O texto e suas propriedades



2.1 O conceito de textualidade

Como fundamento para a compreensão do que é o texto, tem-se desenvolvido o conceito de textualidade, a qual pode ser entendida como a característica estrutural das atividades sócio-comunicativas (e, portanto, também linguísticas) executadas entre os parceiros da comunicação.

Fazer da textualidade o objeto de ensino, é uma questão de assumir a textualidade como o princípio que manifesta e que regula as atividades de linguagem. 

2.2 O conceito de texto

O mais consensual tem sido admitir que um conjunto aleatório de palavras ou de frases não constitui um texto. Por mais que esteja fora dos padrões considerados cultos, eruditos ou edificantes, o que falamos ou escrevemos, em situações de comunicação, são sempre textos. 

2.2.1 Primeiramente, poderíamos começar por lembrar que recorremos a um texto quando temos alguma pretensão comunicativa e a queremos expressar. O sucesso de nossa atuação comunicativa está, sobretudo, na identificação dessa intenção por parte do interlocutor com quem interagimos.

2.2.2 Um segundo aspecto que deriva desse primeiro ponto é o fato de que o texto, como expressão verbal de uma atividade social de comunicação, envolve, sempre, um parceiro, um interlocutor. 

2.2.3 Um terceiro aspecto a se considerar sumariamente diz respeito ao fato de que o texto é caracterizado por uma orientação temática. 

Nenhum texto, como sabemos, ocorre no vazio, em abstrato, fora de um contexto sociocultural determinado. Todo ele está ancorado numa situação concreta ou, melhor dizendo, está inserido num contexto social qualquer. 

Retomando o absolutamente básico para a compreensão das quatro propriedades, lembramos os seguintes pontos:
·                a coesão concerne aos modos e recursos - gramaticais e lexicais;
·                a coerência concerne um outro tipo de encadeamento, o encadeamento de sentido, a convergência conceitual, aquela que confere ao texto interpretabilidade - local e global;
·                a informatividade concerne ao grau de novidade, de imprevisibilidade que, em um certo contexto comunicativo, o texto assume;
·                a intertextualidade concerne ao recurso de inserção, de entrada, em um texto particular, de outro (s) texto (s) já em circulação.

O texto é um traçado que envolve material linguístico, faculdades e operações cognitivas, além de diferentes fatores de ordem pragmática ou textual.
O conjunto de propriedades que mencionamos possibilita-nos olhar para o texto - seja do aluno, seja de um outro autor - e perceber aí, por exemplo:
·                recursos de sua coesão;
·                fatores (explícitos e implícitos) de sua coerência (linguística e pragmática);
·                pistas de sua concentração temática;
·                aspectos de sua relevância sociocomunicativa;
·                traços de intertextualidade;
·                critérios de escolhas das palavras;
·                sinais das intenções pretendidas;
·                marcas da posição do autor em relação ao que é dito;
·                estratégias de argumentação ou de convencimento;
·                efeitos de sentido decorrentes de um jogo qualquer de palavras;
·                adequação do estilo e do nível de linguagem, entre muitos outros elementos. 

2.2.4 Merecem um comentário também dois aspectos do texto: 

a) a modalidade - falada ou escrita;
b) e a extensão em que ele se realiza. 

Para o processamento textual, em hora de fala ou de escrita, de escuta ou de leitura, ativamos quatro grandes conjuntos de conhecimento, a saber:
·                o conhecimento linguístico (compreendendo aqui o lexical e o gramatical);
·                o conhecimento de mundo, o conhecimento geral;
·                o conhecimento referente a modelos globais de texto;
·                o conhecimento sociointeracional, ou o conhecimento sobre as ações verbais. 

2.2.5 Em geral, os diferentes contextos sociais - os chamados domínios discursivos - são marcados por determinadas rotinas comunicativas, pois, costumeiramente, utilizam um mesmo conjunto de gêneros. 
O exercício de formar frases serve para isso mesmo: aprender a formar frases soltas, o que equivale a atrofiar o conhecimento explícito do que se deve fazer para interagir verbalmente.


ANTUNES, Irandé, 1937 - Análise de textos: fundamentos e práticas. - São Paulo: Parábola Editorial, 2010. 

O Texto e suas propriedades. Disponível em: https://lereproduzirahistoriadosaber.blogspot.com/2017/05/analise-de-textos-fundamentos-e-praticas.html. Acesso em 15/01/2019.

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