sábado, 31 de outubro de 2020

Melanie Klein (1882-1960)

 


Breve História...

Psicanalista austríaca classificada como psicoterapeuta pós-freudiana.

1916 (Budapeste) teve primeiro contato com a obra de Sigmund Freud.Seu analista Sándor Ferenczi que a incentivou a trabalhar com crianças.

1919 tornou-se membro da Sociedade de Psicanálise de Budapeste.

1923 passou a se dedicar integralmente a psicanálise.

1924 Apresentou no VIII Congresso Internacional de Psicanálise o trabalho “A técnica da análise de crianças pequenas”

1927 tornou-se membro da Sociedade Britânica de Psicanálise., publicou seu livro “O tratamento psicanalítico de crianças” onde criticou ideias de Freud.

1945 a Sociedade Britânica de Psicanálise se divide em três grupos: annafreudianos, kleiniano e independe.

1947 publicou Contribuições à psicanálise.

1955 fundou a Fundação Melanie Klein e publicou o Artigo:   A técnica psicanalítica através do brinquedo; sua história, sua significação, escrito a partir de uma conferência de 1953.

1960 – morreu aos 78 anos de idade.

      Teoria das Relações Objetais

Essa teoria deriva da teoria pulsional de freud.  Sua teoria difere da abordagem Freudiana em três pontos fundamentais:

Dá ênfase menos aos impulsos biológicos e maior importância aos padrões de relacionamento que a criança desenvolve no seu entorno.]

Destaca a intimidade e o cuidado da mae. Ao contrario de Freud que enfatiza o poder e o controle dos ´pais.

Busca por contato e relacionamento é a motivação fundamental do comportamento humano e não o prazer sexual.

  •     Relações objetais são as relações que a criança estabelece com os objetos que estão ligados a       satisfação de suas necessidades e esse objeto pode ser pessoas, coisas, ou até parte de pessoas        como o seio da mãe.

Freud parte do princípio de que o ser humano busca sempre reduzir a tensão provocada por desejos insatisfeitos. O objeto que reduz essa tensão nas crianças é a pessoa que atende as suas necessidades, por isso, Klein estudou a relação das crianças estabelecem com os primeiros objetos, que são a mãe e seu seio servindo de modelo para as demais relações objetais.

     Para Klein os relacionamentos estabelecidos na vida adulta nem sempre são o que aprecem. Todo relacionamento está permeado por representações psicológicas de antigos objetos que foram significativos na infância incluindo as pessoas. Enxergamos parcialmente esses objetos nas pessoas com as quais nos relacionamos, são reminiscências, restos de experiências do passado que projetamos no presente. Freud considera o Id, o Ego e o Superego, porém, Klein ignora o Id e se atém somente ao Ego e Superego:

EGO

Freud afirma que existe desde o nascimento, mas não atribui nenhuma função psíquica ao ego antes que a criança atinja os 3-4 anos de idade. A criança pequena é dominada pelo id. Para Klein o Ego atinge a maturidade antes do que pensa Freud. O EGO é extremamente desorganizado nas primeiras semanas de vida, mas já é forte o suficiente para sentir ansiedade e usar mecanismos de defesa psíquicos e para desenvolver relações objetais tanto na fantasia como na realidade.

Começa se desenvolver com as primeiras experiencias do bebê na amamentação, quando a mãe não apenas o alimenta, mas lhe dá carinho e a sensação de segurança. Em contrapartida, o bebê experimenta fome, sensação de abandono e insegurança quando a mãe não pode atende-lo quando chora.

Melanie atribui as experiencias agradáveis e desagradáveis ao seio bom e seio mal respectivamente. Que são fantasias desenvolvidas pelo bebe. É a partir do seio bom e o seio mal que se iniciam as experiências do ego que é o centro de sua personalidade. Assim todas as experiências vividas pelo bebe passam a ser avaliadas pelo ego como relacionadas ao seio bom e o seio mal mesmo sem estar ligada a amamentação. O seio é apenas a primeira relação objetal do bebe que serve de protótipo para todas as demais relações interpessoais.

O Ego precisa se dividir para emergir de maneira integrada: Divide-se em seio bom e seio mal para lidar com as experiencias prazerosas e desagradáveis. Eu bom quando é alimentado e amado e eu mal é vivido quando experimenta fome e desamparo e isso é o que vai permitir que o bebe gerencie os aspectos positivos e negativos dos objetos externos.

Com o desenvolvimento do bebe suas percepções passam a ser mais realistas e dessa forma o ego passa a se unificar e integrar.


SUPEREGO

Percebe o superego de maneira diferente de Freud em pelo menos, três aspectos:

Surge muito mais cedo na vida, antes dos 3 anos de idade. Para Freud o superego só emerge aos 5 anos de idade. O superego não é uma alteração do complexo de édipo. Ele é muito mais duro e cruel do que Freud descreve, afirmou Klein.

Para Freud o superego suporta dois subsistemas: ego ideal que gera sentimento de inferioridade e consciência que gera culpa. Klein concorda que superego de crianças mais velhas funciona dessa fora, mas que em crianças menores, gera terror ao invés de sentimento de culpa.

Melanie percebeu que as crianças pequenas têm medo de serem devoradas, cortadas ou dilaceradas em pedaços que é um medo desproporcional, daí o terror. Para ela esse terror vem dos desejos destrutivos das crianças, das frustrações vividas por elas nas relações objetais e são vividos com muita ansiedade. Como uma briga entre a energia criadora e destruidora. A violência extrema do superego inicial é uma relação do psiquismo a agressividade do ego que procura se autodefender dos próprios desejos destrutivos mobilizando as pulsões de vida e de morte.

Para Klein esses embates são responsáveis por muitas tendências antissociais em adultos. Os que se desenvolvem saudavelmente, vai perdendo essa agressividade excessiva e vai se tornando uma consciência realista por volta dos 6 anos de idade.

 A Técnica da Análise na Puberdade -Adolescência

Os impulsos dos adolescentes são mais poderosos, maior a atividade de suas fantasias e seu ego tem outros desígnios e outra relação com a realidade. Klein considera que há fortes pontos de analogia com a criança pequena, porque é na puberdade o sujeito torna a encontrar um maior domínio das emoções e do inconsciente e uma vida imaginativa muito mais rica. Nesse período, as manifestações da angústia e os afetos exprimem com uma intensidade infinitamente maior. Na adolescência, o Ego se esforça para combater a angústia ou modifica-la e, acaba sendo mais bem sucedido do que na infância. No universo adolescente, desenvolveu-se, largamente, seus interesses e atividades com o objetivo de dominar essa angústia, supercompensá-la e dissimulá-la perante si mesmo e perante os outros, o que faz assumindo uma postura de desafio e revolta característica da puberdade, o que dificulta bastante a análise, daí a importância de se ter rápido acesso à angústia do paciente e dos afetos que ele manifesta, caso contrário poderia ser bruscamente interrompida.  Os meninos previam violentos ataques físicos nas primeiras sessões.

Para Klein as fantasias são inatas no sujeito, e são as representantes dos instintos, tanto libidinais como agressivos, os quais agem na vida desde o nascimento. As fantasias são a forma de funcionamento mental primária, de extrema importância neste período inicial da vida. Essa fantasia se transforma de acordo com o desenvolvimento, no decorrer das experiencias corporais sendo ampliada e elaborada, influenciando e sendo influenciada pelo ego em maturação.

Klein parte das obras freudianas, tomando como ponto de partida a dimensão imaginária das fantasias. As primeiras fantasias da criança é o corpo da mãe, cujas atividades são a realização de desejos, negação de fatos dolorosos, segurança em relação aos fatos aterrorizadores do mundo externo, controle onipotente, reparação entre outras.

A liberação destas fantasias masturbatórias é essencial não só para a atividade lúdica como também para todas as posteriores sublimações (Klein, 1996). Inibições graves tanto nas brincadeiras como em todo o aprendizado da vida da criança, inclusive no aprendizado da sexualidade, têm sua origem na repressão destas fantasias. Portanto, uma vida sexual satisfatória depende da liberação da vida fantasmática, principalmente das fantasias masturbatórias. As representações que as crianças do ato sexual dos pais podem ser consideradas o conteúdo primordial que se encontra por trás destas fantasias, as quais só são passíveis de revelação depois de um período considerável de análise e do consequente estabelecimento na criança de conteúdos genitais. Contudo, pode–se concluir que as fantasias atuam na mente de crianças, adolescentes e adultos, ao longo de todo o desenvolvimento psíquico, por meio de diferentes conteúdos imaginários.

O Caso Bill– 15 anos de idade. (Klein, pg.123-124)

Bill, de 15 anos de idade, fez uma cadeia ininterrupta de associações em torno de sua bicicleta e das diversas peças que a compunham; seu receio por exemplo, de que ela se danificasse se lhe imprimisse muita velocidade, superei-me de abundante material referente ao seu complexo de castração e sentimento de culpa por masturbação. Evidenciou-se que ele provava angustia e culpabilidade com suas relações com um certo amigo, mas essas relações não se baseavam na realidade; remontava a uma relação anterior mantida com um menino chamado Tony. Falando de uma excursão na companhia de seu amigo, durante a qual haviam trocado as respectivas bicicletas, Bill declarou que havia ficado com receio, sem que houvesse motivo para tal, de que sua bicicleta tivesse danificado. Baseando-se nessa lembrança do mesmo gênero, expliquei-lhe que seu receio parecia-se relacionar-se com as atividades sexuais mantidas com seu amigo Tony anos atrás. Quando lhe referi os motivos que me faziam pensar assim, ele concordou e lembrou-se de alguns detalhes dessa relação sexual. Seu sentimento de culpa a esse respeito e o consequente receio sexual de haver danificado seu pênis e seu corpo eram totalmente inconsistentes. Na análise de Willy, de 14 anos, cuja fase preliminar foi acima descrita, consegui descobrir com o auxílio de tópicos idênticos, a razão de seus profundos sentimento de culpa em relação ao irmão menor. Assim, quando Willy comentou que sua máquina a vapor estava necessitando de reparos, mencionou imediatamente a máquina de seu irmão, acrescentando que ficara inutilizada. Sua resistência a respeito e seu desejo de que a sessão chegasse ao fim, eram ocasionados, conforme se constatou, pelo receio de que sua mãe viesse a descobrir  as relações sexuais que haviam existido entre os dois irmãos e das quais, ele em parte, se recordava. Essas relações lhe haviam deixado uma profunda culpabilidade inconsciente, pois, sendo mais forte e mais velhoobrigara algumas vezes o irmão a sujeitar-se às mesmas. Desde então, sentia-se responsável pelo desenvolvimento anormal daquele que era gravemente neurótico. Willy tinha depressão, mas esse não era o caráter anormal. Detestava a companhia de outras pessoas, era bastante tímidoretraído e inativo e não tinha boas relações com irmãos e irmãs. Contudo, sua adaptação social era aparentemente normal, sendo um bom aluno. Sua análise durou 190 sessões.

REFERÊNCIAS

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