Psicologia nas Emergências - uma nova prática a ser discutida.

 Contexto de atuação da Psicologia...

  •  Desastres e emergências são eventos desencadeadores de estresse pela exposição a um perigo imediato à integridade física e emocional das pessoas envolvidas, requerendo assim ações imediatas.
As intervenções do psicólogo...
  •  partem da suposição de que pessoas possuem habilidades para superação de forma positiva dos efeitos da crise
  • seu foco é na prevenção do crescimento positivo e da deterioração psicológica, que será facilitada pelo apoio social provido por instituições que potencializem a capacidade autoeficiente dos sobreviventes. 
  • fornecer  os primeiros auxílios emocionais (PAE)
  • a Psicologia deve prover assistência visando fortalecer habilidades de enfrentamento em situações críticas. 

Situações de desastres, catástrofes, emergências ou acidentes...

  •  podem ser classificados como eventos desencadeadores de estresse, por seu caráter imprevisível e pelo perigo imediato que representam à integridade física e emocional das pessoas envolvidas, requerendo, desta forma, ações imediatas.
  • são fontes de destruição em graus diferentes e causam danos materiais e humanos em diferentes proporções.
  • São tragédias que deflagram a fragilidade do ser humano e, muitas vezes, ocasionam um grande desamparo associado a traumas mais ou menos permanentes para sobreviventes e familiares que perderam seu ente querido, sejam elas provocadas pela natureza ou por pessoas.
Em se tratando das sequelas deixadas após catástrofes...
  • é notório a importância e inclusão do apoio psicológico tanto para vítimas envolvidas diretamente na situação
  • aumentar a dedicação e atenção aos trabalhadores e voluntários que atuam nestes eventos. 
  • O olhar para as necessidades psicológicas de pessoas que foram atingidas por eventos traumáticos abriu para a Psicologia um novo campo de atuação.
  •  A capacitação do profissional se d[a por meio da compreensão dos pilares que norteiam as chamadas intervenções em situações de emergência e catástrofes, delimitando assim os objetivos destas e o conhecimento necessário para tal

 HISTÓRICO DA PSICOLOGIA DAS EMERGÊNCIAS E DESASTRES

  • com a descoberta de que pessoas podem manifestar, individualmente ou coletivamente, alterações psicológicas, em decorrência do trauma, físico e/ou emocional  (Lomeña, 2007)
  • a saúde mental de pessoas que passaram por eventos de desastres é fortemente abalada, podendo desenvolver manifestações de estresse agudo, estresse pós-traumático, luto complicado, quadros depressivos, comportamento suicida, condutas violentas, consumo indevido de substâncias psicoativas, entre outros. (Kraemer, Wittmann, Jenewein & Schnyder, 2009; North, Hong, Suris & Spitznagel, 2008; Organización Panamericana de la Salud, 2004, 2006; Panagioti, Gooding & Tarrier, 2009)
  • Em 1944, Lindemann publica um importante artigo baseado  no auxílio aos sobreviventes e familiares de vítimas de um grande incêndio no clube noturno Coconut Grove, em Boston (EUA)
  •  Slaikeu (1996),afirma que a descrição dos sintomas psicológicos manifestados por estas pessoas foi o ponto central para o desenvolvimento de aportes sobre o processo de luto e suas etapas até a elaboração da perda. 
  •  Em 1970, a Associação de Psiquiatria Americana publicou um manual de “Primeiros Auxílios Psicológicos em Casos de Catástrofes”, contendo nele reações clássicas aos desastres e princípios básicos de atuação (Valero, 2001).
  • em 1974, nos EUA, segundo Lomeña (2007), é publicada a primeira Lei de Socorro em Casos de Desastres, frente ao reconhecimento que estes podem ser geradores de transtornos emocionais e mentais de forma crônica e incapacitante.
  •  Em 1976, Erikson, a partir da inundação de Bufalo Creek, chama a atenção para as consequências emocionais que são resultantes da desorganização social e física da comunidade atingida, chamando este fenômeno de “segundo desastre”
  • Em  1980, frente a um terremoto ocorrido na Cidade do México, a Faculdade de Psicologia da Universidade Autônoma do México, inicia um programa de intervenção em crises para prestar apoio, do ponto de vista psicológico, as pessoas envolvidas nos abalos sísmicos. 
  •  eM 1986, o Ministério da Saúde da Colômbia, juntamente com a Organização Pan-Americana de Saúde – OPAS, estabelece um programa de atenção primária em saúde mental para vítimas de desastres (Carvalho & Borges, 2009; Valero, 2001)
  • na America do Norte, Taylor e Frazer (1982), apontam considerações importantes a respeito do conceito de vítimas, que até o momento eram avaliadas de acordo com as lesões físicas apresentadas. 
  • Em 1957 na Europa, o Grupo de Doutores Noruegueses realizaram investigações com sobreviventes de campos de concentração, evidenciando o incremento da mortalidade e morbidade com uma forte associação com o trauma e pouca influência com a personalidade anterior e os investimentos terapêuticos nos anos seguintes a catástrofes (Lomeña, 2007).
  • Na America Latina, importantes movimentos vêm ocorrendo desde o início dos anos 2000.
  • Em 2006, em Brasília, por iniciativa do Conselho Federal de Psicologia, que já vinha alavancando e participando das iniciativas para organização da categoria no cenário latino americano, e em parceria com a Secretaria Nacional de Defesa Civil, foi realizado o I Seminário Nacional de Psicologia das Emergências e dos Desastres onde se deu a 1ª Reunião Internacional por uma Formação Especializada em Psicologia das Emergências e Desastres, elencando então o que deve compor a formação dos futuros profissionais na área (Anais, 2006).
  • Em março de 2011, o Conselho Regional de Psicologia da 6º região – SP protagonizou oficinas de práticas de Psicologia em Emergências e Desastres em algumas cidades de São Paulo, bem como criou um Grupo de Trabalho de Emergências e Desastres (GTED). 
AS SEIS CATEGORIAS DE VÍTIVAS  que são avaliadas de acordo com o grau de aproximação e relação com o evento trágico:
  1. de primeiro grau seriam as pessoas diretamente envolvidas; 
  2. de segundo grau são os familiares diretos das vítimas de primeiro; 
  3. de terceiros grau estariam os profissionais das equipes de resgate;  
  4. de quarto grau a comunidade ao redor da situação; 
  5. de quinto grau seriam aquelas pessoas que se envolvem pelo simples conhecimento de que esta ocorrendo ou ocorreu tal evento; 
  6. de sexto grau as pessoas que estão na localidade afetada por motivos de viagem.

TEORIA DA CRISE E INTERVENÇÕES EM CRISE

  • Lorente (2003) define Psicologia das emergências como o “campo psicológico que abarca o conjunto da emergência” (p. 32) o qual compreende a circunstância (a própria emergência atendida), o curso temporal (antes, durante e depois do evento) e os sujeitos implicados (as vítimas, os intervencionistas e as organizações que se inserem).
  •  a intervenção em situações trágicas, como as já citadas anteriormente, visa auxiliar o sujeito (vítimas e/ou intervencionistas) em sua reorganização psíquica e social, com o intuito de minimizar possíveis agravos da saúde, física e emocional. 
  •  uma situação de crise que, de acordo com Slaikeu (1996, p. 16), é “um estado temporal de transtorno e desorganização, caracterizado principalmente por uma incapacidade do indivíduo para manejar situações particulares utilizando métodos comumente conhecidos para a solução de problemas, e pelo potencial para obter um resultado radicalmente positivo ou negativo”. 
  • o ponto chave de qualquer intervenção psicológica em momento de crise está  calcado no conhecimento de que a pessoa possui habilidades e condições de superação de forma positiva do estresse desencadeador e que a intervenção possui seu foco na prevenção para que o caminho já disponível ocorra da melhor forma possível.
  • O trauma deve ser considerado, porém não pode ser encarado como a única possibilidade por quem enfrenta um desastre. estes geralmente ocorre quando o desfecho é negativo.
  •  Caplan (1964) – precursor da Teoria da Crise – define, a resolução também receberá influência dos recursos pessoais do sujeito e dos recursos sociais que estão disponíveis.
  •  o psicólogo deve se centrar, ou seja, no olhar para o que o sujeito tem de competências individuais para o manejo da situação e que recursos podem ser ativados para o contorno desta.
  •  A resiliência, de acordo com Yunes (2003), trata-se da habilidade de superar infortúnios, o que implica ser atingido por algo e ser capaz de sair disto de maneira fortalecida. 
  • A Psicologia positiva aliada à compreensão de crise traz então a possibilidade de pensar que, mesmo diante de eventos trágicos, que levam a uma grande tristeza e dor, sempre há a possibilidade de estes serem também geradores de perspectiva e esperança.
  • o papel do psicólogo faz a diferença, encorajando e facilitando para que as pessoas não sejam somente ajudadas, mas que possam se ajudar, e para não vitimizá-las cada vez mais, convidando-as a um papel ativo neste processo. 
  •  A principal atenção humana que a psicologia pode oferecer é o conhecimento do potencial humano. 
 A intervenção em crise ...

  • é um procedimento para exercer influência no funcionamento psicológico do indivíduo durante o período de desequilíbrio, aliviando o impacto direto do evento traumático. 
  • O objetivo é ajudar a acionar a parte saudável preservada da pessoa, assim como seus recursos sociais, enfrentando de maneira adaptativa os efeitos do estresse.
  • deve-se facilitar as condições necessárias para que se estabeleça na pessoa, por sua própria ação, um novo modo de funcionamento psicológico, interpessoal e social, diante da nova situação (Fernández & Rodrígues, 2002; Wainrib & Bloch, 2000).
A intervenção, em situações de emergências e desastres...
  •  é baseada nos primeiros auxílios psicológicos (PAP)
  •  para Slaikeu (1996), têm como metas proporcionar apoio, reduzir o perigo de morte e auxiliar a pessoa com as fontes de ajuda disponíveis.
 O guia da IASC sobre saúde mental e apoio psicossocial em emergências humanitárias e catástrofes (Inter-Agency Standing Committee/United Nations General, 2007), e com o informe da Organização Mundial da Saúde – OMS sobre os primeiros cuidados emocionais (WHO, 2011):
  •  os PAP são uma resposta humanitária de apoio a seres humanos que se encontram em sofrimento e precisam de apoio.
  • Envolve os temas de prestação de cuidado prático sem ser intrusivo, de avaliação de preocupações atendendo as necessidades mais básicas, de conforto e conexão a fontes de informação seguras e apoio social disponível.
  • oferece proteção aos afetados no sentido de evitar maiores danos.
A OMS determina três princípios básicos de ação da referida intervenção: 
  1. olhar
  2. ouvir 
  3. vincular
Modelos de PAP...

Proposto por SAlikeu (1996)
  •  realizar contato, examinar dimensões do problema, analisar possíveis soluções, assistir à execuções de ações concretas e seguimento
Proposto por Martín e Muñoz (2009)
  • protocolo ACERCARSE, utilizado na Espanha durante os atentados terroristas de 11 de março de 2004. Este trata do ambiente, contato, avaliação, restabelecimento emocional, compreensão da crise, ativar, recuperação do funcionamento e seguimento. 
Proposto por A National Child Traumatic Stress Network e National Center for Posttraumatic Stress Disorder (2006)
  •  preconiza como ações básicas do núcleo dos PAP o contato e engajamento, segurança e conforto, estabilizar (se necessário), 
  • coleta de informações (necessidades atuais e preocupações), 
  • assistência prática, conexão com apoios sociais, 
  • informações sobre como lidar e articulação com serviços de colaboração
Sobre os PAP´s...
  • não pretende ser um aconselhamento profissional
  •  ainda que convide o sujeito a falar sobre o ocorrido, não implica necessariamente a discussão detalhada sobre o evento em si ou sua análise. 
  • Não deve jamais haver uma pressão para que se fale dos sentimentos e reações diante da situação. 
  •  não se constituem também em uma forma de terapia, por isso não é um procedimento exclusivo de profissionais de saúde mental
  • qualquer intervencionista de emergências deveria estar capacitado para tal
  •  respeita a cultura e crenças dos locais e pessoas com quem o trabalho ocorrerá. 
Profissionais de saúde devem identificar o dano psicológico associado a uma experiência de desastre
  •  sintomas que indiquem a presença de algum transtorno, como o Transtorno de Estresse Agudo ou Transtorno de Estresse Pós-Traumático, 
  •  não se deve perder o propósito de trabalhar com a saúde e com a parte preservada desta e não apenas com a doença
  • A atenção a pessoas que experimentam fatos inesperados e altamente favoráveis a incapacitações físicas e psicológicas será uma atividade cada vez mais comum na sociedade contemporânea.
  •  a presença do psicólogo como imprescindível a qualquer vítima e/ou equipe de socorro, policial e voluntários
  •  a atenção psicológica é mais um componente, evidentemente importante, mas não imperativo, dentro de um sistema com mais funções.
  •  o psicólogo que se disponibiliza a estar inserido nestes ambientes e prestando auxílio a qualquer pessoa, deve buscar preparo e formação, o que inclui teoria e prática destas vivencias.
A Psicologia...
  • deve ser capaz de prover um campo fértil para que o ser humano, mesmo diante de situações tão complexas e devastadoras, seja capaz de colocar em marcha sua potencialidade de “dar a volta por cima”, presente no psiquismo da maioria das pessoas. 
  • O trabalho deve ser para a promoção da saúde de forma plena e não apenas empenhando-se em um aspecto das manifestações psicológicas em situações de emergência como o adoecimento psíquico
  • deve buscar aproximação com conceitos de crise, intervenções em crise, resiliência, gerenciamento de desastres, entre outros.

REFERÊNCIAS

Psicologia nas Emergências: uma Nova Prática a Ser Discutida. Mariana Esteves Paranhos & Blanca Susana Guevara Werlang Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul

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