A ADOLESCÊNCIA
Período de mudanças neurobiológicas, físicas, cognitivas, emocionais e sociais, além de sofrer as pressões do ambiente e interpessoais. Consequentemente, esse é um tempo de grandes oportunidades, mas também de pontos de tensão.
Enquanto há um consenso entre os neurocientistas de que a completa maturidade do cérebro não se dá até o período que vai, aproximadamente, dos 25 aos 30 anos, os adolescentes experimentam consideráveis mudanças neurobiológicas.
Entretanto, apesar de cada vez maior sofisticação neurobiológica, eles ainda são muito impulsivos e intensos em suas ações. Muitos teóricos veem essa impulsividade como sendo governada pelo processamento do sistema límbico dominante e por mediações mais lentas do lóbulo frontal.
O QUE É A TCC?
A TCC é amplamente considerada como o padrão de tratamento de transtornos internalizantes e externalizantes em jovens. Iniciada modestamente na metade do século passado, ela se desenvolveu a ponto de ser, hoje, a mais respeitada forma de psicoterapia.
A teoria subjacente permanece relevante ainda no século XXI, e o atual quadro de conhecimentos que apoiam suas múltiplas aplicações clínicas é robusto. A TCC fortaleceu seus laços empíricos e continua a crescer como paradigma psicossocial.
OBJETIVO DA TCC
A TCC em adolescentes objetiva, precisamente, facilitar um melhor processamento do lóbulo frontal.
PARTE I - ASPECTOS DESENVOLVIMENTAIS TEÓRICOS E PRÁTICOS
DESENVOLVIMENTO COGNITIVO, SOCIOEMOCIONAL E FÍSICO NA ADOLESCÊNCIA
E AS TERAPIAS COGNITIVAS CONTEMPORÂNEAS
DAVI MANZINI MACEDO
CIRCE SALCIDES PETERSEN
SILVIA H. KOLLER
DEMANDAS DOS ADOLESCENTES
Maior convívio social com pares, maior convívio social com pares maior autopercepção e desenvolvimento de suas habilidades e competências, construção da própria identidade e de valores de vida, bem como tomadas de decisão quanto à trajetória profissional.
Uma vez que as experiências dessa fase podem comprometer aspectos da qualidade de vida por um período considerável do ciclo vital, é necessário que a sociedade e o poder público busquem a promoção de experiências de vida saudáveis, que estimulem os adolescentes a selecionar experiências positivas para seu desenvolvimento nos diferentes contextos em que estão inseridos.
QUEM SÃO OS ADOLESCENTES?
Os delimitadores cronológicos adotados para a demarcação da adolescência apresentam algumas variações.
A Organização das Nações Unidas (ONU) e o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) compreendem o período dos 10 aos 19 anos como referencial para essa etapa e adotam a distinção entre fase inicial (10 a 14 anos) e fase final (15 a 19 anos) da adolescência.
A Assembleia Geral das Nações Unidas, ao debater políticas globais a respeito dessa faixa etária, utiliza o termo juventude, referindo-se aos cidadãos com 15 a 24 anos de idade.
Jovens são definidos como aqueles com idades entre 10 e 24 anos. Esses termos são, ainda, rotineiramente utilizados como sinônimos (Fundo das Nações Unidas para a Infância [UNICEF], 2011).
Cada nação pode adotar, no entanto, suas próprias definições para delimitar essa fase do desenvolvimento. No Brasil, a legislação vigente – o Estatuto da Criança e do Adolescente – demarca a adolescência como o período que vai dos 12 aos 18 anos e prevê a extensão de algumas de suas medidas até os 21 anos de idade (Brasil, 1990).
CONSTRUÇÃO DE SUA IDENTIDADE
Desde o início da adolescência, os indivíduos tendem a se comparar aos pares, a compreender que seus comportamentos estão sob avaliação e a se preocupar mais com as implicações sociais de tais julgamentos.
A maior atenção à perspectiva dos outros é mais uma fonte para que os adolescentes construam sua identidade pessoal e sua visão de si mesmos (Sebastian, Burnett, & Blackmore, 2008).
Conforme começam a questionar-se sobre quem são e sobre a posição que ocupam em seu ambiente social, tornam-se mais sensíveis ao julgamento do entorno e suscetíveis a acreditar que estão constantemente sendo observados e avaliados (Lapsley & Murphy, 1985).
Essa é uma característica marcante a ser observada na adolescência, em função de sua importância para o desenvolvimento das cognições a respeito do self e das habilidades sociais de cada um. O modo como os adolescentes se percebem e avaliam seu senso de auto eficácia pode influenciar decisivamente o curso de suas vidas (Bandura, 2005).
TIPOS DE DIFICULDADES
Além de levar em conta aspectos desenvolvimentais, cabe observar se as dificuldades dos adolescentes são do tipo INTERNALIZANTES (ansiedade e depressão) ou EXTERNALIZANTES (oposição, desafios e condutas antissociais), o que determinará a escolha de técnicas predominantemente cognitivas ou comportamentais, respectivamente (Fig. 1.1).
SINTOMAS INTERNALIZANTES - TÉCNICAS COGNITIVAS - ANSIEDADE E DEPRESSÃO
SINTOMAS EXTERNALIZANTES-TÉCNICAS COMPORTAMENTAI- OPOSIÇÃO, DESAFIOS E CONDUTAS ANTISSOCIAIS.
DESENVOLVIMENTO DO SELF NA ADOLESCÊNCIA
Um aspecto essencial do desenvolvimento do self na adolescência é a interação com pares, na medida em que representa uma aquisição fundamental na constituição da identidade e das escolhas pessoais do indivíduo.
A necessidade de encontrar um espaço dentro de um grupo social pode influenciar os adolescentes na escolha de comportamentos que variam em termos de funcionalidade e adaptação.
Eles tendem a se engajar em comportamentos que representam elevado status dentro de um grupo, que se enquadram nas normas de um grupo que valorizam socialmente, que são reforçados por pares ou, ainda, que contribuem para uma percepção favorável a respeito da própria identidade (Brechwald & Prinstein, 2011).
COMPORTAMENTOS DE RISCO NA ADOLESCÊNCIA SEGUNDO NIQUICE (2014)
• Abuso de substâncias psicoativas
• Comportamentos desafiadores
• Infrações
• Práticas sexuais de risco
A suscetibilidade a comportamentos “delinquentes” ou externalizantes também pode ser explicada à luz de aspectos do neurodesenvolvimento.
Durante a adolescência, o cérebro do indivíduo passa por modificações estruturais nos sistemas responsáveis pelo processamento emocional, capacidade de julgamento, organização comportamental e autocontrole (Papalia, Olds, & Feldman, 2013).
O sistema de controle cognitivo amadurece lentamente até a idade adulta, o que favorece a emissão de comportamentos de risco nessa fase. Capacidades psicossociais como controle de impulsos, regulação emocional, postergação de gratificações e resistência à influência de pares, portanto, evoluem de modo gradual durante a adolescência (Steinberg, 2004).
A rede de processamento de estímulos socioemocionais, localizada nos sistemas límbico e paralímbico cerebrais, é remodelada nos primeiros anos desse período do desenvolvimento. Já a rede de controle cognitivo, subestrato para funções executivas como planejamento e autorregulação, tende a se desenvolver plenamente apenas na idade adulta. Dessa forma, esse desequilíbrio entre as redes cerebrais envolvidas nos processos de controle, recompensa e regulação da interação social pode favorecer a impulsividade de adolescentes quando na presença de pares, uma vez que as recompensas socioemocionais imediatas parecem ter mais importância que ganhos posteriores (Steinberg, 2004, 2007).
AUTOESTIMA E REGULAÇÃO EMOCIONAL
Em função das modificações nos níveis cognitivo e afetivo durante a adolescência, a atenção a fatores como autoestima e capacidade de regulação emocional dos adolescentes também pode ser importante para profissionais comprometidos com a promoção da saúde.
A testagem de um modelo preditivo sobre o impacto dessas variáveis para a satisfação global com a vida, compreendida como bem-estar subjetivo, níveis de felicidade e de atribuição de significado à experiência, ou bem-estar psicológico, apresentou correlações significativas.
Tal associação é especialmente válida entre autoestima e bem-estar subjetivo. Quanto às estratégias de regulação emocional, observa-se que a reavaliação cognitiva, ou a mudança de significado da experiência, a fim de modificar seu impacto emocional, esteve positivamente correlacionada aos dois tipos de bem-estar (psicológico e subjetivo).
A supressão emocional ou a inibição do comportamento emocional expressivo pareceram estar negativamente associadas às duas dimensões (Freire & Tavares, 2011). Dessa forma, compreende-se a importância de trabalhar os componentes da autoestima e da expressão/supressão de emoções para a promoção de contextos que estimulem a aquisição das habilidades exigidas para a consecução das tarefas desenvolvimentais da adolescência.
Nesse contexto do trabalho com as emoções e demais processos mentais, surge um novo ABC (Attention, Balance and Compassion). As terapias cognitivas de terceira onda baseadas em mindfulness passam a representar uma revolução importante em modelos, métodos e práticas terapêuticas.
Os esforços não visam apenas minimizar o impacto da psicopatologia nas trajetórias em desenvolvimento, mas também promover resiliência. Busca-se, como foco primordial, agir sobre os processos metacognitivos e promover o sentido para a vida, revisitando atitudes humanas, como mente de principiante, não julgamento, paciência, não esforço, autodisciplina, confiança, abrir mão e aceitação. Essas atitudes levam à compaixão e à conexão (Goleman & Senge, 2014; Kabat Zinn, 2013).
As
habilidades sociais fluem com esse novo paradigma, já que compaixão inclui empatia e avança em direção à transformação. Compaixão pode ser definida como uma tomada de consciência do sofrimento, pela preocupação empática e pelo desejo de ver o alívio do mal
em questão, bem como uma capacidade de resposta ou de prontidão para ajudar a aliviar esse sofrimento em si ou no outro. A consciência surge quando é gerada atenção de modo particular, com propósito, aqui e agora e sem julgamento. A consciência é cultivada pelo ato de prestar atenção (Kabat Zinn, 2013).
Nessa linha de raciocínio, a percepção de apoio da família e dos amigos e o domínio de habilidades sociais são considerados preditores do bem-estar psicológico dos adolescentes, independentemente da configuração familiar em que estejam inseridos (Leme, Del Prette, & Coimbra, 2015).
A demonstração de habilidades sociais na adolescência permite a satisfação da necessidade de
integração ao âmbito social dos indivíduos, e essa interação reforça o aprendizado de novos comportamentos e estratégias adaptativas (Caballo, 2003).
As habilidades sociais definem o modo como os desafios e as oportunidades inerentes às interações sociais são manejados a fim de influenciar os níveis de satisfação com a vida dos adolescentes como pode ser visto a seguir:
Empatia
• Autocontrole
• Civilidade
• Capacidade de demonstração de afeto
• Desenvoltura social
Em contrapartida, baixos índices de habilidades sociais podem estar correlacionados a indicadores da presença de transtornos psicológicos, como DEPRESSÃO, TRANSTORNO DE ANSIEDADE E TRANSTORNOS RELACIONADOS AO USO DE SUBSTÂNCIAS (Wagner & Oliveira, 2007).
Diferenças de contexto, como a frequência em escola pública ou particular, podem, contudo, mediar essa relação. Adolescentes de escola pública tendem a apresentar transtornos psicológicos associados a baixos índices de habilidades sociais. Supõe-se que o contexto em que se encontram aqueles que frequentam escolas particulares apresenta recursos familiares e sociais que minoram essa limitação e provê condições para o desenvolvimento de comportamentos socialmente assertivos (Von Hohendorff, Couto, & Prati, 2013).
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