- É difícil definir qual a melhor abordagem teórica a ser usada para cada tipo de paciente ou de patologia.
Todas elas têm um objetivo em comum, que é o de ajudar a minimizar o sofrimento do paciente, favorecendo seu crescimento pessoal.
- A diferença está na técnica, isto é, no modo como se alcançarão os objetivos.
- Desde que o profissional conheça bem sua abordagem, todas elas serão valiosas.
Às
vezes, o fator decisivo é a instituição na qual o psicólogo trabalha.
- Em hospitais a psicoterapia de apoio e psicoterapia breve são as mais indicadas.
- Em postos de saúde também, além de ser uma tendência a psicoterapia de grupo, em razão da grande demanda e do pouco tempo disponível.
A
escolha da abordagem psicoterápica:
- dependerá do estilo pessoal do terapeuta, assim como sua visão de homem e de mundo, suas crenças e valores.
- Cada um irá identificar-se com aquela que lhe fará mais sentido.
- O importante é que todas elas têm o seu valor.
O estudo teórico, a supervisão e a análise pessoal:
- devem ser feitas seguindo sempre a mesma linha teórica.
- Não conseguiremos atender cada paciente com uma abordagem diferente.
- Quando entendemos que não é o caso, devemos encaminhá-lo para outro profissional.
As abordagens psicoterápicas mais conhecidas são:
- psicanálise, psicoterapia de orientação psicanalítica, psicoterapia analítica; terapia cognitiva, terapia comportamental, psicoterapia cognitivo-comportamental, o psicodrama, a gestalt-terapia; a psicoterapia humanista e a humanista-existencial, a abordagem existencialista, fenomenológica, etc.
Psicoterapia de
orientação Psicanalítica
- é uma abordagem que tem como pressupostos teóricos a Psicanálise, mas que se diferencia desta basicamente pela técnica utilizada.
- Enquanto na Psicanálise o objetivo principal é a mudança da estrutura da personalidade, na psicoterapia o objetivo é mais modesto: visa o alívio do sintoma.
- Historicamente foi criada para tornar a Psicanálise, método este desenvolvido por Sigmund Freud, acessível a mais pessoas e em menor tempo.
- Enquanto representantes, além do próprio Freud, temos Bion, Klein, Winnicott, dentre outros.
- Ao falar sobre si, por meio da associação livre, o paciente expressará seus conteúdos inconscientes.
- Por meio da transferência e da contratransferência o terapeuta poderá interpretar tais sentimentos e dar um novo sentido para o sintoma do paciente.
- A mudança ocorre quando é possível dar um novo sentido para o seu sofrimento, quando seu sintoma pôde ser elaborado.
- Carl Gustav Jung foi um autor que concordou, pelo menos na fase inicial de seu trabalho, em muitos pontos da teoria de Sigmund Freud, mas teve seus próprios pensamentos e ideias, tornando a sua psicologia conhecida como “Psicologia Analítica” (em 1913, no 4º Congresso Internacional de Psicanálise, em Munique, Jung chama sua Psicologia Analítica).
- É inegável a contribuição que Jung deu à arte da psicoterapia. Suas ideias e pensamentos se tornaram conhecidos e reconhecidos por muitas pessoas, da área da Psicologia ou não.
- Uma breve caracterização da psique, da forma como Jung a entende:
- Para Jung, a psique ou personalidade total envolve aspectos conscientes e aspectos inconscientes.
- É um sistema dinâmico, em constante movimento, e ao mesmo tempo, autorregulado.
- Está dividida em três níveis:
- 1. Consciente
- 2. Inconsciente pessoal
- 3. Inconscinete Coletivo
Como pontua Jacobi (in CLARET,
s/ano, p.45), a psicologia de Jung ajuda “o indivíduo a descer conscientemente
às profundezas da própria alma, a reconhecer os conteúdos dela e integrá-los na
consciência”.
- Jung possuía um penetrante sentido histórico.
- Ele achava que a natureza do homem não tinha mudado grande coisa no decurso de muitos séculos.
- Estudou mitologia, antropologia, religião e alquimia. Por isso, desenvolveu o conceito de INCONSCINETE COLETIVO
- Uma das mais importantes contribuições de Jung é o conceito de inconsciente coletivo.
- Este é o “responsável pela produção espontânea de mitos, visões, ideias religiosas e certas variedades de sonhos que são comuns a diversas culturas e períodos da história (STORR, 1993, p.39).
- É o nível da psique que inclui experiências comuns a todas as pessoas em uma maior ou menor intensidade, e que tem suas origens na evolução da história.
- As pessoas passam pelas mesmas etapas do desenvolvimento: infância, adolescência, vida adulta e velhice. Isso ocorre devido à herança da humanidade, algo que lhe é coletivo. Se não existisse a herança da espécie, as pessoas não passariam pelas mesmas etapas do desenvolvimento, seriam, portanto, diferentes.
- Quando se transporta uma doença pessoal a um nível mais alto e geral, há um efeito curativo. Às vezes, o consolo espiritual ou a influência psíquica podem ajudar ou até curar uma doença.
- Assim, o fato do paciente perceber que o sofrimento não é só seu, mas sim geral, já lhe causa um alívio, um consolo (JUNG, 1985).
Jung foi o primeiro a insistir em que o próprio analista seja também analisado.
- Entre 1914-1918 ele fez sua autoanálise, o que influenciou muito em sua teoria.
- Ele parte da solução de seus próprios problemas para a solução dos problemas dos outros.
- Desse modo, o paciente vai se desenvolver até o nível em que seu terapeuta tiver se desenvolvido.
- Projeção
- Transferência
- Sonhos
- Imaginação Ativa
O indivíduo procura psicoterapia porque...
- necessita de ajuda para curar o seu sofrimento.
- O paciente espera que alguém vá ouvi-lo, vai poder ajudá-lo, vai poder curá-lo.
- É o Complexo do Salvador, ou seja, a esperança de que o terapeuta o cure, o salve de seu sofrimento.
O paciente “projeta o complexo de salvador no
analista, bem como as expectativas religiosas e a esperança de que talvez o
analista, munido de conhecimentos secretos, possuísse a chave perdida pela
Igreja, podendo revelar-lhe a verdade redentora” (JUNG, 1985, p. 143).
Os elementos projetados no analista
também são de natureza impessoal, arquetípica. Portanto, o complexo do salvador
é uma ideia universal, uma esperança de todo mundo, em qualquer época da
história.
O causador de seu sofrimento é sempre o outro:
- problemas de relacionamento com o pai, a mãe, com o marido, filhos, escola, trabalho, etc.
- Nesse sentido, ele projeta no outro o seu sofrimento.
- Logo, o primeiro ponto a ser trabalhado em psicoterapia é a Projeção.
- Paralelamente, temos a transferência, que é um conceito semelhante ao da projeção.
Segundo Jung (1985)...
- a PROJEÇÃO
- é um mecanismo psicológico inconsciente geral, que carrega conteúdos subjetivos sobre o objeto.
- O conceito de projeção é mais generalizado, é um mecanismo que ocorre entre o sujeito humano e o objeto físico.
- Freud também concorda com esse conceito, mas Jung vai além, e acrescenta a observação de que não são apenas as imagens pessoais da infância do paciente que se projetavam, mas também as figuras arquetípicas*
- O termo TRANSFERÊNCIA
- significa “carregar alguma coisa de um lugar para o outro” (p. 127).
- A transferência de um mecanismo específico da projeção, uma vez que se refere ao processo que se dá entre duas pessoas (terapeuta e paciente).
- Na transferência o paciente projeta no terapeuta imagens derivadas de sua experiência de figuras significativas do passado (geralmente figuras parentais). Quanto mais o terapeuta for uma figura desconhecida, mais provável é que as imagens do mundo interior do paciente se liguem àquele.
Para Freud a transferência é o que move o tratamento, se ela não existir, não há cura. Mas para Jung ela não é necessária, chegando até ser indesejável. “Uma transferência é sempre um estorvo, jamais uma vantagem. Cura-se apesar da transferência e não por causa dela” (JUNG, 1985, p.141).
Para Jung não é preciso que o paciente
ame ou odeie o terapeuta, porque o problema central do paciente é que ele
aprenda a viver a sua própria vida, sem que o terapeuta se intrometa
nela.
Em psicoterapia...
- o fato de o paciente ter emoções, por si só, exerce efeito no analista. Assim, o terapeuta serve de função especular, isto é, aceita as emoções do paciente sendo um espelho para elas.
- Nesse sentido Jung não aceita a ideia do uso do divã. Para cumprir a função especular, o terapeuta deve estar de frente ao paciente, de modo que este primeiro tenha liberdade para reagir às emoções do segundo.
CONTRATRANSFERÊNCIA...
- se refere aos sentimentos do analista em relação ao seu paciente (o processo inverso da transferência).
- Os conteúdos projetados pelo paciente são idênticos aos elementos do inconsciente do próprio terapeuta.
- Entretanto, se o terapeuta não conhecer seu inconsciente, pode ser que o paciente caia no inconsciente de seu terapeuta, e então o processo terapêutico pode travar. Assim, fica mais uma vez confirmada à importância do terapeuta em fazer análise. (JUNG, 1985).
A transferência e a projeção são os pontos iniciais a serem trabalhados na psicoterapia.
- O analista não pode forçar uma transferência, devendo ela ser tratada como qualquer projeção.
- De acordo com Jung (1985), no início de um tratamento, as projeções são experiências pessoais do paciente.
PRIMEIRO ESTÁGIO
- De acordo com Jung (1985), no início de um tratamento, as projeções são experiências pessoais do paciente.
- Neste primeiro estágio devem-se trabalhar todos os níveis de relacionamento que o paciente já teve, conscientizando-o de que ele ainda olha o mundo como se fosse criança: tudo projeta e espera das figuras autoritárias de sua experiência pessoal.
- Para estabelecer uma imagem madura o paciente deverá enxergar o lado subjetivo das imagens que criem empecilhos para sua vida.
SEGUNDO ESTÁGIO
- consiste na discriminação entre conteúdos pessoais dos impessoais.
- as projeções pessoais podem ser dissolvidas por meio de realização consciente, já as impessoais não podem ser destruídas por pertencerem aos elementos estruturais da psique.
- O que pode ser dissolvido é o ato da projeção, e não seu conteúdo (JUNG, 1985).
TERCEIRO ESTÁGIO
- consiste em diferenciar o relacionamento pessoal com o analista dos fatores impessoais. comum que o paciente goste do terapeuta, e quando o trabalho foi bom, que o terapeuta também goste de seu paciente.
- Logo, reações emocionais são aceitáveis. E isso não quer dizer que se trata, ainda, de transferência.
- é denominado de objetivação das imagens pessoais.
- É uma parte fundamental do processo de individuação.
- Seu objetivo é desprender a consciência do objeto para que o indivíduo não coloque a garantia de sua felicidade em fatores externos - em outras coisas ou pessoas (JUNG, 1985)
- Associação de palavras
- Análise dos sonhos
- Imaginação Ativa
4. Quanto ao teste da associação de palavras, Jung (1985) afirma que:
- está um tanto ultrapassado, por isso não o utiliza mais em seus pacientes.
- Este teste consiste em uma lista demais ou menos cem palavras.
- Explica-se à pessoa que se submete ao teste que, após a apresentação da palavra estímulo, o mais rápido possível ela tem que dizer qual a palavra que surge na cabeça.
- Marca-se o tempo de cada resposta e depois se tira a média deste tempo.
- Após, parte-se para uma segunda etapa: repetem-se as palavras estímulos e o indivíduo tem que repetir suas respostas.
- Em alguns momentos a memória falha, e tais erros é que são
significativos.
Os sonhos, segundo Storr (1993), são...
- a “estrada real” para o inconsciente.
- A linguagem dos sonhos é uma linguagem natural, simbólica, que talvez seja difícil de compreender, mas não constitui uma tentativa de esconder coisa alguma.
- Podem-se ler os sonhos como se aborda uma língua estrangeira.
- Muitos sonhos originam-se no inconsciente pessoal, isto é, dizem respeito aos problemas emocionais cotidianos, às relações interpessoais e aos resíduos da infância.
- Nesses casos ele não hesitava em fornecer suas próprias associações, filtradas do seu próprio e extenso conhecimento de mitologia, religião e alquimia.
- Essa técnica é chamada de amplificação, isto é, a prática de fornecer ao paciente analogias e comparações.
Durante a sua autoanálise, Jung...
- desenhava e pintava suas próprias visões e sonhos.
- Ele encorajou seus pacientes a fazerem o mesmo, ou, escrever poemas, fazer modelagens ou esculturas, ou mesmo dançar suas próprias fantasias.
- Embora um paciente possa tratar um sonho dessa forma e fosse estimulado a fazê-lo, Jung estava mais interessado na espécie de fantasia que acode à mente das pessoas quando elas não estão despertas nem adormecidas, mas num estado de divagação em que o raciocínio está suspenso, mas não se perdeu a consciência (STORR, 1993).
A descrição acima se refere à técnica da imaginação ativa...
- que se destina a mobilizar a criatividade do paciente.
- É uma forma de desenvolver as possibilidades criadoras latentes no próprio paciente.
Jung fundamentou sua teoria...
- na psicanálise freudiana, nos seus conhecimentos de mitologia, alquimia e religião.
- Mas, especialmente, em sua experiência clínica, experiência pessoal e em viagens que fez pelo México, China, África, dentre outros países.
- Apesar de dar muita atenção à teoria propriamente dita, ele estava mais interessado em ajudar o seu paciente.
- Jung deixava as pessoas livres a lidarem com os fatos a sua maneira, e encorajava aos analistas que encontrassem seus próprios caminhos.
Segundo Bahls; Navolar (2004)...
- essa abordagem utiliza pressupostos do modelo behaviorista ou comportamental e do modelo cognitivista.
- Uma teoria não é contrária à outra, mas complementam-se.
- No behaviorismo...
- o foco é a análise do comportamento e suas contingências.
- O ambiente interfere diretamente no comportamento, e o tema central é a aprendizagem.
- Seus principais representantes são Pavlov, Skinner e Thorndike.
- existem dois tipos de comportamento:
- o comportamento respondente (que tem um caráter involuntário)
- o comportamento operante (com caráter voluntário).
CARÁTER INVOLUNTÁRIO
- Capaz de modificar o ambiente, e sofre influências sobre o próprio ambiente.
COMPORTAMENTO OPERANTE
- O comportamento clássico ou operante está associado ao conceito de estímulo-resposta.
- No modelo cognitivo...
- dá-se mais relevância para as situações subjetivas, como a memória, percepção, atenção, etc.
- Utiliza-se mais das “crenças” do que do “conhecimento”, uma vez que o cliente atua de acordo com o que ele acredita ou percebe, mesmo que elas estejam distorcidas.
- Aaron Beck, um dos principais representantes do cognitivismo, construiu sua teoria estudando pacientes deprimidos.
- Ele observou que essas pessoas tinham em comum, crenças negativas em relação a si mesmas.
- Assim, na terapia cognitiva as crenças que cada pessoa tem, irão influenciar seu comportamento, podendo surgir alguma patologia.
Como salienta Bahls.; Navolar (2004), a terapia cognitivo-comportamental tem indicação de tratamento para vários problemas emocionais, como a ansiedade, depressão, distúrbios alimentares, transtorno obsessivo-compulsivo e conflitos sexuais.
- é auxiliar o cliente a “aprender novas estratégias para atuar no ambiente de forma a promover mudanças necessárias;
- (...) é corrigir as distorções cognitivas que estão gerando problemas ao indivíduo e fazer com que este desenvolva meios eficazes para enfrentá-los”.
Indicações da TCC
- A psicoterapia é um processo orientado para o crescimento, independência e maturidade do paciente (RIBEIRO, 1988).
- Nesse sentido é indicada para diversos tipos de problemas ou situações, que estão classificados da seguinte forma:
A) Tratamento de transtornos mentais (conforme CID-10).
PASSO 1
- Dependência
química: uso de álcool, cigarro e outras drogas.
- Transtornos
psicóticos, esquizofrenias.
- Transtornos
do humor: maníaco, bipolar, depressivo.
- Doença
de Alzheimer, demência vascular, doença de Parkinson
- Transtornos
neuróticos: fobias, ansiedade, síndrome do pânico, transtorno
obsessivo-compulsivo, transtorno de estresse pós-traumático, somatização,
hipocondria e histeria.
- Transtornos
alimentares: anorexia, bulimia, obesidade.
- Transtornos
do sono: insônia, pesadelos, sonambulismo.
- Transtorno
sexual: ejaculação precoce, vaginismo, falta de desejo sexual.
27
- Transtornos
de hábitos e impulsos: jogo patológico, cleptomania.
- Retardo
mental.
- Dificuldade
de aprendizagem.
- Distúrbio
de conduta.
- Déficit
de atenção e hiperatividade.
PASSO 2
B) Problemas existenciais. Busca de crescimento
pessoal, autoconhecimento. Sensação de que falta sentido de vida, vazio
existencial.
C) Conflitos de relacionamento interpessoal. Casos
de conflito conjugal, familiar ou profissional, nos quais a convivência
torna-se difícil.
D) Elaboração de
momentos específicos ou fases do desenvolvimento. Situações como luto, doença
ou hospitalização, adolescência, menopausa, velhice.
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