sábado, 23 de outubro de 2021

Preparando o Consultório - iniciando atendimentos

 Segundo Joyce e Sills (2021), a forma como se organiza uma sala, como o psicólogo se arruma para receber o cliente,bem como o nível de sua formaldiade irão influenciar a impressão que o cliente terá não só de você como do seu trabalho em si. 

"Isso significa que como você é com o cliente irá influenciar como o cliente é com você, e vice-versa." (JOYCE, SILLS, 2021, pg. 14)

O autor sugere um exercício de imaginação, na qual você se imagina se conhecendo, enquanto terapeuta. 

- Qual a impressão que você causa? 

- Qual é o impacto?  

- Quais as suas reações como cliente? 

Os autores ressaltam a importância de o terapetua estar presente no momento do atendimento,  de estar realmente aberto e disponível para escutar o novo cliente. Para tanto, também sugere um exercícios preparatório antes do atendimento, para que possa voltar-se para si, para como se encontra, redirecionando suas energias para o momento presente. Após isso, sugere que se lembre:

- de reexaminar  suas anotações

-  das questões em andamento

-  do que é importante ter em mente no atendimento

- do foco ou intenção para a sessão

- por fim, esvaziar a mente de todas essas considerações e voltar-se para o momento presente do atendimento.


A primeira sessão:

  • é uma sessão de avaliação mútua - cleinte e terapeuta
  • se decide se a terapia será útil ao cliente
  • se o teraéuta está capacitado a atender essa demanda.
  • considerar se qualqeur outra abordagem atende melhor para determinados casos.
  • avaliar o nível potencial de risco envolvido , pois intervenões fortes pode desestabilizar o cliente.
Antes de aceitar o cliente para a terapia, é preciso fazer algumas perguntas:
  • Coletar dados pessoais
  • Nome de pais, irmãos
  • Telefone de contato de pessoa de responsável
  • Telefone de contato do Médico que possa ter encaminhado;
  • Ocupação
  • Religião
  • Raça
  • História médica psiquiátrica
  • Bebidas/Drogas/tentativas de Suic[idio/ Automutilação
  • Nível atual de funcionamento e estresse
  • Experiências ou eventos prévios significativos
  • Terapia/ Aconselhamento prévio
  • Questões/ problemas apresentados
  • Expectativas e resultados desejados na terapia
  • Contrato
  • Frequência
  • Duração
  • Honorários
Verifique se o cliente concordou com:
  • Os limites de confidencialidade com relação a: supervisão, risco para o cliente ou para outra pessoa.
  • Período de aviso prévio antes de terminar
  • Política de cancelamento e de faltas
  • Permissão para registrar e para que o material escrito seja utilizado para objetivos de supervisão e profissionais.
Observar os seguintes aspectos no cliente e dar uma devolutiva em questionamento para sua propria reflexão, como por exemplo:
  • Estou notando sua respiração acelerada. Como você está se sentindo?
  • qual a sensação de estar aqui comigo enquanto me conta essa historia difícil? etc
Observar as suas respostas, nesse momento vai se perceber como ele reage ao convide de ampliação de sua awareness, se aceita alguma resonsabilidade, se estar aberto para o processo terapêutico na perspectiva gestáltica.

Explicando ao cliente como a Gestalt-terapia funciona:
  • É ético dar ao cliente uma indicação do que esperar na terapia
  • O que dizer ao cliente sobre a Gestalt-terapia?
    • Acreditamos que as pessoas potencialmente têm todas as habildiades para solucionar seus probemas ou confrontar suas dificuldades, embora fiquem paralisados muitas vezes, e precisam de ajuda. O papel do terapeuta gestáltico é auxiliá-lo a ver claramente qual é a sua situação, descobrir que parte você desempenha nela e experimentar  novas soluções, novas maneiras de confrontar a dificuldade.
    • Um dos objetivos da Gestalt é investigar padrões e crenças fixas que a pessoa sustenta e que a atrapalham, afetam sua vida atual, e dar apoio ao cliente para de ajustar criativamente com novas formas de pensar, novas maneiras de agir diante dos problemas.
    • Muitos padrões emergem nos relacionamentos, o que é importante ser observado.
Decidindo não trabalhar com o cliente:
  • É preciso admitir a ausência de recursos ou competência para ser capaz de ajudar a todos, o tempo todo.
  • Importante perceber o que é melhor para o terapeuta e o que é melhor para o cliente.
  • As vezes é necessário realizar a primeira sessão para decidir sobre pegar o caso ou não.
  • O Terapeuta deve ter o cuidado ao comunicar a recusa:
    • Dizer que entendeu o problema. Reconhecer o quanto ele é importante. Dizer que acha que não é a pessoa adequada para ajudá-lo nesse caso.
  • Explicar que o cliente precisa de alguém especializado na questão dele.
  • tentar oferecer um encaminhamento ao cliente - criar uma rede de relacionamentos.
Registros da sessão:
  • Registros devem ser éticos e são profissionalente necessários.
  • Não há regra sobre como se deve anotar.
  • O cliente pode lhe pedir para ler as anotações
  • O terapeuta pode manter um diário de seus pensamentos e impressões privadas, das reações de contratransferência, desde que nçao identifique qualquer cliente.
  • um tribunal pode solicitar qualquer documento de registro do cliente.
  • Devem ser mantidos os registros por um período de 6 anos, exigência normal. Depois desse período as anotações podem ser destruídas.

REFERÊNCIAS:
JOYCE, Phil; SILLS, Charlotte. Técnicas em GESTALT. Aconselhamento e psicoterapia. Editora Vozes. Petrópolis, 2021.


terça-feira, 5 de outubro de 2021

Critérios de indicação da Psicoterapia Breve

 

  •  Nem todos os pacientes podem se beneficiar de um processo de psicoterapia breve. 
  • Aseleção  deve se basear não apenas em critérios clínicos, que são fundamentais mas não suficientes, mas também em hipóteses psico e sociodinâmicas.
Fatores mais utilizados por autores para indicar a psicoterapia breve:
  • Início recente dos transtornos: a maioria dos autores consultados concorda com a opinião de que é preferencialmente benéfico o trabalho terapêutico com pacientes cujos sintomas tenham se manifestado recentemente, ou então que se trate de um episódio agudo dentro de um transtorno crônico. Malan (1963) destoa dos demais ao afirmar a possibilidade de êxito no tratamento de antigos distúrbios. 
  •  Capacidade egoica: por meio da avaliação da capacidade do paciente de tolerar a ansiedade e a frustração, aliada à ampla utilização de mecanismos saudáveis de defesa, bem como sua capacidade de introspecção e reconhecimento da vida interior, enfim, sua capacidade de insight, pode-se alcançar bom prognóstico quanto à psicoterapia breve. Balint (1975) e Fiorini (1978) afirmam que as observações realizadas nas entrevistas iniciais são fundamentais para o estabelecimento desse critério. a questão da capacidade egoica é também fundamental, por ser um critério sine qua non para a indicação
  • Motivação para o tratamento: segundo Balint (1975), o terapeuta há de ter a impressão de que o conflito interno do paciente entre sua enfermidade e o resto de sua personalidade permanece suficientemente intenso, isto é, a enfermidade é algo contrário a si, que ainda não foi aceito por ele e integrado em sua estrutura. Em outras palavras: que o paciente não defenda sua enfermidade como parte narcisicamente valorizada de sua personalidade; que não prefira a enfermidade à mudança.
  • Fatores do terapeuta: quase todos os autores consultados, notadamente Balint (1975), Malan (1974), Knobel (1986) e Perez-Sanches et al. (1987), dão ênfase à capacidade do terapeuta tanto em termos técnicos (possibilidade de avaliação e diagnóstico precisos) quanto em termos de “saúde psicológica”, isto é, sua capacidade de empatia e não de identificação e/ou de contratransferência exacerbada em relação ao cliente. 
Contraindicações pouco eficaz ou mesmo contraindicada é a psicoterapia breve, segundo vários autores, conforme dois aspectos básicos:

  •  diagnóstico clínico: psicoses, doenças psicossomáticas (que de acordo com novas interpretações têm sido consideradas “psicoses no corpo”), personalidades psicopáticas, drogadição, obsessões graves, tentativas potencialmente eficientes de suicídio, agitação psicomotora com agressividade. 
  • diagnóstico psicodinâmico: quando há grandes debilidades egoicas, com dependências simbióticas intensas, ambivalência, tendência ao acting out, escassa motivação para o tratamento, dificuldade para estabelecer um foco devido ao entrelaçamento de múltiplas situações dinâmicas
É eficaz para...
  • pacientes que vivem situações de crise, pelas suas próprias características de ser autolimitada, geralmente focal, cujo prognóstico de resolução pode ajudar bastante no acompanhamento psicoterapêutico para a obtenção de soluções positivas e reposicionamentos importantes na vida pós-crítica
  • indivíduos com o “grau de maturidade” que pode ser avaliado por seu nível de aptidão plástica de adaptação, pela mobilidade e flexibilidade nas diversas solicitações a que foi submetido, com ou sem êxito, sem “perder o rumo” do eixo central de seu projeto de vida, lançando mão de sua espontaneidade para encontrar novos caminhos que o recoloquem na direção de seus objetivos existenciais.
  • a indicação precisa de psicoterapia breve está, a rigor, reservada a pessoas que, com um grau satisfatório de maturidade, enfrentem situações particulares de crise ou descompensação caracterizadoras de quadros reativos agudos.
  •  observar o “nível de expectativa” da pessoa, no qual desempenhem fator preponderante da personalidade o concretismo e o imediatismo tanto do pensamento quanto do comportamento.
  • pode ter alcance ainda maior ao despertar nas pessoas que a ela se submetem um novo modo de ver e compreender a si mesmas como seres integrados biopsicossocialmente.
A indicação da psicoterapia breve sustenta-se num tripé assim estabelecido: 

1 Quadro clínico: indicação para os pacientes de quadros agudos caracterizadores de situações de crise. 
2 Quadro social: disponibilidade econômica e/ou pessoal por parte tanto do paciente quanto do agente terapêutico.
 3 Quadro de expectativa: avaliação do nível intelectivo-cultural, levando em conta o grau de expectativa do paciente diante do processo terapêutico.

Com essa perspectiva, amplia-se o campo de indicação da terapia breve para os casos considerados crônicos, borderlines e psicóticos, valendo a terapia, em nível institucional, como instrumento de mobilização.

Focalização
  • Lemgruber (1984) define como foco “o material consciente e inconsciente do paciente, delimitado como área a ser trabalhada no processo terapêutico através de avaliação e planejamento prévios”.
  • Segundo  Fiorini (1978), foco é uma organização complexa da qual fazem parte formulações que enfatizam aspectos: sintomáticos (como o próprio motivo da consulta), interacionais (o conflito interpessoal que desencadeou a crise), caracterológicos (“uma zona problemática do indivíduo”), além de aspectos próprios da díade terapeuta-cliente e do desenvolvimento da técnica.
  • Tem-se como foco único, numa situação terapêutica, em seus diversos níveis, a situação trazida por uma paciente em que a “porta de entrada” seja realmente uma série de sintomas somáticos desencadeados;
  • num segundo nível, pela ansiedade diante de uma situação específica (da qual em muitos casos a pessoa nem se deu conta). Nessa situação específica estão envolvidos aspectos importantes de sua dinâmica intrapsíquica, o que caracteriza outro nível desse mesmo foco, no qual apenas os aspectos firmemente relacionados a ele serão abordados.
  • como delimitação do foco, temos a sintomatologia apresentada, a ansiedade que lhe deu origem e o conflito atual que gerou essa ansiedade ou angústia
  • Nas palavras de Fiorini (1978, p. 32), “a focalização da terapia breve é a sua condição essencial de eficácia”
Sintoma...
  •  é a manifestação visível e sensível de uma estrutura, sendo a estrutura ela mesma.
  • sintetiza um conflito presente e uma história conflitual passada, ele é um resumo, um instantâneo da vida do sujeito.
  • Se a psicoterapia breve consegue fazer que o sintoma desapareça no ato da cura, significa que: 
1) sua estratégia foi bem-sucedida, o sintoma foi suprimido e com ele o funcionamento patológico que lhe deu origem; 
2) sua estratégia foi malsucedida, o sintoma desapareceu, mas deu lugar a uma “sintomatização” do ego ou do caráter, problemas psicopatológicos bem mais graves. No primeiro caso, quer queira, quer não, o terapeuta agiu sobre a estrutura. Nesse sentido, a psicoterapia obteve um efeito pleno... 

Referências:
SANTOS, Eduardo Ferreira. Psicoterapia breve - abordagem sistematizada de suituações de crise.

A Saúde e seus Determinantes Sociais

 DSS- Determinantes Sociais de Saúde

  • as condições de vida e trabalho dos indivíduos e de grupos da população estão relacionadas com sua situação de saúde.
  • Segundo a Comissão Nacional sobre os Determinantes Sociais da Saúde (CNDSS), os DSS são os fatores sociais, econômicos, culturais, étnicos/raciais, psicológicos e comportamentais que influenciam a ocorrência de problemas de saúde e seus fatores de risco na população.
  • Segundo a comissão homônima da Organização Mundial da Saúde (OMS) adota uma definição mais curta, segundo a qual os DSS são as condições sociais em que as pessoas vivem e trabalham.
  • São os fatores e mecanismos através dos quais as condições sociais afetam a saúde e que potencialmente podem ser alterados através de ações baseadas em informação. (Nancy Krieger (2001))
  • São as características sociais dentro das quais a vida transcorre. (Tarlov (1996))
Paradigmas explicativos dos problemas de saúde, em meados do século XIX...
  • a teoria miasmática
    • que conseguia responder às importantes mudanças sociais e práticas de saúde observadas no âmbito dos novos processos de urbanização e industrialização ocorridos naquele momento histórico
    • Virchow, um dos mais destacados cientistas vinculados a essa teoria, entendia que a “ciência médica é intrínseca e essencialmente uma ciência social” que as condições econômicas e sociais exercem um efeito importante sobre a saúde e a doença e que tais relações devem ser submetidas à pesquisa científica.
  • o extraordinário trabalho de bacteriologistas como Koch e Pasteur
    • A história da criação da primeira escola de saúde pública nos Estados Unidos, na Universidade Johns Hopkins, é um interessante exemplo do processo de afirmação da hegemonia desse “paradigma bacteriológico”.
    • o predomínio do conceito da saúde pública orientada ao controle de doenças específicas, fundamentada no conhecimento científico baseado na bacteriologia e contribuiu para “estreitar” o foco da saúde pública, que passa a distanciar-se das questões políticas e dos esforços por reformas sociais e sanitárias de caráter mais amplo.
    • estendeu-se por todo o país e internacionalmente. 
    • preponderância do enfoque médico biológico na conformação inicial da saúde pública como campo científico, em detrimento dos enfoques sociopolíticos e ambientais.
  • A definição de saúde como um estado de completo bem-estar físico, mental e social, e não meramente a ausência de doença ou enfermidade, inserida na Constituição da OMS no momento de sua fundação, em 1948, é uma clara expressão de uma concepção bastante ampla da saúde, para além de um enfoque centrado na doença
Década de 70 - A Conferência de Alma-Ata, coloca as atividades inspiradas no lema “Saúde para todos no ano 2000” recolocam em destaque o tema dos determinantes sociais.

Década de 80 - desloca a atenção para uma  concepção centrada na assistência médica individual

Decada de 90 - novamente dá lugar a uma ênfase nos determinantes sociais que se afirma com a criação da Comissão sobre Determinantes Sociais da Saúde da OMS, em 2005.

O estudo dos determinantes sociais da saúde...
  • observa-se um extraordinário avanço no estudo das relações entre a maneira como se organiza e se desenvolve uma determinada sociedade e a situação de saúde de sua população (ALMEIDA-FILHO, 2002). 
  • estudo das iniqüidades em saúde, ou seja, daquelas desigualdades de saúde entre grupos populacionais que, além de sistemáticas e relevantes, são também evitáveis, injustas e desnecessárias (WHITEHEAD, 2000)
  •  Segundo Nancy Adler (2006), podemos identificar três gerações de estudos sobre as iniqüidades em saúde.
    •  A primeira geração se dedicou a descrever as relações entre pobreza e saúde;
    •  A segunda, a descrever os gradientes de saúde de acordo com vários critérios de estratificação socioeconômica; 
    • A terceira e atual geração está dedicada principalmente aos estudos dos mecanismos de produção das iniqüidades.
  • pretende estabelecer uma hierarquia de determinações entre os fatores mais gerais de natureza social, econômica, política e as mediações através das quais esses fatores incidem sobre a situação de saúde de grupos e pessoas, já que a relação de determinação não é uma simples relação direta de causa-efeito.
Não basta somar os determinantes de saúde identificados em estudos com indivíduos para conhecer os determinantes de saúde no nível da sociedade.
  • os fatores individuais são importantes para identificar que indivíduos no interior de um grupo estão submetidos a maior risco, as diferenças nos níveis de saúde entre grupos e países estão mais relacionadas com outros fatores, principalmente o grau de eqüidade na distribuição de renda.
  • não basta somar os determinantes de saúde identificados em estudos com indivíduos para conhecer os determinantes de saúde no nível da sociedade. 
Abordagens para o estudo dos mecanismos através dos quais os DSS provocam as iniqüidades de saúde. 
  • A primeira delas privilegia os “aspectos físico-materiais” na produção da saúde e da doença, entendendo que as diferenças de renda influenciam a saúde pela escassez de recursos dos indivíduos e pela ausência de investimentos em infra-estrutura comunitária (educação, transporte, saneamento, habitação, serviços de saúde etc.), decorrentes de processos econômicos e de decisões políticas. 
  • Outro enfoque privilegia os “fatores psicosociais”, explorando as relações entre percepções de desigualdades sociais, mecanismos psicobiológicos e situação de saúde, com base no conceito de que as percepções e as experiências de pessoas em sociedades desiguais provocam estresse e prejuízos à saúde. 
  • Os enfoques “ecossociais” e os chamados “enfoques multiníveis” buscam integrar as abordagens individuais e grupais, sociais e biológicas numa perspectiva dinâmica, histórica e ecológica.
  • há os enfoques que buscam analisar as relações entre a saúde das populações, as desigualdades nas condições de vida e o grau de desenvolvimento da trama de vínculos e associações entre indivíduos e grupos. Esses estudos identificam o desgaste do chamado “capital social”, ou seja, das relações de solidariedade e confiança entre pessoas e grupos, como um importante mecanismo através do qual as iniqüidades de renda impactam negativamente a situação de saúde. 
O modelo de Dahlgren e Whitehead inclui os DSS...
  •  dispostos em diferentes camadas, desde uma camada mais próxima dos determinantes individuais até uma camada distal, onde se situam os macrodeterminantes.
  •  Apesar da facilidade da visualização gráfica dos DSS e sua distribuição em camadas, segundo seu nível de abrangência, o modelo não pretende explicar com detalhes as relações e mediações entre os diversos níveis e a gênese das iniqüidades. 
  • Como se pode ver na figura 1, os indivíduos estão na base do modelo, com suas características individuais de idade, sexo e fatores genéticos que, evidentemente, exercem influência sobre seu potencial e suas condições de saúde.
  • Na camada imediatamente externa aparecem o comportamento e os estilos de vida individuais. Esta camada está situada no limiar entre os fatores individuais e os DSS, já que os comportamentos, muitas vezes entendidos apenas como de responsabilidade individual, dependentes de opções feitas pelo livre arbítrio das pessoas, na realidade podem também ser considerados parte dos DSS, já que essas opções estão fortemente condicionadas por determinantes sociais - como informações, propaganda, pressão dos pares, possibilidades de acesso a alimentos saudáveis e espaços de lazer etc.
  • A camada seguinte destaca a influência das redes comunitárias e de apoio, cuja maior ou menor riqueza expressa o nível de coesão social que, como vimos, é de fundamental importância para a saúde da sociedade como um todo. 
  • No próximo nível estão representados os fatores relacionados a condições de vida e de trabalho, disponibilidade de alimentos e acesso a ambientes e serviços essenciais, como saúde e educação, indicando que as pessoas em desvantagem social correm um risco diferenciado, criado por condições habitacionais mais humildes, exposição a condições mais perigosas ou estressantes de trabalho e acesso menor aos serviços.
  •  Finalmente, no último nível estão situados os macrodeterminantes relacionados às condições econômicas, culturais e ambientais da sociedade e que possuem grande influência sobre as demais camadas
O modelo de Diderichsen e Hallqvist, de 1998, foi adaptado por Diderichsen, Evans e Whitehead (2001).
  •  enfatiza a estratificação social gerada pelo contexto social, que confere aos indivíduos posições sociais distintas, as quais por sua vez provocam diferenciais de saúde. 
  • No diagrama abaixo, (I) representa o processo segundo o qual cada indivíduo ocupa determinada posição social como resultado de diversos mecanismos sociais, como o sistema educacional e o mercado de trabalho.
  •  De acordo com a posição social ocupada pelos diferentes indivíduos, aparecem diferenciais, como o de exposição a riscos que causam danos à saúde (II); 
  • o diferencial de vulnerabilidade à ocorrência de doença, uma vez exposto a estes riscos (III);
  •  e o diferencial de conseqüências sociais ou físicas, uma vez contraída a doença (IV). 
  • Por “conseqüências sociais” entende-se o impacto que a doença pode ter sobre a situação socioeconômica do indivíduo e sua família.



Intervenções sobre os determinantes sociais da saúde.
  • O modelo de Dahlgren e Whitehead e o de Diderichsen permitem identificar pontos para intervenções de políticas, no sentido de minimizar os diferenciais de DSS originados pela posição social dos indivíduos e grupos.
    • o primeiro nível relacionado aos fatores comportamentais e de estilos de vida indica que estes estão fortemente influenciados pelos DSS, pois é muito difícil mudar comportamentos de risco sem mudar as normas culturais que os influenciam.
    • O segundo nível corresponde às comunidades e suas redes de relações. Como já mencionado, os laços de coesão social e as relações de solidariedade e confiança entre pessoas e grupos são fundamentais para a promoção e proteção da saúde individual e coletiva.
    • O terceiro nível se refere à atuação das políticas sobre as condições materiais e psicossociais nas quais as pessoas vivem e trabalham, buscando assegurar melhor acesso à água limpa, esgoto, habitação adequada, alimentos saudáveis e nutritivos, emprego seguro e realizador, ambientes de trabalho saudáveis, serviços de saúde e de educação de qualidade e outros.
    • O quarto nível de atuação se refere à atuação ao nível dos macrodeterminantes, através de políticas macroeconômicas e de mercado de trabalho, de proteção ambiental e de promoção de uma cultura de paz e solidariedade que visem a promover um desenvolvimento sustentável, reduzindo as desigualdades sociais e econômicas, as violências, a degradação ambiental e seus efeitos sobre a sociedade (CNDSS, 2006; PELEGRINI FILHO, 2006).
  • O outro modelo, proposto por Diderichsen et al., permite também identificar alguns pontos de incidência de políticas que atuem sobre os mecanismos de estratificação social e sobre os diferenciais de exposição, de vulnerabilidade e de suas conseqüências.
    •  a intervenção sobre os mecanismos de estratificação social seja de responsabilidade de outros setores, ela é das mais cruciais para combater as iniqüidades de saúde. Aqui se incluem políticas que diminuam as diferenças sociais, como as relacionadas ao mercado de trabalho, educação e seguridade social, além de um sistemático acompanhamento de políticas econômicas e sociais para avaliar seu impacto e diminuir seus efeitos sobre a estratificação social.
    • O segundo conjunto de políticas busca diminuir os diferenciais de exposição a riscos, tendo como alvo, por exemplo, os grupos que vivem em condições de habitação insalubres, trabalham em ambientes pouco seguros ou estão expostos a deficiências nutricionais.. Aqui se incluem também políticas de fortalecimento de redes de apoio a grupos vulneráveis para mitigar os efeitos de condições materiais e psicossociais adversas.
A Comissão Nacional sobre os Determinantes Sociais da Saúde (CNDSS)
  • Comissão foi estabelecida em 13 de março de 2006, através de Decreto Presidencial, com um mandato de dois anos.
  •  é uma resposta ao movimento global em torno dos DSS desencadeado pela OMS, que em março de 2005 criou a Comissão sobre Determinantes Sociais da Saúde (Commission on Social Determinants of Health - CSDH), com o objetivo de promover, em âmbito internacional, uma tomada de consciência sobre a importância dos determinantes sociais na situação de saúde de indivíduos e populações e sobre a necessidade do combate às iniqüidades de saúde por eles geradas.
  • está integrada por 16 personalidades expressivas de nossa vida social, cultural, científica e empresarial.
  • reconhece que a saúde é um bem público, construído com a participação solidária de todos os setores da sociedade brasileira
  • têm como referência o conceito de saúde, tal como a concebe a OMS - “um estado de completo bem-estar físico, mental e social e não meramente a ausência de doença ou enfermidade” - e o preceito constitucional de reconhecer a saúde como um “direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação” (artigo 196 da Constituição brasileira de 1988)
  • Três compromissos vêm orientando a atuação da Comissão: 
 Compromisso com a ação: implica apresentar recomendações concretas de políticas, programas e intervenções para o combate às iniqüidades de saúde geradas pelos DSS. 
 Compromisso com a eqüidade: a promoção da eqüidade em saúde é fundamentalmente um compromisso ético e uma posição política que orienta as ações da CNDSS para assegurar o direito universal à saúde.
 Compromisso com a evidência: as recomendações da Comissão devem estar solidamente fundamentadas em evidências científicas, que permitam, por um lado, entender como operam os determinantes sociais na geração das iniqüidades em saúde e, por outro, como e onde devem incidir as intervenções para combatê-las e que resultados podem ser esperados em termos de efetividade e eficiência.

Os principais objetivos da CNDSS são: 

 produzir conhecimentos e informações sobre os DSS no Brasil; 
 apoiar o desenvolvimento de políticas e programas para a promoção da eqüidade em saúde; 
 promover atividades de mobilização da sociedade civil para tomada de consciência e atuação sobre os DSS.

Referências:
A Saúde e seus Determinantes Sociais . PAULO MARCHIORI BUSS e  ALBERTO PELLEGRINI FILHO