"A dificuldade de se encontrar instrumentos confiáveis que avaliem o desempenho social no contexto brasileiro, se dá pelo fato de que a maior parte é desenvolvida nos Estados Unidos e na Europa, e em razão disso, não apresentar características psicométricas que os validem para um uso satisfatório no Brasil. "
O pequeno número de instrumentos normativos que estejam em consonância com as normas estabelecidas pelo Conselho Federal de Psicologia (CFP), promoveu o desenvolvimento de algumas pesquisas. Dentre elas, encontra-se o Inventário de Habilidades Sociais (IHS-Del-Prette); de Almir Del Prette e Zilda A. P. Del Prette, ambos doutores em Ciências e em Psicologia Experimental, respectivamente.
O instrumento é composto por um Caderno de Aplicação, Folha de Respostas e um Manual, sendo que o primeiro contém uma folha de rosto com as instruções e os 38 itens que compõem o teste, cada um descrevendo uma situação social e uma reação a ela.
Solicita-se nas instruções que o indivíduo faça uma estimativa da freqüência com que ele reage da forma descrita em cada item, considerando o total de vezes em que se encontrou naquela situação, numa escala do tipo Likert, com 5 pontos que variam de nunca ou raramente (a cada 10 situações, reajo dessa forma no máximo 2 vezes) a sempre ou quase sempre (em cada 10 situações, reajo dessa forma de 9 a 10 vezes).
Já para a correção e interpretação, há o crivo de pontuação e inversão dos itens e uma Folha de Apuração para cada sexo. No manual contém tabelas de dados normativos para transformação dos escores totais e fatoriais em percentis por gênero, a tabela para a transformação de Resultado Bruto dos fatores em Resultado T e um exemplo de caso.
Os autores evidenciam a importância de avaliar as habilidades sociais, pois estas são indicadas como amplamente relacionadas com a saúde, qualidade de vida, realização profissional e satisfação pessoal.
A construção do instrumento baseou-se nos conceitos do Treinamento de Habilidades Sociais (THS), que preconizam que pessoas socialmente competentes estão mais satisfeitas e sentem-se mais realizadas, assim como se apresentam mais saudáveis, física e mentalmente. Por outro lado, os sujeitos que não possuem tais habilidades costumam ter uma vida com menos qualidade e com maior tendência ao desenvolvimento de transtornos psicológicos.
No trabalho, é enfatizada a necessidade de que haja entendimento dos conceitos básicos do THS por parte dos avaliadores, para que se faça uma interpretação pertinente.
No manual, são encontradas distinções entre os três conceitos sociais componentes de tal treinamento, a saber, o desempenho, que diz respeito a um comportamento ou uma seqüência destes em uma determinada situação social, a competência, que é uma propriedade avaliativa do desempenho e, por fim, as habilidades, que são as classes de comportamentos existentes no repertório do sujeito classificadas como socialmente competentes.
Ainda nesse sentido, os pesquisadores trazem uma compilação dos aspectos relevantes para a compreensão das habilidades e da competência social, quais sejam, a competência social é situacional, isto é, o indivíduo pode ser competente em algumas situações e outras não; as habilidades sociais são culturalmente determinadas, pois a competência social, como construto avaliativo, está sujeita aos valores e normas da cultura; as habilidades sociais são aprendidas nas relações interpessoais com outras pessoas; há fatores pessoais que podem facilitar ou não o exercício de um repertório numa situação social dada; e o desempenho social pode ser analisado como seqüência de comportamentos, ou pode, também, ser decomposto em unidades de comportamento, em que cada unidade é chamada de molecular e a seqüência de molar.
Os autores relatam que o fato do IHS, que tem como finalidade levantar o repertório de habilidades sociais em diferentes situações cotidianas, ser de auto-relato se dá pela facilidade que os instrumentos organizados desta forma demonstram em seu uso.
Quanto à elaboração dos itens, estes foram construídos a partir de pesquisas na literatura atual e de estudos realizados pelos autores, o que permitiu a composição de 38 itens que descrevem situações sociais em vários contextos, com diferentes tipos de interlocutores e com demandas para uma diversidade de habilidades.
A fim de analisar as características psicométricas do instrumento, os autores o aplicaram em uma amostra de 472 universitários. Nesses estudos, foram feitas análises estatísticas que mostraram resultados com valores significativos, evidenciando a validade e a fidedignidade do instrumento.
Ao comparar o índice de discriminação com os índices da correlação item-escore total, pode-se perceber que houve grande equivalência entre os itens de maior correlação com os de maior discriminação. Além disso, mais de 50% dos itens mostraram-se competentes em diferenciar os indivíduos socialmente habilidosos dos menos habilidosos. Já no que diz respeito à estrutura fatorial, foram admitidos os itens com carga igual ou superior a 0,30 para a composição dos fatores.
Os resultados permitiram que a escala fosse organizada em cinco subescalas, a saber,
- Enfrentamento com risco (Fator 1; 11 itens),
- Auto-afirmação na expressão de afeto positivo (Fator 2; 7 itens),
- Conversação e desenvoltura social (Fator 3; 7 itens),
- Auto-exposição a desconhecidos ou a situações novas (Fator 4; 4 itens)
- Autocontrole da agressividade a situações aversivas (Fator 5; 3 itens)
O manual traz ainda outras pesquisas mostrando as propriedades métricas do instrumento. Em um estudo correlacional, utilizando uma versão ampliada do IHS com quatro itens a mais e a Escala de Assertividade de Rathus em estudantes de psicologia, foram encontradas correlações significativas entre os fatores, variando de 0,79 a 0,81.
Há, também, dados referentes à aplicação teste-reteste do instrumento, em uma amostra aleatória de 39 sujeitos, com resultado significativo entre as duas aplicações com correlação de 0,90 (p=0,001). O instrumento, que pode ser aplicado tanto coletiva quanto individualmente, pode ser facilmente corrigido. Inicialmente, aplica-se o crivo de pontuação e inversão dos itens na folha de resposta, somando os valores e obtendo assim o escore total do teste, que em seguida é transformado em percentil por meio da tabela amostral por gênero. Em seguida, o valor de cada item é transferido para a ficha de apuração, o que permite que se faça uma comparação entre o respondente e o Grupo Amostral do mesmo sexo. Para obtenção dos escores fatoriais é preciso transformar o Resultado Bruto de cada item em Resultado T, que são somados e transformados em percentis do mesmo modo como foi feito com o escore total do teste.
Para a interpretação, os valores percentis obtidos são comparados ao Grupo Amostral indicando se o repertório de habilidades sociais do sujeito é satisfatório ou deficitário. Diante da escassez de instrumentos que avaliem as habilidades sociais nos contextos educacionais, clínicos e organizacionais, o IHS é um instrumento que tem o intuito de preencher essa lacuna.
Esse teste, que é o único nesse âmbito com propriedades psicométricas adequadas e padronização para utilização em demandas brasileiras, é composto por um material de linguagem acessível para aqueles que possuem um mínimo de conhecimento na área, sendo indicado à profissionais de Psicologia que tenham necessidade em estudar as habilidades sociais. O IHS mostra-se, portanto, capaz de medir o que se propõe, garantindo aos pesquisadores e psicólogos confiabilidade em seus resultados.
REFERÊNCIAS;
Inventário de Habilidades Sociais: pioneirismo na avaliação clínica, educacional e organizacional Thatiana Helena de Lima Universidade São Francisco Del Prette, Z. A. P. & Del Prette, A. (2001). Inventário de Habilidades Sociais (IHS-DelPrette). 1ª edição. São Paulo: Casa do Psicólogo, 46 p.
Nenhum comentário:
Postar um comentário