10/2018.
NETTO, C.F.S. BREI, V.A. FLORES-PEREIRA, M.T. O fim
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marketing e a “adultização” do consumidor infantil. 2010. Disponível em:
<http://www.scielo.br/pdf/ram/v11n5/a07v11n5.pdf> acesso em: 05/09/2018 ás 17h30 min.
Crianças como Pequenos
Adultos? Um Estudo Sobre a Percepção da Adultização na Comunicação de Marketing
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22.20 hs.
Gravidez na adolescência. Brasil Escola. Disponível
em: https://brasilescola.uol.com.br/biologia/gravidez-adolescencia.htm. Acesso em 19/10/2018 às
23:15 hs.
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