quinta-feira, 20 de dezembro de 2018

Sonhos na Antiguidade - Sigmund Freud



“Quem quer que tenha falhado em explicar a origem das imagens oníricas dificilmente poderá esperar compreender as fobias, obsessões ou delírios, ou fazer com que uma influência terapêutica se faça sentir sobre eles. ” (FREUD, 1900, p.12).

Em seu livro Interpretação de sonhos I, Sigmund Freud afirma que para se compreender as FOBIAS, OBSESSÕES ou DELIRIOS é preciso explicar a origem das imagens oníricas que compõem os SONHOS.
Ele dizia que os únicos sonhos dentre os quais pode escolher foram os dele mesmo e os de seus pacientes em tratamento psicanalítico, entretanto, foi impedido de utilizar o de seus pacientes já que, os processos oníricos estavam sujeitos a compilação indesejável, com o adicional de características neuróticas. Contudo, se revelasse ao público os seus próprios sonhos, estaria revelando maior número de aspectos íntimos da vida mental dele.(FREUD, 1900, p.12).
Freud afirmou haver uma técnica psicológica que torna possível interpretar os sonhos, através da qual todo sonho se revela como uma estrutura psíquica que tem um sentido e pode ser inserida num ponto designável nas atividades mentais da vida de vigília. Buscou elucidar os processos a que se devem a estranheza e a obscuridade dos sonhos e por deduzir desses processos a natureza das forças psíquicas. (FREUD, 1900, p.13).
A visão pré-histórica dos sonhos eram aceitos como axiomático e estavam relacionados com o mundo dos seres sobre-humanos nos quais acreditavam, e que constituíam revelações de deuses e demônios. Para aquele que sonhava, os sonhos tinham uma finalidade importante, que era, via de regra, predizer o futuro. A posição adotada perante os sonhos por filósofos isolados na Antiguidade dependia, naturalmente, até certo ponto, da atitude destes em relação à adivinhação em geral. (FREUD, 1900, p.13).
VISÃO ARISTOTÉLICA SOBRE OS SONHOS
As duas obras de Aristóteles que versam sobre os sonhos, informa-nos as referidas obras que os sonhos não são enviados pelos deuses e não são de natureza divina, mas que são “demoníacos”, visto que a natureza é “demoníaca”, e não divina.
“Os sonhos, em outras palavras, não decorrem de manifestações sobrenaturais, mas seguem as leis do espírito humano, embora este, é verdade, seja afim do divino. ”
Definem-se os sonhos como a atividade mental de quem dorme, na medida em que esteja adormecido. (FREUD, 1900, p.14).
Aristóteles sabia que os sonhos dão uma construção ampliada aos pequenos estímulos que surgem durante o sono. A exemplo disso:
 “Os homens pensam estar caminhando no meio do fogo e sentem um calor enorme, quando há apenas um pequeno aquecimento em certas partes.”(ARISTÓTELES, FREU, 1900,p.15)
Aristóteles infere a conclusão de que os sonhos podem muito bem revelar a um médico os primeiros sinais de alguma alteração corporal que não tenha sido observada na vigília,
Antes da época de Aristóteles, considerava-se que os sonho não como um produto da mente que sonhava, mas como algo introduzido por uma instância divina.
Surgem duas correntes antagônicas sobre a vida onírica por meio da distinção entre:
·        Os sonhos verdadeiros e válidos, enviados ao indivíduo adormecido para adverti-lo ou predizer-lhe o futuro;
·        Os sonhos vãos, falazes e destituídos de valor, cuja finalidade era desorientá-lo ou destruí-lo.

domingo, 16 de dezembro de 2018

Aspectos Desenvolvimentais na Adolescência e a Terapia Cognitivo-Comportamental


Teoria Cognitivo-Comportamental na perspectiva do adolescente.


TERAPIA COGNITIVA DE BECK OU TERAPIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL

Se fundamenta na racionalidade teórica de que os PENSAMENTOS, os SENTIMENTOS e os COMPORTAMENTOS se encontram intimamente relacionados. As nossas atitudes se constituem a partir de como pensamos, sentimos o mundos.


A maneira COMO A PESSOA SE COMPORTA está diretamente associada à sua FORMA DE PROCESSAR E ESTRUTURAR A REALIDADE por meio de suas COGNIÇÕES. Nesse sentido, o modo como o indivíduo interpreta as situações vivenciadas influenciará seus SENTIMENTOS  e suas AÇÕES, mais do que a situação em si (Beck & Alford, 2011). A forma como percebemos o mundo, e atribuímos significado a determinadas circunstâncias terá influência direta sobre como nos sentimos em relação a algo ou alguém, bem como, na forma de como iremos agir. È nesse contexto, que algo que não tenha nenhum significado para alguém, pode ser para mim, um elemento emocionalmente desestruturador.


Todavia, é importante enfatizar que a interpretação dos eventos se dá por meio dos processos cognitivos, em articulação com os sistemas comportamentais, afetivos e motivacionais. Interpretar implica a forma como o sujeito entende e processa o fato, e essa forma de interpretar está interligada às suas motivações, seus afetos, e por consequência, seus comportamentos.

O processamento de informação na TCC é explicado por meio de TRÊS ESTRUTURAS MENTAIS INTERRELACIONADAS, responsáveis pela PERCEPÇÃO e INTERPRETAÇÃO dos eventos do mundo: 

as CRENÇAS CENTRAIS, 
as CRENÇAS CONDICIONAIS ou INTERMEDIÁRIAS 
os PENSAMENTOS AUTOMÁTICOS. 

Todo o sistema organizado da interação entre cog­ni­ções, sentimentos e comportamentos é chamado de modo, ou esquema (Beck, Clark, & Alford, 1999).


Os esquemas, ou modos, constituem a estrutura central no processamento de informações, enquanto as crenças (conteúdo) fornecem o significado. 

O termo CRENÇA é um proxy para um CONJUNTO DE EXPECTATIVAS, AVALIAÇÕES, MEMÓRIAS E IMAGENS que formam o conteúdo dos esquemas cognitivos. Os esquemas têm um gradiente de ativação que vai de latente a altamente carregado (Beck & Haigh, 2014). 

Quando um esquema é ativado (por estressores e fatores precipitantes), um significado correspondente é derivado de uma crença que interage com outro sistema afetivo, motivacional ou comportamental. 

A ativação progressiva de um esquema de baixa a alta intensidade transforma a adaptação normal em transtorno psicológico, de forma que crenças, afetos e comportamentos se tornam hipersalientes. Em outras palavras, quando o processamento de informação se torna DISTORCIDO, os sistemas afetivo, motivacional e comportamental começam a funcionar de maneira desadaptativa, tornando-se solo fértil para o aparecimento de sintomas e funcionamento disfuncional. As crenças distorcidas existem em um continuum que vai de adaptativo/funcional a desadaptativo/disfuncional e podem ser absolutas ou condicionais (Beck & Haigh, 2014).


Conforme Beck, Rush, Shaw e Emery (1997), as CRENÇAS CENTRAIS ou NUCLEARES, são ideias e percepções tidas como verdades absolutas e imutáveis sobre si mesmo, os outros e o futuro. Elas são caracterizadas como globais, rígidas, hipergeneralizadas e transituacionais, e o indivíduo as desenvolve desde a infância. Esse seria o terceiro e o mais profundo nível da cognição, sendo de difícil acesso. 

as CRENÇAS SUBJACENTES, CONDICIONAIS OU INTERMEDIÁRIAS, ocorrem sob a forma de atitudes, pressupostos e regras (afirmações do tipo “se... então...”). Além das crenças condicionais e nucleares, a TCC considera ainda um nível mais superficial da cognição, representado pelos pensamentos automáticos, que são a “presentificação” das crenças, isto é, são pensamentos que irrompem e se apresentam em paralelo ao fluxo do nosso pensamento, podendo, por vezes, tomar conta dele (Neufeld & Cavenage, 2010). Os pensamentos automáticos são espontâneos e fluem em nossa mente a partir dos acontecimentos do dia a dia, independentemente da deliberação ou do raciocínio.

O modelo cognitivo postula que os problemas psicológicos e os ­transtornos mentais são uma acentuação do funcionamento adaptativo normal. A ­ligação entre este funcionamento e desadaptativo parece resultar do exagero dos vieses encontrados no processamento de informação típico.

 O viés negativo normalmente exagera a ameaça ou o desafio, enquanto o positivo exagera a recompensa. Quando uma nova informação que contradiz as crenças tendenciosas é introduzida nos esquemas, eles podem tornar-se inativos, e os sintomas podem diminuir. O alívio dos sintomas está associado a uma queda no grau de convicção na crença tendenciosa; no entanto, a crença permanece latente até ser reativada (Beck & Haigh, 2014).


No que diz respeito às principais características da TCC, ela tem um estilo de comunicação centrado no cliente. Trata-se de um tipo de terapia breve e focal, tendo como princípio norteador a relação colaborativa estabelecida pela dupla terapêutica, na qual o profissional é o especialista na abordagem psicoló­gica/científica, e o cliente é o especialista em sua própria vida. A essa relação colaborativa as partes entendem seus respectivos papéis, a partir do que cada uma trás para agregar no auxílio ao cliente, a fim de que este possa conseguir avanços na forma de como lidar com suas dificuldades, bem como, na melhoria de sua qualidade de vida.

A ABORDAGEM faz uso de técnicas cognitivas e comportamentais ao longo da intervenção, visando auxiliar os clientes no PLANEJAMENTO e no APRENDIZADO DE NOVOS COMPORTAMENTOS. 

Os OBJETIVOS da TCC são: ALÍVIO ou REMISSÃO DE SINTOMAS; melhora na QUALIDADE DE VIDA; e desenvolvimento de estratégias mais adaptativas de enfrentamento (coping) para lidar com as adversidades (Salkovskis, 1999).



sexta-feira, 14 de dezembro de 2018

Adolescência e a Terapia Cognitivo Comportamental (TCC)


TIPOS DE DIFICULDADES

Além de levar em conta aspectos desenvolvimentais, cabe observar se as dificuldades dos adolescentes são do tipo INTERNALIZANTES (ansiedade e depressão) ou EXTERNALIZANTES (oposição, desafios e condutas antissociais), o que determinará a escolha de técnicas predominantemente cognitivas ou comportamentais, respectivamente (Fig. 1.1).

Comportamentos desafiadores
Infrações
Práticas sexuais de risco

Em função das modificações nos níveis cognitivo e afetivo durante a adolescência, a atenção a fatores como autoestima e capacidade de regulação ­emocional dos adolescentes também pode ser importante para profissionais comprometidos com a promoção da saúde. 

A testagem de um modelo preditivo sobre o impacto dessas variáveis para a satisfação global com a vida, compreendida como bem-estar subjetivo, níveis de felicidade e de atribuição de significado à experiência, ou bem-estar psicológico, apresentou correlações significativas.

 Tal associação é especialmente válida entre autoestima e bem-estar ­subjetivo. Quanto às estratégias de regulação emocional, observa-se que a reavaliação cognitiva, ou a mudança de significado da experiência, a fim de modificar seu impacto emocional, esteve positivamente correlacionada aos dois tipos de bem-estar (psicológico e subjetivo). 

A supressão emocional ou a inibição do comportamento emocional expressivo pareceram estar negativamente associadas às duas dimensões (Freire & Tavares, 2011). Dessa forma, compreende-se a importância de trabalhar os componentes da autoestima e da expressão/supressão de emoções para a promoção de contextos que estimulem a aquisição das habilidades exigidas para a consecução das tarefas desenvolvimentais da adolescência.

Nesse contexto do trabalho com as emoções e demais processos mentais, surge um novo ABC (Attention, Balance and Compassion). As terapias cognitivas de terceira onda baseadas em mindfulness passam a representar uma revolução importante em modelos, métodos e práticas terapêuticas. 

Os ­esforços não visam apenas minimizar o impacto da psicopatologia nas trajetórias em desenvolvimento, mas também promover resiliência. Busca-se, como foco primordial, agir sobre os processos metacognitivos e promover o sentido para a vida, revisitando atitudes humanas, como mente de principiante, não julgamento, paciência, não esforço, autodisciplina, confiança, abrir mão e aceitação. Essas atitudes levam à compaixão e à conexão (Goleman & Senge, 2014; Kabat Zinn, 2013). 

As habilidades sociais fluem com esse novo paradigma, já que compaixão inclui empatia e avança em direção à transformação. Compaixão pode ser definida como uma tomada de consciência do sofrimento, pela preocupação empática e pelo desejo de ver o alívio do mal em questão, bem como uma capacidade de resposta ou de prontidão para ajudar a aliviar esse sofrimento em si ou no outro. A consciência surge quando é gerada atenção de modo particular, com propósito, aqui e agora e sem julgamento. A consciência é cultivada pelo ato de prestar atenção (Kabat Zinn, 2013).
Nessa linha de raciocínio, a percepção de apoio da família e dos amigos e o domínio de habilidades sociais são considerados preditores do bem-estar psicológico dos adolescentes, independentemente da configuração familiar em que estejam inseridos (Leme, Del Prette, & Coimbra, 2015). 

A demonstração de habilidades sociais na adolescência permite a satisfação da necessidade de integração ao âmbito social dos indivíduos, e essa interação reforça o aprendizado de novos comportamentos e estratégias adaptativas (Caballo, 2003). 

As habilidades sociais definem o modo como os desafios e as oportunidades inerentes às interações sociais são manejados a fim de influenciar os níveis de satisfação com a vida dos adolescentes como pode ser visto a seguir:

Empatia
Autocontrole
Civilidade
Capacidade de demonstração de afeto
Desenvoltura social

Em contrapartida, baixos índices de habilidades sociais podem estar correlacionados a indicadores da presença de transtornos psicológicos, como DEPRESSÃO, TRANSTORNO DE ANSIEDADE E TRANSTORNOS RELACIONADOS AO USO DE SUBSTÂNCIAS (Wagner & Oliveira, 2007). 

Diferenças de contexto, como a frequência em escola pública ou particular, podem, contudo, mediar essa relação. Adolescentes de escola pública tendem a apresentar transtornos psicológicos associa­dos a baixos índices de habilidades sociais. Supõe-se que o contexto em que se encontram aqueles que frequentam escolas particulares apresenta recursos familiares e sociais que minoram essa limitação e provê condições para o desenvolvimento de comportamentos socialmente assertivos (Von Hohendorff, Couto, & Prati, 2013).