- São sintomas, sonhos, chistes, atos falhos e lembranças encobridoras.
- Essas formações são efeitos conhecidos dos processos psíquicos inconscientes.
- Uma formação do inconsciente é uma elaboração psíquica e simbólica cuja forma depende das inscrições psíquicas ou memórias inconsciente em um sujeito.
- Essas formações não se apresentam claras, pedem decifração e possuem um sentido de intenção, mesmo que apreçam estranhas, desconexas e incoerentes, demandando deciframento.
- Geralmente o processo de análise proporciona essa decifração ou interpretação dessas formações do inconsciente
- Atos falhos ou parapraxias segundo Freud e um ato psíquico inteiramente valido que persegue um objetivo próprio como uma afirmação que tem seu conteúdo e seu significado.(Parapraxias). Não significa sinal de doença, pessoas saudáveis cometem atos falhos. Exemplo: vai fazer um carinho e acaba dando um tapa. É preciso interpretar o ato simbólico na análise.
- Podem ser:
- lapso de língua, - EX.: Dizer: Declaro encerrada a aula, mas a aula está começando.
- lapso de leitura, EX: estar escrito distração e ler contração. Trocar nome das pessoas.
- lapso de audição EX: pessoa fala "solzinho está babo" e a pessoa escuta "paulinho está brabo"
- lapso de escrita, EX: Escrever: Bom fulano ao invés de bom dia fulano,
- lapso de esquecimento EX:
- ou ainda atos descuidados.
- Sonhos (Freud 1906) descobre que há sentido nos sonhos para análise da neurose, psicose e perversão. A vida mental no sono não para.
- Chistes é uma forma cômica da satisfação da pulsão e também serve para o deciframento de uma informação ou elaboração psíquica.
- Ex.: vc se parece comigo. Eu acho que meu pai andou pela sua cidade. Ou será que foi sua mãe que andou na sua cidade? Ambos tentaram dizer que os pais traíram seus cônjuges. Falou implicitamente.
- Ex.: eu sou pobre e vc é rico. Eu desejo ser amigo, e quero dizer que a pessoa é familiar. ao dizer erra dizendo vc me é familionário... juntou o que pensa (familiar) ao que queria dizer (milionário). Cria-se uma nova palavra. Neologismo.
- Podem ser:
- obscenos ou desnudadores
- agressivos
- cínicos (blasfemos, críticos)
- céticos.
- Sintomas é o retorno do material recalcado no inconsciente e que também precisa de deciframento, interpretação em processo terapêutico.
As Formações do Inconsciente “A PSICANÁLISE E SEU ENCONTRO COM A LINGUAGEM NA OBRA DE FREUD” DENISE RIBEIRO BARRETO MELLO - Pedagoga (FAFIC – 1996); Psicóloga (UNESA – 2004); Mestre em Cognição e Linguagem (UENF – 2007) - Ano 3 - N º 13 Maio/Junho – 2010 - file:///C:/Users/sony/Downloads/135-335-1-SM.pdf
No Projeto (1895) Freud concebe o aparelho psíquico como um circuito integrado que pressupõe a circulação de energia que visa encontrar uma imagem que possa representar o objeto perdido. Na impossibilidade de encontrá-lo literalmente, a satisfação se dá por um objeto substituto.
Mas se o que se trata é de uma representação, há um plano simbólico que se sustenta apenas sobre a consideração de articulações com a linguagem. Contudo, foi o estudo dos sonhos de 1900, texto intitulado A interpretação dos sonhos, que permitiu a Freud teorizar sobre o inconsciente. Logo percebeu que o recalque se manifestava pelos sonhos, chistes, atos falhos e sintomas. Estas formações não se apresentam claras, ao contrário, pedem decifração e possuem um sentido e intenção, mesmo que pareçam estranhas, desconexas e incoerentes.
Na realidade, o texto foi escrito em 1899, mas Freud solicitou ao editor que adiasse a sua publicação para um ano depois por acreditar que seria um marco para o século que se enunciava. Contrariando esta expectativa o livro vendeu apenas 351 exemplares ao longo de seis anos (JORGE; FERREIRA, 2005, p. 27).
O que é recalcado sempre retorna sob um disfarce, uma forma substituta como o sonho, por exemplo, que não permite que o sujeito reconheça aquilo que não quer saber. O sonho se oferece a decifração. Ele não quer comunicar, compõem-se de imagens que antes eram pensamentos e que se apresentam confusas, deformadas.
Os sonhos são realização de desejo inconsciente e neles atuam mecanismos inconscientes que têm como função deformar o desejo recalcado que compõem o pensamento original que permitiu a formação dos sonhos.
Mas este pensamento latente passa por muitas deformações mostrando-se então como um conteúdo manifesto bastante distanciado daquela forma original. É sobre o pensamento latente que operam os mecanismos do sonho: deslocamento, condensação, recurso a figurabilidade e elaboração secundária.
- Os dois primeiros atuam, respectivamente, para deslocar o acento psíquico importante para um outro sem relevância, como para condensar vários elementos em um só, tornando o sonho breve, conciso e repleto de lacunas.
- O recurso a figurabilidade visa encontrar uma imagem que represente o desejo e a elaboração secundária dar um sentido verbal para o que foi sonhado.
Os sonhos comportam uma linguagem arcaica e existem elementos nele que não devem ser interpretados em virtude de sua função de ligação. A linguagem presente nos sonhos é a via de expressão do método que rege toda a atividade psíquica inconsciente. Por isso, cabe ao sonhador decifrar seu próprio sonho.
A elaboração onírica trabalha para dar ao sonho um outro sentido distante daquele que lhe originou: A revisão secundária é um exemplo da natureza e das pretensões do sistema consciente: existe em nós uma função intelectual que exige unidade, conexão e inteligibilidade de qualquer material da percepção ou do pensamento que caia em seu domínio e se não pode estabelecer uma conexão verdadeira, não hesita em fabricar uma falsa (LONGO, 2006, p. 24).
Ainda neste texto (FREUD, 1900, p. 184), Freud menciona que nos sonhos aparece um emaranhado de imagens que se misturam a pensamentos, o que ele denomina “saber” no sonho. Esta ideia aparece em outra passagem, nas Conferências Introdutórias sobre a psicanálise dedicada aos sonhos, a Conferência VI, intitulada Premissas e técnicas de interpretação (1916-17).
Referindo-se ao ato do sonhador de dizer que não sabe o que o seu sonho significa, Freud afirma que ele sabe, “apenas não sabe que sabe, e, por esse motivo, pensa que não sabe” (FREUD, 1916-17, p. 106 – grifos do autor). Desse modo, Freud se distanciou das propostas da medicina localizacionista de sua época, para colocar em destaque o sujeito da doença, do sintoma, do desejo, do inconsciente. E este distanciamento tem como marco a obra sobre os sonhos de 1900, reveladora para a vida humana de que os mecanismos que operam nos sonhos são equivalentes aos mesmos sobre os quais opera o inconsciente.
Em 1901, Freud escreveu Psicopatologia da vida cotidiana, obra em que destaca os equívocos e lapsos de linguagem cometidos pelas pessoas no seu cotidiano denominados “ato falho”. O texto de Freud ressalta que estes fenômenos estão presentes tanto no cotidiano da vida das pessoas consideradas “normais” como na patologia.
Na tradução em português o termo aparece como parapraxias (CARONE, 1985; MOISÉS, 1978). De forma bem humorada, Freud afirma que estes “tropeços” da fala estão associados a motivos inconscientes, tornando-se equivalentes a outras formações tais como os sonhos e os sintomas, uma vez que há um compromisso do desejo recalcado com a intenção do sujeito.
No último capítulo desta obra, Freud aborda a questão do determinismo psíquico inconsciente, afirmando que os atos, vontades, ditos, tendência desenvolvida pelo sujeito estão sob esta determinação, incluindo a regra fundamental, associação livre, que de fato nada tem de livre porque também se dá sob esta determinação inconsciente.
Antes de Freud estes fenômenos corriqueiros do cotidiano não tinham sido agrupados nem recebido uma conotação conceitual tal como a elaboração freudiana lhe confere. Sendo considerados de importância, os atos falhos aparecem em vários momentos da obra de Freud depois de 1901, tal como em 1913 no texto O interesse científico pela psicanálise, em que discute a questão da fala como expressão do pensamento em palavras, gestos, escrita, etc.
Retoma a questão nas Conferências Introdutórias sobre Psicanálise (1916- 17), dedicando as quatro primeiras Conferências ao estudo do tema. Na Conferência I (1916-17) Freud responde a indagações sobre a eficácia da psicanálise, argumentando sobre o poder utilitário das palavras para intervir nas doenças. As palavras, originalmente, eram mágicas e até os dias atuais conservaram muito do seu antigo poder mágico. Por meio de palavras uma pessoa pode tornar outra jubilosamente feliz ou levá-la ao desespero, por palavras o professor veicula seu conhecimento aos alunos, por palavras o orador conquista seus ouvintes para si e influencia o julgamento e as decisões deles. Palavras suscitam afetos e são, de modo geral, o meio de mútua influência entre os homens. Assim, não depreciaremos o uso das palavras na psicoterapia, e nos agradará ouvir as palavras trocadas entre o analista e seu paciente (FREUD, 1916, 27).
Os atos falhos dizem respeito a esquecimentos (de palavra, nomes, etc.), lapsos de língua e escrita, e erros e enganos de diversas ordens que não acontecem aleatoriamente. Segundo Freud, eles possuem significado, são sobre-determinados uma vez que estão associados a conflitos psíquicos.
Estes “equívocos” são formas substitutivas encontradas pelo inconsciente de expressar o desejo e, como tal, são formações que passam pelos mecanismos de condensação e deslocamento descritos
Os chistes e sua relação com o inconsciente (1905) é outro texto freudiano em que a relação da linguagem com as formações do inconsciente são indiretamente abordadas.
- Freud ressalta a importância destas formações, caracterizando-os por sua comicidade, desconcerto e brevidade.
- Ao emitir uma palavra em lugar de outra e ao tentar consertar o equívoco, surge uma afirmação cômica que faz rir o sujeito emissor e, às vezes, o receptor.
- O riso surge como uma reação a algo provocador de angústia no sujeito.
- Os chistes como todas as formações inconscientes se assemelham de modo análogo aos sonhos: enquanto que o texto original é longo, o registro é breve.
- Segundo Freud, eles se formam quando um pensamento passa do inconsciente para o sistema préconsciente sem uma revisão prévia e é rapidamente capturado pela percepção consciente (op.cit., p. 183-206).
- Ao contrário dos sonhos, sintomas e atos falhos que ficam privados ao próprio sujeito, os chistes são partilhados socialmente: “é a única expressão social do sujeito do inconsciente”, inclusive ao provocar um “momento de relaxamento e enorme prazer (...) um prazer compartilhado pelo riso e pelo alívio das tensões por parte de quem faz e de quem ouve e entende” (LONGO, 2006, p. 29).
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