quinta-feira, 27 de janeiro de 2022

Do Artigo: O processo ciclo de contato em uma situação de luto

  • contempla o saber da Fenomenologia na intermediação entre a pessoa que passa pela situação de luto e o seu contato com o sentimento de perda.
  • amplia o olhar acerca da dor humana, suas formas de expressão e possíveis passos do contato em direção à cura.
  • apresenta na prática essa identificação do Ciclo do Contato e dos Fatores de Cura antes só estudados na teoria.
  • revela sob o olhar fenomenológico como o ser humano lida de forma única com um processo de luto, considerando o ciclo de contato proposto pela abordagem da Gestalt-Terapia e os mecanismos de defesa que podem ser relacionados a ele.

  • O Luto....

    Segundo Fukumitsu (2004)...
    • Sobre a vivência do aqui-agora, relata que a partir do momento que constatamos que estamos lidando com um momento de crise, existe uma necessidade de que toda a situação seja inteiramente experienciada no aqui-agora. 
    • a visão fenomenológica-existencial se faz importante, se considerada um embasamento teórico no lidar com perdas, pelo seu pensamento de que o “agora engloba tudo que existe” (PERLS apud FUKUMITSU,2004)
    •  “perdas são experiências do nosso viver, experiências como inúmeras outras, que nos ensinam, transformam, deformam e formam.
    • “As pessoas que confrontam perdas súbitas, traumáticas, inevitavelmente procuram um sentido de vida. Com o passar do tempo a maioria pode encontrar significado e encerrar o assunto. Encontrar significado significa ajustar-se”.
    • , a vida é uma constante reciclagem, a elaboração das perdas implica num processo de reorganização individual e relacional 
     Aramin (apud FUKUMITSU,2004), explora três temas principais que emergem quando acontece a situação de perda de um ente querido: 
    1. choque, 
    2. luto 
    3. e depressão. 
    Granader (apud FUKUMITSU, 2004), apresenta sete temas relacionados ao luto:
    1. raiva, 
    2. perda de fé, 
    3. perda da confiança no futuro, 
    4.  sonhos espirituais, 
    5. fazer da morte uma amiga, 
    6. convicção no destino, 
    7. nova perspectiva da vida.
    As Fases do Processo de Lidar Com as Perdas com o objetivo de organizar suas pesquisas sobre o luto, são:
     
    "2.2.1- O processo do luto: neste contexto, o respeito pela dor e pela situação é fundamental e vital para a sobrevivência. Faz-se pertinente compreender a dor como parte disso e, aceitar a nova condição, torna-se muito desafiante. É um processo de adaptação à perda. As reações podem ser: chorar, retirar-se dos lugares e evitar contato com os sentimentos culpando o corpo, criando doenças e sintomas."

    "2.2.2- O processo de cicatrização: Não existe um tipo de planejamento ou manual de saída para evitar a dor provocada pelo sofrimento do luto. Contudo, Saders (apud FUKUMITSU, 2004) propõe cinco características da fase curativa, a seguir: "

    "2.2.2.1 - Alcançando um momento decisivo: é a percepção de um novo mundo que se apresenta a partir da sua retirada de um buraco existencial, passando a conviver com pessoas novas e rotinas diferentes que podem fazer a diferença em como perceber este mundo. "

    "2.2.2.2 - Assumindo o controle: é necessário entender que cada pessoa é única na habilidade de controlar a sua vida. Assim, assumir a responsabilidade de decidir o que é melhor para si requer tempo, coragem e uma certeza de que é possível mudar." 

    "2.2.2.3 -Redimensionando os papéis: as situações de perda exigem mudanças nos papéis familiares, profissionais, parentais e renunciá-los, é a tarefa mais árdua. Faz-se imprescindível criar novas possibilidades para desempenhar um novo papel. "

    "2.2.2.4 - Formando uma nova identidade: é compreensível que o luto cause uma postura cética a respeito do poder interno, é uma sobrevivência apesar da dor. Os significados da vida advêm de ciclos do aprender e reaprender e da compreensão do quanto se quer mudar na vida." 

    "2.2.2.5 - Centrando-se: é a busca do equilíbrio e da harmonia que auxilia na reestruturação da pessoa. É o cuidar da vida social, da relação com a família e com os amigos. Neste momento, se existe fé, a perda é transformação, é ela que dirá o sentido da perda." 

    "2.2.3 - O processo de sobrevivência e recomeços: As lições de nossas perdas: é aceitar a vida na sua totalidade apesar das perdas, é acreditar nela com um começo, um meio e um fim, um aprender a desfrutar a vida novamente."

    O Ciclo de Contato

    "O contato é um movimento transformador de junção, de síntese, que permite a realidade se fazer e se refazer sobre si mesma num processo nunca acabado, porque o contato, como unidade de transformação, tende a ampliar-se ao infinito pelas possibilidades que tem de adquirir novas propriedades a cada instante (Ribeiro,1997, p.17)"

    Este ciclo possui as seguintes características: Nove formas de resistências; Nove formas polares a estes mecanismos como Fatores de Cura.

    O ciclo encerra um programa, uma “Gestalt”; A mudança é uma função de contato de interação entre pessoa mundo e bloqueio-fator de cura; e O Self está no centro do ciclo, é por onde os comportamentos se revelam. 

    Os fatores de cura, são chamados pelo autor de: 
    1. fluidez, 
    2. sensação, 
    3. consciência,
    4.  mobilização, 
    5. ação, 
    6. interação, 
    7.  contato final, 
    8. satisfação, 
    9. retirada.
    "Fluidez: é um novo movimento, é uma renovação a partir da localização própria no tempo e espaço, é onde há a criação e a recriação da própria vida."

    "Sensação: é o estar atento aos sinais do corpo onde a pessoa sente e procura novos estímulos. Consciência: é o estar atento ao que acontece em volta, dar-se conta de maneira clara e reflexiva e perceber-se recíproco com pessoas e coisas."

    "Mobilização: existe a necessidade de mudança, de exigência, de expressar o que sente sem ter medo de ser diferente dos outros." 

    "Ação: é a responsabilização pelos próprios atos, sem medo." 

    "Interação: Não se espera nada em retribuição. É sentimento de estar e relacionar com o outro como uma forma de perceber-se como pessoa. "

    "Contato final: é o reconhecimento de si mesmo como a própria fonte de prazer, faz-se o que gosta e o que quer sem intermediário. Os relacionamentos pessoais são diretos e claros."

    "Satisfação: é a percepção de um mundo saudável em que o prazer e a vida podem ser co-divididos como uma forma de crescimento. "

    "Retirada: é a percepção do que é meu e o que é do outro. É ser fiel a si mesmo e aceita o outro quando lhe convém."

    Mecanismos neuróticos...

    • é no ponto da interrupção do contato que será o local onde a energia se bloqueará e apontará a neurose. 
    • Os mecanismos neuróticos (de defesa) se opõem ao livre desenrolar do ciclo de contato e são numerosas as “Gestalts” inacabadas
    •  mecanismos de evitação do contato podem ser saudáveis ou patológicos, dependem da sua intensidade, maleabilidade e oportunidade.
    • Os principais mecanismos são: 
      •  Fixação: é o apego excessivo justificado pelo medo de ser surpreendido por uma nova realidade. Neste contexto, existe o sentimento de incapacidade que induz a pessoa a permanecer em coisas e emoções.
      •  Dessensibilização: é o entorpecimento diante de um contato, dificultando o estímulo da pessoa. É a diminuição sensorial do corpo que causa a perda do interesse por novas e intensas sensações. 
      • Deflexão: é o evitamento do contato sem qualquer direção, como os sentimentos de incompreensão, não valorização por parte dos outros e sempre desconhece os motivos pelas quais as coisas acontecem na vida.
      • Introjeção: é aceitação de normas e opiniões de outros por medo da mudança e por isso prefere-se a rotina e situações controláveis. Existe o desejo de mudança, mas delega a outros as decisões da sua vida. 
      •  Projeção: é a atribuição ao outro, de coisas que não gosta em si mesmo. Ao sentir-se ameaçado, pensa demais antes de agir e identifica nos outros dificuldades e defeitos semelhantes ao seus. 
      •  Proflexão: é a manipulação do outro para receber o que precisa. É o desconhecimento de si como uma forma de nutrição e por isso, necessita do outro para a satisfação de sua necessidade. 
      • Retroflexão: é o desejo de ser como as outras pessoas desejam. O sentimento de arrependimento é comum por se considerar inadequado às ações que pratica. É o inimigo de si mesmo. 
      • Egotismo: é o colocar-se como o centro de tudo e ter o total controle do mundo externo. É a imposição de vontades e desejos próprios e o desprezo dos desejos alheios. 
      •  Confluência: é a dependência do outro. Não sabe diferenciar o que é seu e o que é do outro com o objetivo de ser semelhante aos demais.
    Referências:
    O Processo Ciclo do Contato em uma Situação de Luto. OLIVEIRA, Leane Valente de; OLIVEIRA, Marília Zara Gentil de; LOBATO, Edilza de Aguiar – O Processo Ciclo do Contato em uma Situação de Luto

    quarta-feira, 26 de janeiro de 2022

    Do Artigo: O Ciclo de contato e a busca da Awareness na Psicoterapia de orientação gestáltica

    •  pretende compreender a importância da awareness e o ciclo de contato na psicoterapia de orientação gestáltica.
    • apresenta a abordagem como meio de revelação durante o processo, através do envolvimento criativo, contribuindo para o desenvolvimento de mais awareness.
    • relevância do fechamento de uma gestalten.
    •  visa identificar como a psicoterapia, pode contribuir para o desenvolvimento da paciente, com base na teoria de awareness e do ciclo de contato da Gestalt-terapia (GT)
    • parte do estudo de caso de bipolaridade na clínica.

    Pinto (2015, p. 19) aponta que:

  • [...] em um processo psicoterapêutico a compreensão diagnóstica não pode ser apenas um diagnóstico do cliente: ela precisa envolver a situação terapêutica e a situação de vida do cliente como um todo, além, é claro, das disposições do terapeuta para aquele trabalho clínico. 
  • A compreensão diagnóstica em Gestalt-terapia ainda deve levar em conta tanto os aspectos intrapsíquicos quando os relacionais, embora de ênfase maior aos aspectos referentes a intersubjetividade.

  • O processo terapêutico na perspectiva da Gestalt-terapia
    • De acordo com Perls (1988) a palavra Gestalt é de origem alemã e não possui tradução equivalente. Conceituada como um modo particular de organização entre as partes individuais que se compõem.
    • Influências intelectuais de Frederick S. Perls no desenvolvimento da GT:
      • a psicanálise,
      • a psicologia da Gestalt, 
      • o existencialismo
      • e a fenomenologia,
      • incorporando também ideias de Jacob Levi Moreno, como a importância da definição de papéis.
    • Perls e a Gestalt se importam com o “como”, ou seja, os processos vivenciados e o sentido que eles têm para a pessoa. O indivíduo é entendido na sua interação e relação com o meio (ANDRADE, 2007).
      Alvim (2014) aponta que...
      •  para a GT, awareness tem um sentido próprio que é o saber da experiência, considerando o movimento entre contato, organismo e meio, onde o indivíduo percebe o sentido e significado de si e do mundo.
      • O organismo tende a buscar um equilíbrio. Quando não há o equilíbrio gera-se uma neurose.
      • A conscientização só pode acontecer no aqui-agora e quando se mexe em uma parte deve-se ter consciência de que o todo será alterado.
      • A formação espontânea de Gestalten é por nós compreendida como configuração de sentido que emana da interação entre o organismo e o ambiente;
      • Concebemos a awareness como o fluxo da experiência aqui- agora que, a partir do sentir e do excitamento presentes no campo, orientando a formação de Gestalten.
      • Ao ouvir um indivíduo em psicoterapia, o psicoterapeuta deve abdicar de suas crenças, apenas acompanhar a fala do paciente, deixando que a experiência do outro se revele como fenômeno
      Na Gestalt-Terapia...
      • contato é o entregar-se ao encontro, um encontro pleno, tendo como sinônimo o cuidado (Ribeiro, 2007)
      •  Para a GT o contato está ligado às relações do indivíduo consigo mesmo e com o meio. (Ribeiro,2007)
      • A forma de contato revela o grau de individuação, maturidade e auto entrega. (Ribeiro,2007)
      • Ao ouvir um indivíduo em psicoterapia, o psicoterapeuta deve abdicar de suas crenças, apenas acompanhar a fala do paciente, deixando que a experiência do outro se revele como fenômeno (Alvim, 2014)
      • o processo de psicoterapia visa o envolvimento criativo e na medida em que avança, flui mais confortavelmente. Zinker (2007)
      • é essencial aprender a lidar de forma criativa com os sentimentos conflitantes, em vez de lutar contra seus próprios sentimentos ou polarizar o comportamento.
      • Crescimento e desenvolvimento implicam trocas entre o indivíduo e seu meio, surgindo por meio dessas trocas a possibilidade de entrar em contato com o novo e com o diferente. A essas trocas damos o nome de contato. (Salomão, Frazão, Fukumitsu, 2014)
      • é de suma importância que ocorra o desbloqueio da awareness e da energia. Na GT a passagem ao ato é realizada através da experiência controlada, no consultório, um ambiente seguro onde o paciente pode experienciar a energia com a qual entrou em contato. Então o paciente pode passar a experimentar em seu cotidiano fazendo com que se prolongue a manifestação física concreta, contribuindo para a mudança.(Zinker, 2007)
      • o experimento em psicoterapia é um convite ao paciente para reconstruir algo. ( Rodrigues, 2009)
      •  a GT visa restaurar a fluidez do processo de desenvolvimento da figura e do fundo através da análise das estruturas internas que o paciente apresenta diante da experiência (D’Acri, Lima e Orgler (2007)
      • tem como objetivo principal desfazer as interrupções no ciclo de awareness-excitação-contato de acordo com a personalidade apresentada pelo paciente durante o processo, podendo relacionar psicopatologias descritas pela nomenclatura psiquiátrica. Zinker (2007)
      • Ginger e Ginger (1995) afirmam que as subdivisões do ciclo de contato-retração não são tão relevantes para a prática clínica. Identificar e localizar a fase do ciclo onde acontece a interrupção ou qualquer perturbação é o principal interesse. A pessoa não consegue agir com base em seus impulsos. Indivíduo tem o desejo de se movimentar, mas não tem energia para agir. (Zinker, 2007) 
      • O limite no qual o indivíduo e o meio se tocam é denominado pela Gestalt-terapia de fronteira de contato. Só quando o indivíduo alcança a sua fronteira de contato e experiencia ao mesmo tempo está ligado ao meio e estar separado dele – estando aberto ao novo, exposto a coisas ameaçadoras – ocorrem contato e possibilidade de modificação. É nos limites, nos pontos de contato, que a awareness se dá e determina os limites do campo pessoal (PINTO, 2015, p. 50). 
      • “A terapia é um processo de mudança da awareness e do comportamento. O sine qua non do processo criativo é a mudança: a conversão de uma forma em outra” (ZINKER, 2007, p. 17). 
      Na Neurose...
      • o organismo e o meio estão doentes. O meio tem a mesma dinâmica do organismo, buscando responder às necessidades predominantes em primeiro lugar. (Perls, 1988)
      •  o indivíduo neurótico não tem condições de perceber suas necessidades e tão pouco de supri-las
      • A neurose, pelo contrário, seria uma perda da função “ego” ou da função “personalidade”: a escolha da atitude adequada é difícil ou desadaptada  (GINGER E GINGER, 1995).
      O Ciclo de Contato
      • O ciclo é uma expressão do que fizemos ao afirmar que a pessoa humana é, essencialmente, um ser de relação. (RIBEIRO, 2006 p. 89).
      •  Quando afirmamos que o universo procede em ciclos, também estamos dizendo que as pessoas repetem o mesmo movimento em escala micro, pois ciclo significa que o presente é o repasse do passado transformado e a projeção do futuro por meio das estruturas já presentes nele.  (Padrões de repetição)  (RIBEIRO, 2006 p. 89).
      • Essa circularidade nos torna essencialmente seres de relação em permanente mudança, ou seja, seres à busca de si mesmos. Isso é contato (RIBEIRO, 2006 p. 89).
      • [...] as funções de contato são fundamentais à medida que se transformam em suporte e facilitam o processo de contato. O contrário também acontece, isto é, as funções de contato funcionam como resistência se bloqueiam o contato desejado ou impedem a satisfação das necessidades.  (D’ACRI, 2014, p. 43).
      • Para Ribeiro (2007), em psicoterapia o ciclo de contato funciona como um paradigma, um modelo que permite ler o indivíduo, além de permitir o encontro e se deparar com novas possibilidades.
      • D’Acri, Lima e Orgler (2007) afirmam que contato é um processo profundo que transforma, muda e cura, é um dar-se conta de si, através do cognitivo, emocional, motor, o contínuo expressado através do corpo.
      • Para Ribeiro (2007, p. 59), “O ciclo é o espaço vital total de uma pessoa, de um grupo, de um lugar, de uma empresa. Ele revela as mil possibilidades dentro das quais a realidade, a pessoa ou a coisa se expressam”.
      Zinker (2007) expõe o ciclo de consciência-excitação-contato que é representado por sete fases, sendo elas:
      1.  sensação, 
      2. consciência, 
      3. mobilização de energia, 
      4. excitação, 
      5. ação, 
      6. contato 
      7. retraimento.
      Ribeiro (2006) apresenta o ciclo de contato da saúde com nove fases:
      1. a fluidez, 
      2. a sensação, 
      3. a consciência, 
      4. a mobilização, 
      5. a ação, 
      6. a interação, 
      7. o contato final, 
      8. a satisfação 
      9. a retirada. 
       O autor ainda apresenta os bloqueios que correspondem a cada mecanismo de saúde sendo eles:
      1. a fixação, 
      2. dessensibilização, 
      3. introjeção, 
      4. projeção, 
      5. deflexão, 
      6. retroflexão, 
      7. egotismo 
      8.  confluência.
      Referências:
      FRONZA, Juliana Lomba MALLMANN, Loivo José (Orientador). O CICLO DE CONTATO E A BUSCA DA AWARENESS NA PSICOTERAPIA DE ORIENTAÇÃO GESTÁLTICA

      Do Artigo: O contato na situação contemporânea: um olhar da clínica da Gestalt-terapia

      • parte de queixas dos clientes atendidos na clínica.
      • busca compreender ...
        • a existência o mundo contemporâneo. 
        • como é vivenciado o contato com o outro na atualidade.
      • Revisa bibliografia a respeito do que a GT fala das relações e do homem.
      • Percepção de que os sofrimentos apontam para uma dificuldade de estabelecer diálogo, intimidade e entrega.
      A Gestalt-terapia...

    • considera que o homem e todo organismo vivo está interligado com o resto do mundo;
    • só faz sentido falar do homem que vive em determinado meio que faz parte de sua existência e forma com ele uma totalidade.
    • tem foco nas relações organismo-ambiente, que o sujeito mantém consigo, com o outro e o meio em que vive.
    • se debruça no estudo do contato em si, ou seja, na forma como o indivíduo se relaciona consigo, com o outro e o meio, da fronteira que interconecta eu-mundo e eu-outro.
    • Considera o Self contato.
    • Self é definido como sistema de contatos em que o eu se desloca do interior do psiquismo  para o campo, como processo que se desenrola no tempo, espontaneamente, expressivamente e de forma criadora, segundo Alvim (2012).
    • A Fronteira de contato marca uma delimitação temporal - indica o momento  em que nos deparamos com uma novidade que nos causa estranhamento e nos faz partir em busca de um sentido para este encontro.
    • Esse novo encontro com a novidade gera uma certa tensão por esse encontro, logo, falar da experiência é falar de contato.
    • Ajustamento criativo é processo de encontro e assimilação de uma diferença, que implica se arriscar diante do novo e do desconhecido, ou seja, a forma como o cliente se autorregula diante da novidade. O ajustamento criativo implica em uma ação espontânea no campo, podendo ser ativo (quando se quer realizar algo) ou passivo ( quando se espera que lhe façam algo) segundo Perls, Hefferline &Goodman (1651/11997)
    • As autoras...
      • sugerem que  a possibilidade do contato pleno, da entrega, da abertura, da awareness se encontram em falência na contemporaneidade.
      • que a GT pode auxiliar o sujeito a olhar de forma mais crítica para os fenômenos trazidos à clínica pelos clientes.
      • pretendem compreender os valores da sociedade atual a partir de dilemas levados por esses clientes.
      • reafirma posição dialética fundada no diálogo e na relação, observando o ser integralmente.

      1. A experiência do contato: do eu-outro, para o nós.

      - É como se eu fosse vermelho e ele amarelo, eu só queria que de vez em quando virássemos laranja e depois voltássemos a ser vermelho e amarelo e assim por diante. (Stela)
      • Observa-se o desejo de fazer contato na relação com o outro, e seu sofrimento por não conseguir.
      • traz sentimento de solidão e frustração.
      2. O processo de contato e suas interrupções
      • Na Gestalt-Terapia existem muitas formas de se olhar para o contato e suas interrupções.
      • A GT propõe 4 etapas para abordar o contato e a forma como ele acontece no tempo:
        • pré-contato
        • contato
        • contato final
        • pós-contato
      • As maiores demandas na clínica apontam para a dificuldade na experiência da alteridade (relação do que é o outro) e do diálogo.
      • Substituir o desconhecido e o diferente pelo conhecido em uma tentativa de evitar fazer contato com alfo que o ameaça acaba se tornando uma neurose.
      • A forma como se interrompe a dinâmica de contato fala da singularidade daquela pessoa e mostra o momento em que se bloqueia o fluxo da experiência, onde a dificuldade parece estar mais presente.
      • Destaca-se na clínica, como interrupções no momento do contato e do contato final a retroflexão, proflexão e egotismo.
      2.1. Contato

      • Na etapa do contato a energia mobilizada já está comprometida, isto quer dizer que:
        •  já houve a eleição de uma figura
        •  o organismo já teve uma sensação
        • se conscientizou de sua necessidade
        • se mobilizou e agiu em direção a uma possível satisfação.
      • O momento é...
        • o da agressão, 
        • de lidar com a diferença e com o outro, 
        • envolve conflito,
        •  destruição e assimilação do novo, dessa figura escolhida para a satisfação de uma necessidade.
      • O self...
        • frente ao conflito procura assimilar e se perceber no processo, bem como, estar mais aware de si.
        • quando a figura esta definida e a energia comprometida, o organismo se encontra na iminência da interação de si.
      • Bloqueando essa etapa de contato...
        • a energia que estava sendo direcionada retorna para si - retroflexão
        • ou a energia é direcionada para o outro, de forma enviesada, ocorrendo a proflexão.
        • Retroflexão e Proflexão...
          •  falam da impossibilidade da pessoa expressar suas necessidade para o outro de forma direta,
          •  impede o agir espontâneo frente ao outro, de encontrar e trocar com este diretamente, com confiança e coragem de assumir o risco que isso inclui.
          • evita-se aí o conflito direto
          • as formas disponíveis para tentar alguma satisfação nesses casos são:
            • ou satisfazer a si mesmo 
            • ou uma tentativa de eliciar no outro uma resposta mais ou menos esperada.
        • na Retroflexão...
            • isolamento é marcado por uma autossuficiência, um fazer você mesmo, enrijecendo a fronteira de contato e cindindo-se do ambiente, do outro; 
            • aqui há uma desistência do outro ou se entende que precisar dele é uma fraqueza, fazendo consigo mesmo aquilo que se precisa.
          • na Proflexão
            • no isolamento há uma espécie de “cegueira” e o outro passa a ser como uma tela de projeção, fantasiado, um espectro enevoado no qual se vê apenas uma idealidade.
            • proflexão, toma-se o outro como objeto, de modo a satisfazer a sua necessidade.
          • em ambos os casos
            • utiliza-se de manipulação, de comportamentos evocativos e indiretos, redobrando seus esforços quando encontra alguma resistência.
            • suas relações se mantêm empobrecidas, sem a sensação de estar satisfeito.
        2. Contato final
        • é o ápice do processo do contato, porém, não chega a ser o seu final em si, já que este acontece no pós-contato, momento da assimilação e do crescimento. 
        • Trata-se, então, do momento da união, do encontro eu-figura em si. 
        • Segundo Clarkson (1989) esse é o momento do engajamento total, cheio e vibrante com a figura da ação escolhida.
        • o self está absorvido de maneira imediata e plena na figura que descobriu-e-inventou; no momento não há praticamente nenhum fundo.
        • A figura incorpora todo o interesse do self, e o self não é nada mais do que seu interesse presente, de modo que o self é a figura (Perls, Hefferline & Goodman, 1951/1997, p. 221).
        • O sentimento de ego ativo da etapa anterior do conflito e agressão abranda-se ou desaparece.
        • Dizer que o fundo está vazio é falar em ato de entrega total com a figura escolhida, com atenção plena. 
          • No caso Stela esse é o momento em que ego e self se fundem formando uma só cor. 
          • Momento derradeiro para  se experienciar tanto o outro quanto a si mesmo, onde está presente a qualidade da totalidade campo-organismo-ambiente.
          • envolve renúncia de si, de entrega, onde o self se sente mais vivo:
        • Egotismo 
          •  impossibilidade de viver esse ato de entrega, em que figura e fundo se fundem em um só, de forma plena.
          • Segundo Perls, Hefferline & Goodman (1951/1997) consiste numa dificuldade em renunciar ao controle e à vigilância, numa ansiedade frente à indiferenciação, numa preocupação última com nossas próprias fronteiras, consigo ao invés de com aquilo que é contatado.
          • Há uma dificuldade em “relaxar o controle, soltar-se, ter a audácia de terminar a ação empreendida, abrir as fronteiras ao encontro” (Robine, 2006 p. 131).
          • O self, ao se enrijecer e evitando se entregar...
            •  não consegue agir em sua dimensão de espontaneidade e criatividade.
            • se vê em uma situação de emergência em cada possibilidade de interação e por isso mesmo precisa se proteger.
            • não permite vivenciar plenamente o encontro, ficando o contato esquecido enquanto possibilidade.
        3. A experiência na contemporaneidade...
        • Pode-se pensar em duas formas de existir no tempo presente:
          •  uma alienada, acrítica, apartada de uma reflexão sobre o mundo atual, 
          • e outra, a qual Agamben chama de contemporânea, que é a vivência daquele que “mantém fixo o olhar no seu tempo, para nele perceber não as luzes, mas o escuro” (2009, p. 62)
          •  isso não significa de modo algum uma inércia, mas sim, como acrescenta ele, “uma habilidade particular, que nesse caso, equivalem a neutralizar as luzes que provêm da época para descobrir as suas trevas, o seu escuro especial, que não é, no entanto, separável daquelas luzes” (2009, p. 63).
        3.1. Marcas da contemporaneidade
        • há um “mal-estar” na contemporaneidade (Freud)
          • perda das referências
          • referências,
          • o racionalismo 
          • o cientificismo, 
          • o incremento do individualismo, 
          • a aceleração do tempo.
        • Com a fenomenologia...
          • Começa-se a pensar que consciência e mundo não são separados, mas aspectos de uma mesma realidade, na qual corpo e mente estão associados numa experiência intencional.
          • Franklin Leopoldo e Silva (2012) nos lembra de uma célebre frase de Jean Paul Sartre, em que este afirma que o inferno são os outros. Segundo o autor viver junto implica numa partilha de valores sobre a vida aspirações comuns, ou seja, um movimento em direção a uma vida comum, uma convivência.
          • A solidão numa sociedade massificada encoraja o indivíduo a buscar alívio e abrigo em grupos sectários, nos quais a homogeneidade representa a segurança que não está presente na experiência autêntica da diversidade.
          • Santos (2009, p. 18) afirma: “Temos direito a ser iguais quando a diferença nos inferioriza; temos direito a ser diferentes quando a igualdade nos descaracteriza”.
        4. Entrecruzamentos...
        • como dizia Merleau-Ponty (1964/2000), a carne do mundo, se comungamos de um fundo comum, de uma generalidade, de uma cultura que nos atravessa a todos, podemos inferir que nãoé à toa que muitos estamos adoecidos.
        •  Compartilhamos de uma teia também adoecida, de um fundo que não é favorável à experiência de alteridade, ao encontro, à intimidade, à singularidade, à criação de novos possíveis.
        Segundo as autoras...
        • Vimos, em nossa clínica, que as pessoas têm tido cada vez mais dificuldade em lidar com o momento do conflito e da entrega. 
        • A dificuldade do conflito é uma dificuldade do embate, da
        • agressão; 
        • A da entrega diz respeito a abrir mão de uma atividade, de se lançar na experiência de união e dissolução das fronteiras.
        • Podemos estar em uma atividade mecânica, guiada pela pressa, que reflete uma lógica de produtividade e um medo de parar e encarar a ansiedade da incerteza frente ao desconhecido 
        • Ou podemos estar também num modo de ser passivo, engolindo pronto aquilo que vem de fora. 
        • Em ambos os casos alienados e acríticos, o que permeia esses dois modos de estar no mundo é uma alienação tanto pela atividade quanto pela passividade.
        • Os sujeitos em sua passividade introjetam esses valores como normas naturalizadas e não se questionam sobre eles, apenas os reproduzem.
        • A sociedade atual estipula normas gerais que indicam o que é certo/normal e o que está fora dessa margem, o errado/ anormal. Segue-se padrões sem questionamentos.
        • É preciso um gesto de interrupção para se perceber:
          • requer parar para pensar, parar para olhar, parar para escutar, pensar mais devagar, olhar mais devagar, e escutar mais devagar; parar para sentir, sentir mais devagar, demorar-se nos detalhes, suspender a opinião, suspender o juízo, suspender a vontade, suspender o automatismo da ação, cultivar a atenção e a delicadeza, abrir os olhos e os ouvidos, falar sobre o que nos acontece, aprender a lentidão, escutar aos outros, cultivar a arte do encontro, calar muito, ter paciência e dar-se tempo e espaço.
          • É justamente por estarmos apressados que nos distanciamos do que é da ordem da experiência, isolados uns dos outros, individualizados e numa constante competição nos afastamos da possibilidade de nos encontrarmos com o outro, de “estar com”.
        • "na rearticulação dos coletivos pela adoção de uma postura de diálogo e afirmação da alteridade, uma proposta de estabelecermos um espaço possível de esperança, em que sejam construídas relações onde haja espaço para o encontro, para a experiência de olhar e ser olhado, do reconhecimento, da empatia, do estar com, do reestabelecimento do vínculo. Com isso, vemos uma possibilidade de uma rearticulação entre as partes e o todo."
        • a clínica que se propõe e se estabelece dentro dessa lógica da alteridade restabelecida e forma dialética pode se configurar também enquanto um lugar que atua em prol da reversibilidade do quadro em que nos encontramos.
        • Criamos através da relação terapêutica, a possibilidade da pessoa resgatar a conexão primordial, religando-a a si mesma e aos demais, constituindo ou restaurando a sua própria humanidade”
        A Gestalt-terapia... 
        • busca recuperar o sentido da experiência concreta, do vivido e, para além disso, busca ampliar a awareness, ou seja, através da presentificação, restaurar nos sujeitos a dimensão do sensível e sua possibilidade criativa, de agressão.
        • traz uma proposta de saúde baseada na espontaneidade e na possibilidade de sermos no mundo de forma mais crítica, menos alienada.
        • sua terapia torna-se essa possibilidade de reconexão, que também encontramos na experiência do coletivo.
        • torna-se necessário que nos arrisquemos  diante do novo, pois a experiência, como já dissemos, comporta uma dimensão de risco e de travessia, de coragem para enfrentar a dimensão do perigo, que abarca tanto o júbilo como o sofrimento em meio a uma sociedade que se é proibido sofrer.
        • Direcionados sempre para o fim, perdemos o meio, e com isso o espaço da experiência, do acontecimento e da transformação, lugares do qual se ocupa a GT.
        Referências:
        Pepsico. SILVA, Thatuana Caputo Domingues; BAPTISTA, Camilia Santos; ALVIM, Mônica Botelho. O contato na situação contemporânea: um olhar da clínica da Gesatlt-terapia.

        quarta-feira, 12 de janeiro de 2022

        Do Artigo: Contato, Virtualidade e Ciberespaço: Uma reflexão à luz da Gestalt-terapia

         

        • discute o fenômeno da virtualidade no contexto do ciberespaço e o entendimento da Gestalt-terapia.
        • Teoria do Self traz noção de contato para ressaltar o caráter virtual da experiência.
        • Adentra no campo das relações interpessoais.
        "Constatou-se o ciberespaço enquanto um campo onde coabitam implicações materiais e virtuais que fomentam uma nova configuração para experiência e consequentemente um campo de ajustamento criativo."

        século XXI - permite se relacionar através de uma rede de comunicação simultânea e global, o que nos permite interação sem a necessidade de dividirmos o mesmo espaço-tempo.

        O ciberespaço...
        • as estas transformações se estendem na formação de uma cultura própria da contemporaneidade
        • ocorre a interação humana via mídias digitais
        • ressalta uma nova interface para experiência humana, onde a crescente circulação desenfreada de informações infere um campo novo, desconhecido e exacerbado em possibilidades.
        • Segundo Lévy (1999) o ciberespaço pode ser entendido enquanto um espaço não físico pelo qual as informações circulam por meio de um conjunto deredes de computadores.
        • Lima (2009) traz que “o ciberespaço não é uma realidade a parte, ou um não-lugar desconectado da realidade, mas uma expansão e um complexificador do real” (p.5), ou seja, para além da noção espacial/material o ciberespaço se refere a um ambiente simulado onde é possível interagir transmitindo informações e conteúdos simbólicos, proporcionando uma experiência conjunta de interação, mesmo deslocada em um tempo-espaço diferente ( CAPANEMA e AVANZA, 2013).

        A Cibercultura...
        • por Lévi (1999) como sendo “o conjunto de técnicas (materiais e intelectuais), de práticas, de atitudes, de modos de pensamento e de valores que se desenvolvem juntamente com o crescimento do ciberespaço” (p.16).
        • Santaella (2003) traz que o advento da cibercultura não tem mudado apenas a maneira como nos comunicamos, mas também a forma como produzimos, criamos, distribuímos e compartilhamos.

        Bases teóricas para se pensar o contato neste novo campo virtualizado da experiência....
        • Obra Gestalt-terapia de Perls, Hefferline e Goodman (1997) e nos estudos de seus desdobramentos feitos por Müller-Granzotto e Müller-Granzotto (2004, 2007, 2012).
        O que significa Gestalt...

        Segundo Engelmann (2002): “O substantivo alemão ‘Gestalt’, desde a época de Goethe, apresenta dois significados diferentes:

        (1) a forma; 
        (2) uma entidade concreta que possui entre seus vários atributos a forma” (p.2). 

        A opção majoritária de manter o termo original por parte dos
        gestaltistas ressalta a importância estética que o mesmo tem para a teoria, utilizado pelo próprio Goethe para descrever a “[...] auto-organização, do sentido e a expressividade presentes nos fenômenos da natureza” (CHOLFE, 2009, p.30).

        A Gestalt-terapia...
        • se estabelece como uma abordagem que possibilita uma análise holística do ser humano através de uma forte base epistemológica, que parte da relação entre organismo e o meio.
        • o homem passa a ser visto como parte atuante em um todo maior.
        • Um constante campo interacional entre o organismo e o ambiente, no qual a manifestação das experiências vividas no passado e as expectativas geradas frente às possibilidades de futuro se fazem presentes transientemente no aqui-e-agora (MÜLLER-GRANZOTTO & MÜLLER-GRANZOTTO, 2004).
        Influências da Gestalt-terapia...
        • marca o abandono do método introspeccionista e dos conceitos clássicos de atenção, sensação e associação em valor do método fenomenológico, o que permitiu que Wertheimer e Köhler propusessem uma aproximação do pensamento em relação a uma experiência concreta (CHOLFE, 2009).
        • transcende o formato mentalista, até então predominante, de se fazer Psicologia.
        • Perls levantou duras críticas a este método, uma vez que se pautava na busca por leis estruturais universais.
        • Perls vai beber da teoria de Kurt Goldstein, trocando o dualismo entre mente e corpo (fenômenos psicológicos versus fenômenos físicos) pela compreensão descritiva de um processo de funcionamento organísmico (BELMINO, 2014).
        • "nenhum organismo é autossuficiente Requer o mundo para a satisfação de suas necessidades"
        • quebra de um pensamento dicotômico que separava o homem e a natureza em estâncias isoladas e o início de uma linguagem integradora pautada na compreensão de uma unidade do organismo e sua integração com o campo (unidade organismo/ambiente) (BELMINO, 2014).
        • Para Perls, Hefferline e Goodman (1997) o pensamento dicotômico proposto pelas teorias antropológicas anteriores na verdade são fragmentações da experiência, uma vez que não abarcam o “todo”, apesar de serem estruturas unificadas e definidas.
        • propõe a observação da experiência em si mesma, formulando assim uma noção de campo construído através de polaridades que nascem de noções contrárias (BELMINO, 2014).
        • segundo Perls (2002) ocorre uma diferenciação em opostos: "somos indiferentes a tudo que é ‘não diferenciado’ a partir de nosso ponto e vista subjetivo” (p.46).
        O Ego...
        • passa a ser entendido como uma função seletiva do organismo no campo, pela qual ele identifica-se e aliena-se em sua interface com o ambiente (PERLS, 2002).
        • o ego enquanto função da experiência é ativado a partir do encontro com o “estranho”, exercendo a função de determinar os limites ou fronteiras entre o pessoal e o impessoal.
        • Assim como a respiração é uma função do pulmão o ego é a função seletiva do organismo, fundamental para compreender suas próprias fronteiras (PERLS, 2002). 
        • A fluidez deste processo de diferenciação se dá por meio da dinâmica do contato/fuga, na qual o contato é o ato de identificação e alienação com o meio e a fuga o processo de retrair-se para que uma nova experiência possa emergir (BELMINO, 2014).
        Ajustamento criativo ...

        “o processo de contatar no campo organismo/ambiente [...]” (p.100), ou seja “[...] o processo de assimilação da novidade e a rejeição do inassimilável” (BELMINO, 2014, p. 99).

        Teoria do Self...
        • discutida/lida através de “[...] três principais sistemas parciais –ego, id e personalidade -, que em circunstâncias específicas parecem ser o self”.
        • Através desses três sistemas é possível ler a experiência de um campo.
        • as funções id, ego e personalidade são entendidos enquanto ferramentas descritivas do processo temporal que é o “self” (MÜLLER-GRANZOTTO & MÜLLER-GRANZOTTO, 2004).
          • Id - surge como sendo passivo, disperso e irracional” (PERLS,HEFFERLINE E GOODMAN, 1997, p. 186), Ou seja, refere-se ao corpo ainda não representado frente a experiência, os tecidos e músculos que de tão integrados ao meio são indiferenciáveis, sendo “[...]vivido como volume, espessura, trânsito entre eu e o mundo” (MÜLLER-GRANZOTTO & MÜLLER-GRANZOTTO, 2004, p.3).
          • Ego - A função de ego, por sua vez remete a deliberação, decisão, ação. É a função pela qual o “self” polariza as trocas energéticas em uma extremidade da relação (MÜLLER-GRANZOTTO E MÜLLER-GRANZOTTO, 2004). Nesse momento “[...] um interesse assume a dominância e as forças se mobilizam de modo espontâneo, determinadas imagens se avivam e as respostas motoras são iniciadas” (PERLS, HEFFERLINE &GOODMAN, 1997, p.184).
          • Função Personalidade - é descrita por Perls, Hefferline e Goodman (1997) como sendo: [...]o sistema de atitudes adotadas nas relações interpessoais; é a admissão do que somos, que serve de fundamento pelo qual poderíamos explicar nosso comportamento, se nos pedissem uma explicação (p.187).
          • Self - “self” pode ser entendido enquanto “o sistema de contato no momento presente” (PERLS, GOODMAN, HEFFERLINE, 1997, p.10), e não meramente enquanto organismo em interação com ambiente como ocorreu em Perls (2002) e na teoria de Goldstein (BELMINO, 2017).
          O Self enquanto rede temporal..
          • a fronteira de contato se evidencia como presente transiente, ou seja, se efetiva enquanto um campo de presença no qual coabitam nossas vivências passadas e expectativas de futuro (MÜLLER-GRANZOTTO & MÜLLER-GRANZOTTO, 2007).
          • o caráter virtual do self, onde “o passado sempre é fundo para que o agora possibilite um futuro como criação” (BELMINO, 2014, p. 131).
          • a fronteira de contato no campo se dá no limite virtual entre o organismo e o meio, onde o “self” é flexivelmente variável, alterando-se de acordo com as necessidades dominantes que emergem (PERLS, HEFFERLINE EGOODMAN, 1997).
          • Perls, Hefferline e Goodman (1997) descrevem a fisiologia enquanto um sistema de ajustamentos conservativos herdados na interação organismo/ambiente
          • o corpo passa a ser lido enquanto unidade integradora de sentido: “é nele que o sentido da experiência se expressa, e a expressão para Merleau-Ponty se define justamente por esse ato que institui concretude ou facticidade a uma virtualidade ou possibilidade” (ALVIM et al, 2012, p.176).
          O virtual...
          • Virtual segundo Lévy (1999) remete a tradição filosófica definindo-se como aquilo que não é atual, que é possibilidade potencial.
          • Segundo Basso (2016) O virtual é aquilo que existe em potência e não em ato, sua tendência é atualizar-se. Por exemplo, uma árvore está virtualmente presente na semente. Virtual e atual não são contraditórios, mas sim modos diferentesde ser. Já o real é o que de fato existe (p.276).
          Virtualidade, Corpo e Contato...
          • leitura do “self” do Gestalt- terapia (1997) caminham para a compreensão da dimensão virtual como intrínseca a  experiência humana, sendo, portanto, exaltada pelo ciberespaço.
          • Basso (2016) traz que a internet nos colocou “[...] em atualização, reconfiguração de nossas fronteiras no campo organismo/ambiente” (p.294), sendo assim também se evidencia como um lugar de contato.
          • como trazem Perls, Hefferline e Goodman (1997) mesmo havendo contato, nem sempre há “awareness”, portanto, a cibercultura pode reservar em sua condição certas limitações.
          • Almeida e Santos (2017), Capanema e Avanza (2013) e Lima (2009) o ambiente virtual converge para uma exacerbação de representações, onde seus atores ao se enxergarem em um amplo campo de possibilidades trafegam em instabilidade e fluidez.
          • O virtual enquanto um aspecto presente na experiência humana parece assumir no ciberespaço o lugar de figura frente a um fundo de imprevisibilidade.
          • no ciberespaço o caráter virtual do “self” e da experiência se evidencia na explosão desenfreada de possibilidades, tornando a função de ego imersa em um circuito inassimilável e agigantado de informações.
          REFERÊNCIAS
            Artigo: Contato, Virtualidade e Ciberespaço: Uma reflexão à luz da Gestalt-terapia. Rodrigo Pinto Brasil e Marcus César de Borba Belmino