sábado, 30 de novembro de 2019

Segunda Conferência, Londres -1935 - Fundamentos da Psicologia Analítica- Carl G. Jung

Considerações feitas por Jung na Primeira Conferência de Tavistock, Londres, 1935: estrutura da mente.


Jung explicou a existência dos processos inconscientes, que é parte da estrutura da mente, chamando atenção para o inconsciente, como esfera obscura, de natureza inatingível, porém, inferindo que existe uma fonte que o produz.

Falou sobre as três fontes dos conteúdos da consciência:
  • Conteúdos ectopsíquicos da consciência, que deriva do ambiente e são recebidos através dos sentidos. 
  • Conteúdos Endopsíquicos.  constituído da memória e dos processos de julgamento dos quais derivam também, os conteúdos ectopsíquicos. 
  • Conteúdos conscientes que seria o lado obscuro da mente, ou seja, o mundo inconsciente. O inconsciente se comunica com os conteúdos edopsíquicos, pois não se encontram sob o domínio da vontade.
Jung classificou os elementos do inconsciente em duas espécies:
  • MENTE SUBCONSCIENTE OU INCONSCIENTE PESSOAL : a primeira com material reconhecível,de origem definidamente pessoal, e diz respeito as aquisições do indivíduo ou produtos de processos instintivos da personalidade do sujeito. Há ainda os conteúdos esquecidos ou reprimidos,mais os dados criativos.  Ele chama atenção para o fato de que algumas pessoas  tem consciência das coisas, e outras não.
  • INCONSCIENTE COLETIVO OU IMPESSOAL: A parte que é totalmente desconhecida, e que "não pode" ser atribuída às aquisições individuais. Tem caráter mítico, e parece pertencer a humanidade em geral, e não à psique individual. Por serem fatores não adquiridos pelo indivíduo, tem natureza coletiva.

Os padrões de ARQUÉTIPOS, oriundos do inconsciente coletivo ou impessoal, são agrupamento de caracteres arcaicos que, em forma e significado, encerra motivos mitológicos, e surgem através dos contos de fadas, mitos, lendas e folclore.

Jung afirma que há padrões mitológicos nas camadas do inconsciente, que produz elementos impossíveis de serem considerados individuais, sobretudo, quando fica claro que se trata de natureza psíquica totalmente oposta do indivíduo.

Os sonhos trazem símbolos tremendamente profundos, onde se pode notar por exemplo, que uma pessoa sem cultura produz um sonho sofisticado, uma criança que possui sonhos mais complexos. Para explicar isso, Jung afirmou que nossa mente tem uma história, que a mente inconsciente , bem como, o corpo humano, é um depositário de relíquias e memórias do passado. Não tem a ver com misticismo, embora não se possa demonstrar claramente, sobre o inconsciente. Porém, é certo que, embora a criança não nasça consciente, sua MENTE não é uma tabula rasa, já se nasce com uma interioridade definida, e cada mente de criança tem a sua singularidade. O CÉREBRO, nasce com uma estrutura acabada com a função de fazer o indivíduo funcionar ou se inserir no mundo de hoje.

Jung relata que a camada mais profunda do inconsciente que conseguiu atingir, é aquele em que o sujeito perde a sua individualidade particular, e sua mente mergulha na mente da humanidade - não na consciência - mas o inconsciente onde ele afirma que "todos somos iguais." A esse nível, não somos singulares, mas somos um. A Psicologia primitiva explica isso quando afirma que a mentalidade primitiva é a falta de diferenciação entre os indivíduos.

Jung apresentou o seguinte diagrama:




Partindo a suposição de que a nossa esfera mental se parecesse com um globo, de onde ele conclui que são as funções ectopsíquicas:

PRIMEIRA ESFERA

  • A forma como as pessoas se manifesta, depende de seu tipo. Por exemplo, pessoas racionais manifestam-se pelo pesamento.
  • A sensação em região periférica possibilita receber impressões do mundo externo.
  • Surge em seguida o sentimento, e por fim, tem-se uma certa consciência do destino das coisas percebidas.
  • Através da intuição, pode-se ver o que está escondido nos cantos
SEGUNDA ESFERA
  • Representa o complexo consciente do ego.
  • Na endopsique surge a memória, que pode ser controlada pela vontade.
  • Componentes subjetivos das funções, nem sempre é controlado pela memória, pode ser suprimida, excluída ou intensificada pela força de vontade.
  • Afetos e invasões, controláveis pela força sobre humana, fatores mais fortes que o complexo do ego.
Jung explica que o diagrama é um sistema psíquico precário, mas que demonstra uma escala de valores, que vai decrescendo na medida em que vai se aproximando da escuridão.

O inconsciente coletivo nos diz que embora sejamos diferentes, negros, chinês ou qualquer outro homem no mundo, somos seres humanos da mesma raça que todos os homens, Temos os mesmos arquétipo, assim como, possuímos todos os órgãos do corpo físico.


Para abordar a face obscura da mente humana, Jung se utiliza de três métodos:

  • Teste de associação de palavras - uma lista de 100 palavras, pede-se para que a pessoa reaja com a primeira palavra que lhe venha a mente, e o mais rápido possível, após ter ouvido e entendido a palavra estímulo.Marca-se o tempo de cada resposta em cronômetro.  Terminadas as 100 palavras, repete-se as palavras estímulo, e pede-se para a pessoa repetir as suas respostas anteriores. As palavras erradas ou incertas são de grande importância, onde a memória falha.  O erro pode indicar que a palavra atingiu um complexo,sentimentos dolorosos ou estranhos, normalmente inacessíveis exteriormente. O que Jung afirma ser o caminho para a camada obscura.Ocorrerá aí um distúrbio na reação, que Jung afirma existirem 12 ou mais desses distúrbios. dentre alguns dos distúrbios estão: reagir com mais de uma palavra, contrariando as instruções; engano na reprodução das palavras; reação traduzida por expressão facial; riso, movimento das mãos, dos pés ou do corpo; tosse, gaguejar; reações insuficientemente expressas por respostas do tipo "sim" e "não"; não reação ao verdadeiro estímulo da palavra; repetição das mesmas palavras; uso de língua estrangeira, etc.  Respostas que para Jung estão fora do domínio da vontade. 
  • Análise de sonhos 
  • Imaginação ativa
Ainda sobre o inconsciente Jung afirmar que as coisas inconscientes são muito relativas, pois, quando se está inconsciente, esse estado é por si só, relativo. Para determinar o que se é consciente ou inconsciente é preciso perguntará pessoa, pois não há outro critério.


Ao contrário de Freud, que vê os processos mentais como fatores estáticos,  Jung pensa em dinâmica e relacionamento, e considera tudo relativo. Não há nada definitivamente inconsciente. Podem-se ter as mais diferentes idéias quanto ao fato de uma coisa ser desconhecida num aspecto e conhecida noutro, exceto sobre a base mitológica, que é profundamente inconsciente.

quarta-feira, 27 de novembro de 2019

Primeira Conferência, Londres -1935 - Fundamentos da Psicologia Analítica- Carl G. Jung


Considerações feitas por Jung na Primeira Conferência de Tavistock, Londres, 1935: funções da psique humana - sentimento, pensamento, intuição e sensação.

Jung tinha o propósito de traçar um breve esboço de certos conceitos fundamentais da psicologia. Ele parte da ideia de que o processo em que se daria o trabalho, estava pautado em dois tópicos principais:

1. conceitos relativos à estrutura e conteúdo da vida inconsciente;
2. métodos usados na investigação dos elementos originários de processos psicológicos inconsciente. Este se divide em três partes:
  • método de associação de palavras.
  • método da análise de sonhos.
  • método da imaginação ativa.
Admite a impossibilidade de fazer um apanhado completo de tudo, porém ratifica  que as pesquisas históricas e mitológicas são fatores básicos importantes, para o equilíbrio, controle e distúrbios da condição mental do indivíduo.

Jung reconhece que a Psicologia ainda está começando e que as grandes teorias ainda estão por vir, pois para ele, cada novo caso quase que consiste em uma nova teoria. A psicologia ainda se encontra no berço, e que ainda há muito o que se compreender sobre o porque da psique. Há aí, uma grande preocupação com o grande número de fatos, e não das teorias em si, no que diz respeito as sutilezas de análise onírica, relacionadas aos sonhos e fantasias, e do método comparativa de investigação dos processos do inconsciente.

psicologia como ciência se relaciona inicialmente com a consciência, e a seguir com o inconsciente, já que este não pode ser diretamente explorado por ainda ser desconhecido. Tudo que se conhece sobre o inconsciente foi revelado pelo consciente. Nada se pode dizer sobre aquilo que ainda nada se sabe a respeito, portanto, inconsciente apenas sugere algo que existe, mas ainda desconhecemos a natureza desse inconsciente.

área do inconsciente é imensa e sempre contínua, entretanto, a da consciência é um campo restrito da visão momentânea, um produto da percepção e orientação do mundo externo, que provavelmente se localiza no cérebro, e sua origem é ectodérmica, ou seja, que trata das relações entre consciência e o meio externo.

Jung diverge de Freud no que diz respeito ao inconsciente e o consciente. Para Freud  o inconsciente deriva do consciente. Jung considera exatamente o contrário, que o inconsciente é o elemento natural, e que o consciente é que deriva do inconsciente.

Ao observar os primitivos, pode-se verificar que eles são atingidos apenas por pensamentos emocionais, mostrando que emoções e afetos são sempre acompanhados de enervações psíquicas.
Porém, Jung afirma que as atividades psíquicas nada representa, pois acredita que os SONHOS e as FANTASIAS estão num subnível, sobre o qual ainda desconhece.


CONSCIÊNCIA

Jung afirma não poder haver elemento consciente que não tenho EGO, para atingir a consciência é preciso se relacionar com o EGO. Portanto,a  consciência pe a relação dos fatos psíquicos com o ego.

O EGO é um dado complexo, uma percepção geral do nosso corpo e existência, e pelos registros de memória. É sempre o centro de nossas atenções e de nossos desejos. Todos de alguma maneira sabem que já vivemos em épocas passadas.  Esses dois fatores são os principais componentes do Ego, e é a força de atração do EGO que atai os conteúdos do inconsciente, daquela região obscura sobre a qual nada se conhece. Com isso, tudo o que emerge do inconsciente, torna-se consciente.


A CONSCIÊNCIA é dotada de um certo número de funções, que a orienta no campo dos fatos ectopsíquicos e endopsíquicos. 

  • A ECTOPSIQUE é um sistema de relacionamento dos conteúdos da consciência com os fatos e dados originários do meio-ambiente, um sistema de orientação que concerne à minha manipulação dos fatos exteriores, com os quais entro em contacto através das funções sensoriais. 
          As funções ectopsíquicas são quatro:
  1. SENSAÇÃO - função dos sentidos. A soma total de minhas percepções de fatos externos, percebidas pelos sentidos. A sensação diz que alguma coisa é, não exprime o que é, nem qualquer particularidade da coisa em questão. A sensa~]ao diz que alguma coisa é.
  2. PENSAMENTO - exprime o que uma coisa é. Dá nome a essa coisa e junta-lhe um conceito, pois pensar é perceber e julgar (apercepção). Jung considera o pensamento uma função racional. O pensamento exprime o que ela é. É inerente ao sujeito.
  3. SENTIMENTO - Informa através de percepções que lhe são inerentes acerca do valor das coisas. É ele que diz por exemplo, se uma coisa é boa ou não, etc. assim como o pensamento, Jung considera o sentimento uma função racional. Os valores desempenham aí um papel fundamental. O fato das pessoas racionalizarem e controlarem seus sentimentos, não quer dizer que os sentimentos deixam de existir, elas o controlam, porém, ele está ali perturbando a pessoa. O sentimento exprime o valor dessa coisa. É inerente ao individuo.
  4. TEMPO - Tudo tem passado e futuro; tudo procede de algum lugar. 
A ideia de que alo pode ou não ser bom, como um palpite, Jung chamou de INTUIÇÃO, uma espécie de faculdade mágica, coisa próxima da adivinhação. Sempre que tiver de lidar com condições para as quais nãoi haverá valores preestabelecidos ou conceitos já firmados, esta função será o único guia.

Segundo Jung a INTUIÇÃO é um tipo de percepção que não passa exatamente pelos sentidos; registra-se ao nível do inconsciente, e é onde abandono toda tentativa de explicação dizendo-lhes: 

"Não sei como isso se processa”. Não sei o que se .passa quando um homem se inteira de fatos como ele, em absoluto, não tem meios de conhecer. Não consigo dizer como coisas acontecem, entretanto a realidade aí está, e tais fenômenos são comprovados.Sonhos premonitórios, comunicações telepáticas, são propriedades da intuição... Eventualmente seu afloramento adquire características de revelação." 

Para Jung pensamento e sentimento não podem coexistir, Quando o pensamento é uma função superior, o sentimento é uma função inferior, e vice-versa. Ao pensar, o sujeito exclui o sentimento. Quando o pensamento é altamente diferenciado, o sentimento é altamente indiferenciado, e vice-versa. 





Jung afirma que:
  • pessoas do tipo pensamento - afirmam ter sentimentos fortes, e que são muito emocionais ou temperamentais.
  • pessoas do tipo sentimental - se agir com naturalidade não se aborrece com pensamentos e sentimentos ou raciocínios.  O pensamento surge de maneira compulsório não consegue se livrar dele.
  • pessoas do tipo intelectual, afirma que sente assim, e pronto. Não raciocina sobre seus sentimentos.
  • pessoas do tipo intuitiva , sempre se irrita quando colocado frente a realidade concreta.
Essa definição  em tipos de pessoas, só serve para a psicologia prática. Jung deixa claro que não se pode colocar pessoas em padrões, até porque somos dotados dessa ambiguidade, ora somos de um jeito, ora somos de outro.
  • A ENDOPSIQUE, por outro lado, é o sistema de relação entre os conteúdos da consciência e os processos desenrolados no inconsciente. 

Os pontos relacionados a função ectopsiquica, regem ou auxiliam nossa orientação consciente no relacionamento com o ambiente, mas não se aplicam às coisas situadas, por assim dizer, abaixo do ego, que é apenas um segmento de consciência flutuando num oceano de coisas obscuras, as coisas interiores sobre as quais nada sabemos.

Para Jung a personalidade que irá surgir, dentro de um ano, já existe em nós, porém no lado obscuro e que desconhecemos.

As funções endopsiquicas são quatro:

  1. MEMÓRIA OU REPRODUÇÃO -  nos liga aos fatos enfraquecidos na consciência. ou que se tornaram subliminares ou que foram reprimidos. A memória é a faculdade de reproduzir conteúdos inconscientes e que distingue as relações entre a nossa consciência e os conteúdos que naos e encontram visíveis.
  2. COMPONENTES SUBJETIVOS DAS FUNÇÕES CONSCIENTES -  são águas profundas, onde se começa a entrar na escuridão. Ninguém gosta de entrar num mundo sombrio e admitir seu próprio lado de sombras. O tipo de pessoa que vive entrando em tudo com o pé esquerdo, sempre em complicações, é porque vivem a sua própria sombra, sua negação.
  3. MEMÓRIA - Cheia de componentes subjetivos, é controlável ou voluntária, e ainda se recusa a funcionar. Quando tomada de EMOÇÕES E AFETOS, nos empurra a ação, onde o ego decente se anula, e somos arremessados. Faz aflorar o primitivo no indivíduo. Quando se diz, Ele esta possuído, muitas vezes tornando-o irreconhecíveis e sem autocontrole.
  4. INVASÃO - Quando o lado obscuro, o inconsciente tem domínio completo e irrompe na consciência. Nessa situação, o indivíduo é tomado pelo inconsciente, podendo-se esperar dele qualquer coisa inabitual. Os primitivos, atribuem esse estado ao demônio, pois em certos dias, se perdem, ficando sob influência estranho.



Referências:

FUNDAMENTOS DE PSICOLOGIA ANALÍTICA AS CONFERÊNCIAS DE TAVISTOCK, LONDRES-1935.
 PRIMEIRA CONFERÊNCIA
(JUNG, C.G. Fundamentos de Psicologia Analítica. Petrópolis: Vozes, 2001, volume XVIII/1).
Apresentação feita pelo Dr. H. Crichton-Miller, presidente da mesa
Google Imagens



quarta-feira, 6 de novembro de 2019

Prova Colegiada - Psicologia Social

Assuntos: 

  • Conceito aprofundado de esteriótipos, sua relação com preconceito, diferenciando-os e entendendo suas características principais, a partir da Teoria da Cognição Social da Psicologia Social.
  • Entendimento da Psicologia Social sobre a exclusão, que depende da materialidade  e, que também é simbólica. Como as pessoas entendem os grupos, seu valor econômico e o movimento de signos que determinam que o sujeito possa transitar em determinados ambientes e não em outros.
O PROCESSO DE EXCLUSÃO SOCIAL

As ambiguidades inerentes ao sistema de exclusão social, revela a complexidade e contraditoriedade que constitui o processo de exclusão social, partindo do enfoque de uma determinada característica em detrimento das demais. Por exemplo, análise centradas no econômico, aborda a exclusão como sinônimo de pobreza; no social, privilegiam a discriminação, etc.

FONTE: Da Vinci design 

A exclusão social sob a perspectiva psicossociológica, é considerada um processo sócio-histórico, que se configura na vida social, vivido como necessidade do eu, como sentimentos, significados e ações.

As configurações da exclusão social, ressalta:
  • a dimensão objetiva da desigualdade social
  • a dimensão ética da injustiça
  • a dimensão subjetiva do sofrimento.
A dialética da exclusão/inclusão:

A Psicologia entende que a lógica dialética inverte a ideia de inclusão social, desvinculando-a à noção de adaptação e normatização, bem como, culpabilidade individual, para ligá-la aos mecanismos psicológicos de coação.

Principal mecanismo de coação social nas sociedade, prevalecendo a desigualdade , onde o pobre é incluído por mediações de diferentes ordens, onde os outros o exclui gerando sentimento de culpa individual.

Gesta subjetividades específicas que vão desde o sentir-se incluído até o sentir-se discriminado ou revoltado, o que não pode ser explicado exclusivamente por determinação econômica, já que determinam e são determinadas por formas diferenciadas de legitimação social e individual. A exclusão envolve o homem por inteiro e suas relações com os outros.

NOÇÃO DE EXCLUSÃO
  • Tornou-se familiar no cotidiano das mais diferentes sociedades. 
  • Não é apenas um fenômeno que atinge os países pobres. 
  • Sinaliza o destino excludente de parcelas majoritárias da população mundial
  • René Lenoir traz a  concepção de exclusão, não mais como um fenômeno de ordem individual mas social, cuja origem deveria ser buscada nos princípios mesmos do funcionamento das sociedades modernas.
  •  Qualquer estudo sobre a exclusão deve ser contextualizado no espaço e tempo ao qual o fenômeno se refere.
  • O processo de exclusão no Brasil vem sendo construído há 500 anos, mas que precisa ser repensado na sociedade contemporânea.
  • José de Souza Martins (1997) explica que o termo exclusão social passou a ser um rótulo - deus/demônio - responsável e explicativo de tudo e por tudo, no debate dos anos 90, onde a coisificação e fetichização fortalecem os rótulos que empurram as pessoas, os pobres, os fracos, para fora da sociedade, ´para fora de suas "melhores" e mais justas e "corretas" relações sociais.
OS PROCESSOS PSICOSSOCIAIS DA EXCLUSÃO.

A exclusão induz sempre uma organização específica de relações interpessoais ou intergrupos, de alguma forma material ou simbólica, através da qual ela se traduz: 
  • no caso da segregação, através de um afastamento, da manutenção de uma distância topológica;
  • no caso da marginalização, através da manutenção do indivíduo à parte de um grupo, de uma instituição ou do corpo social; 
  • no caso da discriminação, através do fechamento do acesso a certos bens ou recursos, certos papéis ou status, ou através de um fechamento diferencial ou negativo. 
Decorre do estado estrutural ou conjuntural da organização social que se inaugura um tipo específico de relação social, a partir da interação entre pessoas e grupos.

A PSICOLOGIA SOCIAL NO PROCESSO DE EXCLUSÃO


Pode contribuir para análise de fenômenos gerados a partir do estudo das relações sociais, que revela os processos marcados por diferentes alternativas de exclusão.

Tenta dar conta das relações sociais por dupla característica, de onde pressupõe a existência de um laço social, seja ele perverso ou pervertido.
  • focalizar as dimensões ideais e simbólicas e os processos psicológicos e cognitivos que se articulam aos fundamentos materiais dessas relações. 
  • aborda estas dimensões e processos, considerando o espaço de interação entre pessoas ou grupos, onde se constroem e funcionam. 
Busca compreender de que maneira as pessoas ou os grupos que são objetos de uma distinção, são construídos como uma categoria à parte. 

Traz a noção  de preconceito, estereótipo, discriminação, identidade social, as representações sociais e ideológicas que traduzem meios e formas de exclusão social.

Psicologia Social, embora se limite aos processos psicológicos, cognitivos e simbólicos que podem ou acompanhar a situação da exclusão ou dela reforçar a manutenção como racionalização, justificação ou legitimação, traz uma contribuição não negligenciável para a compreensão dos mecanismos que, na escala dos indivíduos, dos grupos e das coletividades, concorrem para fixar as formas e as experiências de exclusão.

Oprofissionais de psicologia se interessam pela estereotipização e os preconceitos  porque estes representam um pilar central de um objetivo maior da Psicologia como ciência: a compreensão do como e do porque as pessoas sentem e reagem a cada uma das outras.

TEORIA DA COGNIÇÃO SOCIAL
  • Aborda a capacidade de compreender as outras pessoas e a si mesmo, dando especial atenção às estruturas cognitivas, que são determinantes na produção do conhecimento social.  
  • Se caracteriza pelo estudo de todos os fatores que influenciam a aquisição, representação e recuperação de informações, e como isso influencia nos julgamentos das pessoas.
  • Analisa o processamento da informação social, ou seja, os processos de  aquisição, representação e recuperação de informações.

PRECONCEITOS E ESTERIÓTIPOS
  • Funcionam como mediadores importantes do processo de exclusão.
  • Designam os processos mentais pelos quais se operam a descrição e o julgamento das pessoas ou de grupos, que são caracterizados por pertencer a uma categoria social ou pelo fato de apresentar um ou mais atributos próprios a esta categoria.
Diferenciando preconceitos de esteriótipos:

PRECONCEITO

É um atitude negativa em relação a uma pessoa, baseada na crença de que ela tem das características negativas atribuídas a um grupo.
  • Julgamento positivo ou negativo, formulado sem exame prévio a propósito de uma pessoa ou de uma coisa e que, assim, compreende vieses e esferas específicas.
  • Implica numa ATITUDE, se comporta na esfera cognitiva, numa dimensão afetiva ligada às emoções e valores.
  • Todos os acontecimentos sociais e todos os outros grupos são pensados e sentidos através de nossos valores, modelos e definições do que é a existência. (Subjetividade)
  • Surgem a partir das representações nos processos de comunicação e no contexto sócio-histórico, mais voltado para os seus conteúdos, do que para sua forma.

ESTERIÓTIPO
  • Estereótipos são associações cognitivas relacionadas com a percepção de grupos
  • Os estereótipos são esquemas que concernem especificamente os atributos pessoais que caracterizam os membros de um determinado grupo ou de uma categoria social dada.
  • Os esquemas facilitam e orientam o processamento da informação sobre coletividades interferindo nos processos de atenção, interpretação e memória, bem como sobre os julgamentos dos membros dos grupos percebidos.
  • As formas são objetos de estudo dos esteriótipos.
  • São "imagens na cabeça", representações do meio social que permitiam simplificar sua complexidade. 
  • Os estereótipos de deslegitimação visam a excluir moralmente um grupo do campo de normas e de valores aceitáveis, por uma desumanização que autoriza a expressão do desprezo e do medo e justifica as violências e penas que lhe infligimos.
CATEGORIZAÇÃO SOCIAL

Segmenta o meio social em classes cujos membros são considerados como equivalentes em razão de características, ações e intenções comuns. Essas modulações afetam as tendências para discriminar e excluir os membros dos outros grupos.

Categorizar implica em pensar a pessoa como membro de um grupo e não admitir sua individualidade, como uma auto-definição pertencente a uma categoria social.

Tem dois sentidos:
  •  A classificação em uma divisão social: colocamos as pessoas em uma categoria dada, por exemplo, homens e mulheres, jovens e velhos, etc.;
  •  aquele da atribuição de uma característica a alguém, caso este que podemos relacionar com a estigmatização ou estereótipo. 
DISCRIMINAÇÃO

  • É um comportamento manifesto, geralmente apresentado por uma pessoa preconceituosa, que se exprime através da adoção de padrões de preferência em relação aos membros do próprio grupo.
  • Pode se dar pela rejeição verbal, através de palavras de insultos, etc. 

REFERÊNCIAS:
A artimanha da exclusão: Bader Sawaia. Editora Vozes.
Axé estereótipos. UFBA. Faculdade de filosofia e ciências humanas. Mestrado em Psicologia.

domingo, 3 de novembro de 2019

Sexualidade na Terceira Idade: desmistificando preconceitos com Rádila Fabrícia Salles

Rádila realizou uma pesquisa com o objetivo de analisar as concepções sobre a atividade sexual dos idosos frente às mudanças no processo de envelhecimento.

A sexualidade humana é um fenômeno complexo, onde estão presentes fatores biológicos, psicológicos e socioculturais. Ela chama atenção para o fato de que a sexualidade não se restringe ao ato sexual em si, mas está na maneira como se vive  e expressa, através de gestos, como se anda, se veste, etc. Envolve os fenômenos da vida sexual, sendo determinado por três aspectos biológicos, psicológicos e social.

Socialmente, a sexualidade do idoso acaba sendo restringida devido a ideia de que o idoso não sente desejo sexual,  o que Rádila chama a atenção para a necessidade de que a sociedade reveja seus conceitos e preconceitos, pois o idoso sente necessidade de troca afetiva por toda a vida. Isso pode levar o idoso a reprimir seus desejo a  enfrentar sentimentos de culpa e de vergonha.

Papaleo Netto (2007) chama atenção para os seguintes fatores:
  • a vida sexual deixou de ser meio de procriação e se tornou fonte de satisfação e realização pessoal.
  • As pessoas chegam a idades mais avançadas não dispostas a abandonar a vida sexual.
  • A AIDS obriga a todos repensar a sexualidade.
Outro fator que dificulta o dioso a enfrentar as mudanças ocorridas é a falta de comunicação, pois essa geração não tem o hábito de falar de suas dificuldades, nem de sexualidade.

Em sua pesquisa Rádila observou que 5% dos entrevistados  têm faixa etária acima de 80 anos, porém sua maioria 75% entre 60 e 69 anos. Observou-se que a grande maioria deles não busca informações sobre sexo, e que a escassez de informação sobre sexualidade é grade, não se sentem preparados para lidar com o assunto e se sentem excluídos do contexto.

Para os autores, o envelhecimento não é uma etapa somente de perdas mas também de aquisições como visão ampla da existência, e que embora, as relações sexuas aconteçam com menor frequência, ainda acontecem, dado as interferências biológicas, psicológicas e sociais. É necessário entender o significado do sexo nessa etapa da vida para o indivíduo, já que este enfrenta diversas dificuldades físicas e psicológicas provenientes da velhice. Vicente (2005) diz que a sexualidade é uma característica humana que não se perde com o tempo, mas se vai desenhando conforme a história vivenciada pelo corpo durante sua trajetória existencial, isso mostra que, a sexualidade do idoso é fruto da vida sexual que ele teve durante sua vida.

Rádila pode constatar que 51,7% dos idosos são ativos sexualmente, contrariando muitos dos valores sustentados pela sociedade atual, embora 95% tenham enfrentado alterações como indisposição, falta de interesse, problemas de saúde, privacidade e disponibilidade de companheiro(a). Contatou-se que não há idade para a prática do sexo, e que homens e mulheres saudáveis podem manter-se sexualmente ativos, independentemente da idade.

REFERÊNCIAS:
Congresso nacional de envelhecimento humano
Sexualidade na terceira idade: desmistificando preconceitos
Rádila Fabricia Salles
Fundação educacional de Fernandópolis - FEF.