domingo, 27 de fevereiro de 2022

A Gestalt-terapia de curta duração

A Gestalt-terapia...

  • é uma abordagem  centrada no contexto pessoa muito mais que o problema que ela tem.
  • Segundo Ribeiro (1999, p. 14) apud Pinto (2016) a vida da pessoa como realidade total emergente, passa a ser figura.
  • Ciornai (1989, p.3) apud Pinto (2016) afirma que o funcionamento saudável  como possibilidade de se viver um fluxo  mais ritmado e energizado de awareness, por meio do qual possa interagir com mais criativamente consigo e o meio, utilizando ao máximo seus recursos internos e externos para lidar criativa e apropriadamente com seu mundo, discriminando os contatos  mutuamente enriquecedores e satisfatórios daqueles que são tóxicos e prejudiciais.
  • Perls, Hefferline e Goodman (p.107) apud Pinto (2016) afirmam que a pessoa sadia é aquela  que se apossa plenamente do "direito de sentir-se em casa no mundo", com a responsabilidade que é a contraparte desse direito.
  • Contempla suas finalidades, seus métodos e técnicas e fundamentos filosóficos e teóricos, no qual a relação dialógica é apenas umas de seus recursos que se faz presente na condução de todos os demais.
  • Seus métodos e técnicas partem da premissa de que a pessoa é um organismo total, tem características próprias dadas e desenvolvidas, que as tornam únicas e irrepetível.
  • A Psicologia Humanista objetiva a estar com o indivíduo, compreendendo o ser humano como um ser social e que luta sempre em busca  da conciliação entre si e sua sociedade, em um processo ininterrupto e mútuo de crescimento no qual a busca pessoal é pela ampliação de sua autonomia.
  • Possibilita o cliente ser o que é, o que deseja ser. Ao se experimentar mais autêntico e autônomo na terapia, amplia a possibilidade de se experimentar diferente, mais autentico e autônomo em seu cotidiano, transformando-o.
Entendendo a Psicoterapia - processo terapêutico...
  • encontro de duas pessoas: terapeuta-cliente
  • procura compreender a vida do cliente visando recuperar a qualidade do contato, da vivacidade, do ritmo e da abertura do mesmo para a vida.
  • é um procedimento dialético e dialógico
  • é um diálogo entre interlocutores na busca da melhor configuração para o cliente.
  • sendo dialético-dialógico, o terapeuta participa ativamente no processo terapêutico.
  • Bellak e Small (1980, p. 29) apud Pinto (2016)  afirmam que se trata de uma interação verbal e simbólica na relação eu-tu.
  • demanda clareza no que se pode compreender como "mudança benéfica".
  • o processo terapêutico deve ser suficientemente aberto para acolher e incentivar a abertura de seu cliente.
  • essa abertura não contempla a ideia definida e estreita de cura  ou saúde psíquica, o que significaria fechamento do novo e do criativo.
Desafios do terapeuta na Gestalt-terapia
  • poder compartilhar da mais profunda intimidade com o outro
  • viver uma relação terapêutica fundamentalmente baseada na confiança, uma relação na qual o papel do terapeuta é bastante delimitado.
  • colocar-se a serviço o outro sem expectativas, sem modelos prontos pré-estabelecidos
  • colocar-se a disposição para oferecer ao cliente uma experiência de autenticidade o mais plena possível.
  • Apontar as pontes e caminhos, abismos e florestas por onde pode acompanhar seu cliente no processo de descobrir-se.
  • Suspensão de a prioris, atendendo o cliente sem a pretensão de se ter um lugar definido para conduzi-lo, voltando-se, essencialmente, para o funcionamento saudável do cliente, que necessariamente, não é romper com certos padrões.
  • Jamais tentar fazer um "conserto" em seu cliente, procurando compor junto ao cliente um conserto que vai ajuda-lo a ter um ritmo de vida.
  • Não procurar eliminar comportamentos errados ou buscar determinados jeitos de ser como ideias, mas de possibilitar a melhor configuração visando desenvolver seus potenciais a cada circunstâncias vividas.
  • Maria Constança Bowen (in Santos, 1987, p.58-60) apud Pinto (2016) a postura tem quatro características básicas:
    1. É o cliente quem escolhe seu destino e seu caminho, cabendo ao terapeuta mostrar trilhas não notadas, respeitando o direito de o cliente escolher se as seguirá ou não, exceto quando houver risco iminente que o obrigue a se impor.
    2. por experiência e estudo o terapeuta conhece suficientemente bem a região, mesmo que não conheça as trilhas pessoais do cliente, facilitando a descoberta de fenômenos pouco visíveis, apontar conhecimentos pouco ou nada utilizados, encorajá-lo em escolhas difíceis,  prevenir perigos, ...
    3. compartilhar as conquistas e dividir o peso da caminhada
    4. sentir, manifestar e incentivar a fé e a consequente segurança em que aquela jornada tem sentido.
Desafios do Cliente no processo terapêutico
  • conhecer-se mais profundamente e, por isso e para isso, experimentar novos sentimentos, novos comportamentos, o incremento e o apossamento da autonomia e da liberdade.
  • Beisser (1977, p.110) apud Pinto (2016) afirma que, paradoxalmente, o maior desafio do cliente  em terapia é mudar para tornar-se aquilo que é.
  • Na terapia o cliente não vai "aprender sobre si", mas  vai "descobrir sobre si" através de seus sentidos e awareness.
  • As descobertas abarcam belezas e tragédias pessoais, luz e sombra, já que somos seres duais.
A psicoterapia de Curta-duração
  • contempla diferentes abordagens e diferentes critérios
  • critério de tempo contempla três tipos de intervenções:
    • Breve ou brevíssima, no atendimento de urgência
      • tem caráter imediato
      • objetiva:
        •  proteger o cliente e pessoas de seu relacionamento que correm  risco por causa de seu desequilíbrio.
        • Retomar o contato do cliente com a realidade.
    • Na crise
      • pretende favorecer em poucos contatos a retomada do equilíbrio
      • se possível, um equilíbrio melhor ao anterior que desencadeou a crise
      • busca fortalecer a coragem para enfrentar uma situação difícil e inadiável
      • demanda pouquíssimo contato com o cliente em tempos diminutos
    • Na psicoterapia de curta duração
      • busca melhorar o ajustamento do cliente.
      • o referencial teórico do terapeuta será decisivo na maneira de conduzir o trabalho.
      • objetiva oferecer ao cliente a possibilidade de vivenciar uma situação  especial em um contexto relacional de aceitação e confiabilidade que possibilite o cliente enxergar  a formulação pessoal do conflito e reestruturar sua vivência em uma situação emocional dolorosa.
Knobel e Lemgruber (1995 apud Pinto (2016)  consideram  a terapia focal como uma maneira de fazer terapia de curta duração e que a técnica da psicoterapia de curta duração se fundamenta na tríade: atitude, planejamento e foco.
  1. atitude
    • Não se trata de ordem a ser cumprida, a linha de ação deve ser flexível e criativa
  2. planejamento - mesmo e GT é necessário certa planificação sobre o trabalho junto ao cliente, em prol da eficácia do trabalho, a fim de se conseguir lidar melhor com:
    •  a questão do tempo limitado
    • aos propósitos que se pretende atingir
    • aos caminhos que se pode seguir
    • as estratégias possíveis, ... 

3. foco

    • delimitação de objetivos em determinado período.
    • manutenção do foco
      • demanda alta atividade do terapeuta
      • e ênfase na intervenção 
Ribeiro apud Pinto (2016) aponta que o tempo não é critério para verificar dificuldade de mudança, mas sim, as complexas relações entre:
  • vontade e poder
  • percepção e aprendizado
  • etc
"A questão mestra da psicoterapia de curta duração não é o tempo em si, mas o que fazer, e como, dentro deste tempo." (Ribeiro)

Gestalt-terapia de curta duração e outras abordagens: aproximações e distanciamentos

Para Ribeiro (1999, p19-20) apud Pinto (2016) as Psicoterapias breves de curta duração englobam:
  • as psicoterapias breves
  • as psicoterapias de confronto
  • as psicoterapias de intervenções em crise
  • as psicoterapias de apoio
A ação do terapeuta nas psicoterapias de curta duração está  estreitamente vinculada:
  • à necessidade do cliente
  • à sua experiência imediata vivida.
Ribeiro (1999, p 136) apud Pinto (2016) define a GT de curta duração individual:
  • processo que envolve terapeuta e cliente  com a finalidade de encontrar soluções imediatas de situações de qualquer ordem vivenciadas como problemáticas para o cliente.
  • deve-se utilizar todos os recursos de tal modo que no mais curto espaço de tempo o cliente possa se sentir confortável para conduzir sozinho sua própria vida.
  • isso é possível quando este consegue atualizar seus potenciais, lidar de forma mais espontânea e presente com seu momento atual, ampliar os horizontes de futuro e confiar mais na exequibilidade de seus  projetos existenciais renovados no processo terapêutico.
"... Gestalt-terapia de curta duração como um método de atendimento psicoterápico fundamentado na abordagem gestáltica, o qual visa atender às demandas do cliente a partir dos limites e com propósitos diferentes daquele comumente praticado na Gestalt-terapia." (PINTO, 2016, p. 55)

Limites dizem respeito à:
  • delimitações quanto à abrangência da terapia
  • estratégias a serem adotadas
  • objetivos do processo terapêutico
  • temporalidade podendo destacar:
    • limite de duração da psicoterapia
    • limite das ambições terapêuticas, relacionado a determinação do foco.
  • estreitar limites é manter o foco.
Objetivos da GT de curta duração individual:
  • acompanhar o cliente me algumas mudanças da sua personalidade
  • facilitar e ampliar sua capacidade de discriminação em determinado tempo
  • rearrumar áreas específicas da personalidade
  • curar alguns sintomas relevantes que o atrapalham
  • encorajar a lidar com seu destino
  • ampliar sua autoaceitação em determinados aspectos
  • libertá-la de algumas e específicas correntes
  • facilitar a lidar com determinadas angústias
  • facilitar restaurar o contato com alguns aspectos de si e do seu mundo.
Maneira de trabalhar com a Gt de curta duração, segundo Pinto (2016):
  • nas primeiras sessões:
    • delimitar o tempo que terá para trabalhar
    • delimitar o foco de figura
    • delimitar o foco de fundo que são mais importantes
    • estabelecer  com "o que" e "como se quer e se pode lidar"
Os objetivos da psicoterapia de curta duração, segundo Pinto (2016):
  • pode ser útil para qualquer pessoa, desde que se estabeleçam objetivos limitados
  • pode ser útil para quaisquer quadros clínicos, com limitações inerentes a cada  caso
  • para cada pessoa e cada situação existencial existe uma possibilidade de ajuda, sempre limitada, de psicoterapia de curta duração. (Ex: paciente psicótico, em surto de drogas, o objetivo pode ser convencê-lo de sua patologia e aceitar um tratamento)
  • é o objetivo da psicoterapia de curto prazo que determina sua indicação e o terapeuta e cliente têm responsabilidade mútua no processo.
Objetivos específicos da Gestalt-terapia de curta duração:
  • retomada do equilíbrio pré-existente
    • demanda que traz o cliente ao consultório
    • queixa frequente de desejar voltar a ser o que era antes.
    • Desejo de não mudar, mas sarar.
    • percepção de que algo está errado o leva a buscar a psicoterapia
    • situações que levam a esse desconforto: crises no casamento, descuido do corpo e da saúde, desejo de mudanças profissionais, perda de alguns ideais,  sensação de não ter mais a mesma energia para tarefas cotidianas, mal-estar relacionado ao trabalho
    • para a Gestalt deve-se levar em consideração:
      • a impossibilidade de ser como antes;
      • o sucesso do processo psicoterapêutico esta na possibilidade de que o cliente tenha um novo equilíbrio, diferente do anterior, quiçá melhor que antes.
  • superação de crise recente
    • acontece após situações traumáticas, ou mais carregadas emocionalmente, como perdas recentes, graves ameaças à existência, sequestros, acidentes, mutilações, separações, novas responsabilidades profissionais e pessoais, etc
    • podem ter sido importantes derrotas ou vitórias,
    • essas situações geram desequilíbrio e instabilidade até que  o significado e o sentido do vivido ganhem novo equilíbrio.
    • para a Gestalt deve-se buscar um novo equilíbrio que deve ser melhor que o anterior, mais realista, baseado em um novo nível de awareness e de liberdade.
  • superação de sintomas
    • um dos principais motivos de busca  por uma psicoterapia de curta duração
    • casos de fobias, ansiedades, distúrbios alimentares, certos hábitos ou vícios danosos ao organismo, problemas sexuais, situações em que o cliente percebe que há algo errado em sua vida.
    • para a Gestalt superado o sintoma a pessoa emergirá  diferente, em novo todo, não apenas no velho todo sem o sintoma que antes incomodava. O objetivo não é apenas a cura do sintoma, é preciso escutar o que o sintoma tem a dizer, verificar as áreas da vida da pessoa e  seus potenciais, ajudando-a a cuidar melhor desses aspectos de si e de sua vida.Resolução e sintomas e maior consciência sobre si, geram  mudanças em outras áreas (efeito carambola)
  • facilitação de mudanças
    • a pessoa sente que precisa fazer algumas mudanças em seu jeito de ser e de lidar consigo e com o mundo.
    • geralmente, a busca pela psicoterapia vem através de uma dor ou queixa que evidenciam a necessidade de mudança, abertura para novos riscos e posturas.
    • para o Gestalt-terapeuta sua ação é ser o facilitador para essa mudança que o cliente busca. Deve encorajar o cliente a penetrar e tornar-se seja o que for o que ele estiver experimentando no momento.
    • olhar atento para a teoria paradoxal da mudança de Beisse (1977, p.110-2) apud Pinto (2016, p.62) segundo a qual " a mudança acorre quando uma pessoa se torna o que é, não quando tenta converte-se no que não é."
    • O cliente caminha para um novo modo de viver e de compreender a vida. Mais do que mudar, o cliente se transforma em uma outra pessoa.
  • melhorar o diálogo eu-mim
    • propõe a ampliação da consciência do cliente através do diálogo, ela conquista de uma maior auto-observação,
    • para a Gestalt seu objetivo deve ser amplia o campo de consciência do cliente através do diálogo eu-mim, isto é, ampliação da awareness. 
    • O terapeuta deve facilitar ao cliente  mais subsídios para que compreenda a si e ao mundo que habita de maneira mais profunda, para além, do senso comum. Facilitar ao cliente o acesso a correlações e percepções que o coloque em contato mais profundo com a complexidade de sua existência.
Referências: PINTO, Ênio Brito. Psicoterapia de Curta Duração na Abordagem gestáltica elementos para a prática clínica. 3 edição  Summus editorial. São Paulo, 2016.

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2022

A Gestalt-terapia -Reflexões e Práticas

 Psicoterapia de curta duração na abordagem gestáltica

Aspectos transversais da psicoterapia de curta duração

Influências sobre a Psicologia da GT - Fritz Perls

Sigmund Freud...

  • acreditava que a psicoterapia deveria ser de longa duração;
  • que demorava devido às resistências a serem vencidas - reação terapêutica negativa
  • seu caso "Homem dos Lobos" decidiu determinar o fim do tratamento, e não mais, considerar indeterminado.
  • após Segunda Guerra a Psicologia buscava mais desenvolver a psicometria ( classificação de reações e sintomas  e o relacionamento de traços e fatores de personalidade- quantificação da personalidade) ao invés da psicoterapia (desenvolver maneiras de intervir na vivência humana.
  • mais centrado nos conflitos da infantis
Adler...  
  • uma das maiores influências do casal Perls
    • concepção do estilo de vida e do eu criador apoiando a participação ativa e única de cada indivíduo, no curso de sua evolução pessoal (RIBEIRO, 1985, p.21)
    • ressaltou a importância da superfície da existência para os psicoterapeutas, o que segundo Ribeiro (1985) é para a Gestalt-terapia, "o plano do foco pré-ordenado, a própria essência do homem psicológico, sendo nesta superfície que existe a consciência dando à vida orientação e seu significado.
  • Acreditava que o homem cria a si mesmo.
  • psicanalítico de orientação prática
  • busca um trabalho analítico mais centrado no consciente do que no inconsciente
  • mais centrado nos conflitos atuais do que nos infantis
W. Steckel...
  • propôs uma técnica parecida com Adler
  • pretendia evitar a infantilização dos pacientes
  • acreditava que somente os tratamentos de curta duração  tinham possibilidade de sucesso.
Carl Jung...
  • buscava maior atividade do terapeuta, 
  • direcionava maior interesse pela situação atual do paciente
  • propôs...
    •  um trabalho face a face
    • diminuição da frequência das sessões
    • evitar a regressão do paciente durante o processo terapêutico.
Sandor Ferenczi...
  • dissidente de Freud
  • importantes teporicos da psicoterapia breve
Otto Rank...
  • defendia o conceito de will-therapy ( terapia da vontade)
  • critério de indicação de psicoterapia  de curta duração é a motivação para mudar.
  • um dos principais influenciadores de Perls, no que diz respeito a grande parte da orientação humanista da GT
  • acreditava que a primeira luta humana é aquela pela individuação pessoal, o que é uma preocupação central da GT também.
  • Ideia de resistência vista como criativa e facilitadora de uma nova organização pessoal, o que é capital para a GT, onde não se deve combater a resistência, mas trazê-la à consciência do cliente e respeitada como um limite do seu agora.
Frabz Alexander e Thomas M. French
  • defendiam a postura claramente ativa do psicoterapeuta, o qual deveria estar presente e atento ao específico de cada momento o processo terapêutico a fim de evitar regressões excessivas, que pudessem ampliar a resistência  e dependência do cliente, prolongando assim a psicoterapia.
  • Alexander 
    • buscava a mudança do paciente por meio da exposição, em circunstâncias favoráveis, a situações emocionais semelhantes àquelas que não pode resolver  adequadamente bem no passado.
    • defendia que a recuperação de lembranças reprimidas se devia a uma maior integração egóica derivada da revivência de situações conflitivas em um novo padrão relacional: relação eu-tu, terapeuta - cliente.
Estados Unidos (1950 em diante)
  • busca pela compreensão da dinâmica dos processos de ajustamento, em detrimento de descrições e rótulos buscados pelos testes psicológicos.
  • interesse maior pelos processos terapêuticos que pudessem ajudar as pessoas, como a psicoterapia psicodinâmica breve.
  • Clínica Tavistok ( Londres)
    • Michael Balunt propôs a psicoterapia focal para sua técnica, baseada face a face, na atitude ativa do terapeuta, o qual procura manter a focalização sobre os elementos da hipótese psicodinâmica de base.
  • Hospital geral de Massachusetts ( Boston)
    • Peter E. Sifneos, criou a psicoterapia breve provocadora de ansiedade. abordagem em que o paciente acolhe a dificuldade emocional que lhe parece prioritária; o terapeuta formula a hipóteses psicodinâmica com o fito de compreender os conflitos emocionais ligados àquela dificuldade
    • James Mann, psicanalista criou a psicoterapia de tempo limitado. chamou atenção para as vantagens disso, se aproximando mais de uma prescrição médica típica desejada pelo cliente em suas expectativas infantis.
Influências no Brasil
  •  Carls Rogers com o Aconselhamento Psicológico.
    • "o aconselhamento é um método de assistência psicológica destinado a restaurar no indivíduo suas condições de crescimento e de atualização, habilitando-o a perceber, sem distorções, a realidade que o cerca e a agir, nessa realidade, de forma a alcançar ampla satisfação pessoal e social." (SANTOS, 1982, p. 7 apud ROGERS)
    • Pode ser aplicado quando a pessoa apresenta problemas emocionais patológicos ou não,.
    • fundamenta-se numa relação permissiva, estruturada de maneira delimitada, dando oportunidade ao cliente de compreender-se, e por causa disso, comportar-se sob novas perspectivas, baseada na reorganização de seu campo perceptual.
  • Rollo Mayum dos mais importantes teóricos do aconselhamento psicológico, e muitos outros teóricos.
  • Jorge Ribeiro Ponciano (1999)
    • criou o nome "Gestalt-terapia de curta duração".
Referências: PINTO, Ênio Brito. Psicoterapia de Curta Duração na Abordagem gestáltica elementos para a prática clínica. 3 edição  Summus editorial. São Paulo, 2016.

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2022

Pontos relevantes sobre a Gestalt-terapia de curta duração

A Gestalt-terapia de curta duração...
  • Demanda crescente por trabalhos terapêuticos que sejam úteis em um tempo relativamente curto.
  •  Atende demandas específicas, focadas em determinado objetivo.
  • Minimiza tempo e custo para o cliente.
  • se aplica a psicoterapia individual e de grupo.
  • se caracteriza por uma série de procedimentos e posturas bastante peculiares.
  • Tem como propriedades especiais:
    • Modelo eitológico
    • As relações entre psicopatologia, comportamentos e ajustamentos.
    • A atitude e a abordagem que o terapeuta utiliza para interagir com o cliente.
    • Necessita de um fundamento da teoria da personalidade, o que vai ajudar o cliente no autoconhecimento.
    • Deixa a sensação de incompletude.
A Gestalt-terapia enquanto teoria de personalidade e de psicoterapia...
  • Terceira força da Psicologia ou Corrente Humanista
  • Esta fundamentada em compreender o ser humano como:
    • uma totalidade integrada, 
    • uma unidade indivíduo-meio 
    • uma unidade de passado, presente e futuro, onde o "aqui e agora" é o tempo e o lugar onde as mudanças podem ocorrer.
  • Busca atenção aos processos a partir das relações que se estabelecem e não com as coisas mesmas. O que mais importa é o modo como a pessoa se relaciona com o objeto.
  • Sua dinâmica acontece sempre em determinado momento da vida da pessoa.
  • É mais importante "o como" do que o "o quê" e o "por quê".
  • Procura entender o ser humano como um ser em relação consigo e com o mundo que o rodeia, com suas possibilidades e potencialidades existenciais.
  • Um todo animo-biopsicossocial.

A Ótica da Gestalt-terapia...
  •  O Gestalt-terapeuta é um ser humano em consciência e em interação: para ele não existe uma "clienticidade" pura.
  • O cliente está se relacionando com a sua cena social, procurando crescer através da integração de todos os seus aspectos.
  • Correntes filosóficas ou psicoterápicas da GT:
    • Psicologia Existencial
      • compreendendo o ser humano como possuidor de si, libre e responsável, capaz de ampliar sua consciência de s e de seu mundo de acordo com sua vivencia imediata e com a confiança na extensão dessa vivencia para o futuro
      • Crer sobretudo, na possibilidade humana de liberdade, de responsabilidade e escolha.
      • Acredita no homem com poder sobre si e sua existência.
      • filosofia do dualismo: essência e substância; corpo e alma.
    • Psicologia Fenomenológica
    • Psicologia Humanista, com ênfase no belo, no positivo do ser humano, no criativo que é transformador, convidando a pessoa a tomar consciência de suas potencialidades e se apropriar disso.
    • Psicanálise Freudiana e alguns discípulos
      • Perls e laura foram a princípio psicanalistas.
      • Respeito às diferenças e constante aprendizagem mútua.
    • Os trabalhos de Martin Buber com sua filosofia dialógica. Acreditava que a civilização moderna, não valorizava os aspectos relacionais da vida e com isso, ampliou o espaço para o narcisismo e para o isolamento do ser humano. Essa relação do inter-humano está presente no diálogo e dá sentido a ele, especialmente no fundamento relacional da existência humana. valorização do "entre" lugar onde acontece entre os homens.
    • Trabalhos de Kurt Lewin  com a Teoria de Campo
      • O ser humano é responsável por seu destino e por sua liberdade, ele existe por conta própria, de modo que é possível acessar e explicar o comportamento humano tal qual ele se dá, sem a necessidade de metáforas, com base no sujeito e no meio no qual acontece, no momento em que ocorre. (RIBEIRO,1999, P.58 apud PINTO, 2016)
    • Trabalhos de Perls
      • preocupação com as relações entre a pessoa e o ambiente em que vive
      • procura compreender o ser humano por meio de uma sensível articulação entre os aspectos biológicos, espirituais, psicológicos e socioculturais presentes na vida humana.
    • Trabalhos de Reich
      • junto a Perls levanta a ideia da importância do corpo humano como totalidade, como manifestação humana e como história sempre reescrita
      • destaca que o ser humano sempre busca a sensação, o orgasmo, a riqueza da auto expressão imediata e não distorcida.
      • destaca a relação entre lembranças e afetos que acompanham essas lembranças.
      • fundamenta-se na influencia do Reich  o trabalho gestáltico com as frustrações.
    • Psicologia da Gestalt
      • acredita que as pessoas podem organizar seu campo de existência em necessidades suficientemente bem definidas, que servem de referência quando organizam seu comportamento
      • traz o conceito de pregnância ou boa forma.
      • a diferenciação entre o meio comportamental e o meio geográfico
      • o ser humano como um todo a ser compreendido-Holismo
      • tem como valores relevantes a singularidade do ser humano e a responsabilidade de cada pessoa perante si, seu tempo e seu mundo.
    • Teoria organísmica de Goldstein
      • refere-se ao ser humano como organismo, uma concepção que não admite a dicotomia corpo-mente.
      • tem a vida como um processo de contínuo aprendizado que possibilita a esse ser humano, na medida em que se apropria de conhecimentos sobre si e sobre o mundo, o movimento de ininterruptamente se auto atualizar, em busca do equilíbrio como sinônimo de saúde.
      • A visão do homem como totalidade

      • Aspectos do Taoísmo 
        • traz aspectos relacionados ao vazio fértil, o abandono de si, como melhor modo de ser criativo.
        • paradoxo de que "somente quando a pessoa se esvazia, ela pode se preencher"
      • Aspectos do Zen-Budismo
        • influência do pensamento oriental, em busca da ampliação da consciência e abertura para a sabedoria.
        • Visão do homem como totalidade
        • Possibilidade de contínua transformação do ser humano ao longo da vida, fruto da desapegada abertura ao novo.
    Atitude fenomenológica-existencial...

    • Ponto em que se fundamenta a concepção de homem na abordagem gestáltica
    • tem suas bases...
      • no homem em relação
      • na sua forma de estar no mundo
      • na radical escolha de sua existência no tempo
      • sem escamotear a dor, o conflito, a contradição, o impasse
      • encarando o vazio, a culpa, a angústia, a morte 
      • incessante busca de se achar e transcender
    • entende a consciência...
      • como consciência de alguma coisa
      • voltada para um objeto, o qual, seja um objeto voltado para a consciência
      • como meio de perceber como a pessoa produz sentido a cada fenômeno
    • Conceitos 
      • de Campo..."a totalidade dos fatos coexistentes, em dado momento, e concebido em termos de mútua interdependência, cuja significação depende da percepção dessa correlação entre sujeito e objeto." (RIBEIRO, 1999, P.57 apud PINTO, 2016)
      • awareness... capacidade de aperceber-se do que se passa dentro e fora de si no momento presente, tanto em nível corporal quanto em nível mental e emocional. Segundo Cardella (1994,p,68 apud Pinto, 2016) "é o processo de estar em vigilante contato com o evento mais importante no campo indivíduo/meio, com suporte sensório-motor, cognitivo, emocional e energético. É o experienciar e saber o que (e como) estou fazendo agora".
    Segundo Hyener (1997, p.29 apud PINTO, 2016)...

    "aquilo que nos une como seres humanos não é, necessariamente, o visível e o palpável, mas sim, a dimensão invisível e impalpável "entre" nós. É o Espírito Humano que permeia qualquer interação nossa. É o "fundo numinoso" que nos envolve e interpenetra. A partir dele emergem nossa singularidade e individualidade, tornando-se figura. É a fonte da cura."



    Referências: PINTO,Ênio Brito. Psicoterapia de Curta Duração na Abordagem gestáltica elementos para a prática clínica. 3 edição  Summus editorial. São paulo, 2016.

    terça-feira, 15 de fevereiro de 2022

    Gestalt-terapia: fundamentos epistemológicos e influências filosóficas: 1


    Leitura leve, que pode te auxiliar profissionalmente enquanto psicólogo(a) e ainda, pessoalmente, enquanto ser humano.

    Eu recomendo demais a leitura desse primeiro livro da Coleção Gestalt-terapia de Lilian Meyer Frazão e Karina Okajima Fukumitsu, para aquelas pessoas que pretendem ingressar nesse universo Gestalt-terapêutico. 

    Esse primeiro volume apresenta nove capítulos com as bases filosóficas, a fenomenologia-existencialista, as bases teóricas humanistas, teoria de campo e organísmica e o pensamento oriental que permitirá o psicólogo olhar o indivíduo integralmente, perspectiva da Psicologia da Gestalt.

    Para adquirir o seu exemplar acesse o link abaixo!

    sexta-feira, 4 de fevereiro de 2022

    Referencial Teórico-Metodológico

    •  toma como modelo metodológico a fenomenologia social, assim como proposta por Peter Berger (Berger et al. 1979; Berger, 1994 e Berger & Luckmann, 1996) e Alfred Schutz (1972, 1974 e em Wagner, 1979), pela possibilidade que esta nos oferece de acesso e compreensão simultâneos da experiência humana individual e social, subjetiva e intersubjetiva, pessoal e coletiva.
    • O fenômeno...
      •  é aquilo que se mostra. Isso comporta uma afirmação tríplice: 
        • 1º - existe uma coisa; 
        • 2º - esta coisa se mostra; 
        • 3º - isto é um fenômeno pelo próprio fato de se mostrar. 
      • Acontece que o fato de se mostrar interessa tanto àquilo que se mostra, como àquele a quem é mostrado. ( Leeuw, 1970 p. 674). 
      • A realidade só pode ser conhecida se existir alguém.
      • a realidade aparece sempre para nós como realidade-apreendida-por-alguém, ou seja, fenômeno.
      • O fenômeno, portanto, não é nem a realidade em si mesma (a coisa em si mesma, objetiva por si mesma) nem uma criação subjetiva.
      • É justamente aquilo que se constitui quando me dirijo para essa coisa exterior a mim, que se mostra a mim, e que por isto só pode ser conhecida na sua relação comigo. Para a fenomenologia (Dartigues, 1973; Giles, 1975; Husserl, 1996; Zilles, 1994) o que me permite entrar em contato com a realidade, por meio dos fenômenos, é a consciência.
    A consciência...
    • apresenta certas características que determinam nossa maneira de conhecer a realidade. 
    • A característica fundamental da consciência é a intencionalidade. 
    • A intencionalidade é justamente a capacidade da  consciência de se dirigir para as coisas, de se dirigir para aquilo que se mostra. 
    •  Ao nos dirigirmos para o que se mostra apreendemos aquela realidade de uma maneira humana. 
    • Por meio dos fenômenos apreendemos aspectos desta, a conhecemos, parcial e progressivamente.
    • o conhecimento que vamos ter do fenômeno depende da maneira como o visamos.
    A fenomenologia aponta então para uma ontologia regional...
    • implica na realidade  mais ampla do que aquilo que conhecemos dela. 
    • No intuito de aproximar melhor da essência de qualquer coisa, da essência do fenômeno que visamos, torna-se necessário, então, buscar conhecer como outras pessoas, outras consciências, visaram aquele mesmo fenômeno, ou seja, como aquele fenômeno se constituiu para essas outras pessoas. 
    • recolhendo visadas diferentes do mesmo fenômeno podemos conhecê-lo melhor, aproximando-nos de sua essência.
    •  cada um tem seu próprio jeito de se relacionar com o fenômeno e de se preocupar ou não em conhecê-lo mais.
    Nossas experiências passadas e a cultura à qual pertencemos também vão formar a compreensão que temos de um dado fenômeno. 
    • O horizonte no qual estamos inseridos influi na nossa apreensão da realidade, porque nascemos em um mundo com o qual não temos apenas um contato direto, mas também um contato por intermédio do que outras pessoas já constituíram, significaram e conheceram deste mundo.
    •  Aqui se apresenta a importância da intersubjetividade para o conhecimento da realidade
      • não aprendemos somente por meio de nossas experiências diretas com a realidade, mas também com as experiências que outras pessoas tiveram com esta. 
      • A ideia que temos de um objeto depende então das diferentes perspectivas pelas quais já o visamos, incluídas nestas as perspectivas que pudemos visar a partir do que aprendemos com a experiência de outras pessoas. 
      • O que torna um grupo de pessoas um grupo cultural distinto de outro é justamente a maneira específica pela qual este grupo aprendeu a compreender e a manipular a realidade. 
      • Este conhecimento do mundo é passado adiante para as novas gerações que podem modificá-lo ou não, dependendo de como o conhecimento obtido é de fato eficiente para lidar com a realidade. 
      • Assim, culturas diferentes podem compreender aspectos da realidade de maneiras mais eficientes ou menos eficientes, mais precisas ou menos precisas, mais completas ou menos completas, de acordo com seus interesses, possibilidades e necessidades. 
      • Isso acontece justamente porque cada aspecto da realidade que uma dada cultura conhece pode ter sido apreendido de maneira diferente daquela que outra cultura utilizou para apreender o mesmo aspecto.

    Husserl (1996) denominou de mundo-da-vida este mundo da vida cotidiana, pré-científico, pré-reflexivo e intuitivo, mundo da vida prática
    • O mundo-da-vida não é somente o conjunto das coisas físicas, mas é constituído por toda a bagagem de experiências vivenciais que cada ser humano possui e compartilha com o grupo ao qual pertence. Na verdade, representa a totalidade do mundo físico, intelectual e cultural no qual estamos mergulhados e que reconhecemos mais ou menos de forma consciente como sendo o nosso mundo. (Bello, 1998: 38)
    • o sujeito inserido no mundo-da-vida é um sujeito inserido em um mundo de fenômenos já apreendidos pela sua consciência
    • é um sujeito inserido em um mundo de coisas que ele, até um certo ponto, já conhece. 
    • A importância do mundo-da-vida para o sujeito é justamente a de possibilitar-lhe estar presente na realidade, ao organizá-la de maneira que esta não seja caótica demais.
    •  O mundo-da-vida é a realidade ordenada que dá sentido à nossa vida (Berger et al., 1979)
    • O mundo-da-vida é formulado a partir de significados compartilhados coletivamente. 
    • Sujeitos que compreendem a realidade de maneira similar são, assim, habitantes do mesmo mundo-da-vida. Outros sujeitos que a compreendam de outra maneira habitam outro mundo-da-vida. 
    • O que vai fazer com que uma cultura ou outra mantenha ou não sua maneira de compreender e atuar frente à realidade é a capacidade que os instrumentos e significados culturais presentes nesta tenham de, no concreto da vida, ser suficientemente eficientes para dar conta da realidade, e a capacidade destes serem mantidos coletivamente.

    Psicologia Social Fenomenológica

     A Fenomenologia...

    • é a resposta encontrada por Edmund Husserl, na primeira década do século XX para compreender como nós, humanos, podemos conhecer uma realidade que é exterior a nós e que é diferente de nós, chegando a um conhecimento absoluto do que estamos conhecendo?
    •  para chegarmos aos fundamentos verdadeiros do  conhecimento, nos questionarmos primeiro sobre como concebemos este mundo, inclusive porque esta concepção é um conhecimento. Assim começa a crítica de Husserl a este tipo de ciência: ela seria incapaz de alcançar aquilo a que se propõe, que é conhecer de fato a natureza, pois depende de algo anterior, mais radical, inclusive para que possa existir. 
    • Ao reduzir o todo às partes, por exemplo, perde-se o todo, cujas propriedades são diferentes. 
    • Para adaptar o mundo ao método científico fazemos as coisas deixarem de ser o que são para nós.
    •  O mundo como aparece na nossa experiência cotidiana, ou como o chama Husserl, o mundo-da-vida (ver abaixo) é transformado e colocado em oposição ao mundo físico, que seria na lógica objetiva, o verdadeiro mundo.
    • Husserl propõe então a fenomenologia, buscando uma filosofia sem pressuposições. Mas como isto seria possível? Através do retorno à consciência que temos das nossas próprias experiências e da consciência que temos de ter uma consciência.
    • A realidade “eu penso” é inegável. O trabalho da fenomenologia, a possibilidade de uma ciência verdadeira seria então partir desta consciência para conhecer o mundo
    • Na verdade, sem a consciência, não perceberíamos nada do mundo; o mundo não existiria para nós e não o conheceríamos.
    •  Husserl não está negando a existência de um mundo real, mas afirmando que as coisas deste mundo só existem para mim e tem significado porque minha consciência se dirige a estas. Aqui surge uma noção fundamental da fenomenologia, que é a noção de intencionalidade, que permite a integração sujeito-objeto.  
    Noções Fundamentais...

    1. A Intencionalidade 
    •  A consciência é sempre ‘consciência de’, é sempre uma consciência que se dirige para as coisas. 
    • é uma estrutura básica da consciência que possibilita a relação entre esta e o objeto, entre o sujeito e o mundo.
    • Através dela doamos ativamente sentido ao mundo, que supera a si mesmo enquanto coisa, transcendendo sua existência real, justamente por ser apreendido em sua relação com a consciência. O mundo é então, para nós, fenômeno, assim como tudo mais. 
    • A própria consciência é para nós um fenômeno e não uma coisa. 
    •  Sujeito e objetos ficam inseparáveis. Sem qualquer um destes a consciência e o mundo seriam incompreensíveis (Gilles, 1975). 
    • Nessa perspectiva já não interessa mais saber o quanto nossa visão do mundo é verdadeira ou falsa, ou seja, corresponde ou não ao mundo real, fora de nós.
    •  O mundo que nos interessa é o mundo enquanto fenômeno, intencionado, pois se é este o mundo com o qual temos contato, é ele que precisamos conhecer. 
     2. O critério de verdade 
    •  Se, como coloca Gilles (1975:145), “...descobrirmos a realidade como esta se apresenta para nós humanos, aonde esta se encontra, ou seja, na nossa consciência intencional, chegando à essência da maneira humana de dar significado às coisas e conhecer seu mundo, conhecemos a realidade de uma forma totalmente verdadeira, suficiente e necessária para nós.” 
    • Ou seja, atingimos os critérios necessários para uma verdadeira ciência, chegamos a um conhecimento absoluto.
    •  Teremos uma descrição pura. É o retorno às coisas mesmas, ou seja, às coisas intencionadas, os fenômenos, pois são estes que têm sentido para nós.
    • Diferentemente da lógica objetiva ou naturalista não nos fundamentamos no a priori universal que é o mundo-da-vida mas partimos de algo mais radical que o possibilita. 

     3. A ontologia regional 
    •  Podemos considerar a consciência como lidando com os objetos empiricamente mas também a consciência como algo anterior, transcendental, que constitui estes objetos.
    •  Aqui cabe distinguir noesis e noemas. 
      • As noesis são os atos com os quais a consciência visa algo, através da intencionalidade. Estes atos são a percepção, a imaginação, a especulação, dentre outros. O que é visado por estes atos são os noemas. 
      • “No nível empírico, as noesis são atos psicológicos e individuais para conhecer um significado independente deles. 
      • No nível transcendental, as noesis são os atos do sujeito constituinte que cria os noemas enquanto puras idealidades ou significações. 
      • As noesis empíricas são passivas pois visam uma significação pré-existente; 
      • as noesis transcendentais são ativas porque constituem as próprias significações ideais (Chauí, 1991)”. 
      • Assim sendo, quando o psicólogo naturalista reduz a ideia de um objeto à associação de percepções e sensações, ele está confundindo noema e noesis. Confunde os atos empíricos que o sujeito realiza para alcançar tal ideia com a própria ideia. 
      • Um noema qualquer, como por exemplo um cubo, pode ser visado por noesis diferentes, como pela percepção ou pela imaginação. 
      • Cada ato intencional vai me revelar uma parte da realidade deste cubo, uma região do ser deste. E o sentido que vou atribuir a este objeto, vai depender de como este foi visado. 
    • A fenomenologia é então uma ontologia regional pois o ser é estruturado diferentemente, de acordo com a maneira pela qual é visado pela consciência. 
    •  Viso cada objeto de maneira diferente, de acordo com o contexto ou horizonte no qual este se encontra, e também porque este objeto se apresenta a nós com suas características próprias, sua essência, que o faz diferente dos outros, único, reconhecível como aquele objeto e não como um outro. 
    • Podemos dizer que a ideia que temos de um objeto sintetiza as diferentes perspectivas que já visei deste. 
    • Na atitude natural nós acreditamos que esta ideia é idêntica ao objeto. Ele aparece para nós como algo total e fechado, o que permite sua imanência na nossa consciência. Mas este objeto, justamente por poder ser visado por outras noesis, tem sempre algo de inacabado e de desconhecido. 
    • Se podemos perceber uma mesma coisa de maneiras diferentes, a percepção, neste sentido, é sempre incompleta. Mas já que cada percepção tem o seu horizonte aperceptivo ou seja, é completada por nós com outros conteúdos que já apreendemos ou por pistas do contexto, sempre temos uma noção do objeto, da realidade, do nosso mundo, que é para nós total e completa, até que algo em nossa vivência do mundo venha nos mostrar outras perspectivas ou colocar em cheque nosso conhecimento deste mundo. 
    •  A fenomenologia, para chegar ao conhecimento do mundo, da essência dos fenômenos, parte do nosso mundo cotidiano de experiências, ou mundo-da-vida e o questiona através de uma redução bem diferente daquela do reducionismo mecanicista, que é chamada de redução fenomenológica da qual trataremos mais adiante. 
    4. A atitude natural e o mundo da vida 
    • Como dissemos, Husserl parte da nossa própria experiência de existir, da evidência de que temos consciência de nós pelo próprio fluxo da nossa consciência, do qual não podemos duvidar (e mesmo se duvidarmos ainda assim estaremos ‘sendo’, teremos evidência, pois estaremos pensando) para construir uma ciência verdadeira.
    •  É a partir do estudo da nossa experiência cotidiana e do trabalho que nossa consciência faz para nos possibilitar lidar com o mundo, através da intencionalidade, que podemos conhecer o mundo enquanto mundo que faz sentido para nós.
    •  Mas quando estamos no nosso dia-a-dia, não ficamos pensando na nossa consciência como doadora de sentido ou questionando os objetos para encontrarmos sua essência. Admitimos o mundo como se apresenta a nós. Acordamos, trabalhamos, estudamos, namoramos, agimos como agimos porque agimos... Vivemos na chamada atitude natural, que é pragmática, utilitária e supostamente realista (Wagner, 1979). 
    • Vivemos em um mundo intuitivo cuja realidade, como aponta Berger (1979) é ordenada e dá sentido à nossa existência. É o mundo-da-vida, onde lidamos com pessoas, com nossos interesses, onde realizamos planos e temos nossas experiências cotidianas. 
    •  O mundo-da-vida é o mundo da cultura e o mundo da intersubjetividade. 
     5. A intersubjetividade e a cultura 
    •  O mundo-da-vida é um mundo ao mesmo tempo pessoal e coletivo. É um mundo que compartilho com os meus semelhantes. 
    • Ao nascer já entro em contato com um mundo que existia antes de mim, cujos habitantes, em sua história, desenvolveram seu modo particular de manipular a realidade e construíram nesta um certo sentido para sua existência, sentido este que os orienta em relação a seus projetos, dá finalidade a seus objetos e se relaciona com o significado dado a vários fenômenos com os quais convivem. Entro em contato com um mundo que já é um mundo da cultura. 
    • Minha consciência, ao trabalhar para constituir o mundo para mim, apreende esta cultura, através da intencionalidade e não mecanicamente. 
    • “O indivíduo faz esforços para compreender este mundo e como foi preestruturado cognitivamente” (Wagner, 1979) e utiliza este conhecimento para continuar se relacionando com o mundo. 
    •  “Essa visão do mundo contém não só a interpretação mais geral do lugar da comunidade entre outras comunidades humanas, e com relação aos reinos da natureza, do cosmo e do sobrenatural, como também a dos muitos costumes e normas que regulam a conduta humana e mais as muitas receitas de comportamento prático nos campos sociais e também nos técnicos.” 
    • Essa cultura passa a ter para mim um significado. E se torna então uma cultura compartilhada, constituída por minhas experiências vivenciais e também pelas experiências vivenciais do meu grupo, o que Husserl chamou de mundo circunstante. Cada cultura é uma cultura diferente da outra pois tem um mundo-da-vida que lhe é próprio. 
    • Podemos encontrar as especificidades de cada cultura, a estrutura global de significação que a fundamenta e é compartilhada por seus membros, ou então localizar estruturas semelhantes em culturas diferentes, sendo que as duas maneiras se complementam para que possamos compreender o mundo-da-vida na sua essencialidade.
    •  Constituo então, o meu mundo-da-vida, através do “...intercâmbio entre a pluralidade de constituições dos vários sujeitos existentes no mundo, realizado através do encontro que se estabelece entre eles.” (Husserl, citado por Gilles, 1975) 
    •  Reconhecemos o outro pelos seus movimentos, pelos sons de sua fala, pela sua semelhança com a percepção que temos de nós mesmo. 
    • A intersubjetividade
      •  se torna então algo fundamental para o meu próprio contato com o mundo. 
      • o contato com o outro, o compartilhar uma visão comum do mundo é possível pela significação coletiva atribuída ao mundo, mantida na história deste grupo e retomada por cada novo membro. É assim que se criam e se mantêm as tradições. 
      • A tradição tem seu sentido resinificado no presente, o que diminui a distância entre passado e o presente.
      •  Duas pessoas nunca vivenciam uma situação de uma mesma forma porque cada uma vive em sua própria situação histórica determinada. 
    • Cada situação com a qual nos deparamos está inserida em um contexto histórico e é me aparece com um sentido ‘x’ ou ‘y’ justamente porque minha maneira de constituir o mundo me faz vê-la assim. 
    • O presente depende do passado, pois é este que me coloca no presente e me permite lidar com ele, mas também depende do futuro, pois visando alcançar um certo futuro, um objetivo, também oriento minhas ações presentes. Mesmo o que planejo para o futuro depende de meu passado. Assim nossa experiência vai sempre estar inserida em um horizonte, que se estende ao passado e ao futuro. 
    •  Como diz Ricouer, o horizonte de espera: “...inclui a esperança, o medo, o desejo e o querer, a preocupação, o cálculo racional, a curiosidade, todas as manifestações privadas ou comuns que miram o futuro.
    •  A experiência de espera em relação ao futuro está inscrita no presente. É o futuro feito presente.”. (Ricouer, 1995:941) Os acontecimentos do passado não são simples fatos. Fazem parte de uma vivência que tem um significado e é esta vivência, com seu sentido, que determina o presente e o futuro. 
    •  Nos orientamos no mundo “...a partir da experiência que armazenamos e do estoque de conhecimentos que temos à mão” (Wagner, 1979). O mundo-da-vida é então coerente e me permite lidar com a realidade até que surjam contradições neste estoque. Quando estas se evidenciam me mobilizo para diminuí-las, eliminando-as ou ampliando meu mundo-da-vida para abarcá-las. 
    • A atitude natural é tipificada e nela nosso conhecimento dos objetos é parcial. Para chegarmos a essência destes precisamos refletir sobre este conhecimento. A fenomenologia faz isto através da redução fenomenológica.
    6. Redução fenomenológica eidética e transcendental
    •  A redução fenomenológica, ou epoquê, e o recurso da fenomenologia para chegar ao fenômeno como tal ou à sua essência. 
    • Ela é uma suspensão da tese natural do mundo. 
    • É a colocação da existência efetiva do mundo exterior ou do entendimento do fenômeno dado pelo mundo da vida entre parênteses. Nos voltamos para o fenômeno deixando de lado qualquer concepção anterior que possamos ter sobre este, como preconceitos, na tentativa de compreendê-lo assim como é.
    • Podemos diferenciar dois tipos de redução fenomenológica: a eidética e a transcendental. 
    •  Na redução eidética...
      •  buscamos o significado ou a essência do objeto que estudamos.
      •  Podemos buscar por exemplo a essência do fenômeno amizade, a essência do que seja um livro, a essência do que vem a ser o psíquico, a essência de uma cultura, ou seja, a estrutura de sentido a partir do qual esta se constitui.
      •  É uma redução voltada para os objetos já intencionados pela consciência. 
    •  Na redução transcendental...
      •  visamos a essência da própria consciência e de seus atos, enquanto consciência que constitui o mundo. 
      • E enquanto consciência que se percebe, ou melhor, se constitui enquanto consciência. “Mediante sucessivas reduções, manifesta-se a intencionalidade psicológica com seus objetos, a intencionalidade transcendental, que pensa o mundo e o sentido do mundo, e, por fim, a intencionalidade criadora (idêntica ao movimento de redução), que faz o mundo aparecer” (pensadores). 
    REFERENCIAS:
    MONOGRAFIA: PSICOLOGIA SOCIAL FENOMENOLÓGICA: UM CAMINHO PARA O CONHECIMENTO RIGOROSO DAS RELAÇÕES ENTRE OS HOMENS E DESTES COM O MUNDO DANIEL MARINHO DRUMMOND