terça-feira, 8 de março de 2022

Estratégias Terapêuticas Básicas

A estratégia em um processo psicoterapêutico de curta duração fundamentado na abordagem gestáltica:

  • deve colocar ênfase em alguns pontos mais importantes para a aplicação dos recursos disponíveis na situação terapêutica.
Pontos mais importantes para aplicação dos recursos disponíveis na situação terapêutica:
  • Ênfase no olhar e do experienciar do terapeuta na situação;
  • Cuidado, ao olhar o ciente, quanto ao modelo de compreensão (se um modelo de psicopatologia de conflito e defesa ou um modelo desenvolvimentista); 
  • Orientação humanista do trabalho; 
  • Clareza quanto à visão de homem implícita na postura do terapeuta; 
  • Cuidado com o diagnóstico como indicador de caminho;
  •  Atenção a como delimitar o foco (definir o foco junto com o cliente após o diagnóstico, lembrando que o tempo é o tempo do cliente; 
  • A psicoterapia fora do consultório (tarefas para casa, manutenção do vínculo terapêutico)
A situação terapêutica:
  • É o primeiro e mais importante recurso de que dispõe o psicoterapeuta em um atendimento de curta duração 
  • Perls, Hefferline e Goodman descrevem a situação terapêutica como diretamente derivada da interação do organismo com o ambiente, tomados em separados. 
  • Para facilitar que o cliente recobre sua awareness total, a abordagem gestáltica toma a situação clínica como uma situação experimental. 
    • Isso quer dizer que é preciso que o terapeuta se engaje na situação terapêutica, que ele se lembre de que, se é a experiência de cada situação vital que possibilita o sentimento da própria existência do outro e do ambiente, isso igualmente é válido para a situação clínica.
  • A situação terapêutica existe antes mesmo que uma Gestalt comece a se formar na sessão de terapia, e será fundo para as figuras que virão. 
    • Apesar disso, Robine (2003, p. 3) lembra que o "neurótico age como se a novidade da situação aqui-e-agora não existisse (...), como se a situação fosse redutível a alguns de seus constituintes fixados, de uma vez por todas sob formas e esquemas de pensamento, de sentimento e de ação." 
"Atendi, certa vez, em psicoterapia de curta duração, um cliente de estilo obsessivo, que trazia, em determinada sessão depois de aproximadamente dois meses de terapia, a queixa de que tinha pouco espaço na vida, de que se continha muito. Explorávamos sua vivência e os significados dela, quando o cliente me disse: "Pois é, Ênio, é como se eu não usasse todo o espaço que tenho, como se eu ficasse sempre em um canto, oprimido..." Ao que lhe respondi: "Estou vendo". "Como assim? Está vendo?" "Estou vendo. Perceba como você está sentado na poltrona." A poltrona de meu consultório é de assento amplo, no qual uma pessoa pode senta-se confortavelmente; meu cliente estava sentado em um cantinho da poltrona, quase espremido no braço dela. Ele olhou para o imenso espaço vazio ao seu lado, olhou de novo, olhou para mim, moveu-se em direção ao centro da poltrona, experimentou-se nessa posição, respirou profundamente e abriu um dos mais infantis e lindos sorrisos que eu já vi na vida!" 
  • A postura do terapeuta diante da situação clínica, a atenção, como se desenrola o encontro terapêutico a cada sessão, leva a uma percepção mais acurada do que está ali, em detrimento do que não está.
  • A percepção da situação tem estreita correlação com as possibilidades de ação presentes a cada momento.
  • Um terapeuta, em um trabalho de curta duração, deve estar presente ao máximo, mais ativo que em uma psicoterapia de lona duração, mais entregue à situação terapêutica e mais aware ainda.
A compreensão do cliente:
  • demanda um cuidadoso e curioso olhar para o cliente, um  olhar o mais amplo possível, levando em contas os aspectos intrapsíquicos e relacionais, na terapia e no dia-a-dia
  • Robine (2003, p. 30), afirma que pode-se fazer a localização do trabalho terapêutico em, fundamentalmente, um de dois lugares: 
    • Ou a psicoterapia se apoia em um modelo de psicologia baseado em uma única pessoa, como por exemplo, o modelo da psicanálise clássica, em que o terapeuta tem um certo tipo de presença e função; 
    • Ou ela se inscreve em uma psicologia que compreende duas pessoas, como o modelo proposto por Ferenczi e adotado por Blint, Winniicott e outros mais, no qual o terapeuta não é mais estranho ao campo da experiência
  • Jacobs (1997, p.147) complementa e destaca a existência de uma mudança interessante e relativamente recente no campo da psicoterapia: a mudança de um modelo que ela chama de "psicopatologia de conflito e defesa", para um modelo desenvolvimentista.
    • A Gestalt-terapia de curta duração, embora não possa negar importância ao modelo de conflito e defesa, tem sua estratégia clínica fundamentada principalmente no modelo desenvolvimentista, uma vez que, esse é o campo por excelência de uma psicoterapia humanista.
    • Todo o olhar e toda a presença do terapeuta na situação terapêutica dependem de como ele compreende o ser humano.
  • "A influência de Goodman se exerce através de sua abordagem do contato, considerado como ajustamento criativo, como construção de sentido da experiência em um campo organismo/meio. 
A visão de homem na psicoterapia:

O propósito não é reconstruir personalidades como as teorias dinâmicas propõem.
  • A psicologia Humanista...
    •  tem como propósito libertar as personalidades potencialmente realizáveis e que estão presentes no sujeito.
    • pretende desvelar essa personalidade, conhecê-las e levar o indivíduo a se apropriar dela.
    • sua visão de homem se sustenta em um conceito esperançoso das pessoas e de sua capacidade para viver plenamente a vida, ainda que isso implique fazer mudanças, as vezes, dolorosas, em crenças e condutas mantidas durante muito tempo.
  • A finalidade prioritária da Gestalt-terapia de curta duração pretende...
    • desvelar e liberar as potencialidades pouco aproveitadas da personalidade, integrando-as com as potencialidades  mais à mão, e não só debelar os sintomas.
    • facilitar ao cliente as possibilidades de que ele reencontre e confie em sua espontaneidade , sua autonomia, sua capacidade de se autorrealizar, a cada situação existencial, integrando-se com o ambiente.
Um primeiro contato com o diagnóstico em Gestalt-terapia de curta duração:
  • Estratégia terapêutica
    • Diagnóstico como indicador de caminho; 
      • este não pode ser apenas um diagnóstico do cliente
      • é preciso desenvolver o diagnóstico da situação terapêutica e da situação de vida do cliente como um todo.
      • não deve se esgotar no sintoma, abrangendo o estilo de ser do cliente, o que se configura como fundo de onde emergirão as figuras.
      • deve levar em contas aspectos intrapsíquicos com ênfase maior em aspectos relacionais
    • Foco - Linhas mestras de uma compreensão diagnóstica.
Compreensão Diagnóstica baseada em 4 pontos fundamentais proposta por Pinto (2016), para que se possa determinar o foco da psicoterapia de curta duração:
  1. O fundo, o estilo de personalidade que se dá sustentação à queixa, ao sintoma; 
  2. A figura trazida pelo cliente, sua dor, sua queixa, seu sintoma identificado, o que inclui um cuidadoso olhar para seu ponto de interrupção mais importante no ciclo de contato; 
  3. A situação terapêutica, a cada sessão, nos moldes já discutidos anteriormente; 
  4. O campo existencial do cliente
Referências: PINTO, Ênio Brito. Psicoterapia de Curta Duração na Abordagem gestáltica elementos para a prática clínica. 3 edição  Summus editorial. São Paulo, 2016.

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