sexta-feira, 4 de outubro de 2019

Capítulo IV - O Behaviorismo não tenta explicar os processos cognitivos? Viviane Pereira dos Santos

Como discutido anteriormente, o Behaviorismo ignora a consciência, os sentimentos c os estados mentais como iniciadores do comportamento, excluindo qualquer explicação interna como causa do mesmo.  O Behaviorismo, em especial o skinneriano, recebeu severas críticas por ter adotado o recorte externalista, para explicar os comportamentos, abolindo da Psicologia o termo mente e seus correlatos. 

Posteriormente ocorreram movimentos para trazer a mente de volta, dentre eles o Cognitivismo: “A mente que a revolução cognitiva colocou em evidência é igualmente a executora das coisas. É a executora dos processos cognitivos. Ela percebe o mundo, organiza os dados sensoriais em todos significantes e processa a informação” (Skinner, 2002. p. 39). 

Vale ressaltar que o termo mente utilizado pelos psicólogos cognitivos difere daquele utilizado pelos filósofos antigos e pelos psicólogos estruturalistas e funcionalistas. por não ter como ser estudada pela introspecção, uma vez que não pode ser observada, apenas inferida. “Não vemos a nós próprios, por exemplo, processando a informação. Vemos os materiais que processamos e o produto, mas não a produção” (Skinner, 2002. p. 40). 

Atualmente, tem-se usado a palavra cognição ou a expressão processo cognitivo em lugar de mente. Conforme Stemberg (2002) o termo cognição, refere-se ao modo como as pessoas pensam. Neste sentido, a Psicologia Cognitiva estuda a forma das pessoas perceberem, aprenderem, recordarem e pensarem sobre as informações, isto é, busca-se compreender como se dá o processo do conhecimento no indivíduo. 

Para os behavioristas radicais, pensar é comportamento privado determinado por algum evento externo, logo a mente não executa nenhum papel no processo de pensar. Na verdade, o pensamento não está contido na mente nem em lugar nenhum, ele simplesmente ocorre. O fato de o pensar ser um comportamento encoberto dificulta a identificação das reais causas do comportamento como exteriores ao indivíduo 

Na teoria cognitiva, o desenvolvimento do mundo no qual o indivíduo está exposto é pouco valorizado. Tal aspecto pode ser observado na área educacional na qual professores lançam mão dos mais variados métodos e instrumentos para promover o desenvolvimento cognitivo das crianças. Eles são instruídos para trabalharem o intelecto dos alunos, tomando-o mais receptivo e ágil ao processar as novas informações.

Já na teoria skinneriana, é o ambiente externo que assume papel central e não as cognições. A cognição é um processo mental e por isso é rejeitado por Skinner como agente que determina o comportamento. “Os processos cognitivos são processos comportamentais; são coisas que as pessoas fazem” (Skinner, 2002. p. 39) e como tais são estudados pelo Behaviorismo. 

Os cognitivistas aproximaram o conceito de mente ao de cérebro e buscam compreender fenômenos cognitivos que nele ocorrem utilizando, como analogia, programas de computador. No entanto, nem o mais avançado dos computadores poderá explicar o comportamento humano, porque o homem não é uma máquina que pode ser programada para realizar ações. A própria estrutura cerebral também foi selecionada e cabe a outras ciências e não à Psicologia saber como e porque foi selecionada (Skinner, 1990). 

Não restam dúvidas que a Psicologia Cognitiva é uma abordagem que vem conquistando cada vez mais adeptos em virtude de sua linguagem ser de fácil entendimento para o público em geral, enquanto a linguagem skinneriana. por apresentar caráter cientifico, é freqüentemente rejeitada.

O extraordinário atrativo das causas internas e a conseqüente negligência das histórias ambientais  do cenário atual se devem a algo mais do que a una prática linguística. Sugiro que tem o encanto do arcanjo, do oculto, do hermético, do mágico - esses mistérios que mantiveram posição tão importante na história do pensamento humano. É o atrativo de um poder aparentemente inexplicável, num mundo que parece situar-se alem dos sentidos e do alcance da razão (Skinner. 2003. p. 140).

O que se deve deixar claro é que Skinner procurou explicar os processos cognitivos a partir de um recorte externalista. Eis o ponto de divergência com as ciências cognitivas que sustentam a ideia de que tais processos podem determinar o comportamento. 

Desse modo. a distinção entre a Análise do Comportamento e o Cognitivismo torna-se importante para que se compreenda que se tratam de enfoques distintos cujas diferenças aparecem desde o plano filosófico, passam pelo teórico e se evidenciam na prática clínica. Por isso, a integração entre os modelos cognitivista e behaviorista vem sendo cada vez mais discutida e questionada, visto que tal união resultaria em uma incoerência teórica (Costa, 2002).


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