Bulimia Nervosa (BN)

Características da Bulimia Nervosa

  •  períodos de grande ingestão alimentar (episódios bulímicos), durante os quais são consumidos uma grande quantidade de alimentos, variando de 1.436 a 25.755 Kcal, em um curto período de tempo, 
  • sentimento de descontrole sobre o comportamento alimentar e preocupação excessiva com o controle do peso corporal. Tal preocupação faz com que o paciente adote medidas compensativas, a fim de evitar o ganho de peso.
  •  O vômito autoinduzido ocorre em cerca de 90% dos casos, sendo o principal método compensatório utilizado. 
    • O efeito imediato provocado pelo vômito é o alívio do desconforto físico secundário à hiperalimentação e a redução do medo de ganhar peso. 
  • uso inadequado de laxantes, diuréticos, hormônios tireoidianos, agentes anorexígenos e enemas. 
  • Jejuns prolongados e exercícios físicos exagerados são também formas de controle do peso. 
  • A distorção da imagem corporal, quando existe é menos acentuada. 
  • As características de personalidade das bulímicas são sociabilidade, comportamentos de risco e impulsividade, traços que são coerentes com o descontrole e a purgação. 
Quando geralmente ocorre?
  • O início dos sintomas ocorre nos últimos anos da adolescência ou até os 40 anos, com idade média de início por volta dos 20 anos de idade (CÂNDIDO et al 2014).
Critérios diagnósticos 

 A. Episódios recorrentes de compulsão alimentar de acordo com o (DSM-5, 2013)
  • Um episódio de compulsão alimentar é caracterizado pelos seguintes aspectos: 
    • 1. Ingestão, em um período de tempo determinado (por exemplo, dentro de cada período de duas horas), de uma quantidade de alimento definitivamente maior do que a maioria dos indivíduos consumiria no mesmo período sob circunstâncias semelhantes. 
    • 2. Sensação de falta de controle sobre a ingestão durante o episódio (por exemplo, sentimento de não conseguir parar de comer ou controlar o que e o quanto se está ingerindo). 
B. Comportamentos compensatórios inapropriados recorrentes a fim de impedir o ganho de peso, como vômitos autoinduzidos; 
  • uso indevido de laxantes, diuréticos ou outros medicamentos; jejum; ou exercício em excesso. 
C. A compulsão alimentar e os comportamentos compensatórios inapropriados ocorrem, em média, no mínimo uma vez por semana durante três meses.

D. A autoavaliação é indevidamente influenciada pela forma e pelo peso corporais. 

E. A perturbação não ocorre exclusivamente durante episódios de anorexia nervosa.

Características diagnósticas 

Existem três aspectos essenciais na bulimia nervosa: 
  1. episódios recorrentes de compulsão alimentar (Critério A),
  2. comportamentos compensatórios inapropriados recorrentes para impedir o ganho de peso (Critério B) 
  3. autoavaliação indevidamente influenciada pela forma e pelo peso corporais (Critério D). 
  • Para se qualificar ao diagnóstico, a compulsão alimentar e os comportamentos compensatórios inapropriados devem ocorrer, em média, no mínimo uma vez por semana por três meses (Critério C) (DSM-5, 2013). 
  • Um “episódio de compulsão alimentar” é definido como a ingestão, em um período de tempo determinado, de uma quantidade de alimento definitivamente maior do que a maioria dos indivíduos comeria em um mesmo período de tempo em circunstâncias semelhantes (Critério A1). 
  • O contexto no qual a ingestão ocorre pode afetar a estimativa do clínico quanto à ingestão ser ou não excessiva. 
    • Por exemplo, uma quantidade de alimento que seria considerada excessiva para uma refeição típica poderia ser considerada normal durante uma refeição comemorativa ou nas festas de fim de ano. 
  • Um “período de tempo determinado” refere-se a um período limitado, normalmente menos de duas horas. 
  • Um único episódio de compulsão alimentar não precisa se restringir a um contexto. 
    • Por exemplo, um indivíduo pode iniciar um comportamento de compulsão alimentar no restaurante e depois continuar a comer ao voltar para casa. Lanches contínuos de pequenas quantidades de alimento ao longo do dia não seriam considerados compulsão alimentar (DSM-5, 2013). 
  • Uma ocorrência de consumo excessivo de alimento deve ser acompanhada por uma sensação de falta de controle (Critério A2) para ser considerada um episódio de compulsão alimentar. 
Um indicador de perda de controle 
  • é a incapacidade de abster-se de comer ou de parar de comer depois de começar. 
    • Alguns indivíduos descrevem uma qualidade dissociativa durante, ou em seguida a, episódios de compulsão alimentar. 
    • O prejuízo no controle associado à compulsão alimentar pode não ser absoluto; por exemplo, um indivíduo pode continuar a comer de forma compulsiva enquanto o telefone está tocando, mas vai parar se um amigo ou o cônjuge entrar inesperadamente no recinto. 
    • Alguns relatam que seus episódios de compulsão alimentar não são predominantemente caracterizados por um sentimento agudo de perda de controle, e sim por um padrão mais generalizado de ingestão descontrolada.
    • Se relatarem que desistiram de tentar controlar a ingestão, a perda de controle deverá ser considerada presente. 
  • A compulsão alimentar também pode ser planejada, em alguns casos. 
    • O tipo de alimento consumido durante episódios de compulsão alimentar varia tanto entre diferentes pessoas quanto em um mesmo indivíduo. 
    • A compulsão alimentar parece ser caracterizada mais por uma anormalidade na quantidade de alimento consumida do que por uma fissura por um nutriente específico. Entretanto, durante episódios de compulsão alimentar, os indivíduos tendem a consumir alimentos que evitariam em outras circunstâncias (DSM-5, 2013).
 Indivíduos com bulimia nervosa em geral sentem vergonha de seus problemas alimentares e tentam esconder os sintomas. 
  • A compulsão alimentar normalmente ocorre em segredo ou da maneira mais discreta possível. 
  • Com frequência continua até que o indivíduo esteja desconfortável ou até mesmo dolorosamente cheio.
  •  O antecedente mais comum da compulsão alimentar é o afeto negativo. 
  • Outros gatilhos incluem:
    •  fatores de estresse interpessoais; 
    • restrições dietéticas; 
    • sentimentos negativos relacionados ao peso corporal, à forma do corpo e a alimentos; 
    • e tédio. 
  • A compulsão alimentar pode minimizar ou aliviar fatores que precipitam o episódio a curto prazo, mas a autoavaliação negativa e a disforia com frequência são as consequências tardias (DSM-5, 2013). 
Outro aspecto essencial da bulimia nervosa é o uso recorrente de comportamentos compensatórios inapropriados para impedir o ganho de peso, conhecidos coletivamente como comportamentos purgativos, ou purgação (Critério B). 
  • Muitos indivíduos com bulimia nervosa empregam vários métodos para compensar a compulsão alimentar. 
  • Vomitar é o comportamento compensatório inapropriado mais comum.
  •  Os efeitos imediatos dos vômitos incluem alívio do desconforto físico e redução do medo de ganhar peso.
  •  Em alguns casos, vomitar torna-se um objetivo em si, e o indivíduo comerá excessiva e compulsivamente a fim de vomitar, ou vomitará depois de ingerir uma pequena quantidade de alimento. 
  • Indivíduos com bulimia nervosa podem usar uma variedade de métodos para induzir o vômito, incluindo o uso dos dedos ou instrumentos para estimular o reflexo do vômito.
  •  Geralmente se tornam peritos em induzir vômitos e acabam conseguindo vomitar quando querem. 
  •  Raramente, consomem xarope de ipeca para induzir o vômito. 
  • Outros comportamentos purgativos incluem o uso indevido de laxantes e diuréticos. 
  • Uma série de outros métodos compensatórios também podem ser usados em casos raros.
Indivíduos com bulimia nervosa podem:
  •  usar indevidamente enemas após episódios de compulsão alimentar, mas raramente este se trata do único mecanismo compensatório empregado. 
  •  podem tomar hormônio da tireoide em uma tentativa de evitar o ganho de peso. 
  • Aquelas com diabetes melito e bulimia nervosa podem omitir ou diminuir doses de insulina a fim de reduzir a metabolização do alimento consumido durante episódios de compulsão alimentar. 
  •  Indivíduos com o transtorno, ainda, podem jejuar por um dia ou mais ou se exercitar excessivamente na tentativa de impedir o ganho de peso. 
  • O exercício pode ser considerado excessivo quando interfere de maneira significativa em atividades importantes, quando ocorre em horas inapropriadas ou em contextos inapropriados ou quando o indivíduo continua a se exercitar a despeito de uma lesão ou outras complicações médicas (DSM-5, 2013).
Indivíduos com bulimia nervosa enfatizam de forma excessiva a forma ou o peso do corpo em sua autoavaliação, e esses fatores são extremamente importantes para determinar sua autoestima (Critério D)
  • Eles podem lembrar muito os portadores de anorexia nervosa pelo medo de ganhar peso, pelo desejo de perder peso e pelo nível de insatisfação com o próprio corpo.
  •  Entretanto, um diagnóstico de bulimia nervosa não deve ser dado quando a perturbação só ocorrer durante episódios de anorexia nervosa (Critério E) (DSM-5, 2013).
Marcadores diagnósticos da Bulimia Nervosa 
  • Não existe, atualmente, teste diagnóstico específico para bulimia nervosa. Entretanto, diversas anormalidades laboratoriais podem ocorrer em consequência da purgação e aumentar a certeza diagnóstica, incluindo anormalidades eletrolíticas, como hipocalemia (que pode provocar arritmias cardíacas), hipocloremia e hiponatremia. 
  • A perda de ácido gástrico pelo vômito pode produzir alcalose metabólica (nível sérico de bicarbonato elevado), e a indução frequente de diarreia ou desidratação devido a abuso de laxantes e diuréticos pode causar acidose metabólica.
  •  Alguns indivíduos com bulimia nervosa exibem níveis ligeiramente elevados de amilase sérica, provavelmente refletindo aumento na isoenzima salivar (DSM-5, 2013).
  • O exame físico geralmente não revela achados físicos. Entretanto, a inspeção da boca pode revelar perda significativa e permanente do esmalte dentário, em especial das superfícies linguais dos dentes da frente devido aos vômitos recorrentes. Esses dentes podem lascar ou parecer desgastados, corroídos e esburacados. 
  • A frequência de cáries dentárias também pode ser maior.
  •  Em alguns indivíduos, as glândulas salivares, sobretudo as glândulas parótidas, podem ficar hipertrofiadas. 
  • Indivíduos que induzem vômitos estimulando manualmente o reflexo de vômito podem desenvolver calos ou cicatrizes na superfície dorsal da mão pelo contato repetido com os dentes. 
  • Miopatias esqueléticas e cardíacas graves foram descritas entre pessoas depois do uso repetido de xarope de ipeca para induzir vômitos (DSM-5, 2013)
Referências:

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