segunda-feira, 27 de agosto de 2018

PALADAR - SENSAÇÃO E PERCEPÇÃO


McBurney e Gent, 1979 acreditavam que: as Sensações básicas do paladar eram DOCE, AZEDO, SALGADO, AMARGO, e as outras que se originavam da mistura dessas.

Desenvolveu-se estudo científico sobre FIBRAS NERVOSAS ESPECIALIZADAS para as QUATRO SENSAÇÕES BÁSICAS DO PALADAR em que:


  • encontraram um RECEPTOR para a QUINTA SENSAÇÃO DO PALADAR: o sabor condimentado e substancial do umami. (palavra de origem japonesa que significa "delicioso e apetitoso") é o nome do quinto sabor básico descoberto pelo pesquisador japonês Kikunae Ikeda)
O PALADAR é um SENTIDO QUÍMICO e tem mais PROPÓSITOS do que simples PRAZERES:

Propósitos do paladar - Alimentos ricos em energia e proteína que garante a sobrevivência.
                                      Gostos aversivos mantendo-nos distante de alimentos tóxicos.

As FUNÇÕES DE SOBREVIVÊNCIA dos PALADARES BÁSICOS:
  • DOCE - Indica Fonte de energia
  • SALGADO - Indica Sódio essencial para os processos fisiológicos.
  • AZEDO - Indica ácido potencialmente tóxico.
  • AMARGO - Indica Potenciais venenos.
  • UMAMI - Indica Proteínas para crescer e reparar tecidos.
Enquanto SENTIDO QUÍMICO, observa-se no PALADAR:
  • Dentro de CADA PEQUENA SALIÊNCIA na parte de CIMA e nos LADOS da LÍNGUA, encontram-se pelo menos 200 PAPILAS GUSTATIVAS.
  • CADA PAPILA GUSTATIVA contém UM PORO QUE CAPTA  as SUBSTÂNCIAS QUÍMICAS DA COMIDA.
  • CADA UM DESSES POROS,  de 50 a 100 CÉLULAS RECEPTORAS GUSTATIVAS PROJETAM CÍLIOS em forma de antena que APREENDEM AS MOLÉCULAS DO ALIMENTO.
  • Alguns RECEPTORES respondem  principalmente às MOLÉCULAS DOCES, outros às MOLÉCULAS SALGADAS, e assim, para os demais sentidos básicos.
  • RECEPTORES GUSTATIVOS reproduzem-se a cada uma ou duas semanas. (caso queime a língua com comida quente não é grave).
  • A partir daí, vai DESENCADEAR UMA RESPOSTA QUE ATIVE O LOBO TEMPORAL DE SEU CÉREBRO, ONDE É PERCEBIDA A SENSAÇÃO.
O IMPULSO NERVOSO deverá ser levado ao SISTEMA NERVOSO CENTRAL, onde será INTERPRETADO, PERCEBIDO.

Pesquisas recentes demonstram que cada sabor ativa uma região específica do córtex gustativo, com exceção do azedo, que aparentemente não é interpretado nesse local.

Cowart, em 1981 descobriu que à medida em que ENVELHECEMOS o número de PAPILAS GUSTATIVAS DIMINUI, bem como, DIMINUI A SENSIBILIDADE DO PALADAR.O fumo e o álcool aceleram esse declínio.


POR MAIS QUE AS PAPILAS GUSTATIVAS SEJAM ESSENCIAIS,
O PALADAR ENVOLVE MAIS DO QUE TANGE A LÍNGUA.

  • Aspectos que podem influenciar o PALADAR:
  1. Nossas EXPECTATIVAS, quando informado de algo que gostamos ou que não gostamos.
  2. O PREÇO do alimento, quando está dentro ou fora do que esperamos. Quando algo que desejamos é barato, desencadeia atividades em uma área cerebral, que corresponde às experiências prazerosas. (Plassmann et al., 2008).
Curiosidade: Você sabia que a temperatura pode influenciar no sabor do alimento? Quando temos alimentos mais frios, percebemos melhor o gosto azedo. Quando o alimento está com uma temperatura maior, percebemos ele mais doce. Sendo assim, chocolates que ficam guardados na geladeira apresentam-se menos doces que aqueles consumidos na temperatura ambiente.


Bibliobrafia:
MYERS, David G., DEWALL, C. Nathan , Psicologia, 11 edição, LTC, Cap. 6: SENSAÇÃO E PERCEPÇÃO.
                                      

Um animal insignificante - Extraindo CONCEITOS

Aula: 23/08/2018

"Um animal insignificante HÁ CERCA DE 13,5 BILHÕES DE ANOS, A MATÉRIA, A ENERGIA, O TEMPO E O ESPAÇO surgiram naquilo que é conhecido como o Big Bang. "

"A história dessas características fundamentais do nosso universo é denominada física."

(FÍSICA é a história das características fundamentais do Universo, que envolvem MATÉRIA, ENERGIA, TEMPO E ESPAÇO)

"Por volta de 300 mil anos após seu surgimento, a matéria e a energia começaram a se aglutinar em estruturas complexas, chamadas átomos, que então se combinaram em moléculas. "

( ÁTOMOS são aglutinações ou fortes ligações  DE ESTRUTURAS COMPLEXAS, entre matéria e energia.)

(MOLÉCULAS são combinações entre ÁTOMOS)

"A história dos átomos, das moléculas e de suas interações é denominada química."

(QUÍMICA surge à partir do conjunto de conhecimentos entre ÁTOMOS,  MOLÉCULAS e SUAS INTERAÇÕES.

"Há cerca de 3,8 bilhões de anos, em um planeta chamado Terra, certas moléculas se combinaram para formar estruturas particularmente grandes e complexas chamadas organismos." 

(ORGANISMOS são combinações de certas MOLÉCULAS que formam estruturas GRANDES e  COMPLEXAS.)

"A história dos organismos é denominada biologia." 

(BIOLOGIA é o estudo da história desses ORGANISMOS)

"Há cerca de 70 mil anos, os organismos pertencentes à espécie Homo sapiens começaram a formar estruturas ainda mais elaboradas chamadas culturas.O desenvolvimento subsequente dessas culturas humanas é denominado história."

(CULTURA é um conjunto de ESTRUTURAS MAIS ELABORADAS, que surge à partir da espécie Homo Sapiens, e que vai se desenvolvendo formando sua HISTÓRIA.)

Três importantes revoluções definiram o curso da história. 
  • A Revolução Cognitiva deu início à história, há cerca de 70 mil anos.
  •  A Revolução Agrícola a acelerou, por volta de 12 mil anos atrás. 
  • A Revolução Científica, que começou há apenas 500 anos, pode muito bem colocar um fim à história e dar início a algo completamente diferente. 
Este livro conta como essas três revoluções afetaram os seres humanos e os demais organismos. Muito antes de haver história, já havia seres humanos. Animais bastante similares aos humanos modernos surgiram por volta de 2,5 milhões de anos atrás. Mas, por incontáveis gerações, eles não se destacaram da miríade de outros organismos com os quais partilhavam seu habitat. Em um passeio pela África Oriental de 2 milhões de anos atrás, você poderia muito bem observar certas características humanas familiares: mães ansiosas acariciando seus bebês e bandos de crianças despreocupadas brincando na lama; jovens temperamentais rebelando-se contra as regras da sociedade e idosos cansados que só queriam ficar em paz; machos orgulhosos tentando impressionar as beldades locais e velhas matriarcas sábias que já tinham visto de tudo. Esses humanos arcaicos amavam, brincavam, formavam laços fortes de amizade e competiam por status e poder – mas os chimpanzés, os babuínos e os elefantes também. Não havia nada de especial nos humanos.

Ninguém, muito menos eles próprios, tinha qualquer suspeita de que seus descendentes um dia viajariam à Lua, dividiriam o átomo, mapeariam o código genético e escreveriam livros de história. 

A coisa mais importante a saber acerca dos humanos pré-históricos é que eles eram ANIMAIS INSIGNIFICANTES, cujo impacto sobre o ambiente não era maior que o de gorilas, vaga-lumes ou águas-vivas. 

"Os biólogos classificam os organismos em espécies. Consideram que os animais pertencem a uma mesma espécie se eles tendem a acasalar uns com os outros, gerando descendentes férteis." 

(ORGANISMOS DA MESMA ESPÉCIE são aqueles que acasalam na mesma espécie gerando descendentes férteis.) 

Cavalos e jumentos têm um ancestral recente em comum e partilham muitos traços físicos, mas demonstram pouco interesse sexual uns pelos outros. Acasalam entre si se forem induzidos a isso – entretanto seus descendentes, chamados mulas, são estéreis. Mutações no DNA dos jumentos podem nunca ter passado para os cavalos, e vice-versa. Os dois tipos de animais são consequentemente considerados duas espécies diferentes, trilhando caminhos evolucionários distintos. 

(MUTAÇÕES NO DNA ocorrem quando dois animais de espécies diferentes cruzam, e o descendente não é fértil, ou seja, não gera filhos).

Já um buldogue e um spaniel podem ser muito diferentes em aparência, mas são membros da mesma espécie, partilhando a mesma informação de DNA. Acasalam entre si alegremente, e seus filhotes, ao crescer, cruzam com outros cachorros e geram mais filhotes.

(MEMBROS DE UMA MESMA ESPÉCIE, podem ser diferentes na aparência, porém, se acasalam e geram filhos férteis.)

As espécies que evoluíram de um mesmo ancestral são agrupadas em um “gênero”. Leões, tigres, leopardos e jaguares são espécies diferentes do gênero Panthera. Os biólogos nomeiam os organismos com um nome duplo latino, o gênero seguido da espécie. Os leões, por exemplo, são chamados Panthera leo, a espécie leo do gênero Panthera. 

(GÊNERO é o agrupamento de ESPÉCIES que evoluiram de um MESMO ANCESTRAL)

Ao que tudo indica, todos os que estão lendo este livro são Homo sapiens – a espécie sapiens (sábia) do gênero Homo (homem). 

Os gêneros, por sua vez, são agrupados em famílias, como a dos felídeos (leões, guepardos, gatos domésticos), a dos canídeos (lobos, raposas, chacais) e a dos elefantídeos (elefantes, mamutes, mastodontes). Todos os membros de uma família remontam a um mesmo patriarca ou matriarca original. 

Todos os gatos, por exemplo, dos menores gatos domésticos ao leão mais feroz, têm em comum um ancestral felídeo que viveu há cerca de 25 milhões de anos. 

O Homo sapiens também pertence a uma família. Esse fato banal costumava ser um dos segredos mais bem guardados da história. 

Durante muito tempo, o Homo sapiens preferiu conceber a si mesmo como separado dos animais, um órfão destituído de família, carente de primos ou irmãos e, o que é mais importante, sem pai nem mãe. Mas isso simplesmente não é verdade.

Gostemos ou não, somos membros de uma família grande e particularmente ruidosa chamada grandes primatas. Nossos parentes vivos mais próximos incluem os chimpanzés, os gorilas e os orangotangos. Os chimpanzés são os mais próximos. Há apenas 6 milhões de anos, uma mesma fêmea primata teve duas filhas. Uma delas se tornou a ancestral de todos os chimpanzés; a outra é nossa avó.


Bibliografia:
HARARI, Yuval Noah. Sapiens uma breve história da humanidade: Tradução de Janaina Marcoantonio.

domingo, 26 de agosto de 2018

Pulsões ou Instintos

Compreendendo e diferenciando.

Instintos são pressões que dirigem um organismo para fins particulares. Instintos são necessidades; seus aspectos mentais podem ser comumente denominados desejos. Os instintos são as forças propulsoras que incitam as pessoas à ação.
Todo instinto tem 4 componentes:
Fonte: quando emerge a necessidade, pode ser uma parte do corpo ou todo ele;
Finalidade é reduzir a necessidade até que mais nenhuma ação seja necessária, é dar ao organismo a satisfação que ele no momento deseja.
Pressão: é a quantidade de energia ou força que é usada para satisfazer ou gratificar o instinto; ela é determinada pela intensidade ou urgência da necessidade subjacente;
Objeto de um instinto é qualquer coisa, ação ou expressão que permite a satisfação da finalidade original.
Pulsão refere-se ao processo dinâmico que consiste numa pressão ou força (carga energética, fator de motricidade) que faz tender o organismo para um alvo.
Os instintos humanos apenas iniciam a necessidade de ação; eles nem predeterminam a ação particular, nem a força como ela se completará.
O modelo mental e comportamental normal e saudável tem a finalidade de reduzir a tensão a níveis previamente aceitáveis.
O trabalho analítico envolve a procura das causa dos pensamentos e comportamentos, de modo que se possa lidar de forma mais adequada com uma necessidade que está sendo imperfeitamente…

IDEIAS PRINCIPAIS DE COMTE

Auguste Comte nasceu em Montpellier, França, a 19 de janeiro de 1798, filho de um fiscal de impostos. Suas relações com a família foram sempre tempestuosas e contêm elementos explicativos do desenvolvimento de sua vida e talvez até mesmo de certas orientações dadas às suas obras, sobretudo em seus últimos anos. Frequentemente, Comte acusava os familiares (à exceção de um irmão) de avareza, culpando-os por sua precária situação econômica. O pai e a irmã, ambos de saúde muito frágil, viviam reclamando maior participação de Auguste em seus problemas. A mãe apegou-se a ele de forma extremada, solicitando sua atenção “da mesma maneira que um mendigo implora um pedaço de pão” para sobreviver, como diz ela em carta ao filho já adulto. Tão complexos laços familiares foram afinal rompidos por Comte, mas deixaram-lhe marcas profundas. 

Com a idade de dezesseis anos, em 1814, Comte ingressou na Escola Politécnica de Paris, fato que teria significativa influência na orientação posterior de seu pensamento. Em carta de 1842 a John Stuart Mill (1806-1873), Comte fala da Politécnica como a primeira comunidade verdadeiramente científica, que deveria servir como modelo de toda educação superior. A Escola Politécnica tinha sido fundada em 1794, como fruto da Revolução Francesa e do desenvolvimento da ciência e da técnica, resultante da Revolução Industrial. Embora permanecesse por apenas dois anos nessa escola, Comte ali recebeu a influência do trabalho intelectual de cientistas como o físico Sadi Carnot (1796-1832), o A matemático Lagrange (1736-1813) e o astrônomo Pierre Simon de Laplace (1749-1827). Especialmente importante foi a influência exercida pela Mecânica Analítica de Lagrange: nela Comte teria se inspirado para vir a abordar os princípios de cada ciência segundo uma perspectiva histórica.  Em 1816, a onda reacionária que se apoderou de toda a Europa, depois da derrota de Napoleão e da Santa Aliança, repercutiu na Escola Politécnica. Os adeptos da restauração da Casa Real dos Bourbon conseguiram o fechamento temporário da Escola, acusando-a de jacobinismo. 

Comte deixou a Politécnica e, apesar dos apelos insistentes da família, resolveu continuar em Paris. Nesse período sofreu as influências dos chamados “ideólogos”: Destutt de Tracy (1754-1836), Cabanis (1757-1808) e Volney (1757-1820). Leu também os teóricos da economia política, como Adam Smith (1723-1790) e Jean-Baptiste Say (1767-1832), filósofos e historiadores como David Hume (1711-1776) e William Robertson (1721-1793). 

O fator mais decisivo para sua formação foi, porém, o estudo do Esboço de um Quadro Histórico dos Progressos do Espírito Humano, de Condorcet (1743-1794), ao qual se referiria, mais tarde, como “meu imediato predecessor”. A obra de Condorcet traça um quadro do desenvolvimento da humanidade, no qual os descobrimentos e invenções da ciência e da tecnologia desempenham papel preponderante, fazendo o homem caminhar para uma era em que a organização social e política seria produto das luzes da razão. Essa ideia tornar-se-ia um dos pontos fundamentais da filosofia de Comte.

Os três temas básicos 

O núcleo da filosofia de Comte radica na ideia de que:

A sociedade só pode ser convenientemente reorganizada através de uma completa reforma intelectual do homem. 

Comte achava que antes de uma reforma das instituições, seria necessário fornecer aos homens novos hábitos de pensar de acordo com o estado das ciências de seu tempo. 

Por essa razão, o sistema comteano estruturou-se em torno de três temas básicos.


  1. Em primeiro lugar, uma filosofia da história com o objetivo de mostrar as razões pelas quais uma certa maneira de pensar (chamada por ele filosofia positiva ou pensamento positivo) deve imperar entre os homens. 
  2. Em segundo lugar, uma fundamentação e classificação das ciências baseadas na filosofia positiva.
  3. Finalmente, uma sociologia que, determinando a estrutura e os processos de modificação da sociedade, permitisse a reforma prática das instituições. A esse sistema deve-se acrescentar a forma religiosa assumida pelo plano de renovação social, proposto por Comte nos seus últimos anos de vida. 
O progresso do espírito

Para Comte a filosofia da história pode ser sintetizada na sua célebre lei dos três estados. 

Todas as CIÊNCIAS e o ESPÍRITO HUMANO como um todo desenvolvem-se através de três fases distintas: a teológica, a metafísica e a positiva. 

 COMTE E O  ESTADO TEOLÓGICO
  • Poucas observações dos fenômenos e, por isso, a imaginação desempenha papel de primeiro plano. 
  • Diante da DIVERSIDADE DA NATUREZA, o homem só consegue explicá-la mediante a crença na intervenção de seres pessoais e sobrenaturais. 
  • O mundo torna-se compreensível somente através das ideias de deuses e espíritos. 
  • A MENTALIDADE TEOLÓGICA visa a um tipo de compreensão absoluta; o homem, nesse estágio de desenvolvimento, acredita ter posse absoluta do conhecimento e desempenha relevante papel de COESÃO SOCIAL, fundamentando a VIDA MORAL.
  • Confiavam em PODERES IMUTÁVEIS, fundados na AUTORIDADE
  • Divide o estado teológico em três períodos sucessivos: 
FETICHISMO (Uma vida espiritual, semelhante à do homem, é atribuída aos seres naturais),
POLITEÍSMO (O politeísmo esvazia os seres naturais de suas vidas anímicas — tal como concebidos no estágio anterior — e atribui a animação desses seres não a si mesmos, mas a outros seres, invisíveis e habitantes de um mundo superior.)
MONOTEÍSMO (a distância entre os seres e seus princípios explicativos aumenta ainda mais; o homem, nesse estágio, reúne todas as divindades em uma só.
  • A fase teológica monoteísta representaria, no desenvolvimento do espírito humano, uma etapa de transição para o estado metafísico
  • O espírito humano, inicialmente, concebe “forças” para explicar os diferentes grupos de fenômenos, em substituição às divindades da fase teológica. Fala-se então de uma “força física”, uma “força química”, uma “força vital”
                          COMTE E O  ESTADO METAFÍSICO

Segundo Comte, os pontos de contato entre teológicos e metafísicos são:
  • Ambos tendem à procura de soluções absolutas para os problemas do homem: a metafísica, tanto quanto a teologia, procura explicar:  a “natureza íntima” das coisas, sua origem e destino últimos, bem como a maneira pela qual são produzidas
DIFERENÇA ENTRE O ESTADO TEOLÓGICO E METAFÍSICO
  •  reside no fato de a METAFÍSICA colocar o ABSTRATO no lugar do CONCRETO e a ARGUMENTAÇÃO no lugar da IMAGINAÇÃO. 
  • o estado metafísico se caracterizaria fundamentalmente pela dissolução do teológico. A argumentação, penetrando nos domínios das ideias teológicas, traria à luz suas contradições inerentes e substituiria a vontade divina por “ideias” ou “forças”.
  • A metafísica destruiria a ideia teológica de subordinação da natureza e do homem ao sobrenatural.
  • Na esfera política, o espírito metafísico corresponderia a uma substituição dos reis pelos juristas; supondo-se a sociedade como originária de um contrato, tende-se a basear o Estado na soberania do povo. 
O pensamento positivo

 O estado positivo caracteriza-se pela subordinação da imaginação e da argumentação à observação

Comte não defende um empirismo puro, ou seja, a redução de todo conhecimento à apreensão exclusiva de fatos isolados. 

  • A visão positiva dos fatos abandona a consideração das causas dos fenômenos (procedimento teológico ou metafísico) e torna-se pesquisa de suas leis, entendidos como relações constantes entre fenômenos observáveis
  • Quando procura conhecer fenômenos psicológicos, o espírito positivo deve visar às relações imutáveis presentes neles — c
  • A filosofia positiva, ao contrário dos estados teológico e metafísico, considera impossível a redução dos fenômenos naturais a um só princípio (Deus, natureza ou outro equivalente). 
  • A experiência nunca mostra mais do que uma limitada interconexão entre determinados fenômenos. 
  • Cada ciência ocupa-se apenas com certo grupo de fenômenos, irredutíveis uns aos outros. A unidade que o conhecimento pode alcançar seria, assim, inteiramente subjetiva, radicando no fato de empregar-se um mesmo método, seja qual for o campo em questão: uma idêntica metodologia produz convergência e homogeneidade de teorias. Essa unidade do conhecimento não é apenas individual, mas também coletiva; isso faz da filosofia positiva o fundamento intelectual da fraternidade entre os homens, possibilitando a vida prática em comum. A união entre a teoria e a prática seria muito mais íntima no estado positivo do que nos anteriores, pois o conhecimento das relações constantes entre os fenômenos torna possível determinar seu futuro desenvolvimento. O conhecimento positivo caracteriza-se pela previsibilidade: “ver para prever” é o lema da ciência positiva. A previsibilidade científica permite o desenvolvimento da técnica e, assim, o estado positivo corresponde à indústria, no sentido de exploração da natureza pelo homem. Em suma, o espírito positivo, segundo Comte, instaura as ciências como investigação do real, do certo e indubitável, do precisamente determinado e do útil. Nos domínios do social e do político, o estágio positivo do espírito humano marcaria a passagem do poder espiritual para as mãos dos sábios e cientistas e do poder material para o controle dos industriais. Do simples ao complexo A classificação das ciências — segundo tema básico da filosofia comteana — vincula-se à filosofia da história. Ao traçar o mapa do desenvolvimento histórico do espírito, em sua caminhada para a apreensão da realidade, Comte mostra que a evolução de cada ciência obedece à periodização dos três estados, mas que essa periodização não se faz ao mesmo tempo em todos os domínios.

sábado, 25 de agosto de 2018

A VERDADE sob a ótica de Friedriche Nietzsche

Friedritche Nietzsche, em seu livro para além  do bem e do mal,fala "Sobre os preconceitos dos filósofos " à partir do valor da "verdade".

Ele enseja o "desejo da verdade" como algo tentador e arriscado, pois este demanda muitas perguntas como ele mesmo diz, ruins, surpreendentes e questionáveis.

Nietz levanta os seguintes questionamentos sobre a  origem  da verdade:

- Quem de fato nos faz perguntas?
- O que em nós  deseja  efetivamente "a verdade"?

A partir daí surge uma questão  ainda mais fundamental que intenta saber se REALMENTE QUEREMOS A VERDADE.

Admite-se então  a possibilidade do DESEJO PELA INVERDADE, ou pela INCERTEZA, ou ainda pela IGNORÂNCIA .

Em virtude dessa nova possibilidade surgem novos questionamentos a respeito da suposta VERDADE:

- Se o problema da verdade se deparou diante de nós  ou se fomos nós  que nos deparamos frente a verdade? Uma nova forma de olhar para o problema da verdade.

Niet faz questionamentos ao surgimento de algo a partir de seu oposto:

- a verdade do engano?
- o desejo da verdade a partir do desejo do engano?
- ação  altruísta a partir do egoísmo?

"Tal formação é impossível, e quem a supõe  é no mínimo um tolo." 

Para Nietz as coisas de valor mais elevado deve ter sua própria origem, e não derivar de algo inferior, constituído de um mundo transitório, tentador e enganador, um tumulto de demência e cobiça, para ele.

Então, Nietz inverte a base de seu raciocínio e diz que "deve haver no seio da existência, no imperecível, no Deus oculto, na "coisa em si" e em "nenhuma outra parte."

A partir daí é que os METAFÍSICOS, que investigam a realidade que transcendem as ciências  sensíveis, para fornecer fundamentos a respeito da natureza e das características primaciais do ser, fazem esse tipo de AVALIAÇÃO DE VALOR, através de seus procedimentos lógicos, à partir de sua "CRENÇA", constrói o seu " SABER" o qual chamam de "VERDADE".

"A crença fundamental dos METAFÍSICOS  é a CRENÇA  NOS CONTRASTES."

" de omnibus dubitandum"
OS HOMENS DEVEM DUVIDAR"

Nietz a partir do pensamento dos metafísicos se questiona sobre a aplicação  daquilo que estes acreditavam sobre suas próprias verdades e atribui a contrapartida aos valores por eles estabelecidas entre o verdadeiro, verossímil(não contraria a verdade) e altruísta(comportamentos dos homens em que suas ações beneficiam o outro).

Dentro desses valores considerados superiores dos metafísicos, Nietz toma a vida fundamentada na aparência, no desejo de engano, no interesse próprio e na cobiça como possibilidade de nesses VALORES SUPERIORES QUE OS METAFÍSICOS PREGAM,  haver uma ARDILOSA APARÊNCIA, que talvez o homem se utilize para conseguir o que pretende.

- E nesse contexto eu chamo aqui a atenção às tão  conhecidas máscaras  das quais o homem se utiliza para mostrar ou representar o que deseja à partir de sua própria convicção e conveniência.

A partir da observação dos filósofos por Nietz, ele conclui que:

"Convém situar a maior parte do pensamento consciente entre as atividades instintivas, até no caso do pensamento filosófico " e propõe um novo aprendizado em relação  ao HEREDITÁRIO  e o INATO.

Ele parte da ideia de que atrás de toda aparente autonomia dos filósofos e de toda a sua logica há uma TABELA DE VALORES que norteiam a manutenção de um determinado tipo de vida a partir de exigências fisiológicas. 

Por exemplo: Que O CERTO tem mais valor que O INCERTO, APARÊNCIA  tem menos valor que a "VERDADE".

O que faz Nietz supor não ser exatamente o homem, "a medida das coisas".  Diante dessa conclusão,  passa afirmar que:

"os julgamentos mais falsos, 
são os julgamentos mais indispensáveis."

Admitindo essa afirmativa não se poderia viver sem aceitar:

  • as ficções da lógica
  • sem comparar a realidade com o mundo puramente inventado do incondicional
  • do igualar a si mesmo
  • sem a contínua falsificação do mundo por meio do número.
Com isso, renunciar aos julgamentos falsos, seria renunciar a vida, uma negação da própria vida, segundo Nietzsche

Afirmar a inverdade como uma condição de vida...significa opor perigosa resistência aos habituais sentimentos de valores, e uma filosofia com tal ousadia, só por isso, se coloca ALÉM DO BEM E DO MAL.







quinta-feira, 23 de agosto de 2018

A ALMA COLETIVA - do Livro Psicologia das Massas e análise do eu - Sigmond Freud



Le  Bom mostra que a Psicologia não cumpriu cabalmente a sua tarefa e nem conseguiu esclarecer todos os nexos, e ainda que tivesse atingido esses objetivos, surgiria sempre um PROBLEMA NOVO, NÃO RESOLVIDO, já que a PSICOLOGIA procura nas AÇÕES e nas RELAÇÕES COM OS MAIS PRÓXIMOS os seguintes aspectos: As DISPOSIÇÕES, os IMPULSOS INSTINTUAIS, os MOTIVOS e as INTENÇÕES do Indivíduo.

Esse FATO NOVO, SURPREENDENDE que surge a partir do alinhamento do indivíduo com a multidão, leva o mesmo a adquiri a característica de MASSA PSICOLÓGICA, condição em que o indivíduo PENSA, SENTE E AGE DE MODO COMPLETAMENTE distinto do esperado.


Ele faz então três perguntas a serem refletidas:

1.     O que é então uma “massa”?
2.     De que maneira adquire ela a capacidade de influir tão decisivamente na vida psíquica do indivíduo?
3.     Em que consiste a modificação psíquica que ela impõe ao indivíduo?

A psicologia teórica das massas, oriunda da OBSERVAÇÃO DA REAÇÃO ALTERADA DO INDIVÍDUO, oferece material para respondê-las à partir da terceira pergunta.

1º OBSERVAR A REAÇÃO ALTERADA DO INDIVÍDUO
2º DESCREVER AS REAÇÕES A SEREM EXPLCIADAS
3º EXPLICAR AS REAÇÕES

Le Bon diz : “O fato mais singular, numa massa psicológica, é o seguinte:

Quaisquer que sejam os indivíduos que a compõem, sejam semelhantes ou dessemelhantes o seu tipo de vida, suas ocupações, seu caráter ou sua inteligência, o simples fato de se terem transformado em massa, os torna possuidores de uma espécie de alma coletiva.

Esta alma os faz sentir, pensar e agir de uma forma bem diferente da que cada um sentiria, pensaria e agiria isoladamente.

Certas ideias, certos sentimentos aparecem ou se transformam em atos apenas nos indivíduos em massa.

A MASSA PSICOLÓGICA é um ser provisório, composto de elementos heterogêneos que por um instante se soldaram.

Observações feitas por FREUD sobre a exposição de Le Bom:
Se os INDIVÍDUOS DA MASSA estão ligados numa unidade, tem de haver algo que os une entre si, e este meio de ligação poderia ser justamente o que é característico da massa. Le Bon  lida apenas com a modificação do indivíduo na massa e a descreve em termos que harmonizam bastante com os pressupostos básicos de nossa psicologia profunda.

“Constata-se facilmente o quanto o indivíduo na massa difere do indivíduo isolado; mas as causas de tal diferença.  Para descobri-las é preciso recorrer à PSICOLOGIA MODERNA que diz:

Que não é apenas na vida orgânica, mas também no funcionamento da inteligência que os fenômenos inconscientes têm papel preponderante.

A VIDA CONSCIENTE DO ESPÍRITO não representa senão uma pequenina parte, comparada à sua vida inconsciente e que apenas um número pequeno dos móveis inconscientes que conduz o indivíduo é descoberto.

Nossos atos conscientes derivam de um substrato inconsciente com resíduos ancestrais que constituem a alma da raça.

Por trás das CAUSAS CONFESSAS DE NOSSOS ATOS, há sem dúvida CAUSAS SECRETAS QUE NÃO CONFESSAMOS, mas por trás dessas causas secretas HÁ OUTRAS, BEM MAIS SECRETAS ainda, pois NÓS MESMOS A IGNORAMOS.

A maioria de nossos atos cotidianos é resultado de móveis ocultos que nos escapam.

Na massa, acredita Le Bom:

1.     as aquisições próprias dos indivíduos se desvanecem, e com isso desaparece sua particularidade.

2.     O inconsciente próprio da raça ressalta, o heterogêneo submerge no homogêneo.

3.     A SUPER ESTRUTURA PSÍQUICA, que se desenvolveu de modo tão diverso nos indivíduos, é desmontada, debilitada, e o fundamento inconsciente comum a todos é posto a nu (torna-se operante).

Dessa maneira se produziria um caráter mediano dos indivíduos da massa.

Mas conforme Le Bon BUSCA AS RAZÕES para o SURGIMENTO DE CARACTERÍSTICAS NOVAS  em três fatores:

1.     “O primeiro é que o indivíduo na massa adquire, pelo simples fato do número, um sentimento de poder invencível que lhe permite ceder a instintos que, estando só, ele manteria sob controle. E cederá com tanto mais facilidade a eles, porque, sendo a massa anônima, e por conseguinte irresponsável, desaparece por completo o sentimento de responsabilidade que sempre retém os indivíduos.” Não precisamos, em nosso ponto de vista, atribuir muito valor à emergência de novas características. Basta-nos dizer que na massa o indivíduo está sujeito a condições que lhe permitem se livrar das repressões dos seus impulsos instintivos inconscientes. As CARACTERÍSTICAS APARENTEMENTE NOVAS, que ele então apresenta, são justamente AS MANIFESTAÇÕES DESSE INCONSCIENTE, no qual se acha contido, em predisposição, tudo de mau da alma humana. Não é difícil compreendermos o esvaecer da consciência ou do sentimento de responsabilidade nestas circunstâncias. Há muito afirmamos que o cerne da chamada CONSCIÊNCIA MORAL consiste no “MEDO SOCIAL”.

2.     Uma segunda causa, o CONTÁGIO MENTAL, intervém igualmente para determinar a manifestação de características especiais nas massas e a sua orientação. Para explicar o contágio é preciso relacionar aos fenômenos de ordem hipnótica que adiante estudaremos. 
    
    Numa massa, todo sentimento, todo ato é contagioso, e isso a ponto de o indivíduo sacrificar facilmente o seu interesse pessoal ao interesse coletivo. Eis uma aptidão contrária à sua natureza, de que o homem só se torna capaz enquanto parte de uma massa” . Sobre esta última frase vamos fundamentar, mais adiante, uma importante conjectura.

3.     “Uma terceira causa, de longe a mais importante, determina nos indivíduos da massa características especiais, às vezes bastante contrárias às do indivíduo isolado. Refiro-me à SUGESTIONABILIDADE, de que o contágio mencionado acima é apenas um efeito. 

  “Para compreender esse fenômeno, é preciso ter em mente algumas descobertas recentes da fisiologia. Sabemos hoje que um indivíduo pode ser posto, num estado tal que, tendo perdido sua personalidade consciente, ele obedece a todas as sugestões do operador que a fez perdê-la, e comete os atos mais contrários a seu caráter e a seu costume

  Ora, observações atentas parecem provar que o indivíduo, mergulhado há algum tempo no seio de uma massa ativa, logo cai — em consequência de eflúvios que dela emanam, ou por outra causa ainda ignorada — num estado particular, aproximando-se muito do estado de fascinação do hipnotizado nas mãos do hipnotizador […].   

   A personalidade consciente se foi, a vontade e o discernimento sumiram. Sentimentos e pensamentos são então orientados no sentido determinado pelo hipnotizador. “Tal é, aproximadamente, o estado de um indivíduo que participa de uma massa. Ele não é mais consciente de seus atosNele, como no hipnotizado, enquanto certas faculdades são destruídas, outras podem ser levadas a um estado de exaltação extrema. 

  A influência de uma sugestão o levará, com irresistível impetuosidade, à realização de certos atos. Impetuosidade ainda mais irresistível nas massas que no sujeito hipnotizado, pois a sugestão, sendo a mesma para todos os indivíduos, exacerba-se pela reciprocidade” Portanto as principais características do INDIVÍDUO DE MASSA são:

a.     Esvanecimento da personalidade consciente.
b.     Predominância da personalidade inconsciente
c.     Orientação por via de sugestão e de contágio dos sentimentos e das ideias num mesmo sentido.
d.     Tendência a transformar imediatamente em atos as ideias sugeridas.

Ele não é mais ele mesmo, mas um autômato cuja vontade se tornou impotente para guiá-lo.

Le Bon realmente designa o estado do indivíduo na massa como hipnótico, não se limita apenas a compará-lo com este. Freud não pretende contradizê-lo, mas somente destacar que as duas últimas causas da modificação do indivíduo na massa, o contágio e a maior sugestionabilidade, evidentemente não são do mesmo tipo, pois o contágio deve ser também uma manifestação da sugestionabilidade

De qualquer modo ele distingue esta INFLUÊNCIA FASCINADORA, deixada na penumbra, e o EFEITO CONTAGIOSO DOS INDIVÍDUOS ENTRE SI, que vem a fortalecer a sugestão original.

Eis ainda uma consideração importante para julgar o indivíduo da massa: “Portanto, pelo simples fato de pertencer a uma massa, o homem desce vários degraus na escala na civilização.

Isolado, ele era talvez um indivíduo cultivado, na massa é um instintivo, e em consequência um bárbaro. Tem a espontaneidade, a violência, a ferocidade, e também os entusiasmos e os heroísmos dos seres primitivos”

 Ele então se detém especialmente na diminuição da capacidade intelectual, experimentada pelo indivíduo que se dissolve na massa.

Deixemos agora o indivíduo e nos voltemos para a DESCRIÇÃO DA ALMA DE MASSA,tal como Le Bon a delineia.

 Nela não há traço algum que um psicanalista não consiga derivar e situar. O próprio Le Bon nos mostra o caminho, ao apontar a coincidência com a vida anímica dos povos primitivos e das crianças.

 A massa é impulsiva, volúvel e excitável. É guiada quase exclusivamente pelo inconsciente.

Os impulsos a que obedece podem ser, conforme as circunstâncias, nobres ou cruéis, heroicos ou covardes, mas, de todo modo, são tão imperiosos que nenhum interesse pessoal, nem mesmo o da autopreservação, se faz valer

Nada nela é premeditado. Embora deseje as coisas apaixonadamente, nunca o faz por muito tempo, é incapaz de uma vontade persistente. Não tolera qualquer demora entre o seu desejo e a realização dele. Tem o sentimento da onipotência; a noção do impossível desaparece para o indivíduo na massa.

A massa é extraordinariamente influenciável e crédula, é acrítica, o improvável não existe para ela. Pensa em imagens que evocam umas às outras associativamente, como no indivíduo em estado de livre devaneio, e que não têm sua coincidência com a realidade medida por uma instância razoável. Os sentimentos da massa são sempre muito simples e muito exaltados. Ela não conhece dúvida nem incerteza.

Ela vai prontamente a extremos; a suspeita exteriorizada se transforma de imediato em certeza indiscutível, um germe de antipatia se torna um ódio selvagem.

Inclinada a todos os extremos, a massa também é excitada apenas por estímulos desmedidos. Quem quiser influir sobre ela, não necessita medir logicamente os argumentos; deve pintar com as imagens mais fortes, exagerar e sempre repetir a mesma coisa.

Como a massa não tem dúvidas quanto ao que é verdadeiro ou falso, e tem consciência da sua enorme força, ela é, ao mesmo tempo, intolerante e crente na autoridade.

Ela RESPEITA A FORÇA, e deixa-se influenciar apenas moderadamente pela BONDADE, que para ela é uma espécie de fraqueza. O que ela exige de seus heróis é fortaleza, até mesmo violência. Quer ser dominada e oprimida, quer temer os seus senhores.

 No fundo inteiramente conservadora, tem profunda aversão a todos os progressos e inovações, e ilimitada reverência pela tradição.

Para julgar corretamente a moralidade das massas, deve-se levar em consideração que, ao se reunirem os indivíduos numa massa, todas as inibições individuais caem por terra e todos os instintos* cruéis, brutais, destrutivos, que dormitam no ser humano, como vestígios dos primórdios do tempo, são despertados para a livre satisfação instintiva.

Mas as massas são também capazes, sob influência da sugestão, de elevadas provas de renúncia, desinteresse, devoção a um ideal. Enquanto a vantagem pessoal, no indivíduo isolado, é quase que o único móvel de ação, nas massas ela raramente predomina. Pode-se falar de uma moralização do indivíduo pela massa.

Enquanto a capacidade intelectual da massa está bem abaixo daquela do indivíduo, sua conduta ética tanto pode ultrapassar esse nível como descer bem abaixo dele.

Alguns outros traços, na caracterização de Le Bon, lançam uma clara luz sobre a validez de identificar a alma da massa com a dos povos primitivos.

Nas massas as IDEIAS OPOSTAS podem coexistir e suportar umas às outras, sem que resulte um conflito de sua contradição lógica.

O mesmo sucede, porém, na vida anímica inconsciente dos indivíduos, das crianças e dos neuróticos, como há muito demonstrou a psicanálise.

 Além disso, a massa está sujeita ao poder verdadeiramente mágico das palavras, que podem provocar as mais terríveis tormentas na sua alma e também apaziguá-las

A RAZÃO e os ARGUMENTOS não sabem lutar contra certas palavras e certas fórmulas. Proferidas com solenidade diante da massa, imediatamente os rostos se tornam respeitosos e as cabeças se inclinam. Muitos as consideram forças da natureza, poderes sobrenaturais” Quanto a isso, basta lembrar o tabu dos nomes entre os primitivos, as forças mágicas que para eles estão ligadas a nomes e palavras.

E por fim, as massas nunca tiveram a SEDE DA VERDADE. Requerem ilusões, às quais não podem renunciar.

Nelas o irreal tem primazia sobre o real, o que não é verdadeiro as influencia quase tão fortemente quanto o verdadeiro. Elas têm a visível tendência de não fazer distinção entre os dois.Já mostramos que essa predominância da vida da fantasia, e da ilusão sustentada pelo desejo não realizado, é algo determinante na psicologia das neuroses.

Descobrimos que o que vale para os neuróticos não é a realidade objetiva comum, mas a realidade psíquica. Um sintoma histérico se baseia na fantasia, em vez de na repetição da vivência real, a consciência de culpa da neurose obsessiva, no fato de uma má intenção que jamais se realizou.

Como no sonho e na hipnose, na atividade anímica da massa a prova da realidade recua, ante a força dos desejos investidos de afeto.

 Le Bon acredita que, quando seres vivos se reúnem em determinado número, seja um rebanho de animais ou um grupamento de homens, instintivamente se colocam sob a autoridade de um chefe.

A massa é um rebanho dócil, que não pode jamais viver sem um senhor. Ela tem tamanha sede de obediência, que instintivamente se submete a qualquer um que se apresente como seu senhor. Assim, as necessidades da massa a tornam receptiva ao líder, mas este precisa corresponder a ela com suas características pessoais.

 Ele próprio tem de estar fascinado por uma forte crença (numa ideia), para despertar crença na massa; ele tem de possuir uma vontade forte, imponente, que a massa sem vontade vai aceitar.

Le Bon discute então os diferentes tipos de líder, e os meios pelos quais atuam sobre a massa.

No conjunto, entende que os líderes adquirem importância pelas ideias de que eles mesmos são fanáticos. A estas ideias, assim como aos líderes, atribui igualmente um poder misterioso, irresistível, que ele chama de “prestígio”.

O prestígio é uma espécie de domínio que uma pessoa, uma obra ou uma ideia exerce sobre nós QUE:

1.     Paralisa toda a nossa capacidade crítica
2.     Nos enche de espanto e respeito.
3.     Provocaria um sentimento semelhante ao do fascínio na hipnose.
4.     Distingue o prestígio adquirido ou artificial e o pessoal.
a.      Prestígio adquirido ou artificial -  é dado às pessoas pelo nome, a riqueza, a reputação, e conferido às concepções, obras de arte etc. pela tradição. Como em todos os casos ele remonta ao passado, pouco ajudará na compreensão dessa misteriosa influência.
b.      O prestígio pessoal existe em poucas pessoas que através dele se tornam líderes, e faz com que todos a elas obedeçam, como sob o efeito de um encanto magnético. Mas todo prestígio depende também do sucesso, e é perdido com o fracasso.

Nota: “As considerações de Le Bon sobre o papel do líder e a importância do prestígio não nos parecem se harmonizar com a sua brilhante descrição da alma coletiva.”